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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Marcel Giró

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.10.2022
1912 Espanha / Catalunha
2011 Espanha / Catalunha
© Marcel Giró Estate/Toni Ricart Giró<br> Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural

Miro
Marcel Giró
Prata sobre papel (vintage); negativo branco e preto
33,20 cm x 30,00 cm

Marcel Giró Marsal (Badalona, Catalunha, 1912 – Mirasol, Catalunha, 2011). Fotógrafo. Um dos maiores expoentes da fotografia moderna e da chamada Escola Paulista, Marcel Giró é também um dos principais representantes da fotografia publicitária brasileira dos anos 1950-1970.

Texto

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Marcel Giró Marsal (Badalona, Catalunha, 1912 – Mirasol, Catalunha, 2011). Fotógrafo. Um dos maiores expoentes da fotografia moderna e da chamada Escola Paulista, Marcel Giró é também um dos principais representantes da fotografia publicitária brasileira dos anos 1950-1970.

Ao deflagrar-se a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Marcel Giró apresenta-se como voluntário ao Exército republicano de sua terra natal para combater a ofensiva do ditador Francisco Franco (1892-1975). Em 1937, porém, decepcionado com os conflitos existentes entre as diferentes forças de esquerda, decide exilar-se, partindo da cidade de Berga, na província de Barcelona, e atravessando os Pirineus até cruzar a fronteira francesa, permanecendo nesse país por quase dois anos.

“Marcel trocou seu carro por um revólver e cruzou os Pirineus a pé. Em sua juventude, era um montanhista experiente e conhecia bem os Pirineus. Ele viveu em diferentes cidades no sul da França, sempre evitando os campos de concentração como Argelès-sur-Mer, onde muitos espanhóis sofreram um terrível confinamento. Trabalhou onde pôde; conta que vendia meias para prostitutas em troca de poder dormir nos bordéis. Finalmente, em 1940, obteve um salvo-conduto e pôde embarcar, creio que em Bordéus, para a Colômbia”.1

Na Colômbia, Marcel Giró abre uma indústria têxtil juntamente com dois colegas. Em 1943, casa-se por procuração com a fotógrafa espanhola Palmira Puig (1912-1979), com quem se instala em São Paulo em 1948.

Marcel Giró começa a fotografar nos anos 1930, tendo por fonte de inspiração as montanhas dos Pirineus de sua terra natal. Suas primeiras paisagens, realizadas entre 1930 e 1936, vão além da captação do visível, evidenciando uma preocupação com a composição, que o fotógrafo explora intensamente a partir de 1950, quando filia-se ao Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB).

O ano de 1950 marca o início da ruptura do isolamento em que se encontra a fotografia brasileira. Fotógrafos ligados ao Foto Cine Clube Bandeirante começam a reivindicá-la enquanto expressão artística, desvinculando-se do pictorialismo, entendido como representação precisa da realidade, em favor de uma fotografia livre.

É nesse contexto que surge a Escola Paulista e, com ela, a fotografia moderna, da qual Marcel Giró é um dos representantes mais expressivos. O artista participa ativamente da busca de uma nova estética e de uma nova linguagem formal marcada pela alteração de perspectivas, pela aproximação de linhas e texturas e pelo contraste de luz e sombras. Não por acaso, esse momento coincide com uma fase de transformações econômicas e sociais profundas no Brasil, em que a cidade de São Paulo, marcada por um acelerado desenvolvimento industrial e urbano, se afirma como capital financeira. A metrópole em crescimento torna-se o foco central de sua produção. Nesse sentido, destacam-se as obras inspiradas pela arquitetura da época, com suas formas orgânicas, impregnadas de uma grande liberdade plástica, tais como as de Oscar Niemeyer (1907-2012) e de Roberto Burle-Marx (1909-1994). No modernismo da Escola Paulista, fotografia e arquitetura tornam-se “uma unidade inseparável e profunda”2, como formula o arquiteto catalão Manuel Brullet i Tenas (1941).

