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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

André Luiz Oliveira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 15.02.2017
1948 Brasil / Bahia / Salvador
André Luiz Oliveira (Salvador, Bahia, 1948). Diretor, roteirista, músico. Aos 14 anos, encontra uma câmera 16 mm do pai e começa a fazer filmes caseiros. Ingressa na Faculdade de Ciências Econômicas, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Paralelamente, em 1968, frequenta o Curso Livre de Cinema, ministrado pelo cineasta Guido Araujo (1933) e ...

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Biografia

André Luiz Oliveira (Salvador, Bahia, 1948). Diretor, roteirista, músico. Aos 14 anos, encontra uma câmera 16 mm do pai e começa a fazer filmes caseiros. Ingressa na Faculdade de Ciências Econômicas, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Paralelamente, em 1968, frequenta o Curso Livre de Cinema, ministrado pelo cineasta Guido Araujo (1933) e pelo crítico de cinema Walter da Silveira (1915-1970). Conhece o cineasta José Umberto Dias (1949) e juntos realizam, em 1968, o curta-metragem em 16 mm Doce Amargo, premiado como melhor documentário no Festival de Cinema Amador do Jornal do Brasil. Abandona a faculdade de Economia e, em 1969, dedica-se ao primeiro longa-metragem, Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico, filme contracultural, cujo título é retirado de uma música de Tuzé de Abreu (1948). A película, influenciada por O Bandido da Luz Vermelha (1968), e alinhada ao chamado cinema marginal1, ganha o prêmio do público do 5º Festival de Brasília. Em 1970, filma o curta A Fonte. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde é preso, em 1973, por porte de maconha. Com verba da Embrafilme, realiza A Lenda do Ubirajara (1975), baseado na obra Ubirajara (1875), de José de Alencar (1829-1877). Realiza curtas em 35 mm, como Ladeiras do Salvador (1975), Vaquejada (1976), Dia de Iemanjá (1978), … É Dois de Julho (1980) e O Cristo de Vitória da Conquista (1984).

A partir de meados dos anos 1980, trabalha com vídeo, fazendo programas televisivos e produtos para o mercado de home video, além de comerciais. Em 1986, grava o disco Mensagem, com composições musicais para os poemas do livro homônimo do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). Grava, ainda, Mensagem 2 (2004), entre outros álbuns. Nos anos 1990, muda-se para Brasília e, em 1994, realiza o longa Louco por Cinema. O filme ganha seis prêmios no 28º Festival de Brasília, incluindo os de melhor filme e direção. Em 1997 o cineasta lança o livro homônimo, uma breve autobiografia com o roteiro do filme. Em 2008, finaliza o longa documental Sagrado Segredo, lançado em 2012, sobre a fé. Além de trabalhar com audiovisual e música, Oliveira é também musicoterapeuta.

Análise

Entre o final dos anos 1950 e meados dos 1960, o Ciclo Baiano de Cinema coloca o estado no mapa cinematográfico do país, com filmes de denúncia social. Um dos braços do chamado cinema marginal surge na Bahia e tem André Luiz Oliveira como principal representante.

Doce amargo é uma tentativa poética de registrar a vida atormentada de um vendedor de pirulitos que passa por várias situações amargas. Já há, aqui, o uso da alegoria, de figuras de linguagem e uma fragmentação narrativa que iria se acentuar mais em Meteorango Kid, o Herói Intergalático 2.

Em Meteorango Kid, o cineasta conta a história de Lula, um rapaz que, em seu aniversário, sai de casa para o velório de um amigo. Durante o percurso, episódios delirantes e possivelmente fantasiosos ocorrem dentro da narrativa: o personagem protagoniza o filme Tarzan e as Bananas de Ouro, participa de um duelo pirata de guitarras, veste-se de Batmãe e enfrenta seus pais. Tendo como referencial O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla (1946-2004), o longa é carregado de irreverência – o filme, por exemplo, é dedicado ao cabelo do diretor –, realizado em tom anárquico e influenciado pela Tropicália.

O delírio funciona em duas chaves: é uma forma de escape de uma sociedade hipócrita e moralista e uma maneira de lutar contra a repressão – luta que eleva o personagem ao patamar de herói. A maconha, uma substância alucinógena, é a resposta para os personagens encontrarem-se.

A experiência documental em Doce Amargo e, especialmente, em A Fonte, tem impacto na segunda fase do cinema de Oliveira, mais contemplativa. Em tom documental ultrarrealista, A Lenda do Ubirajara abandona os delírios característicos da primeira fase – exceto na cena final. O longa, que conta a história do índio Ubirajara, em tempos pré-cabralianos, tem atores índios não profissionais no elenco e é falado na língua indígena macro-gê karajá. O cineasta privilegia o tempo dos acontecimentos e enfoca a relação entre homem e natureza e as relações de poder entre diferentes tribos e indivíduos.

A terceira fase de seu cinema apresenta um tom místico e retoma elementos da fase marginal. Em Louco por Cinema, o autor expurga suas questões como cineasta com base no personagem Lula, seu alter ego. O filme também serve como viagem de autoconhecimento, despertada pela prisão, em 1973: Lula está preso em um sanatório e, para se curar, precisa terminar um filme interrompido há vinte anos. Em Sagrado Segredo, documentário com elementos ficcionais, a busca do cineasta dá-se pela fé e pelo conhecimento de Deus fora dos paradigmas religiosos.

A carreira cinematográfica de André Luiz Oliveira relaciona-se às fases da vida do cineasta. Quando precisa reagir contra o status quo e a repressão, o diretor liga-se à marginália e realiza Meteorango Kid, um dos principais filmes do cinema marginal. Passada essa fase, quando precisa entender seu mundo, o exame cinematográfico torna-se contemplativo; na terceira fase, esse olhar introspectivo busca nos elementos externos respostas para o autoconhecimento.

Notas

1 O cinema marginal apresenta características em comum com a fase inicial do cinema novo: filmes rodados com baixo orçamento, noção de cinema de autor e personagens desesperançosos e desestruturados. O cinema marginal, entretanto, rejeita o cinema de espetáculo para o qual se encaminha o cinema novo e permanece à margem do circuito comercial de exibição.

2;SETARO, André. Meteorango Kid e a estética do Cinema Marginal. Revista Zingu!, São Paulo, jul. 2009. Disponível em: < http://www.revistazingu.blogspot.com.br/2009/07/dalometeorangokideaesteticadocinemamarg.html >. Acesso em: 20 jul. 2012.

Obras 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • CINEMATECA Brasileira. São Paulo. Disponível em < http://www.cinemateca.gov.br/>. Acesso em 02 de abril de 2012.
  • FERREIRA, Jairo. Candeias. Cinema de invenção. São Paulo: Limiar, 2000.
  • NAGIB, Lúcia. O cinema da retomada: depoimentos de 90 cineastas dos anos 90. São Paulo: Editora 34, 2002.
  • SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: curta e média metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2011.
  • SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: longa metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2009.

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