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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

João Silvério Trevisan

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.02.2024
23.06.1944 Brasil / São Paulo / Ribeirão Bonito
João Silvério Trevisan (Ribeirão Bonito, São Paulo, 1944). Romancista, contista, ensaísta, roteirista, diretor, dramaturgo. Sua produção está em sintonia com uma forte tendência de sua geração, de final dos anos 1960, marcada pela contracultura, que no Brasil tem como expoentes o tropicalismo, o cinema marginal e o resgate da antropofagia propos...

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João Silvério Trevisan (Ribeirão Bonito, São Paulo, 1944). Romancista, contista, ensaísta, roteirista, diretor, dramaturgo. Sua produção está em sintonia com uma forte tendência de sua geração, de final dos anos 1960, marcada pela contracultura, que no Brasil tem como expoentes o tropicalismo, o cinema marginal e o resgate da antropofagia proposta pelo escritor Oswald de Andrade (1890-1954) nas diferentes linguagens artísticas. Em seus longas, Trevisan se rebela contra a estética vigente.

Estuda no Seminário Bom Jesus, em Aparecida, São Paulo, formando-se em filosofia. Durante sua permanência no seminário, cria um núcleo de estudos dedicado ao cinema e um cineclube. Muda-se com a família para a capital paulista e trabalha na Cinemateca Brasileira. Atua como assistente de direção de João Batista de Andrade (1939) em Liberdade de imprensa (1967).

Em 1968, junto de João Batista, Francisco Ramalho Jr. (1940) e Sidnei Paiva Lopes, funda a Tecla Produções Cinematográficas e realiza a direção de produção de Anuska, manequim e mulher (1968), de Ramalho Jr. Edita a trilha sonora de Um sonho de vampiro (1969), de Iberê Cavalcanti (1935), e trabalha em funções diversas em outros filmes. Uma viagem pela Europa e África o inspira a escrever o roteiro de seu único longa-metragem, Orgia ou o homem que deu cria (1970), proibido pela censura1.

O título original do filme, Foi assim que matei meu pai, mostra a relação do diretor com a cultura de seu tempo: o pai é uma metáfora do cinema novo e a forma é a da transgressão radical, pois o diretor busca fazer um filme sujo e pobre tanto na fotografia como na direção de arte para ir contra o status quo artístico.

No filme, um caipira mata seu pai e parte em direção à cidade. Aos poucos, uma série de personagens tipificados amplia o grupo, como uma travesti vestida de Carmen Miranda (1909-1955), um cangaceiro grávido e um rei negro e cadeirante, cujo cetro é a taça Jules Rimet. Essa jornada carnavalesca tem como objetivo encontrar o Brasil e o inconsciente do povo brasileiro. Trevisan, influenciado pela antropofagia oswaldiana – com direito a indígenas canibais –, faz um filme alegórico sobre a formação do país a partir de diferentes personagens que transitam entre a subversão do clichê e a marginalidade.

Como define o crítico de cinema Jairo Ferreira (1945-2003): “Tudo nele vem muito do fundo, às vezes com um ardor de lavas”2. O filme de 1970 segue, portanto, como uma síntese da experiência do cineasta, por condensar sua experiência de confronto com um contexto cultural e político ao qual questiona e subverte. 

Em 1973, viaja para a Califórnia, Estados Unidos, e entra em contato com o movimento gay organizado e com a mídia especializada nessa temática. Escreve os contos do livro Testamento de Jônatas deixado a Davi, que publica na volta ao Brasil, em 1976. Em 1978, militando no movimento gay, organiza o grupo Somos pelos Direitos dos Homossexuais Brasileiros e funda o jornal temático Lampião da Esquina, para integrar pontos de vista não somente de homossexuais, mas também de outros grupos excluídos. Em 1982, atendendo à demanda da editora britânica Gay Men's Press (GMP), começa uma intensa pesquisa para escrever uma história da homossexualidade no Brasil, Devassos no paraíso (1986), lançada simultaneamente na Inglaterra e no Brasil.

No mesmo período, escreve seus dois primeiros romances: Em nome do desejo (1983) e Vagas notícias de Melinha Marchiotti (1984). Entre 1998 e 2005, realiza uma série de oficinas literárias para o Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP).

