Graciela Figueroa
Texto
Graciela Figueroa (Montevidéu, Uruguai, 1944). Coreógrafa, bailarina e professora de dança. Faz aulas de dança ainda criança em Montevidéu. Aos nove anos, integra o Grupo Dalica - Danza Libre de Cámara, dirigido por Elza Vallarino, introdutora da dança moderna no Uruguai. Estuda direito e psicologia mas, em 1965, torna-se bolsista da Fundação Fullbright1 e muda-se para Nova York para estudar na Julliard School of Music and Dance2. Durante a década de 1960, integra o elenco de importantes companhias norte-americanas de dança moderna e contemporânea, como o grupo de dança de Lukas Hoving3 e a primeira formação da Twyla Tharp Dance Company4. Paralelamente, ministra aulas de dança na Merce Cunningham School e no Connecticut College, ambos renomados institutos de dança em Nova York. Retorna à América Latina em 1970, dividindo-se entre trabalhos no Uruguai e Chile. Em 1975, vem ao Brasil pela primeira vez apresentar-se no Festival de Inverno de Ouro Preto, em Minas Gerais. Permanece em Minas Gerais, atuando como professora e coreógrafa do Grupo Transforma5. Nessa época, também atua no Teatro Guaíra6, de Curitiba, além de ser convidada para apresentar-se no Rio de Janeiro durante os Encontros de Dança, organizados por Rainer Vianna (1958-1995).
Em 1977, muda-se para o Rio de Janeiro e ministra aulas no Centro de Pesquisa Corporal, dirigido por Angel Vianna (1928) e Klauss Vianna (1928-1992). Passa a integrar o grupo Teatro do Movimento, também criado por Angel. Paralelamente, é levada por Klauss a lecionar no Instituto de Musicoterapia e na Escola de Teatro Martins Pena. No Centro de Pesquisa Corporal, conhece Sheila Sklar e Dolores Fernandes, com quem funda o Grupo Coringa, em 1977, após o trio ganhar o primeiro prêmio no Festival de Dança Contemporânea, em Salvador.
Em 1985, torna-se bolsista da Fundação Guggenheim, o que a leva a Nova York por seis meses. Volta ao Rio de Janeiro e inaugura a sede oficial do Grupo Coringa, em Botafogo. Em 1990, retorna ao Uruguai após a morte de seu pai. Com sua partida, o Coringa começa a se desfazer, mas só é extinto oficialmente em 2001. Em Montevidéu, cria a escola Espacio de Desarollo Armónico [Espaço de Desenvolvimento Harmônico], dando continuidade ao seu trabalho de arte-educação. A escola também é sede do Grupo Espacio de Artes Escénicas. Dirige também o Espacio Movimiento Rio Abierto, na Espanha. Em 2003, dirige o elenco da Comedia Nacional do Uruguai na peça teatral La Hora en que no Sabíamos Nada los Unos de los Toros, do austríaco Peter Handke (1942). Em 2007, elabora as coreografias para o longa-metragem Maré, Nossa História de Amor, de Lucia Murat (1949).
Análise
O trabalho da coreógrafa Graciela Figueroa é considerado um marco ao apresentar uma nova forma de liberdade de movimentos e criação artística, sendo considerada uma das precursoras da dança contemporânea carioca. Essa liberdade é a palavra de ordem dentro do Grupo Coringa, criado em 1977. Mais que um grupo de dança, o Coringa se torna símbolo de uma forma de viver no Rio de Janeiro da época. Muitos de seus integrantes moram juntos, dividindo o apartamento numa intensa convivência. A maioria dos ensaios são feitos na praia e na rua.
Os trabalhos coreográficos elaborados por Figueroa no Grupo Coringa "mesclavam movimentos soltos e o som das vozes dos próprios dançarinos, introduzindo elementos rítmicos e percussão executada ao vivo pelos intérpretes, recursos teatrais e jogos cênicos variados, apostando no elemento lúdico e no cotidiano"7. Admiradora de ritmos e sons latinos, Figueroa introduz um som bastante específico nas coreografias. O grito “Há!”, dado pelos dançarinos é, simultaneamente, elemento musical, rítmico e de marcação coreográfica; a união de corpo, voz e instrumentos musicais compõe uma dança que, de certo modo, simboliza a busca pela liberdade de movimentos. Esse grito teve forte presença no espetáculo Ritmos e 45 Movimentos, uma sequência coreográfica que reunia 45 movimentos inspirados nas artes marciais. Ao fim de cada um deles, ouve-se o “Há!”.
A chegada de Figueroa ao Rio de Janeiro e o surgimento do Coringa acontecem num no período de abertura política do regime militar8, promovido pelo então presidente Ernesto Geisel (1907-1996), que possibilita o desenvolvimento dos movimentos de contracultura. Nesta época, o Teatro Ipanema, a praia de Ipanema, o Museu de Arte Moderna (MAM), o Parque Lage e o Teatro Cacilda Becker são os principais palcos das manifestações culturais.
A partir de então, a pesquisa coreográfica de Figueroa torna-se fundamental em meio aos movimentos de dança dos anos 1990 no Rio de Janeiro, deixando suas marcas também em outros locais do Brasil, como, por exemplo, na Bahia, com sua participação na Oficina de Dança.
Notas
1. A Fundação Fullbright é uma comissão que promove intercâmbio educacional para os Estados Unidos. Mais informações em: http://www.fulbright.org/.
2. Mais informações em: http://www.juilliard.edu/.
3. Lukas Hoving (1925), importante bailarino que trabalhou por vários anos ao lado de José Limón (1908-1972) na companhia fundada por ele em 1946.
4. A Twyla Tharp Dance Company foi criada em 1965 e permanece atuante, realizando turnês pelo mundo inteiro. Mais informações em: http://www.twylatharp.org/.
5. Uma das primeiras iniciativas de pesquisa de linguagem em dança contemporânea no Brasil, do qual fizeram parte os irmãos Rodrigo (1955) e Paulo Pederneiras (1951), hoje à frente do Grupo Corpo.
6. O Balé Teatro Guaíra, de Santa Catarina, é criado em 1969 e se torna um dos mais importantes do país. Mais informações em: http://www.tguaira.pr.gov.br/.
7. Idem, p. 61.
8. A ditadura militar se instaura em 1º de abril de 1964 e permanece até 15 de março de 1985. Os direitos políticos dos cidadãos são cassados e os dissidentes perseguidos.
Espetáculos 11
Espetáculos de dança 7
Fontes de pesquisa 6
- ANDRADE, Ana Christina de. Um corpo vivo e emocionado. Artigo disponível em: http://www.fw2.com.br/clientes/artesdecura/REVISTA/corpo_terapia/corpovivo.htm. Acessado em 10 ago. 2011.
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
- LIRIO, Alba; SUTTER, Pedro. Graciela Figueroa: a serviço do ser. Rio de Janeiro: LIP Editora, 1994.
- RUIZ, Giselle. Grupo Coringa: a dança contemporânea carioca dos anos 1970/80. Dissertação de Mestrado. PPGT/Unirio: 2005.
- TRÊS MINUTOS com a realidade de Graciela Figueroa com o Coringa no Obraluna - 21/12/1982. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=DMfNTF-rQts. Acessado em: 10 ago. 2011.
- VERGUEIRO, Maria Alice. Maria Alice Vergueiro. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Não Catalogado
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GRACIELA Figueroa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa423580/graciela-figueroa. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7