Teresa Cristina

Teresa Cristina, 2022
Texto
Teresa Cristina Macedo Gomes (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1968). Compositora e cantora. Uma das expoentes da nova geração de sambistas que alcançam notoriedade entre os anos 1990 e 2000 na capital fluminense. Promove o incremento da presença feminina nos meandros desse gênero musical. Com sua voz grave, e influenciada pelo “samba de raiz”, desponta no cenário musical com o grupo Semente, e, posteriormente, percorre carreira solo, aclamada por público e crítica.
Filha de um feirante vendedor de frutas do Méier, nasce no Bonsucesso e cresce na Vila da Penha, bairros do subúrbio carioca. Na juventude, ingressa no curso de Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na mesma época, tem contato com o trabalho do compositor Antônio Candeia Filho (1935-1978) e monta um espetáculo baseado no repertório do sambista. Somente adulta percebe a potente mensagem de valorização dos negros, em especial por meio do samba, com as músicas de Candeia. Aos 27 anos, compõe sua primeira canção. Aprende a compor sem instrumentos no centro de umbanda que frequenta desde a adolescência.
Na segunda metade dos anos 1990, inicia a carreira como cantora do grupo Semente, ao lado de músicos amantes do “bom” samba: Bernardo Dantas (1971), no violão, João Callado, no cavaquinho, Pedro Miranda (1976), no pandeiro, e Ricardo Cotrim, no surdo. A partir de 1998, o conjunto se apresenta, aos sábados, no pequeno Bar Semente (do qual deriva o nome), situado na Lapa, no centro do Rio de Janeiro. Com o significativo aumento do público, o grupo é convidado para outras apresentações.
Em 2000, divide o palco do Teatro Rival e da Sala Funarte com expoentes do samba, como os compositores Wilson Moreira (1936-2018), Xangô da Mangueira (1923-2009) e Guilherme de Brito (1922-2006). Em 2002, Teresa Cristina grava com o grupo Semente um disco de composições do músico Paulinho da Viola (1942), A Música de Paulinho da Viola – o trabalho ganha prêmios nacionais e é indicado ao Grammy latino de melhor disco de samba.
A trajetória formativa da artista passa por frequentes encontros musicais com a Velha Guarda da escola de samba Portela, à qual é apresentada pela cantora e compositora Cristina Buarque (1950), uma das grandes incentivadoras de sua carreira artística.
Na imprensa, a crítica musical especializada a recebe como uma das melhores e principais sucessoras da “autenticidade” do velho samba, que entra em declínio a partir da década de 1970. Seu maior diferencial advém de suas escolhas artísticas e musicais, ou seja, de seu deliberado afastamento da estética associada ao pagode, tão em voga nas rádios comerciais nos anos 1980 e 1990. O contraste com os populares pagodeiros, que se distanciam das temáticas e da estética tradicionais do samba, fermenta a ideia de resgate de um “samba de raiz”, que tem a colaboração de Teresa Cristina e outros artistas, como o cantor Moyseis Marques (1979) e o grupo Casuarina. A própria cantora, contudo, reconhece a importância das contribuições mais comerciais para a manutenção do gênero naquele momento.
Em 2005, lança o primeiro disco ao vivo com o grupo Semente, O Mundo É Meu Lugar, com composições de sua autoria, com destaque para “Cordão de Ouro”, em coautoria com o compositor Roque Ferreira (1947), e “Para Cobrir a Solidão”, com Zé Renato (1956).
Ao lado de figuras proeminentes do samba, entre as quais Dona Ivone Lara (1922-2018), Leci Brandão (1944), Mart’nália (1965), Nilze Carvalho (1969), Ana Costa (1968) e Telma Tavares (1965), constitui um poderoso grupo de mulheres compositoras que têm rachado as estruturas majoritariamente masculinas dessa vertente da música brasileira, em que o feminino historicamente está atrelado tão-somente à interpretação vocal.
