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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Adolfo Morales de Los Rios

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.12.2014
10.03.1858 Espanha / Andaluzia / Sevilha
03.09.1928 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Adolfo Morales de Los Rios y Garcia de Pimentel (Sevilha, Espanha 1858 - Rio de Janeiro RJ 1928). Arquiteto, urbanista, professor e historiador. Ingressa no curso de arquitetura da Escola de Belas Artes de Paris em 1877. Forma-se em 1882 e inicia sua atividade profissional na capital francesa. Retornando à Espanha, participa de concursos e reali...

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Biografia
Adolfo Morales de Los Rios y Garcia de Pimentel (Sevilha, Espanha 1858 - Rio de Janeiro RJ 1928). Arquiteto, urbanista, professor e historiador. Ingressa no curso de arquitetura da Escola de Belas Artes de Paris em 1877. Forma-se em 1882 e inicia sua atividade profissional na capital francesa. Retornando à Espanha, participa de concursos e realiza obras como o Banco de Espanha em Madri, o Grande Teatro Falla, 1883, em Cádiz, e o Cassino de San Sebastián, 1880/1887. Em 1887, preside a Sociedade El Fomento de las Artes em San Sebastián e leciona na escola de formação de mão-de-obra operária mantida pela instituição. Por problemas políticos, em virtude de seu engajamento e posterior rompimento com o Partido Reformista Espanhol, Morales de Los Rios aposta no convite informal de um ministro chileno para lecionar arquitetura e fundar uma escola de arquitetura no Chile. Deixa a Espanha em outubro de 1889. No decorrer da viagem conhece Fernando de Noronha, em Pernambuco, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, onde presencia a Proclamação da República, e permanece dois meses em Buenos Aires. Convencido das dificuldades de se estabelecer no Chile por causa dos problemas políticos enfrentados pelo país, retorna ao Brasil definitivamente em 1890.

Sua produção arquitetônica ocorre em meio a muitas atividades. Projeta em Salvador, Recife, Maceió e Rio de Janeiro grande número de edifícios residenciais, comerciais, institucionais, educacionais, religiosos, industriais, hospitalares, monumentos públicos e funerários, além de cartazes, ilustrações e capas de livros. Entre seus projetos se destacam a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, 1906/1908, o Portão Monumental (não construído) e o Parque de Diversões (demolido) para a Exposição Internacional das Comemorações do Centenário da Independência do Brasil, 1922/1923. Desenvolve projetos de saneamento, planos de urbanização e transporte, acompanhando como empreendedor as obras de saneamento de Salvador na década de 1890, a construção da Estrada de Ferro Norte de Alagoas e a rodovia de ligação Caeté-Peçanha, em Minas Gerais, construída pela Companhia Auto-Viação Centro de Minas, da qual é presidente e diretor. Além dessas iniciativas, investe na construção civil, na industrialização de pescados e na criação de pequenos mercados-modelos e lavanderias públicas. Ingressa na Enba como professor em 1897, e dá aulas de projeto, desenho, história e teoria da arquitetura até o ano de seu falecimento. É professor também da Faculdade de Filosofia e Letras e da Faculdade de Ciências Econômicas no Rio de Janeiro. Como historiador, jornalista e polemista escreve sobre temas diversos, destacando-se os artigos Subsídios para a História da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, 1915, Resumo Monográfico da Evolução da Arquitetura no Brasil, 1922/1923, e Subsídios Resumidos para a História da Edificação e da Arquitetura Religiosa do Brasil, 1925.

Comentário Crítico
Como empreendedor, arquiteto e urbanista, Adolfo Morales de Los Rios participa ativamente do projeto de modernização republicana, entre 1889 e 1930, manifesto nas reformas urbanísticas do Rio de Janeiro realizadas na presidência de Rodrigues Alves (1848 - 1919), e a administração municipal de Pereira Passos (1836 - 1913). Essas reformas são empreendidas por uma série de motivos - da necessidade de instalação de infra-estrutura urbana diante das graves condições sanitárias da cidade à imprescindível afirmação do poder republicano recém-instalado, em 1889, passando pelo desejo de inserir o Brasil na economia mundial.

No campo da arquitetura e do urbanismo a obra de modernização da capital, Rio de Janeiro, mais emblemática é a avenida Central (atual avenida Rio Branco), na qual o arquiteto constrói dezenas de edifícios. Realizada entre 1904 e 1906 pelo prefeito Pereira Passos, a avenida liga em linha reta a praia de Santa Lucia ao Porto, cortando o antigo traçado da cidade com a demolição de milhares de construções coloniais e imperiais e arrasamento de parte do morro do Castelo, marco de fundação do Rio de Janeiro, no século XVI. A negação do passado colonial e o desejo de superação do período de dominação portuguesa, expresso nas referidas demolições, são reforçados pela adoção dos padrões urbanísticos e arquitetônicos das principais capitais da Europa, sobretudo Paris e Londres, sobressaindo entre as diversas referências e modelos as reformas do barão Georges-Eugène Haussmann (1809 - 1891) em Paris e o ecletismo internacional. Embora seja um dos poucos contra a demolição total do morro do Castelo, completada anos depois com a construção do aterro de mesmo nome, Morales de Los Rios adota os mesmos modelos urbanísticos e arquitetônicos que se disseminam pela capital e demais cidades do país a partir do último quartel do século XIX. Dessa maneira, as obras construídas por ele na antiga avenida Central seguem os preceitos de composição e justaposição de elementos arquitetônicos de procedências diversas no tempo e no espaço, de proporção, representação tipológica, ornamentação, exuberância e dramaticidade típicos da arquitetura eclética.

