Antônio Ferrigno
![Pescadores, 1893/1905 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302125919.jpg)
Pescadores, 1893
Antônio Ferrigno
Óleo sobre tela, c.i.d.
40,00 cm x 26,50 cm
Coleção Mauro Zoklo (São Paulo, SP)
Texto
Biografia
Antônio Ferrigno (Salerno, Itália, 1863 - Salerno, Itália, 1940). Pintor e professor. Nasce em Maiori, província de Salerno. Estuda pintura com Giacomo de Chirico (1844 - 1883) em Nápoles. Aos 19 anos, recebe bolsa de estudo e matricula-se na Accademia di Belle Arti di Napoli [Academia de Belas Artes de Nápoles], e freqüenta de 1883 a 1885, o curso de escultura com Stanislao Lista (1824 - 1908) e de pintura ao natural com Teofilo Patini (1840 - 1906). Entre 1884 e 1886, freqüenta o curso de Domenico Morelli (1826 - 1901). Começa a se interessar pela pintura paisagística e realiza vistas de Nápoles. Abre, com Luigi Paolillo (1864 - 1934), um pequeno ateliê de pintura.
Parte para o Brasil em 1893 e fixa residência em São Paulo, onde se encontra o amigo e pintor Rosalbino Santoro (1858 - s.d.) desde 1887. Convive com Pedro Alexandrino (1856 - 1942) e Almeida Júnior (1850 - 1899) e torna-se amigo do mecenas Freitas Valle (1870 - 1958). Rapidamente alcança notoriedade como pintor e passa a receber encomendas de fazendeiros, entre as quais se destacam a série de 12 telas sobre o cultivo do café, que reproduzem a vida e os costumes do interior paulista, feita para o conde de Serra Negra em 1900, e as seis grandes telas sobre diversos momentos da lavoura do café, pintadas na Fazenda Santa Gertrudes, localizada no atual município de Santa Gertrudes, São Paulo, em 1903. Em 1905, antes de retornar à Itália, realiza uma exposição individual com 64 obras, a maioria de paisagens e marinha. A mostra obtém grande sucesso, pois quase todas as obras são vendidas.
De volta a Salerno, mantém uma vida artística ativa, participando das principais mostras na Itália. Obtém a cátedra de professor de desenho da Escola Técnica de Salerno, em 1913. E no ano seguinte participa do Salon des lndépendents, em Paris. Em 1927 participa da Mostra Salernitana, realiza exposição individual em Salerno e expõe em Nápoles diversas marinhas, paisagens da costa e jardins. Em comemoração dos seus 50 anos de atividade artística, em 1933, é realizada uma exposição especial em Salerno.
Análise
Antônio Ferrigno é um importante pintor da Scuola di Maiori, como fica conhecido o grupo de artistas formado ainda por Pietro Scoppetta (1863 - 1920) e Gaetano Capone (1845 - 1920). Com outros pintores da região de Salerno, integra um grupo de artistas que são chamados de Il Costaioli, pela presença constante das paisagens da costa amalfitana entre os trabalhos. Raras vezes data seus quadros, o que dificulta identificar as fases de sua pintura. Segundo Massimo Bignardi, pesquisador da obra de Ferrigno, pode-se dividir sua produção em três grupos: as pinturas executadas até 1900, que apresentam uma relação com o que é novidade no meio artístico local e trazem uma afinidade técnica com o impressionismo; as pinturas com preocupação social, existentes tanto em sua produção européia como na brasileira; e a pintura de paisagem das grandes fazendas, encomendas de ricos proprietários que lhe trouxeram fortuna. Para Bignardi, na década de 1890 a pintura de Ferrigno passa por uma transformação significativa. Um marco dessa transformação é a tela Le Lavandaie [As Lavadeiras], de 1890. Para o autor, "as cores do artista então se tornam fluidas, luminosas"1.
Nos 12 anos que permanece em São Paulo, entre 1893 e 1905, reproduz paisagens paulistanas, do interior e do litoral, assim como cenas de gênero que retratam personagens populares. Encanta-se a princípio com o litoral. O mar já o atraía na Itália: interessa-lhe explorar os efeitos da luz sobre a água. No Brasil, pinta baías com pequenas casas, barcos, praias, muitas delas povoadas por pescadores, crianças e senhoras passeando, como as que aparecem em Passeio nas Pedras - Guarujá. Diversas dessas cenas do litoral - que retratam praias de Santos, São Vicente, Guarujá e Caraguatatuba - fazem parte de sua exposição individual de 1905. Da capital paulista, Ferrigno pinta diversas telas em que fixa a paisagem urbana, como em Vista da Várzea do Carmo, Rio Tamanduateí, Várzea do Tamanduateí com Convento do Carmo, Estação Barra Funda e Porto de Areia do Rio Tietê. A rua 25 de Março é várias vezes retratada. Uma das telas, presenteada a Pedro Alexandrino (1856 - 1942), hoje faz parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp.