Grava os discos Teresa Cristina Canta Cartola (2017) e Teresa Cristina Canta Noel (2018), com canções dos sambistas Noel Rosa (1910-1937) e Cartola (1908-1980). Em 2020, em suas apresentações, canta músicas de compositores negros ao som de uma banda formada apenas por mulheres.
Reconhecida como uma das principais expoentes do samba contemporâneo, Teresa Cristina empresta à arte não apenas o talento de sua voz, mas também a versatilidade de uma inteligência e de uma sensibilidade que renova o principal gênero musical brasileiro, sem perder de perspectiva a importância de suas origens estéticas e temáticas.
Exposições 1
-
26/9/2022 - 31/7/2021
Mídias (1)
Cada voz
A série “Cada voz” é um projeto da "Enciclopédia Itaú Cultural" com registros de depoimentos de artistas de diferentes áreas de expressão, como literatura, música, teatro e artes visuais. Conduzidos pelo fotógrafo Marcus Leoni, os vídeos capturam o pensamento dos artistas sobre seu processo de criação e sua visão sobre a própria trajetória. Os registros aproximam o público do artista, que permite a entrada no camarim, no ateliê ou na sala de escrita.
ITAÚ CULTURAL
Presidente: Alfredo Setubal
Diretor: Eduardo Saron
Gerente do Núcleo de Enciclopédia: Tânia Rodrigues
Produção de conteúdo: Pedro Guimarães
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: André Furtado
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Amanda Lopes
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Interpretação em Libras: FFomin Acessibilidade e Libras (terceirizada)
O Itaú Cultural integra a Fundação Itaú para Educação e Cultura. Saiba mais em fundacaoitau.org.br.
Fontes de pesquisa 8
- ARAÚJO, Júlia Silveira de. O resgate do “samba de raiz” no Rio de Janeiro pós 1990. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 35., 2012, Fortaleza. Anais. Fortaleza: Intercom, 2012. Disponível em: http://www.intercom.org.br/sis/2012/resumos/r7-2087-1.pdf. Acesso em: 8 out. 2020.
- CARDOSO, Tom. Memélia para todos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 26 out. 2008. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2610200812.htm. Acesso em: 6 jul. 2020.
- FERNANDES, Dmitri Cerboncini. A inteligência da música popular: a “autenticidade” no samba e no choro. 2010. 414 f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-15092010-171819/publico/2010_DmitriCerbonciniFernandes.pdf. Acesso em: 8 out. 2020.
- MININE, Rosa. Teresa Cristina - Sambista por excelência. A Nova Democracia, Rio de Janeiro, jul. 2008. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/no-44/1719-teresa-cristina-sambista-por-excelencia. Acesso em: 5 jul. 2020.
- MOREIRA, Núbia Regina. A presença das compositoras no samba carioca: um estudo da trajetória de Teresa Cristina. 2013. 133f. Tese (Doutorado em Sociologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2013. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/16746/1/2013_NubiaReginaMoreira.pdf. Acesso em: 8 out. 2020.
- MÁXIMO, João. 100 anos de samba: Um passeio pelo gênero ao longo das décadas. O Globo, Rio de Janeiro, 27 nov. 2016. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/musica/100-anos-de-samba-um-passeio-pelo-genero-ao-longo-das-decadas-20548163. Acesso em: 5 jul. 2020.
- TERESA Cristina. In: Dicionário Cravo Albin. Disponível em: < http://www.dicionariompb.com.br/verbete.asp?nome=Teresa+Cristina&tabela=T_FORM_A>. Acesso em> 22 dez. 2006. Não catalogado
- VANINI, Eduardo. Teresa Cristina fala sobre presença feminina no samba, amizades na MPB e relação com fãs: 'Mandam salgadinhos, tipo coxinha e rissole'. O Globo, Rio de Janeiro, 21 jun. 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/gente/teresa-cristina-fala-sobre-presenca-feminina-no-samba-amizades-na-mpb-relacao-com-fas-mandam-salgadinhos-tipo-coxinha-rissole-24486085. Acesso em: 6 jul. 2020.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TERESA Cristina.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa337576/teresa-cristina. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7