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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Ekman

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
1866 Suécia / a definir / Estocolmo
1940 Brasil / São Paulo / Santos
Karl Wilhelm Ekman (Estocolmo, Suécia 1866 - Santos SP 1940). Arquiteto. Seu pai, o construtor e arquiteto Pehr Johan Ekman (1816 - 1884), dedica-se, entre 1858 e 1884, à produção de carpintaria industrial e de edificações pré-fabricadas de madeira. De família burguesa bem-sucedida, Ekman inicia seus estudos na Escola de Belas Artes de Copenhagu...

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Biografia
Karl Wilhelm Ekman (Estocolmo, Suécia 1866 - Santos SP 1940). Arquiteto. Seu pai, o construtor e arquiteto Pehr Johan Ekman (1816 - 1884), dedica-se, entre 1858 e 1884, à produção de carpintaria industrial e de edificações pré-fabricadas de madeira. De família burguesa bem-sucedida, Ekman inicia seus estudos na Escola de Belas Artes de Copenhague em 1882. Dois anos depois, no entanto, com a falência da fábrica e a morte do pai, retorna a Estocolmo, e termina os estudos na Escola de Engenharia, em 1886. Recém-formado, muda-se para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades profissionais, e trabalha em Nova York como desenhista na firma De Lemos e Cordes. Transfere-se para a Argentina, em 1888, e atua como desenhista em Buenos Aires. Em 1890, desempregado, decide mudar-se para o México, mas, antes, vai para o Rio de Janeiro, onde se estabelece por dois anos. Do Rio de Janeiro retorna a Buenos Aires em 1892 e realiza seus primeiros projetos como arquiteto para as famílias Villarte e Olaguer Felni.

A convite do amigo, o arquiteto alemão Augusto Fried, muda-se para São Paulo em 1894. Insere-se na sociedade paulistana e casa-se com Flora Jaguaribe, filha do médico, geógrafo e escritor Domingos José Nogueira Jaguaribe. Em 1900, naturaliza-se brasileiro e muda seu nome para Carlos Ekman. Inicia sua vida profissional em sociedade com Augusto Fried na firma de projetos e construções Fried & Ekman, que realiza obras particulares e públicas, como os projetos para o viaduto Santa Ifigênia e o Theatro Municipal, ambos não realizados. A sociedade é desfeita no início do século XX, mas os arquitetos realizam projetos em conjunto, como as sedes das firmas Casa Johann B. Hasenclever & Sohne e Herm Stoltz & Cia., construídas no Rio de Janeiro em 1905. Sua carreira como arquiteto autônomo é desenvolvida com dificuldade, permanece longos períodos sem muitas encomendas e se envolve em iniciativas pouco rentáveis, como a medição das terras que seu sogro pretende transformar em estância sanitária em Campos de Jordão e a construção da cadeia de São José do Rio Pardo, onde contrai malária.

Em 1910 retorna pela primeira vez à Europa, onde permanece um ano. Publica na Suécia o livro Det Moderna Brasilien, 1910, dedicado à economia, sociedade e cultura brasileiras. No início da década de 1920, associa-se ao filho Sylvio Jaguaribe Ekman, engenheiro formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Com a dissolução da sociedade, em 1934, dedica-se sobretudo à pintura e participa do 1º Salão Paulista de Belas Artes, em 1934.

Comentário Crítico
Carlos Ekman emigra da Suécia para o Brasil no fim do século XIX, atraído, como Adolfo Morales de Los Rios (1858 - 1928), Victor Dubugras (1868 - 1933), Ricardo Severo (1869 - 1940), Domiziano Rossi (1865 - 1920) e Felisberto Ranzini (1881 - 1976), pelas grandes oportunidades profissionais oferecidas pelo país num momento de grande pujança econômica, intensa urbanização e desenvolvimento do mercado da construção civil, com sua atividade sendo a princípio favorecida pela demanda da elite local por profissionais estrangeiros, que trazem na bagagem os modelos de arte e arquitetura que eles desejam importar da Europa.1 Desenvolvendo projetos ecléticos como os demais arquitetos do período, Ekman se destaca na história da arquitetura do Brasil por introduzir em suas cidades um novo estilo: o art nouveau. Considerado pelo crítico e historiador da arte Flávio Motta (1916) o primeiro estilo a romper com o ecletismo dominante no país, o art nouveau de Ekman tem como principal exemplar a Vila Penteado, residência encomendada pelo fazendeiro e industrial Antônio Álvares Penteado (1852 - 1912) para a família, em 1902, atual sede da pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP.

