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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Alexei Bueno

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
26.04.1963 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Alexei Bueno Finato (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1963). Poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário e editor. Sua obra poética destaca-se pelo uso da forma fixa, da inflexão metafísica e do repertório erudito. Sua produção inclui, além de poemas próprios, traduções e antologias poéticas, ensaios sobre literatura, artes plásticas, cinema e p...

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Alexei Bueno Finato (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1963). Poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário e editor. Sua obra poética destaca-se pelo uso da forma fixa, da inflexão metafísica e do repertório erudito. Sua produção inclui, além de poemas próprios, traduções e antologias poéticas, ensaios sobre literatura, artes plásticas, cinema e patrimônio cultural brasileiro. 

Inicia sua produção literária em 1984 com As Escadas da Torre. Desde o livro de estreia estão presentes em sua obra traços marcantes da poética do autor, como a reflexão metalinguística (“Madrugadas profundas de proscrito / Gastei sobre o papel dos meus enganos”); o emprego exclusivo de versos metrificados; o gosto por poemas longos. Até mesmo quando utiliza uma forma breve por definição – como é o caso de Livro de Haicais (1989), escrito integralmente nessa forma de origem japonesa1 –, o resultado é um longo poema, que ocupa todo o livro. 

Lucernário (1993) traz a reflexão sobre o tempo como um dos principais temas poéticos, convocando referências gregas em composições muitas vezes descritivas. Um exemplo é “Helena”, que retrata o corpo dessa figura mitológica, decrépito e já morto: “Noventa e sete anos. Suas pernas / Eram dois secos galhos recurvados. / Seus seios até o umbigo desdobrados”. 

A preocupação com a passagem do tempo e a “camisa-de-força do instante intransponível” está no centro também de A Via Estreita (1995), a primeira obra em que o poeta adota versos livres. Um dos livros de Bueno mais valorizados pela crítica, ao lado de Lucernário e de Entusiasmo (1997), trata-se de longa composição na qual o eu lírico reflete sobre a relação entre a poesia e o mundo: “Roçam-se em mim, incontadas, as vidas todas – e as vidas de cada vida – / Esta é a embriaguez. Tomai e bebei todos vós”. A extensão, os temas, a presença do prosaico em reflexões metafísicas e a ironia impaciente que dá o tom de muitas passagens (“Estou cheio de tudo. / Eu não existe neste vácuo milionário em que fervilho”) revelam a influência da poesia portuguesa de Fernando Pessoa (1888-1935), e também de autores do simbolismo como Eugênio de Castro (1869-1944) e Camilo Pessanha (1867-1926). 

Por vezes vista como herdeira da geração de 45 do modernismo (terceira geração), que recusa as conquistas modernistas e se concentra no uso de formas fixas e em temas desvinculados da realidade, a poesia de Bueno desperta debates na crítica sobre o lugar que ocupa na literatura brasileira. Porém se reconhece a distância entre sua produção e a de contemporâneos que praticam a concisão e a objetividade. Essa distância está no centro de uma polêmica iniciada na “Carta aberta aos poetas brasileiros”, publicada em jornal em 2002, na qual Alexei denuncia aquilo que chama de “mistificação crítica” da literatura brasileira – inaugurada, segundo afirma, pelo concretismo e que hoje tem como efeito a valorização exclusiva, pela crítica acadêmica, da poesia concisa e objetiva, gerando um cenário estreito para a produção contemporânea no país. 

Tal leitura do concretismo se apresenta também em Uma História da Poesia Brasileira (2007), em que Bueno afirma que o movimento está mais ligado às artes visuais do que à literatura e contesta a importância do legado poético de Haroldo de Campos (1929-2003), Augusto de Campos (1931) e Décio Pignatari (1927-2012). O trabalho desses poetas é valorizado, porém, em capítulo dedicado à tradução de poesia no Brasil, seção destacada como uma das principais contribuições do livro, ao lado de capítulo dedicado à poesia popular nordestina. 

Bueno atua também como editor, organizando obras completas de diferentes autores brasileiros – como Cruz e Sousa (1861-1898), Olavo Bilac (1865-1918) e Vinicius de Moraes (1913-1980) –, e tradutor, vertendo para o português obras de escritores como os franceses Gérard de Nerval (1808-1855) e Stéphane Mallarmé (1842-1898), o inglês William Shakespeare (1564-1616), o norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), o italiano Giacomo Leopardi (1798-1837), e o espanhol San Juan de la Cruz (1542-1591).

A erudição e a predileção pela poesia caracterizam as diferentes áreas de atuação de Alexei Bueno e permanecem como marcas de sua produção literária. Com base em elementos atemporais, como as referências clássicas, e na tendência reflexiva, o autor desenvolve longos poemas em torno da temporalidade humana e se distancia da linhagem breve e objetiva da poesia do mundo contemporâneo.

 

Nota:

1. Haicai é uma forma de poesia curta japonesa, surgida no século XVI, composta de três versos, com cinco, sete e cinco sílabas, respectivamente, que aborda temas como a natureza e a passagem do tempo. Cf.: DICIONÁRIO Houaiss da Língua Portuguesa.

Exposições 2

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