Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Theodoro Braga

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.05.2024
08.06.1872 Brasil / Pará / Belém
1953 Brasil / São Paulo / São Paulo
Theodoro José da Silva Braga (Belém, Pará, 1872 – São Paulo, São Paulo, 1953). Pintor, decorador, professor, caricaturista, historiador, crítico de arte. Extrapola o campo artístico, abrangendo a história e o folclore, que complementam seu interesse pela cultura amazônica. Tem papel relevante na formulação da identidade nacional brasileira, na p...

Texto

Abrir módulo

Theodoro José da Silva Braga (Belém, Pará, 1872 – São Paulo, São Paulo, 1953). Pintor, decorador, professor, caricaturista, historiador, crítico de arte. Extrapola o campo artístico, abrangendo a história e o folclore, que complementam seu interesse pela cultura amazônica. Tem papel relevante na formulação da identidade nacional brasileira, na passagem do século XIX para o século XX.

Forma-se pela Faculdade de Direito do Recife, em 1893. Ao mesmo tempo, inicia estudos em arte com o pintor paisagista Telles Júnior (1851-1914) e produz caricaturas para a imprensa da região. Em 1894, transfere-se para o Rio de Janeiro e faz caricaturas para o Jornal do Commercio e a revista Vera Cruz. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes (Enba) e tem como professores Belmiro de Almeida (1858-1935) e Zeferino da Costa (1840-1915). Recebe o prêmio de viagem ao exterior, em 1899. Estuda na Academia Julian, em Paris, entre 1900 e 1905, com os pintores franceses Jean-Joseph Benjamin-Constant (1845-1902) e Jean-Paul Laurens (1838-1921). 

O contato com Laurens é essencial à obra de Braga. Para o pintor francês, é fundamental dominar a pesquisa histórica para se produzir uma tela com essa temática. Essa é uma característica da obra de Braga, que, após a estadia na França, volta-se para a pintura histórica e as artes decorativas. O contato com o art nouveau, movimento em voga na época, dá ao artista as bases para uma compreensão mais ampla do papel da arte decorativa. Tal como o pintor italiano Eliseu Visconti (1866-1944), volta sua atenção à produção do francês Eugène Grasset (1845-1917) e passa a utilizar formas mais geometrizadas em obras decorativas. 

Regressa ao Rio de Janeiro, em 1905, e realiza sua primeira exposição individual, exibida, a seguir, em Recife e Belém. De volta ao Pará, cultiva o interesse por história e ciências naturais. Dedica-se ao estudo de motivos decorativos indígenas e da flora e fauna locais. Compõe um rico repertório de ornamentos intitulado A planta brasileira (copiada do natural) applicada à ornamentação (1905), com aquarelas de elementos da flora e fauna e de motivos marajoaras, seguidos de suas estilizações em composições decorativas. Segundo o historiador Aldrin Moura de Figueiredo1, Braga é um dos criadores do movimento artístico amazônico denominado “neomarajoara”2. Em seus escritos sobre a história do Pará, o artista enfatiza o papel do indígena na constituição da cultura local.

Por encomenda do município de Belém, pinta A fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém (1908), considerada sua obra-prima. Em busca de fontes para a produção desse trabalho, viaja a Portugal, onde reside por dois anos, realizando extensa pesquisa histórica, apresentada na nota explicativa da pintura. A tela apresenta a chegada da frota de Castelo Branco (1566-1619) à cidade e é caracterizada por um “ufanismo republicano”, nas palavras de Elisa Ferreira Rocha Campos3. A produção desse quadro coincide com um momento de reconfiguração da historiografia da região amazônica, que busca reconhecimento territorial e inserção na história nacional. Com atenção a cada personagem, à natureza e à cor, a obra representa o marco fundador de uma identidade amazônica.

Em 1925, inicia-se uma nova fase na vida do artista. Muda-se para São Paulo, onde fixa residência e constrói para si uma casa com motivos marajoaras. Torna-se professor do Instituto de Engenharia Mackenzie e diretor da Escola de Belas Artes. No mesmo ano, realiza sua primeira exposição individual em São Paulo. Além de suas grandes obras, chamam a atenção da crítica as ilustrações de personagens do folclore brasileiro. Essa produção é celebrada como uma forma de abandonar as histórias de príncipes encantados estrangeiras e construir um repertório de histórias infantis com personagens nacionais. A exposição, de acordo com os jornais da época, é um sucesso.

Afastando-se do regionalismo amazônico dos anos anteriores, o artista passa a produzir obras com a temática bandeirante. Seu primeiro trabalho com essa temática é o tríptico4 Périplo máximo de Antonio Raposo Tavares (1928). A tela é exposta no Salão Oficial de Belas Artes do Rio de Janeiro e ganha a medalha de ouro. A crítica ressalta o primoroso trabalho de pesquisa histórica realizado pelo artista. Além disso, a obra tem grande impacto numa época de construção do mito bandeirante, que fundamenta a busca do estado de São Paulo por emancipação. 

Outro trabalho importante nessa temática é O anhanguera (1930). Na tela, é reproduzida uma cena de tensão entre bandeirantes e indígenas. Destaca-se no quadro a figura do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (1672-1740), que parece ameaçar os indígenas. Esses, por sua vez, trazem semblantes assustados e esboçam posições dinâmicas, que podem ser interpretadas como movimentos de fuga. De acordo com Campos, a composição nesse quadro remete à tradição clássica do desenho de Braga. Em contraste com o fundo da floresta, os personagens, pintados em paleta monocromática, formam um triângulo no meio do quadro, cujo foco está na fogueira que ilumina os rostos de bandeirantes e indígenas. A produção de Braga subsequente à de temática bandeirante dos anos 1920 e 1930 recebe pouca atenção. 

