Wilson Oliveira
Texto
Wilson Pereira de Oliveira (Peçanha, Minas Gerais, 1955). Diretor e professor. Fundador do Grupo Teatral Encena, adota uma linha de trabalho singular que denomina "realismo contemporâneo". Assina a direção da mais relevante encenação mineira da peça O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, em 1994, e acumula vários prêmios como diretor.
Formado no curso profissionalizante de teatro da Fundação Clóvis Salgado, Palácio das Artes, em 1980, estuda também na Oficina de Teatro de Belo Horizonte, escola dirigida por Pedro Paulo Cava, na qual inicia sua carreira de professor. Em 1984, funda o Grupo Teatral Encena e dirige seu primeiro espetáculo, A Lira dos Vinte Anos, de Paulo Cesar Coutinho. Com um elenco de atores ainda desconhecidos para o público, a encenação apoia-se sobretudo na interpretação e se destaca por conseguir tratar de um tema político sem doutrinarismos ou apelos emocionais. Com esse trabalho, Wilson Oliveira ganha o Troféu João Ceschiatti da Associação Mineira de Críticos de Teatro, na categoria diretor revelação.
Assina, em 1985, a direção de Besame Mucho, imprimindo ao texto de Mario Prata uma leitura política e, ao mesmo tempo, bem-humorada. Para o crítico Marcelo Castilho Avelar, o segundo trabalho do grupo "consegue se realizar como espetáculo histórico e como complexo estudo de personalidades que fazem parte do nosso dia a dia".1 E, paralelamente ao trabalho com o Grupo Encena, Wilson Oliveira estabelece parceria com um dos mais importantes grupos vocais de Minas Gerais e dirige o espetáculo Nós e Voz Canta Chico Buarque.
Estreia, em 1987, a terceira montagem do Grupo Encena, Inimigos de Classe, de Nigel Williams. O crítico Jorge Fernando do Santos comenta: "Wilson Oliveira deixa claro que não é apenas um diretor de espetáculo, um encenador de talento, mas principalmente um artesão de atores. Ele arranca do elenco todo o seu potencial e consegue fazê-lo superar a si mesmo".2
Numa parceria entre o Encena e o grupo Cara de Palco, Wilson Oliveira dirige, em 1988, a Ópera de Sabão - Assim Era o Rádio, de Marcos Rey. A montagem, com a proposta de uma releitura melodramática das novelas de rádio dos anos 1950, equilibra comicidade e verossimilhança. Entre 1988 e 1990, dirige o Grupo de Teatro da Fiat, e com ele monta O Auto da Compadecida e Morte e Vida Severina. Em 1990, assina a direção de O Rosto, de Siegfried Lenz, abordando novamente o tema do poder.
Trivial Simples, produzido no ano seguinte pelo Encena, também trata de violência e poder. O texto de Nelson Xavier remete ao clima tenso da ditadura militar, com ares de teatro do absurdo. Para a crítica Clara Arreguy, a montagem de Oliveira "...tem entre seus méritos o fato de jogar radicalmente em cena uma proposta política. Teatro como provocação, para instigar questionamentos, reflexões, despertar sentimentos, como o incômodo diante das situações ora de passividade total, ora de violência ao paroxismo".3
Em parceria com o Teatro de Pesquisa, de Pedro Paulo Cava, apresenta, em 1991, a peça A Secreta Obscenidade de Cada Dia. O texto de Marco Antonio de La Parra narra um suposto encontro entre Karl Marx e Sigmund Freud, em que estão em jogo as deturpações, oportunismos e reduções a que estão sujeitas as teorias de ambos. Na encenação de Wilson Oliveira, "tanto a vertente cômica quanto a consciência dramática aberta por Marco Antonio de La Parra chegam ao espectador com força, extremamente bem interpretadas pelos atores em cena",4 comenta Clara Arreguy. Nesse mesmo ano, o diretor realiza sua primeira encenação para o público infantil, O Menino Marrom, de Ziraldo.
Em 1992, Wilson Oliveira é convidado a dirigir o espetáculo de formatura dos alunos do Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (TU/UFMG), tradicional escola de formação de atores de Belo Horizonte, e monta O Balcão, de Jean Genet. A experiência de dirigir atores em formação repete-se em 1993, com a comédia Teledeum, do espanhol Boadella, montada com alunos do último período do curso profissionalizante de teatro da Fundação Clóvis Salgado. No ano seguinte, encena Mão na Luva, de Oduvaldo Vianna Filho. A crítica Clara Arreguy comenta: "A direção de Wilson Oliveira foi sensível o suficiente para ler em cada fala o tom exato e criar os diversos climas com absoluto acerto. [...] Mão na Luva não faz qualquer tipo de concessão. Respeita a palavra e o ator como as bases do fato teatral".5
Entre 1994 e 1996, Oliveira assume a direção do Teatro da Praça, em Belo Horizonte. No mesmo ano em que deixa a administração do teatro, conquista seu grande reconhecimento profissional, com a montagem, produzida com o Grupo Encena, da tragédia O Beijo no Asfalto. O espetáculo, eleito, em 2007, o melhor espetáculo montado em Belo Horizonte nos 12 anos de existência do Prêmio Sesc/Sated, projeta nacionalmente a companhia e é muito elogiado pela crítica especializada em Minas Gerais. Para o crítico Marcelo Castilho Avelar, "os segredos do espetáculo dirigido por Wilson Oliveira são sua capacidade de síntese e sua organicidade. Um dos melhores textos de Nelson Rodrigues está em cena despojado de quaisquer enfeites, vivo em seu drama fundamental - o conflito entre a ética, o preconceito e a opinião pública".6 A montagem, viabilizada pelo 2º Projeto Estímulo da Fundação Clóvis Salgado, ganha, em 1996, o Prêmio Amparc/Bonsucesso e o Prêmio Sesc/Sated nas categorias de melhor espetáculo e melhor diretor.