Em A Fotografia Moderna no Brasil, Helouise Costa (1960) e Renato Rodrigues da Silva assim definem a obra de Marcel Giró: “Referendando o campo do figurativismo, suas fotos nos remetem ao mesmo tempo ao abstracionismo. Nem forma pura, nem realismo, tudo em Giró resulta em ambiguidades. (...) O que enriquece o trabalho de Marcel Giró é o ludismo que se estabelece pela ambiguidade entre a figuração e a abstração. O olhar do observador é obrigado a percorrer as fotos ansiosamente, saltando do objeto materializado aos seus componentes formais enfatizados plasticamente e vice-versa, sucessivamente. No  fim – que pode ser um recomeço – a foto permanece íntegra em sua individualidade irredutível, como que desafiando uma nova inserção racionalizadora do nosso olhar...”3.

Ainda que plenamente entregue à exploração das possibilidades criativas da linguagem fotográfica moderna, Marcel Giró reafirma a natureza documental da fotografia na medida em que registra as rápidas transformações dos centros urbanos de seu tempo, a exemplo de outros membros do Foto Cine Clube Bandeirante como José Yalenti (1895-1967), Ademar Manarini (1920-1989), Paulo Pires (1928), Gaspar Gasparian (1899-1966) e Eduardo Salvatore (1914-2006).

Em 1953, com sua esposa Palmira Giró, abre o Estúdio Giró, um dos mais importantes estúdios de fotografia publicitária no Brasil, ativo por 25 anos, tendo contribuído para a formação de uma nova geração de fotógrafos de publicidade, dos quais se destacam JR Duran (1952) e Marcio Scavone (1952). Em 1978, o Estúdio Giró é vendido e o casal retorna definitivamente para a Espanha.

Para além do legado artístico à fotografia brasileira, a qualidade e o rigor formal presentes na obra de Marcel Giró são uma forte contribuição à legitimação artística da fotografia moderna produzida nos fotoclubes brasileiros.

Notas

1. Depoimento de Toni Ricart Giró, sobrinho do artista, em 7 nov. 2020.
2. Catálogo da exposição Marcel Giró, Fotògraf. Transformar les coses corrents en extraordinàrie. Barcelona: TR multistudio, 2014, p. 33.
3. COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naif, 2004, p. 52.

Obras 1

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© Marcel Giró Estate/Toni Ricart Giró<br> Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural

Miro

Prata sobre papel (vintage); negativo branco e preto

Exposições 18

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Exposições virtuais 1

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Fontes de pesquisa 7

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  • COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
  • FOTO CINE CLUBE BANDEIRANTE. Site Oficial. Disponível em: http://www.fotoclub.art.br/. Acesso em: 7 nov. 2020.
  • GIRÓ, Marcel. Marcel Giró Moderno. Curadoria Isabel Amado e Iatã Cannabrava. São Paulo: Galeria Bergamin, 2013 [25 p.]. Exposição realizada no período de 5 nov. a 14 dez. 2013.
  • GIRÓ, Marcel. Marcel Giró, Fotògraf. Transformar les coses corrents en extraordinàries. Badalona: Museu de Badalona, 2014 [80 p.]. Exposição realizada no período de 10 abr. a 18 maio 2014.
  • GIRÓ, Marcel; GIRÓ, Palmira. Saudades de São Paulo. Fotografies de Palmira Puig i Marcel Giró. Curadoria Rocío Santa Cruz. Barcelona: Palau Solterra/Fundació Vila Casas, 2020 . Exposição realizada no período de 2 fev. a 3 maio 2020.
  • MARCEL GIRÓ. Site Oficial do Artista. Disponível em: www.marcelgiro.com. Acesso em: 7 nov. 2020.
  • PEDROSA, Adriano (org.). Coleção Museu de Arte de São Paulo Foto Cine Clube Bandeirante. São Paulo: Masp, 2016.

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