É inquestionável a importância de Theodoro Braga para a arte brasileira. Seus múltiplos talentos bem como seu engajamento no debate sobre arte e cultura nacional são fundamentais nos esforços realizados pelo Brasil para se libertar das influências estrangeiras e construir uma identidade nacional. É um dos grandes nomes da pintura histórica brasileira e um artista de múltiplas habilidades de sua época. 

Notas

1. FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. O museu como patrimônio, a República como memória: arte e colecionismo em Belém do Pará (1890-1940). Revista Antíteses, Londrina, v. 7, n. 14, p. 20-42, 2014.

2. Na busca por uma arte genuinamente nacional, alguns artistas se voltaram para as peças produzidas pela civilização marajoara, que habitou a região da atual Ilha de Marajó, no Pará, durante o período pré-histórico. Essas peças foram descobertas por estudos arqueológicos e divulgadas entre o final do século XIX e o início do século XX.

3. CAMPOS, Elisa Ferreira Rocha. O Anhanguera, de Theodoro Braga: dissonâncias de uma imagem controversa do bandeirantismo paulista. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 30, p. 1-25, 2022. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/190591. Acesso em: 23 out. 2023.

4. De acordo com o Dicionário Aulete Digital (2023), tríptico é a “obra de pintura, desenho ou escultura constituída por três painéis: um central e fixo, e dois laterais dobráveis que podem se fechar cobrindo completamente o painel central”. Disponível em: https://www.aulete.com.br/tr%C3%ADptico. Acesso em: 23 out. 2023.

Exposições 53

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 35

Abrir módulo
  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989. R703.0981 P818d
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 709.81 A163ar v.1
  • ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. 709.81 A163ar v.2
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997.
  • AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. Organização André Seffrin. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: Ed. UFPR, 1997. R750.81 A973d 2.ed.
  • BRAGA, Theodoro. A arte no Pará, 1888-1918: retrospecto histórico dos últimos trinta annos. RIHGP. Belém 7: 149-159, 1934. Não Cadastrado
  • BRAGA, Theodoro. Artistas pintores no Brasil. São Paulo: São Paulo Editora, 1942. R703.0981 B813a
  • CAMPOFIORITO, Quirino. A República e a decadência da disciplina neoclássica: 1890-1918. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. (História da pintura brasileira no século XIX, 5).
  • CAMPOFIORITO, Quirino. A República e a decadência da disciplina neoclássica: 1890-1918. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. (História da pintura brasileira no século XIX, 5). 759.981034 C198h v.5
  • CAMPOS, Elisa Ferreira Rocha. O Anhanguera, de Theodoro Braga: dissonâncias de uma imagem controversa do bandeirantismo paulista. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 30, p. 1-25, 2022. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/190591. Acesso em: 23 out. 2023.
  • Caminho das águas. Belém, 1995. 4p. il., color. PAfumbel 1995/c
  • Caminho das águas. Belém: Fundação Cultural do Município de Belém, 1995. 4p. il., color.
  • DEZENOVEVINTE: uma virada no século. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1986.
  • DEZENOVEVINTE: uma virada no século. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1986. 709.81034 P645d
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
  • DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5). R703.0981 C376d v.1 pt. 2
  • DUTZMANN, Maria Olimpia Mendes (coord.). Acervo artístico-cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo. Curadoria Radhá Abramo; texto Marta Rossetti Batista, Ruth Sprung Tarasantchi, Wolfgang Pfeiffer et al. São Paulo, 1989. 152p. SPpg 1989/a
  • DUTZMANN, Maria Olimpia Mendes (coord.). Acervo artístico-cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo. Curadoria Radhá Abramo; texto Marta Rossetti Batista, Ruth Sprung Tarasantchi, Wolfgang Pfeiffer, Cleide Santos Costa Biancardi, Serafina Borges do Amaral, Stella Teixeira de Barros. São Paulo, 1989. 152p. il. color, p.b.
  • FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A fundação da Cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará, de Theodoro Braga. Nossa História, Rio de Janeiro, v. 1, n. 12, p. 22-26, 2004. Não Cadastrado
  • FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. O museu como patrimônio, a República como memória: arte e colecionismo em Belém do Pará (1890-1940). Revista Antíteses, Londrina, v. 7, n. 14, p. 20-42, 2014.
  • FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Theodoro Braga e a história da arte na Amazônia In: ARRAES, Rosa (org.) A fundação da cidade de Belém. Belém: Museu de Arte de Belém, 2004. p. 31-87. PAmabe [2004]
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983.
  • FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983. 759.981034 F866u
  • LIMA SOBRINHO, Barbosa. Cenas da vida brasileira: 1930/1954. 10 pinturas e 100 litografias de João Câmara Filho. Recife: Prefeitura, 1980.
  • LIMA SOBRINHO, Barbosa. Cenas da vida brasileira: 1930/1954. 10 pinturas e 100 litografias de João Câmara Filho. Recife: Prefeitura, 1980. 759.98106 Cj172mo
  • REGO, Clóvis de Morais. Theodoro Braga: historiador e artista. Belém: CEC, 1974. Não Cadastrado
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944.
  • REIS JÚNIOR, José Maria dos. História da pintura no Brasil. Prefácio Oswaldo Teixeira. São Paulo: Leia, 1944. 759.981 R375h
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198).
  • RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1941. (Brasiliana. Série 5ª: biblioteca pedagógica brasileira, 198). NÃO DISPONÍVEL PARA CONSULTA 709.81 R895p Ed. ilust.
  • TEMPO passado/tempo presente: acervo do Museu de Arte de Belém. Belém: MABE, 1997. 100 p., il. color. PAmabe 1997/t
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1. 709.81 H673 v.1
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1. 709.81 H673 v.2

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: