Pedro Paulo Cava
Texto
Pedro Paulo Ribeiro Cava (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1950). Diretor, ator, produtor, gestor cultural e professor. Com participação significativa no cenário cultural de Belo Horizonte, destaca-se como diretor pela montagem de musicais como Mulheres de Hollanda e A Era do Rádio. É fundador e diretor do Teatro da Cidade, idealizador da escola livre Oficina de Teatro, posteriormente incorporada à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, além de atuar no âmbito da política cultural.
Inicia sua trajetória artística em 1963, na adolescência, quando cria o Grupo de Teatro Jovem, ligado à Juventude Estudantil Católica. Nos anos seguintes, participa como ator dos espetáculos O Pequeno Príncipe, Pluft, o Fantasminha, O Rapto das Cebolinhas e O Soldado e o Sacristão. Em 1967, ingressa no curso de introdução ao teatro do grupo Teatro Experimental (TE), dirigido por Jonas Bloch e Jota Dangelo, que se torna importante parceiro e incentivador de sua carreira. Concluído o curso, atua no espetáculo Bolota contra o Bruxo, sendo apontado como ator revelação do ano pelo jornal Estado de Minas.
Ainda estudante, desenvolve diversas atividades no universo do teatro, trabalha como ator, iluminador e assistente de direção, em que acumula uma vivência teatral ampla e domínio de diferentes funções artísticas. É um dos fundadores do Teatro Infanto-Juvenil Popular (TIP), com o qual monta o espetáculo Liderato, o Rato que Era Líder, em 1968, que lhe confere o prêmio de ator revelação do ano, concedido pelo Diário da Tarde. Em 1970, funda o Teatro de Pesquisa, grupo ainda em atividade, e com ele realiza trabalhos de grande expressividade no teatro mineiro. Nessa década, concilia atividades no TIP, no TE e no Teatro de Pesquisa, participando de uma série de espetáculos, com destaque para a remontagem de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais, do TE. Realiza sua primeira direção teatral com a montagem de Aquele que Diz Sim, Aquele que Diz Não, de Bertolt Brecht, em 1970.
Em 1972, dirige o espetáculo para o público infantil Bolota contra o Bruxo e atua em Uma Certa Sexta-Feira, dirigido por Jota Dangelo e Raul Belém. A encenação, apresentada na Praça da Rodoviária de Belo Horizonte, reúne um dos maiores públicos da história teatral de Minas Gerais, cerca de 100 mil pessoas. Nesse mesmo ano, coordena o curso de teatro infantil do Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e dirige com o Teatro de Pesquisa a peça Romão e Julinha, premiado como o melhor espetáculo infantil do ano, pelo Estado de Minas. Inicia em 1973 uma fértil parceria com o diretor Jota Dangelo, trabalhando como assistente de direção em três espetáculos do TE: Frei Caneca, de Carlos Queiroz Telles, em que também atua; A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca; e O Interrogatório, de Peter Weiss. Como diretor, recebe novamente o prêmio de melhor espetáculo do ano do Estado de Minas pelo espetáculo Maria Minhoca, de Maria Clara Machado. Representa Minas Gerais no 1º Encontro Nacional de Diretores de Teatro Amador e Profissional, realizado em Londrina, Paraná.
Paralelamente à criação artística, investe nas atividades de produtor e gestor cultural, inclusive na área de artes plásticas, e começa a dar aulas de teatro. Em 1974, inaugura a Galeria Guignard - primeira galeria de arte de Belo Horizonte -, coordena o Festival de Inverno Mirim e Volante da UFMG e dá aulas de teatro no Centro de Criatividade e Aprendizagem de Belo Horizonte. Entre outros espetáculos, dirige o musical para o público infantil Don Chicote, de Oscar von Pfuhl, que recebe o Prêmio O Profeta, instituído pela Apae de Minas Gerais, como o melhor espetáculo infantil de 1974. Com esse trabalho, participa do 1º Festival Nacional de Teatro Infantil, organizado pelo teatrólogo Paschoal Carlos Magno, na Aldeia de Arcozelo, no Rio de Janeiro, e recebe os prêmios de melhor diretor, melhor espetáculo, melhor ator e melhor figurino. No festival, Pedro Paulo Cava ganha uma bolsa de estudo para a França, posteriormente cassada pelo Ministério da Justiça. Impulsionado pela experiência de mais de uma década com o teatro para crianças, cria e coordena o Festival Nacional de Teatro Infantil do Festival de Inverno da UFMG, e integra o júri do Festival Nacional de Teatro Infantil de Curitiba, ambos em 1975.