Confrontando a cultura, a estética e a sociedade vigentes por meio de sua produção cinematográfica e de sua literatura, Trevisan elege temas marginalizados para sua produção artística e por meio de seus trabalhos e posicionamentos milita a favor da causa LGBTQIAPN+.

Notas

1. Na época da produção do filme, o país está sob o regime civil-militar, que censura todos os tipos de obra que considera subversiva, ou seja, que não se alinham a seu ideário.

2. FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. São Paulo: Limiar, 2000. p. 120.

Espetáculos 14

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Exposições 3

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Mídias (1)

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João Silvério Trevisan - Enciclopédia Itaú Cultural
Natural de Ribeirão Bonito, São Paulo, João Silvério Trevisan sempre foi um aluno exemplar de português. Estimulado pela mãe, passa a ter contato com obras da literatura mundial e, além de escrever, declama poemas e promove ciclos de cinema e literatura ainda na adolescência. Mais tarde, redige ensaios, roteiros de cinema, peças de teatro e o que lhe vem à cabeça sob as mais diversas plataformas: “Gosto de escrever pensando em uma promiscuidade de imagens. Estou, em geral, olhando para a crise. Seja ela pessoal, política ou social”, explica. No cinema, escreve e dirige o longa Orgia ou o Homem que Deu Cria, obra que se aproxima do cinema marginal, a chamada boca do lixo, ao confrontar o cinema novo e o estrangulamento da liberdade de expressão pelo militarismo vigente nos idos de 1970. O filme é censurado e Trevisan deixa o país. Quando volta funda, em 1978, o grupo Somos, que atua na defesa dos direitos dos homossexuais.

Realização: Gasolina Filmes
Entrevista: Gabriel Carneiro
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 16

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  • ABREU, Nuno César. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2006.
  • ARAÚJO, Jackson. O escritor que deu cria. Revista da Folha. São Paulo, 8 out. 1995, n. 181, ano 4, p. 26-27.
  • CARNEIRO, Gabriel. Entrevista com João Silvério Trevisan. Revista Zingu!, ed. 37, São Paulo, ago. 2009. Disponível em: http://www.revistazingu.blogspot.com.br/2009/08/djstentrevistacomjoaosilveriotrevisan.html. Acesso em: 10 mai. 2012.
  • DOSSIÊ João Silvério Trevisan. Revista Zingu!, ed. 34, São Paulo, ago. 2009. Disponível em: http://revistazingu.blogspot.com.br/2009/08/edicao-34.html. Acesso em: 10 mai. 2012.
  • FERREIRA, Jairo. Candeias. Cinema de invenção. São Paulo: Limiar, 2000.
  • FERREIRA, Jairo. Orgia, filme limite entre o velho e o novo. Folha de S.Paulo. São Paulo, 12 jul. 1978, Ilustrada, p. 35.
  • MELO, Luís Alberto Rocha. Orgia ou o Homem que Deu Cria (1970). In: Contracampo, 30 ed., Rio de Janeiro, ago. 2001. Disponível em: http://www.contracampo.com.br/30/orgia.htm. Acesso em: 10 mai. 2012.
  • MIRANDA, Luiz Felipe. Dicionário de cineastas brasileiros. Apresentação Fernão Ramos. São Paulo: Art Editora, 1990, 408 p. p. 343.
  • PUPPO, Eugênio (Org.). Cinema marginal brasileiro e suas fronteiras. 2. ed. Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil, 2004.
  • Programa do Espetáculo - Churchi Blues - 2001. Não catalogado
  • RAMOS, Fernão Pessoa (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.
  • RAMOS, Fernão. Cinema Marginal (1968/1973) - A representação em seu limite. São Paulo, Brasiliense / Embrafilme, 1987.
  • RAMOS, Guiomar. Um cinema brasileiro antropofágico? 1970-1974. São Paulo: Annablume, 2008.
  • SILVA NETO, Antonio Leão da. Dicionário de filmes brasileiros: longa metragem. São Bernardo do Campo: Edição do Autor, 2009.
  • STERNHEIM, Alfredo. Boca do Lixo: Dicionário de Diretores. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.
  • TREVISAN, João Silvério. Uma geração marginal. In: PUPPO, Eugênio (org.). Cinema marginal brasileiro e suas fronteiras. 2. ed. Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil, 2004, p. 139-140.

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