Angel Vianna

Angel Vianna, 2018
Texto
Maria Ângela Abras Vianna (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1928). Bailarina, professora, coreógrafa, pesquisadora. Angel Vianna é precursora das noções de Consciência/ Expressão Corporal no Brasil. Seu trabalho firma-se no Rio de Janeiro, onde forma profissionais que contribuem para diversificar a dança no país. O pioneirismo em relacionar dança e reeducação do movimento é hoje reconhecido nos três campos em que atua: arte, terapia e educação.
Aos 17 anos, estuda piano e, aos 20, inicia-se em dança no Ballet de Minas Gerais (BMG), primeira escola de balé de Belo Horizonte, dirigida pelo professor Carlos Leite (1914-1995). Em 1952, completa o tripé de sua formação artística com o curso de Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Ainda estudante, é premiada no 1o Festival Universitário de Arte, com a escultura Pé de Bailarina (1952). Essa intersecção entre as artes e o corpo é sustentada em toda sua trajetória.
O interesse pelos estudos anatômicos concretiza-se no curso de Anatomia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que frequenta informalmente. Na década de 1960, ao lado de Klauss Vianna (1928-1992), estuda com Antonio Brochado, anatomista docente da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A intelectualidade artística e política que se reúne na revista mineira Complemento [1], a Geração Complemento, na década de 1950, contamina-a pela interdisciplinaridade.
Em 1955, é responsável pelos figurinos de Cobra Grande, espetáculo baseado no texto modernista de Raul Bopp (1898-1984) e primeiro balé de Klauss como coreógrafo. No mesmo ano, Angel e Klauss se casam. Em 1958, nasce o primeiro e único filho do casal, Rainer Vianna (1958-1995), que também segue carreira como bailarino.
No ano seguinte, oficializa, junto a Klauss, o emblemático Ballet Klauss Vianna. As obras apresentadas pela companhia apontam o interesse modernista por "uma dança brasileira".
Convidados para ministrar um curso de férias na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Klauss e Angel integram o corpo docente entre 1963 e 1965.
Angel muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha como dançarina em programas de televisão e leciona no Ballet Tatiana Leskova (1922), por quase nove anos. Nesse período, inicia a turma de Expressão Corporal para Atores, um dos principais focos de seu trabalho.
Em 1967, integra o corpo de baile da Cia. Dalal Achcar com participação no espetáculo Giselle, apresentado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. É o último momento de Angel Vianna em cena, iniciando um intervalo de vinte anos longe dos palcos.
Na década de 1970, Angel recebe convites para ministrar cursos por todo o Brasil e assina direção corporal de atores em diversas peças. Em 1972, ministra curso de Expressão Corporal no Conservatório Brasileiro de Música.
Em 1975, funda o Grupo Brincadeiras, que dança em manicômios, presídios e escolas. A companhia chega ao fim no mesmo ano, quando os bailarinos se recusam a dançar com os internos de um manicômio judiciário. Ainda em 1975, ao lado de Teresa D’Aquino e Klauss, funda o Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, conhecido como “Corredor Cultural”, no Rio de Janeiro[2], e iniciam o grupo Teatro do Movimento. Construção (1979-1980), coreografia de Angel, está entre os últimos trabalhos do grupo, desfeito em 1980, depois de perder subsídio da Funarte.
Em 1995, cria o Novo Grupo Teatro do Movimento. No ano seguinte, funda o Instituto de Pesquisa Arte Corpo e Educação (Ipaceav), para a promoção de conhecimentos sobre o corpo nas artes, com ênfase no trabalho para pessoas com necessidades especiais.
Em 1997, recebe o Prêmio Mambembe, mesmo ano em que estreia, de muletas, o solo Angel, Simplesmente Angel, uma homenagem a Rainer e a Klauss, no evento Comfort Dança. Em 1998, apresenta o solo Memória em Movimento, no Panorama RioArte de Dança. Também é homenageada com a exposição Memórias em Movimento – Angel, Klauss e Rainer Vianna, no Centro Cultural Gama Filho, Rio de Janeiro. Angel Vianna recebe o título de doutora Notório Saber (2003), em Conscientização do Movimento, Cinesiologia e Dança, na Ufba.