Polêmico e bom argumentador, tem atuação incisiva nas questões políticas relacionadas à cultura. Atuante na política estudantil, inicia em 1975, com outros artistas de Belo Horizonte, a luta pela regulamentação da profissão. Participa com Juca de Oliveira do primeiro debate sobre a questão, funda e preside a Associação Profissional dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de Minas Gerais (Apatedemg), que posteriormente se transforma em sindicato. Representa Minas Gerais no Congresso Nacional de Diretores de Teatro, organizado pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT), participando da criação da Federação Nacional de Teatro Amador (Fenata) e assumindo o cargo de conselheiro. À frente da Apatedemg, organiza a 1ª Campanha de Popularização do Teatro de Belo Horizonte.
Segue, então, uma produtiva trajetória de diretor de teatro, e acumula diversos prêmios. Dirige, entre outros trabalhos, O Vôo sobre o Oceano, de Brecht; a comédia O Allegro Desbum, de Oduvaldo Vianna Filho, vista por mais de 10 mil pessoas; e O Bravo Soldado Schweik, de Jaroslav Hasek.
Participa ativamente dos movimentos pela anistia e pelo fim da censura no Brasil e é um dos idealizadores da Lei nº 6.533, que, promulgada em 1978, reconhece e regulamenta a profissão de artista e técnico em espetáculos de diversão. Representa Minas Gerais, em 1979, no Congresso Nacional de Teatro, que cria o Instituto Nacional de Artes Cênicas (Inacen) em substituição ao SNT. Em 1981, participa da Universidade Internacional de Verão em Marly-le-Roi, França, que reúne 700 diretores de teatro de todo o mundo, no Instituto Nacional de Educação Popular da França.
Em 1982, funda e dirige a Oficina de Teatro - Escola Livre de Artes Cênicas, que influencia a formação de importantes atores e diretores da cena mineira atual, como Yara de Novaes, da Odeon Companhia Teatral; Wilson Oliveira, do grupo Encena; Paulo André, do Grupo Galpão, entre outros. Funda o Instituto Cultural Brasil-URSS e coordena o curso de introdução ao teatro da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), além de dirigir com alunos da Oficina de Teatro os espetáculos Barreado, de Ana Elisa Gregori; Dura Lex Sed Lex, No Cabelo Só Gumex, de Oduvaldo Vianna Filho; e Lenz, de George Büchner. Dirige Galileu Galilei, de Brecht, em 1983, em montagem que, segundo o crítico Jorge Fernando dos Santos, Brecht aplaudiria de pé: "Cava conseguiu o clima psicológico perfeito para o texto de Brecht. (...) Galileu Galilei é um sublime momento do Teatro Mineiro, digno das melhores plateias".1 Nesse mesmo ano, monta Liberdade, Liberdade, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes; e produz Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza; e Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello, entre outros. Organiza o 1º Seminário Brasileiro de Crítica Teatral, que conta com a participação de Yan Michalski.