Construída no bairro de Higienópolis, em São Paulo, palco de outras construções no estilo, ao lado dos bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elíseos e Bela Vista, ela se destaca pela inovação estética e programática concebida pelo arquiteto sueco. Externamente o edifício é caracterizado por fachadas de desenho geométrico marcadas por "paredes lisas vazadas por estreitas janelas retangulares, dispostas próximas umas às outras, a fim de equilibrar por sua acentuada verticalidade a horizontalidade do volume do edifício".2 Essa solução é de certa forma empregada no Teatro São José, ca.1899 (demolido), e na Escola de Comércio Álvares Penteado, 1909.

Na Vila Penteado, a ortogonalidade da composição é quebrada pelos alpendres curvos dos acessos principais da residência e pela ornamentação curvilínea em motivos florais e abstratos, que se repetem internamente. No interior, o elemento de maior destaque, em que se concentram "todos os efeitos estéticos, decorativos e espaciais", é o vestíbulo. Nele, conforme o historiador Yves Bruand, Ekman desenha escadarias, tribunas e aberturas de tipos, formas e dimensões variadas que interligam horizontal e verticalmente os espaços da residência, numa solução que a aproxima dos edifícios concebidos pelo arquiteto belga Victor Horta (1861 - 1947). É nesse espaço central com pé-direito duplo que o arquiteto empreende uma modificação significativa no modelo de distribuição francês então adotado nas residências da elite paulistana do período.

Imaginado no modelo francês como um espaço meramente de distribuição entre as zonas de estar, de serviço e íntima, o vestíbulo proposto por Ekman ganha importância transformando-se, segundo a historiadora Maria Cecília Naclério Homem, no "local das reuniões familiares, em detrimento da antiga sala da senhora, situada entre a cozinha e a sala de jantar", e da sala de visita do modelo francês, utilizada pelas famílias paulistanas apenas em ocasiões especiais. A proposta empregada na cidade pela primeira vez nessa residência é seguida, entre outros, por Dubugras na Residência da Baronesa de Arari e por Ricardo Severo na Residência Numa de Oliveira, ambas de 1916. Poucos exemplares da arquitetura art nouveau sobrevivem à transformação por que passa a cidade nos anos 1950, a Vila Penteado é um dos poucos remanescentes tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo - Condephaat, em fevereiro de 1978.

 

Notas
1 LIEMUR, Jorge Francisco. A New World for the new spirit: twentieth-century architecture's discovery of Latin America. Zodiac, Milão, n. 8, set. 1992/fev. 1993, p. 85-121.
2 BRUAND, Yves Bruand. Arquitetura contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3ª. ed. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 46.

Exposições 2

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Fontes de pesquisa 11

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  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). IC R703.0981 C376d v.2 pt. 1
  • Disponível em: [http://www.archinform.net/arch/29248.htm?ID=3XgB6CXT1lKuWBxT]. Acesso em 19 out. 2004. Archinform
  • EKMAN, Domingos Ribeiro Jaguaribe. Vila Penteado: manuscrito inédito do arquiteto Carlos Ekman. In: Boletim Técnico de São Paulo, São Paulo, n. 7, p. 9-23, abr. 1993.
  • HOMEM, Maria Cecília Naclério. Vila Penteado: Carlos Ekman, um inovador na arquitetura paulista. In: Boletim Técnico de São Paulo, São Paulo, n. 10, p. 9-24, abr. 1993.
  • KATINSKY, Júlio Roberto. Vila Penteado: arquitetos e engenheiros estrangeiros em São Paulo na virada do século. In: Boletim Técnico de São Paulo, São Paulo, n. 3, p. 9-31, abr. 1993.
  • LIERNUR, Jorge Francisco. A New World for the new spirit: twentieth-century architecture's discovery of Latin America. Zodiac, Milão, n. 8, p. 85-121, set. 1992/fev. 1993.
  • MOTTA, Flávio Lichtenfels. Art nouveau: um estilo entre a flor e a máquina. Rio de Janeiro: Cadernos Brasileiros, 1965, p. 54-63.
  • REITER, Ole Peter. Vila Penteado: ambiente arquitetônico sueco na época do arquiteto Carlos Ekman. In: Boletim Técnico de São Paulo, São Paulo, n. 2, p. 9-17, abr. 1993.
  • TOLEDO, Benedito Lima de. Vila Penteado: Carlos Ekman: um arquiteto sueco no Brasil. In: Boletim Técnico de São Paulo, São Paulo, n. 9, p. 9-22, abr. 1993.
  • ______. Contribuição ao estudo do "Art nouveau" no Brasil. São Paulo: [s.n.], 1957.

Como citar

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