Juliana Carneiro da Cunha
Texto
Biografia
Juliana Carneiro da Cunha (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1949). Atriz. Bailarina e intérprete que se destaca pelas suas interpretações em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, 1982, de Fassbinder (1945-1982), ao lado de Fernanda Montenegro (1929), e Mão na Luva, 1984, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), em parceria com Marco Nanini (1948). Desde os anos 1990, torna-se a primeira atriz do Théatre du Soleil, companhia estável de Arianne Mnouschkine, em Paris.
Dos 7 aos 17 anos estuda dança com a professora de dança Maria Duschenes (1922-2014), especialista no método Laban de dança. Neste período, também estabelce contato com o marido de Maria, o arquiteto e professor de história da arte, Herbert Duschenes (1914-2003), participando de aulas sobre artes plásticas. Aos 18 anos, consegue uma bolsa de estudos na Alemanha, onde faz curso de dança folclórica com o bailarino alemão Kurt Jooss (1901-1979), discípulo do coreógrafo húngaro Rudolf Laban (1879-1958). Em 1970 vai para Bruxelas, onde disputa com 400 candidatos uma das 28 vagas para a primeira turma do Mudra, escola de Maurice Béjart (1927-2007) dedicada a aperfeiçoar bailarinos de todo o mundo e criar intérpretes para o que ele chama de "espetáculo total". Dois anos depois é a primeira aluna brasileira a dançar na Século XX, companhia criada por Maurice Béjart para encenar apenas espetáculos contemporâneos, apresentados em excursões por diversos países. Com os sete alunos que, como ela, concluem o curso de três anos do Mudra, forma o grupo Chandra, que durante um ano se apresenta em Bruxelas, Londres, Genebra e sul da França. Volta para Paris onde faz trabalhos isolados - entre eles, uma colaboração em espetáculos de Robert Wilson (1941). Em Bruxelas, atua em Os Românticos Alemães - em que, além de dançar, canta, interpreta e faz mímica - e Bodas de Sangue, de Federico García Lorca (1898-1936).
Em 1976, volta para o Brasil e apresenta o balé solo Possessão, de 15 minutos, que estreara com êxito em Bruxelas, baseado na vida de Santa Tereza de Ávila. Recebe por esse desempenho o prêmio de revelação do ano da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). Em 1978, estréia, ao lado da coreógrafa Célia Gouveia (1949), Isadora, Ventos e Vagas, com o qual recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. No ano seguinte interpreta o papel de sóror Mariana do Alcoforado, que, no século XVII, vive uma paixão por um nobre, em Cartas Portuguesas. Em Presença de Vinícius interpreta 16 personagens em um espetáculo que, embora de carreira curta e pouca repercussão, é assistido pela atriz Fernanda Montenegro. A atriz a indica para o papel da muda de As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, com direção de Celso Nunes (1941). Interpretando Marlene, a criada, governanta e figurinista da personagem vivida por Fernanda Montenegro, Juliana Carneiro torna expressivo e emocionante um personagem sem falas e sem vida própria. Em seguida, atua em outro espetáculo de grande repercussão - Mão na Luva, de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de Aderbal Freire-Filho (1941) - em que divide o palco com o ator Marco Nanini e tem a oportunidade de trabalhar um texto denso e exigente.
No final dos anos 1980, Juliana ingressa na companhia de Arianne Mnouschkine, o Théatre du Soleil. Com contrato fixo em uma companhia estável, historicamente importante pelos espetáculos inovadores que encenou nos anos 1960 e 1970, Juliana Carneiro se fixa em Paris. Em pouco tempo se torna a primeira atriz da companhia, interpretando grandes personagens como Clitemnestra, na trilogia de Sófocles. Volta ao Brasil em 2003, para contracenar com Marco Nanini, em A Morte de Um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller (1915-2005), com direção de Felipe Hirsch (1972).
Sobre sua interpretação neste espetáculo, comenta o crítico Alberto Guzik (1944-2010): "Juliana Carneiro da Cunha, por sua vez, projeta Linda Loman para as alturas. Atriz consumada, dona de presença cênica gigantesca, Juliana leva Linda a crescer, na mesma proporção em que Willy encolhe. Essa grande artista mostra cada frincha, cada brecha de sensação que Linda atravessa em seu difícil percurso. Sua interpretação pega o espectador de assalto e vai ao longo da ação ampliando a estatura da personagem, alargando os horizontes dessa pobre mulher desiludida que, essa sim, faz frente à situação com a bravura, a grandeza e a energia de uma heroína da tragédia grega. A voz poderosa de Juliana, sua intensidade, seu olhar vibrante hão de permanecer por longo tempo na memória do espectador deste trabalho, que no todo e por direito próprio, é memorável".1
Notas
1 GUZIK, Alberto. Felipe Hirsch mostra montagem enxuta de 'A Morte de um Caixeiro-Viajante'. Último Segundo, São Paulo. Disponível em: [http://ultimosegundo.ig.com.br/useg/cultura/artigo/0,,1343043,00.html].
Espetáculos 14
Espetáculos de dança 1
Fontes de pesquisa 7
- ALBUQUERQUE, Johana. Juliana Carneiro da Cunha (ficha curricular) In: _________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- BRESSAN, Alexandre. Juliana, a muda que fala o tempo todo. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 jun. 1984.
- CUNHA, Juliana Carneiro da. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- GREENHALGH, Laura. Juliana, um corpo que fala, ri, chora. Em qualquer língua. Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 abr. 1979.
- Programa do Espetáculo - As Lágrimas Amargas de Petra von Kant - 1983. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Os Náufragos da Louca Esperança - 2011. Não catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
JULIANA Carneiro da Cunha.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359380/juliana-carneiro-da-cunha. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7