Depois de uma longa batalha judicial com a censura, em 1984, dirige com o Teatro de Pesquisa a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, com a qual ganha o Prêmio João Ceschiatti de melhor diretor do ano. Nesse ano cria, com o diretor Fernando Limoeiro, o primeiro grupo de teatro de mamulengos de Belo Horizonte, o Mamulengo do Mestre Limoeiro, e realiza uma série de palestras sobre o teatro brasileiro na então União Soviética, na Universidade de Moscou, no Instituto da América Latina e na Escola Vachtangov. Um ano depois, viaja para a Alemanha, onde participa do Festival Internacional de Teatro de Berlim, trabalha como assistente de direção no Teatro Dusseldorf e realiza estágio no Berliner Ensemble, teatro criado por Bertolt Brecht, e no Brecht Archiv. Nesse período, produz diversos espetáculos, como Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues; O Operário em Construção, de Vinicius de Moraes; e o Inspetor Geral, de Nikolai Gogol.
No fim da década de 1980, dirige O Senhor Puntilla e Seu Criado Matti, de Bertolt Brecht, participa como conferencista do seminário Brecht 30 Anos, realizado pelo Instituto Goethe, e escreve um capítulo no livro Brecht no Brasil - Experiências e Influências.2 Funda, com outros artistas, a Escola Interamericana de Teatro para a América Latina e Caribe, em 1987. Dirige, entre outros trabalhos, Lua de Cetim, de Alcides Nogueira, ganhador do Troféu Inacen nas categorias melhor direção e melhor espetáculo, e Bella Ciao, de Luís Alberto de Abreu, que recebe o Troféu Inacen de melhor espetáculo de 1988. Para o crítico Arildo de Barros, "[...] o elenco entoa em coro a esfuziante canção-tema, em atitude olímpica e sob marcação harmoniosa. Fica aí fixada a clave épica e emocional pela qual se regerá todo o espetáculo. O encenador se move com segurança no delicado terreno entre o hiper-realismo e a epopeia. Obtém, desta vez, um rendimento com o qual supera suas próprias marcas".3
Em 1991, inaugura o Teatro da Cidade, com o espetáculo Boca Molhada de Paixão Calada, de Leilah Assumpção. Recebe, em 1992, o troféu especial do Sesc/Sated pela criação do Teatro da Cidade e dirige o musical Mulheres de Hollanda, baseado na obra de Chico Buarque, grande êxito de público, que permanece três anos em repertório. Na opinião do jornalista Rogério Zola Santiago: "Belo e expressivo, vibrante e bem alinhavado, Mulheres comprova o talento de Cava como diretor".4 O Jornal de Casa publica ainda: "Fazendo da delicadeza seu mais forte refrão, a peça de Pedro Paulo Cava despe toda a poesia de Chico".5
Nesse período, participa de eventos como o Festival Nacional de Teatro de Salvador; o 2º Encontro da Rede Brasil de Produtores Culturais Independentes, da qual é um dos fundadores; e o Festival Internacional de Teatro de Canela. Em 1993, dirige o musical Pianíssimo, de Tim Rescala, e ganha o Troféu Sesc/Sated de melhor espetáculo infantil. Sobre a peça, o Estado de Minas publica: "Pianíssimo é um espetáculo interessante e que agrada em cheio não só à criançada, pois tem a magia do teatro e da música, aliada a uma comédia despretensiosa e ingênua".6
Em 1996, estreia com o Teatro de Pesquisa o espetáculo Na Era do Rádio, musical de grande sucesso, e recebe o Prêmio Bonsucesso/Amparc de melhor espetáculo e o Prêmio Sesc/Sated na categoria de melhor iluminação. O crítico Marcelo Castilho Avelar ressalta: "A peça acertou em cheio o coração do público. Alguma coisa há de muito boa por ali. Coisa que provoca paixão. [...] Brilho nos olhos dos atores e dos espectadores. O impossível acontece através da poesia".7
No decorrer dos anos 1990, dirige Marido, Matriz e Filial e Futuro do Pretérito, além de produzir vários trabalhos, como o texto para crianças de Ilo Krugli História de Lenços e Ventos, e ainda Louco Circo do Desejo, Mão na Luva e A Bênção, Vinicius. Em 1998, remonta o musical Mulheres de Hollanda, que atinge um público de mais de 15 mil pessoas. Sobre a montagem, o crítico Carlos Buzelin escreve: "Pedro Paulo Cava, como ninguém, sabe ancorar o intimismo de Chico, às vezes fronteiriço do gênero lírico, da ópera".8 Dirige também Romão e Julinha, de Oscar von Pfuhl, vencedor do Prêmio Bonsucesso/Amparc nas categorias de melhor espetáculo, melhor diretor e melhor produtor. No ano seguinte, dirige pela segunda vez O Allegro Desbum.