De acordo com a pesquisadora Ruth Tarasantchi2, Ferrigno costuma realizar um esboço da paisagem no local, e finaliza os quadros no ateliê com acréscimo de elementos diferentes, aliando assim observação e imaginação. Embora sejam representações pictóricas e não possam ser imediatamente consideradas registros de uma época, tais pinturas permitem entrever aspectos interessantes da configuração da paisagem e dos costumes paulistas do início do século XX. Destacam-se entre essas telas as pinturas que retratam lavadeiras no rio, com suas roupas coloridas espelhando-se na água em manchas luminosas. Nessas obras, que retomam o tema explorado anteriormente na Itália, de que são exemplos Ladeira Porto Geral e Lavadeiras do Rio Tamanduateí, o artista manifesta seu apuro técnico com liberdade criativa.
Diversas vezes em sua carreira, Ferrigno dedica-se a retratar personagens anônimos, populares, em seu trabalho cotidiano, como o velho que repara seu instrumento em Afinando o Violino, ou em um momento de descanso, como em Mulata Quitandeira, pertencente ao acervo da Pesp. Comprada pelo governo do Estado em 1903, a tela mostra uma negra escrava vendedora cochilando em uma tarde quente de verão.
Por ter retratado as fazendas de orgulhosos proprietários que querem fixá-las em telas, fica conhecido como o pintor do café. A série realizada na Fazenda Victória, em Botucatu, é encomendada pelo conde de Serra Negra, que, ao notar que se iniciava uma crise na cafeicultura em decorrência da superprodução, tem a idéia de fazer uma campanha de propaganda do café brasileiro na Europa. As pinturas são apresentadas em Paris em 1900, e depois em diversas capitais européias, em exposições para divulgação do café paulista. Outra série bastante conhecida o pintor executa na Fazenda Santa Gertrudes, localizada no atual município de Santa Gertrudes. As seis grandes telas - Florada, A Colheita, Lavadouro, O Terreiro, Ensacamento do Café e Café para a Estação - que hoje pertencem ao Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP são enviadas pelo governo brasileiro à Exposição Universal de Saint Louis em 1903 para representar o Brasil e depois expostas em São Paulo, alcançando significativo sucesso de crítica e público.
De volta à Itália, passa progressivamente a pintar com menos detalhamento, acrescentando elementos da memória e da fantasia. Nos anos 1920 e 1930, pinta diversos jardins, de Ravello, Vietri e Salerno, telas de cores fortes e brilhantes, em que explora as diferentes tonalidades de verde, a luz e o desenho. Telas como Alameda da Villa Rufolo guardam afinidades com o impressionismo no modo de aplicação das cores.
Notas
1 Massimo Bignardi apud TARASANTCHI, Ruth. 100 anos depois. In: ANTONIO Ferrigno: 100 anos depois. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Sociarte, 2005. p. 22.
2 TARASANTCHI, Ruth. 100 anos depois. In: ANTONIO Ferrigno: 100 anos depois. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Sociarte, 2005. p. 23.
Obras 39
A colheita, Fazenda Santa Gertrudes - Araras, SP
Afinando o violino
Alameda da Villa Rufolo
Ateliê do ceramista
Café para estação, Fazenda Santa Gertrudes - Araras, SP
Exposições 26
Fontes de pesquisa 7
- ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
- CONTURSI, Giovanni. Antonio Ferrigno. In: ANTONIO Ferrigno: 100 anos depois. Curadoria e texto Ruth Sprung Tarasantchi; tradução Sara Margelli; texto Lillo Teodoro Guarneri, Elio Sacco, Marcelo Carrard Araújo, Giovanni Contursi. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Sociarte, 2005. 92 p., il. p&b color. pp.13-15.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). IC R703.0981 C376d v.2 pt. 1
- FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- TARASANTCHI, Ruth Sprung. 100 anos depois. In: ANTONIO Ferrigno: 100 anos depois. Curadoria e texto Ruth Sprung Tarasantchi; tradução Sara Margelli; texto Lillo Teodoro Guarneri, Elio Sacco, Marcelo Carrard Araújo, Giovanni Contursi. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Sociarte, 2005. 92 p., il. p&b color. pp. 21-29.
- TARASANTCHI, Ruth Sprung. Pintores Paisagistas: São Paulo 1890 a 1920. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
Como citar
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ANTÔNIO Ferrigno.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa22413/antonio-ferrigno. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7