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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Gertrudes Altschul

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 26.10.2022
01.01.1904 Alemanha
1962 Brasil / São Paulo / São Paulo
Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural

Arabescos em Branco, 1960
Gertrudes Altschul
Tinta mineral sobre papel de algodão
30,70 cm x 41,50 cm

Martha Gertrud Altschul (Alemanha, 1904 – São Paulo, São Paulo, 1962). Fotógrafa. Uma das primeiras mulheres a trabalhar com fotografia e ter sua produção reconhecida no Brasil. É também uma das primeiras mulheres a participar do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), em São Paulo. Fotografa diversos assuntos, com destaque para paisagens urbanas, n...

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Martha Gertrud Altschul (Alemanha, 1904 – São Paulo, São Paulo, 1962). Fotógrafa. Uma das primeiras mulheres a trabalhar com fotografia e ter sua produção reconhecida no Brasil. É também uma das primeiras mulheres a participar do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), em São Paulo. Fotografa diversos assuntos, com destaque para paisagens urbanas, natureza morta e temas botânicos, enfatizando sombra, linhas e contrastes.

De origem judaica, Gertrudes Altschul administra com o marido uma confecção de chapéus femininos em Berlim. Com o avanço do nazismo na Alemanha, em 1936 a família começa a planejar sua saída do país. Três anos mais tarde, em 1939, chega ao Brasil e se estabelece em São Paulo. Na cidade, funda com o marido a empresa Arteflor, de produção de flores artificiais feitas à mão para decoração de roupas e acessórios femininos. 

Em 1952, Gertrudes se inscreve no curso básico de fotografia no Foto Cine Clube Bandeirante a fim de encontrar um hobby, uma maneira de extravasar sua criatividade. “Uma fuga a essa tirania das formas previamente convencionadas, contra a qual diariamente seu espírito se rebelava, embora a necessidade de viver a levasse à submissão”1, escreve Correia Ribeiro. No mesmo artigo, o autor comenta a estranheza que Gertrudes causa ao aparecer no FCCB para se inscrever, um ambiente até então frequentado por homens, em sua maioria. Uma das poucas mulheres a participar do grupo de fotógrafos do FCCB, Gertrudes faz parte do núcleo chamado de Escola Paulista de Fotografia, precursor da fotografia moderna brasileira. 

A atividade recreativa logo vira algo sério. Em uma viagem a Buenos Aires, a fotógrafa adquire uma câmera Contax e, mais tarde, uma Roleiflex – equipamentos profissionais com os quais obtém melhor qualidade técnica na captação de seus registros. Depois, monta uma laboratório de revelação em casa para realizar pesquisas, ampliações e montagens de imagens. 

A partir de meados da década de 1950, começa a expor seu trabalho em diversos salões. Em 1954, recebe menção honrosa no 2º Salão de Arte Fotográfica, organizado pelo Foto Cine Clube de Jaboticabal; no ano seguinte, no 1º Salão Nacional de Arte Fotográfica de Santos, obtém diploma de honra. Em 1955, participa da Photokina – Exposição Internacional de Fotografia e Cinema de Colônia, na Alemanha. Recebe honra ao mérito no 6º Salão de Arte organizado pela Sociedade Fluminense de Fotografia, em 1957, e começa a gozar de prestígio entre os colegas do FCCB, publicando trabalhos no número 88 do Boletim e no Anuário de 1957 do Foto Cine Clube Bandeirante.

Assim como a maioria membros do FCCB, Gertrudes Altschul também faz saídas fotográficas para registrar a cidade de São Paulo, que cresce de maneira vertiginosa. Fazem parte desse conjunto de fotografias imagens de canos de esgoto e céus enclausurados entre prédios, temas muito comuns aos participantes do fotoclubismo. De acordo com a pesquisadora norte-americana Paula Kupfer, o que diferencia as fotografias de Gertrudes Altschul das demais do grupo é o hiper-realismo. Nas fotografias Arquitetura (s.d.) e Linhas e tons (ca. 1952), a artista transmite os sentimentos de angústia e ansiedade que São Paulo vive entre as décadas de 1950 e 1960, quando começa sua verticalização. Em ambas as fotos, Gertrudes recorda o céu de maneira dura, estreitando o vazio entre prédios e paredes. 

Embora não seja possível afirmar que em Linhas e Tons uma montagem tenha sido feita para enfatizar essa sensação, em Arquitetura a intervenção da artista fica um pouco mais aparente. A fotógrafa faz um trabalho meticuloso na composição da imagem, recortando edifícios para montar o instante em que os prédios quase se tocam para fechar um triângulo no espaço. Segundo Helouise Costa (1960) e Renato Rodrigues, essa ação reforça o realismo da fotografia, que apela para o sentimento de angústia que experimentamos com o “crescimento desordenado de nossos centros urbanos”2.

A manipulação das imagens fica mais clara nas séries de fotografias botânicas. Em Vasos e Plantas (1952), Gertrudes insere as imagens no próprio filme fotográfico criando máscaras na folha de contato na hora da revelação. Dessa forma, a artista desafia a fotografia como um registro da vida real, criando suas imagens e situações por meio das montagens, realizando um exercício de colagem. Na obra de Gertrudes Altschul, o trabalho de pós-produção da fotografia torna-se tão importante quanto a captação. É no laboratório que a artista aplica camadas em suas fotos. Em Folha Morta (s.d.), ela satura e contrasta com ênfase a imagem de uma folha seca, criando um desenho topográfico da imagem botânica.

Assim como explora as linhas e formas da cidade, a fotógrafa traz esse mesmo olhar para as plantas. Em Sem título (s.d.), explora a perspectiva das linhas de uma folha nervurada, transformando a imagem da natureza em um desenho geométrico abstrato. Esse interesse pela botânica pode ser atribuído tanto ao seu trabalho na oficina de flores decorativas quanto a sua mudança para um país tropical, em que a natureza ainda se faz presente, mesmo vivendo em uma cidade que passa por uma frenética urbanização. 

Com um olhar esteticamente apurado, Gertrudes Altschul faz registros de paisagens urbanas e temas botânicos em seus trabalhos fotográficos. Interessada também na pós-produção das imagens, sua obra demonstra sua curiosidade pela fotomontagem.

Notas

1. CF. RIBEIRO, Correia. "Uma Foto ... Uma Saudade". In: BOLETIM FOTO CINE. São Paulo: Foto Cine Clube Bandeirante, ano XII, n. 141, jan.- mar. 1964. p. 9 e 10. Disponível em: http://fotoclub.art.br/documento/boletim-foto-cine-clube-bandeirante-no-141/. Acesso em: 30 nov. 2020.

2. COSTA, Helouise; RODRIGUES, Renato. A fotografia moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Funarte, 1995. p. 66.

Obras 3

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Reprodução fotográfica João L. Musa/Itaú Cultural

Arabescos em Branco

Tinta mineral sobre papel de algodão
Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural

Composição

Prata sobre papel (vintage)<br>negativo branco e preto
Reprodução fotográfica Iara Venanzi/Itaú Cultural

Composição II

Prata sobre papel (vintage); negativo branco e preto

Exposições 24

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Exposições virtuais 1

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Fontes de pesquisa 5

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