Palmira Puig Ximénez (Tárrega, Catalunha, 1912 – Barcelona, Catalunha, 1979). Fotógrafa. Atuante na chamada Escola Paulista, Palmira Giró tem sua produção voltada para a fotografia humanista e cria um importante legado de mulheres fotógrafas brasileiras com sua participação no Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB).

Nasce em uma família de intelectuais com significativa atuação política na Catalunha. Seu pai, ilustre deputado republicano, desaparece em 1925 deixando oito filhos. Em 1933, juntamente com sua mãe, Palmira participa ativamente da criação de um grupo feminista de esquerda em sua cidade natal.

Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a casa de sua família é confiscada e sua biblioteca atirada pela janela. Palmira se estabelece em Barcelona, onde vive até 1943, quando muda-se para a Colômbia para casar-se com o fotógrafo espanhol Marcel Giró (1912-2011). Palmira e Marcel Giró instalam-se em São Paulo em 1948.

A década de 1950 é particularmente fértil para a fotografia brasileira e para o movimento fotoclubista paulistano. Com a Escola Paulista, movimento da fotografia moderna protagonizado pelo Foto Cine Clube Bandeirante a partir de 1939 em São Paulo, uma nova estética fotográfica começa a ser explorada, em grande parte motivada pelas transformações da megalópole nesse período de intenso desenvolvimento industrial e urbano, com extraordinário impacto nos campos econômico e social.

É nesse contexto que, em 1953, Marcel e Palmira Giró abrem o Estúdio Giró, um dos mais importantes estúdios de fotografia publicitária no Brasil.

Conectados aos movimentos e salões internacionais, os fotógrafos da Escola Paulista produzem uma grande efervescência criativa na cidade de São Paulo, e Marcel Giró é um de seus maiores expoentes. Em 1956, Palmira Giró torna-se membro do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), integrando um reduzido grupo de mulheres ao lado da alemã Gertrudes Altschul (1904-1962), de Barbara Mors (1925), Alice Kanji (1918-1992), Dulce Carneiro (1929-2018), entre outras.

A presença feminina no FCCB é um reflexo da condição feminina na sociedade brasileira dos anos 1950. A esse respeito, a pesquisadora Helouise Costa nota que “A grande maioria de seus associados era do sexo masculino, em geral, profissionais liberais de carreira ascendente, empresários e industriais que praticavam a fotografia como hobby. No âmbito do FCCB, eram os homens que ocupavam os postos de liderança, atuavam como membros do júri dos salões de fotografia, ministravam os cursos, assinavam os textos publicados no boletim informativo mensal, além de serem os responsáveis pela organização das exposições e pelos intercâmbios com outras associações do Brasil e do exterior. Quanto à presença feminina, as principais frequentadoras do Foto Cine Clube Bandeirante eram as esposas dos fotógrafos que se tornavam sócias, a fim de acompanharem seus maridos nas atividades sociais, tais como, excursões fotográficas, viagens, festas e recepções. Em 1946, foi criada a “Seção Feminina” do Clube que, sob a direção de Elza Benedict, reuniu, entre outras, Leda Leme Salvatore, Cesiria Yalenti e Elvira Brescia Palmério, cujos sobrenomes não deixam dúvidas quanto aos vínculos matrimoniais que tinham com conhecidos associados.”¹

Seu interesse por fotografia humanista a leva a fotografar, junto com o marido, comunidades de São Paulo e seus habitantes nos anos 1970. Um trabalho pioneiro em que capta não apenas suas difíceis condições de vida, mas também sua dignidade e beleza.

Em 1978, Marcel e Palmira Giró encerram suas atividades comerciais no Brasil e retornam definitivamente para a Espanha.

Em 2011, Toni Ricart Giró começa a organizar os arquivos de seus tios, constatando rapidamente que a obra de Palmira Giró é mais extensa e mais expressiva do que se supõe até então. Com a colaboração do curador Iatã Cannabrava (1962), em São Paulo, e da galerista Rocío Santa Cruz (1967), em Barcelona, a contribuição artística de Palmira Giró é redimensionada e passa a ter o devido reconhecimento, mais de 30 anos após sua morte. Novas perspectivas se abrem, sob a forma de exposições, publicação de ensaios críticos e a entrada em coleções fotográficas de museus internacionais, como o Museu Nacional de Arte da Catalunha de Barcelona (MNAC) e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).

Suas obras estão presentes no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e na Société Française de Photographie (SFP), em Paris, e deixam um importante legado para a produção de mulheres fotógrafas no Brasil, rompendo com os tradicionais papéis de gênero de seu tempo, ocupando um lugar, majoritariamente, masculino nas artes.

Nota:

1. COSTA, Helouise. Presenças efêmeras: mulheres fotógrafas no Foto Cine Clube Bandeirante. In: Três autores do sexo fraco. São Paulo: Galeria Utópica, 2020, p. 14-15.