Participa dos espetáculos Inscrito (1999), A Tempo (2007), Qualquer Coisa a Gente Muda (2010), Ferida Sábia (2012), Amanhã é Outro Dia (2016) e Tempo Não Dá Tempo (2018).
Angel Vianna permanece ativa em suas pesquisas. O interesse pela dança, pautado na observação dos corpos, tece seus passos, fazendo de sua pedagogia uma proposta de dissolução dos limites do corpo autorizado a dançar. O percurso de Angel é fundante na tradição dos Viannas, muitas vezes restrita, equivocadamente, a Klauss.
Notas
1. “[...] os romancistas Ivan Ângelo (1936) e Silviano Santiago (1936), também poeta e ensaísta, lançaram a revista Complemento, que durou quatro números entre 1956 e 1958, que contava com a colaboração de críticos de cinema (Maurício Gomes Leite [1936-1993] e Flávio Pinto Vieira [1939-2008]), artes plásticas (Frederico Morais [1936]), teatro (João Marschner [1932-2002]) e música (Ezequiel Neves [1935-2010]), conhecidos como a “Geração Complemento”. In: RUFFATO, Luiz. Revistas literárias em Belo Horizonte. Rascunho, Curitiba, jan. 2012. Lance de dados. Disponível em: http://rascunho.com.br/revistas-literarias-em-belo-horizonte/. Acesso em: 3 abr. 2018.
2. O Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação surge pela necessidade de um espaço voltado à pesquisa baseada no corpo, como afirma a matéria publicada pelo jornal O Globo, em 15 de junho de 1975: “A organização de um centro de pesquisa sobre o corpo é a meta de Angel, Klauss e Teresa D'Aquino, que acabam de inaugurar sua academia. Fica numa velha casa simpática na Rua Góes Monteiro em Botafogo e, apesar de ser recente, já conta com muitos alunos”. In: O GLOBO. O corpo como objeto de pesquisa. O Globo, Rio de Janeiro, 15 jun. 1975. Jornal da Família. Disponível em: http://acervo.oglobo.globo.com/consulta-ao-acervo/?navegacaoPorData=197019750615.
Espetáculos 25
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22/6/1950 - 24/6/1950
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10/9/1960 - 13/9/1960
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4/1967 - 4/1967
Espetáculos de dança 8
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16/12/1955 - 16/12/1955
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1955 - 21/11/1955
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1955 - 21/11/1955
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Exposições 2
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12/5/2015 - 20/9/2015
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1/3/2018 - 29/4/2018
Mídias (1)
A Enciclopédia Itaú Cultural produz a série Cada Voz, em que personalidades da arte e cultura brasileiras são entrevistadas pelo fotógrafo Marcus Leoni. A série incorpora aspectos de suas trajetórias profissionais e pessoais, trazendo ao público um olhar próximo e sensível dos artistas.
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Links relacionados 7
Fontes de pesquisa 30
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- COELHO, Maria Cristina Barbosa Lopes; XAVIER, Renata Ferreira (org.). Memória da Dança em São Paulo. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2007. 92 p. (cadernos de pesquisa, v. 4).
- COURI, Norma. Dançar São Paulo. Balé da Cidade de São Paulo. São Paulo: Formarte, 2003. p. 17-18.
- DIOGO, Carolina Duarte. Os homens entram na dança. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2010.
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- KATZ, Helena. O Brasil descobre a dança descobre o Brasil. São Paulo: Doréa Books and Art, 1994.
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- RUFFATO, Luiz. Revistas literárias em Belo Horizonte. Rascunho, Curitiba, jan. 2012. Lance de dados. Disponível em: http://rascunho.com.br/revistas-literarias-em-belo-horizonte/. Acesso em: 3 abr. 2018.
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- TEIXEIRA, P. Letícia. Angel Vianna: a construção de um corpo. In: PEREIRA, Roberto; SOTER, Silvia (Orgs). Lições de Dança 2. Rio de Janeiro: Univercidade Editora, 2000.
- VALLIM, Acácio. Balé na Cidade de São Paulo: Sua História Inicial. Balé da Cidade de São Paulo, Cássia Navas (curadora) e Norma Couri (texto). São Paulo: Formarte, 2003.
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ANGEL Vianna.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
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