Das obras construídas na avenida Central, como a sede do jornal O Paiz (demolida), o Café Mourisco (demolida), o Restaurante Assírio no piso térreo no Theatro Municipal, o Supremo Tribunal Federal, 1905/1909, projetado a princípio para ser o Palácio Arquiepiscopal, a de maior destaque é a Escola Nacional de Belas Artes - Enba, 1906/1908, atual Museu Nacional de Belas Artes - MNBA. Construído para substituir a antiga sede neoclássica da escola (demolida) do arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776 - 1850), o edifício é inspirado na arquitetura renascentista, com diferenças estilísticas entre as quatro fachadas. Na fachada principal, voltada para avenida Rio Branco, Morales de Los Rios faz referências à fachada ocidental do palácio do Louvre, de Visconti e Hector Leufel, que aparecem nas arcadas em arco pleno flanqueadas por maciços pilares com ranhuras no pavimento térreo, na adoção da ordem coríntia, nas cariátides, no ático dos pavilhões e na alternância entre frontões triangulares e circulares seccionados no centro. Nas fachadas laterais o arquiteto se inspira no renascimento italiano, criando na fachada posterior uma arquitetura de estilo indefinido. O projeto original para a escola é alterado durante a construção, com a adoção de cúpulas na fachada principal em vez de mansardas, entre outros detalhes, que desagradam ao arquiteto espanhol. Do conjunto de sua obra ainda restam no Rio de Janeiro a Basílica do Imaculado Coração de Maria, 1909/1929, no Méier, e o Palácio São Joaquim, 1910/1912, na Glória. O primeiro é inspirado na arquitetura mozárabe, como o Café Mourisco, e o segundo faz referências ao Renascimento.

Morales de Los Rios participa ativamente de outro evento marcante dos anos da Primeira República: a Exposição Internacional de Comemoração do Centenário da Independência, realizada no Rio de Janeiro entre 1922 e 1923. Para a exposição o arquiteto projeta o Portão Monumental (não construído) e o Parque de Diversões (demolido), obra que recebe a medalha de ouro. A liberdade estilística identificada nos projetos, que leva o escritor Artur de Azevedo (1855 - 1908) a classificar o estilo de algumas obras do arquiteto de "moralino", é radicalizada nesses dois edifícios, sobretudo na decoração que recebe ornamentos desenhados pelo arquiteto e inspirados na fauna e flora tropicais, mas também em continentes como a África. É possível identificar esculturas ornamentais de papagaios, macacos, periquitos, elefantes e conchas, e outros elementos naturalistas.

A convite da comissão organizadora da exposição, Morales de Los Rios escreve o artigo Resumo Monográfico da Evolução da Arquitetura no Brasil, publicado no Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência e da Exposição Internacional do Rio de Janeiro. No artigo, ele traça oito fases de evolução da arquitetura brasileira, do período primitivo do início da colonização à contemporaneidade, passando pelo período jesuítico, holandês, barroco, neoclássico, imperial e eclético. De modo geral, essa periodização, bem como a análise histórica de Morales de Los Rios, guarda semelhanças com a leitura empreendida pelo arquiteto português Ricardo Severo (1869 - 1940) sobre o tema, sobretudo no tocante à aproximação entre arquitetura e arqueologia, à avaliação de que os indígenas não possuem uma arquitetura relevante, à valorização da arquitetura jesuítica e barroca e às considerações sobre a importância de zelar não só pelo futuro da arquitetura do Brasil, mas também pelo seu "passado arqueológico".

Exposições 5

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Fontes de pesquisa 4

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  • FABRIS, Annateresa (org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel: Edusp, 1987.
  • MORALES DE LOS RIOS FILHO, Adolfo. Adolfo Morales de los Rios: figura, vida e obra. Rio de Janeiro: Borsoi, 1959. 414 p. il p& b.
  • MORALES DE LOS RIOS, Adolfo. "Resumo monográfico da evolução da arquitetura no Brasil", publicado no Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência e da Exposição Internacional do Rio de Janeiro - 7 de setembro de 1822 a 7 de setembro de 1922-1923. Rio de Janeiro: Edição do Anuário do Brasil, 1923, pp. 97 - 103.
  • SANTOS, Paulo F. Quatro séculos de arquitetura. Rio de Janeiro: Editora Valença, 1977. 142p, il p&b.

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