Em 2000, produz o musical infantil Flicts, de Ziraldo, vencedor do Prêmio Bonsucesso/Amparc nas categorias de melhor espetáculo infantil, melhor diretor, melhor atriz, melhor ator e melhor ator revelação, e retoma a Oficina de Teatro, criado quase duas décadas antes, e o incorpora à universidade, implantando a Oficina de Teatro da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/Minas), que dirige até o fim de 2005. Nesse período, recebe o título de doutor honoris causa em teatro, concedido pela PUC/Minas.
Estreia, em 2002, o musical Estrela Dalva, baseado na vida da cantora Dalva de Oliveira, e ganha o Troféu Bonsucesso/Sinparc nas categorias de melhor produção, melhor atriz e melhor espetáculo. Dirige a terceira montagem de Mulheres de Hollanda, que permanece 14 meses em cartaz na primeira temporada, sendo visto por mais de 25 mil pessoas, em 2007. No ano seguinte, Cava retorna aos palcos atuando na leitura dramática da peça Only You, de Consuelo de Castro, participando da mostra 68/Utópicos e Rebeldes: A Geração que Disse Não, organizada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, em parceria com o Ministério da Cultura.
Notas
1. SANTOS, Jorge Fernando dos. Galileu Galilei, Brecht aplaudiria de pé. Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 ago. 1983. Teatro vivo.
2. BADER, Wolfgang (org.). Brecht no Brasil: experiências e influências. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1987.
3. BARROS, Arildo de. Em Bella Ciao, o teatro alça voos com muita emoção. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 20 out. 1988.
4. SANTIAGO, Rogério Zola. As mulheres de Cava. Jornal da Pampulha, Belo Horizonte, 31 out./6 nov. 1992.
5. A mulher segundo Chico Buarque de Holanda. Jornal de Casa, Belo Horizonte, 1 a 7 nov. 1992. Espetáculo / musical.
6. PIO, Augusto. Comédia ingênua e envolvente. Estado de Minas, Belo Horizonte, 15 set. 1994. Segunda seção, Artes Cênicas.
7. AVELAR, Marcelo Castilho. Duas ou três coisas que a gente ama na peça. Estado de Minas, Belo Horizonte, 2 nov. 1996. Espetáculo.
8. BUZELIN, J. Carlos. Direção de Cava supera elenco imaturo. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 24 out. 1998. Cultura.
Espetáculos 75
Fontes de pesquisa 8
- A Mulher segundo Chico Buarque de Holanda. Jornal de Casa, Belo Horizonte, 01 a 07 nov. 1992. Espetáculo / musical.
- AVELAR, Marcelo Castilho. Duas ou três coisas que a gente ama na peça. Estado de Minas, Belo Horizonte, 02 nov. 1996. Espetáculo.
- Acervo e dossiê do artista.
- BARROS, Arildo de. Em Bella Ciao, o teatro alça vôos com muita emoção. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 20 out. 1988.
- BUZELIN, J. Carlos. Direção de Cava supera elenco imaturo. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 24 out. 1998. Cultura.
- PIO, Augusto. Comédia ingênua e envolvente. Estado de Minas, Belo Horizonte, 15 set. 1994. Segunda seção, Artes Cênicas.
- SANTIAGO, Rogério Zola. As Mulheres de Cava. Jornal da Pampulha, Belo Horizonte, 31 out./06 nov. 1992.
- SANTOS, Jorge Fernando dos. Galileu Galilei, Brecht aplaudiria de pé. Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 ago. 1983. Teatro vivo.
Como citar
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PEDRO Paulo Cava.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa243796/pedro-paulo-cava. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
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