Wilson Oliveira é o diretor de mais um espetáculo com alunos em formação, A Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht, em 1997, desta vez com elenco do curso de artes cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), onde leciona desde 1993. Em parceria com a Troupe Pierrot Lunar, realiza Yabba Dabba Doo!!!, espetáculo para o público infantil, e traz para os palcos a pré-história dos Flintstones. Em 1998, dirige nova turma de alunos da Ufop, na peça A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza, e faz a direção de cena de Cancioneiro e Lírica, com óperas de Elomar, executadas pela Orquestra Sinfonietta Brasiliana.
A linguagem construída pelo Grupo Teatral Encena ao longo de sua trajetória, marcada pela direção de Wilson Oliveira, evidencia-se no espetáculo Algo em Comum, de Harvey Fierstein, em 1999. A encenação limpa, que prioriza o trabalho do ator e o entendimento do texto, comemora os 15 anos de atividade do grupo.
No ano seguinte, Oliveira demonstra versatilidade ao assumir a direção de atuação de um trabalho absolutamente experimental: o monólogo Querida Molly!, em que a atriz Mônica Ribeiro dá vida à personagem Molly Blomm, com quem James Joyce encerra o romance Ulisses. A crítica Clara Arreguy observa: "O encontro com Wilson Oliveira conseguiu dar à sua (de Mônica Ribeiro) linha de trabalho a consistência necessária para radicalizar na experimentação e fazê-lo de forma teatral, envolvente".7
Em 2002, Wilson Oliveira elege o texto Uma Relação Pornográfica, de Philippe Blasband, para tratar da questão sexualidade versus afeto, que retrata a intimidade de duas personagens envolvidas em encontros meramente sexuais que geram, progressivamente, expectativas e temores afetivos. A crítica Mariangela Alves de Lima comenta o trabalho do Grupo Encena: "Nos mínimos gestos e entonações prevalecem o cálculo, a exatidão dos tempos de emissão da voz, a contenção dos gestos e o cuidado com o bom desenho da cena. Sob a direção de Wilson Oliveira, o espetáculo conjuga a essa modalidade interpretativa uma organicidade espacial significativa e limpa de acessórios".8
Nos dois anos posteriores, o diretor investe em montagens para o público infantil. Dirige também, em 2004, a comédia O Avarento, de Molière, produzida pela Cia.Teatral As Medéias, de Ouro Preto, Minas Gerais. Com o Grupo Encena realiza, em 2005, o espetáculo O Tempo e os Conways, de J.B. Priestley, que apresenta a história de uma família de sociedade sob o impacto do tempo e da decadência, que Oliveira, segundo o crítico Marcelo Castilho Avelar, sabe abordar com humor, transformando em sarcasmo a amargura presente no texto.
Entre 1985 e 2003, Wilson de Oliveira é professor de interpretação e improvisação teatral na Fundação Clóvis Salgado, no TU/UFMG, na Ufop, na UNI-BH e na Oficina de Teatro de Belo Horizonte. Inicia, em 2006, mestrado em artes cênicas na Escola de Belas Artes da UFMG, no qual realiza pesquisa sobre o teatro de Bertolt Brecht.
Participa do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em 2007, com a micropeça A Raiz do Grito, uma das cinco cenas vencedoras do evento. Um ano depois, estreia Erva Daninha, em mais uma parceria com a Cia. Teatral As Medeias. A aproximação com a música se renova em 2008, quando Wilson de Oliveira dirige quatro cenas curtas de Shakespeare para ilustrar partituras inspiradas na obra do dramaturgo inglês, executadas pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais no espetáculo Vivace VI - Shakespeare em Música.
Notas
1. AVELLAR, Marcelo Castilho. Besame Mucho: brilho da estrela solitária. Estado de Minas, 21 set. 1985. Teatro-revista.
2. Idem.
3. ARREGUY, Clara. Um incômodo sentimento. Estado de Minas, 9 out. 1991. Artes Cênicas.
4. ______________. Lados secretos da mesma moeda. Estado de Minas, 11 dez. 1991. Artes Cênicas.
5. Idem.
6. AVELLAR, Marcelo Castilho. Um espetáculo sem erros. Estado de Minas, 22 ago. 1996. Espetáculo.
7. ARREGUY, Clara. Exercício de paixão radical. Estado de Minas, 16 nov. 2000. Artes Cênicas/Lazer.
8. LIMA, Mariangela Alves de. União perfeita de gestos e entonações. O Estado de S. Paulo, 25 fev. 2005. Caderno 2.
Espetáculos 12
Fontes de pesquisa 7
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
- ARREGUY, Clara. Exercício de paixão radical. Estado de Minas, 16 nov. 2000. Artes Cênicas/Lazer.
- ARREGUY, Clara. Lados secretos da mesma moeda. Estado de Minas, 11 dez. 1991. Artes Cênicas.
- ARREGUY, Clara. Um incômodo sentimento. Estado de Minas, 9 out. 1991. Artes Cênicas.
- AVELLAR, Marcelo Castilho. Besame Mucho: brilho da estrela solitária. Estado de Minas, 21 set. 1985. Teatro-revista.
- AVELLAR, Marcelo Castilho. Um espetáculo sem erros. Estado de Minas, 22 ago. 1996. Espetáculo.
- LIMA, Mariangela Alves de. União perfeita de gestos e entonações. O Estado de S. Paulo, 25 fev. 2005. Caderno 2.
Como citar
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WILSON Oliveira.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa385269/wilson-oliveira. Acesso em: 04 de maio de 2025.
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