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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Em Nome do Desejo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.09.2022
02.03.1990 Brasil / Pernambuco / Recife – Cineteatro José Carlos Cavalcanti Borges
Em Nome do Desejo é a segunda montagem da Companhia Teatro de Seraphim, do Recife, dirigida por Antonio Cadengue. Na primeira metade da década de 1990, o espetáculo alcança expressiva repercussão e recebe o reconhecimento da crítica e do público nas diversas cidades brasileiras por onde excursiona.

Texto

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Em Nome do Desejo é a segunda montagem da Companhia Teatro de Seraphim, do Recife, dirigida por Antonio Cadengue. Na primeira metade da década de 1990, o espetáculo alcança expressiva repercussão e recebe o reconhecimento da crítica e do público nas diversas cidades brasileiras por onde excursiona.

Originalmente, a montagem é concebida como prova pública do Curso Básico à Formação do Ator, da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj, onde Antonio Cadengue ministra a disciplina de improvisação/interpretação. O resultado do trabalho supera as expectativas, e as três apresentações programadas se estendem por uma temporada de um mês no Cineteatro José Carlos Cavalcanti Borges.

Terminadas as obrigações institucionais com a Fundaj, Cadengue incorpora o espetáculo ao repertório da Companhia Teatro de Seraphim - CTS, preservando o elenco original quase integralmente e prolongando a temporada até maio de 1990. Dois anos depois, dentro do Projeto Seraphins Revisões, o grupo faz a segunda montagem de Em Nome do Desejo. Dá-se, então, o aperfeiçoamento técnico e estilístico da encenação.

A peça se baseia no romance homônimo de João Silvério Trevisan, e aborda a crise de um homem que decide retornar ao seminário em que estuda 25 anos antes e vive uma intensa paixão por outro seminarista. Uma viagem de volta a si mesmo, em que o protagonista retoma suas memórias, particularmente as lembranças desse amor que o marca profundamente.

Na primeira versão, o crítico Valdi Coutinho percebe que, apesar do elenco estreante, Em Nome do Desejo extrai a potência dramática do texto e "o nível do espetáculo, como um todo, consegue passar uma energia e emoção irresistíveis para a platéia, que termina contaminada pela cena e envolvida no drama, transcorrido num clima de encantadora sensualidade".1 Em outro artigo constata que, com essa peça, "a cena pernambucana ganha um dos mais bonitos textos e um dos mais impressionantes momentos de sua história".2

O aspecto fundamental de ambas as versões do espetáculo, que também caracteriza o romance, é a dicotomia carne/espírito. A encenação é conduzida por um narrador, que também é o protagonista da história em sua fase adulta (Ticão). Por meio de sua fala, o espectador acompanha em flashback a trajetória do jovem Tiquinho no seminário: dos primeiros contatos com o ambiente religioso até o início de sua amizade com Abel Rebebel, culminando na paixão de ambos e, depois, no seu rompimento. Assim como o romance, os temas fundamentais do espetáculo versam sobre a memória, o desejo, a paixão e a morte.

Utilizando um palco nu, envolto em uma caixa cênica revestida de veludo azul, e explorando essencialmente efeitos de luz e som, a encenação expõe a sexualidade juvenil em tom elegíaco. Antonio Cadengue se apóia em um amplo aparato visual por meio da iluminação de Augusto Tiburtius, que varia entre tons azuis e rubros; e por intermédio do uso da liturgia católica: paramentos, procissões, matracas, incenso, velas, turíbulo, candelabros, anjos e santos, posturas hieráticas de corpos nus e seminus, acentuadas pelo desenho de luz.

Os figurinos, assinados por Anibal Santiago e Manuel Carlos, mimetizam a indumentária clerical, auxiliando na composição de ambientes e climas dramáticos. A trilha sonora ilustra e conduz o estado de espírito dos personagens, condensando um outro aspecto essencial do romance: a inter-relação entre o desejo e a música.

Com esse espetáculo, a CTS se consolida e divulga seu trabalho para além das fronteiras geográficas e culturais da Região Nordeste, pois Em Nome do Desejo é o primeiro espetáculo do grupo a viajar para São Paulo e Rio de Janeiro, além de participar do primeiro Porto Alegre em Cena.

O crítico Edelcio Mostaço (1949) assim resume a encenação: "O espetáculo de Antonio Cadengue equilibra-se sobre o difícil fio que interliga o tema à sua realização, sem que despenque quer para o patético quer para a facilitação melodramática. Dosando com perícia seus ingredientes, o encenador vai destilando-os e, mesmo sem desprezar certas convenções de efeito garantido junto aos espectadores, sabe encontrar a medida adequada para a criação sensível. O resultado é uma equilibrada composição que mescla o realismo poético com efeitos dotados de modernidade, capaz de ser arrojada e sem hermetismos".3

Notas

1. COUTINHO, Valdi. A emoção é resgatada no palco em nome do desejo. Diario de Pernambuco, Recife, 8 mar. 1990. Viver, p. B-4.

2. COUTINHO, Valdi. Em Nome do Desejo: a paixão radical de Cadengue pelo teatro. Diario de Pernambuco, Recife, 19 mar. 1990. Viver, p. 1.

3. MOSTAÇO, Edelcio. Espirais do desejo. Suplemento Cultural do Diário Oficial, Recife, p. 11, nov. 1993. 

Ficha Técnica

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Autoria
João Silvério Trevisan

Adaptação
Antonio Cadengue

Direção
Antonio Cadengue

Cenografia
Antonio Cadengue

Adereço
Luiz Mário Veríssimo
Manuel Carlos

Operação de mídia
Anibal Santiago / Em Nome do Desejo

Figurino
Anibal Santiago
Manuel Carlos

Costureira
Manuel Carlos
Maria José de Araújo

Iluminação
João Denys

Operação de luz
Augusto Tiburtius

Maquiagem
João Denys

Operação de som
Vavá Paulino

Coreografia
Vavá Paulino

Preparação corporal
Vavá Paulino

Preparação vocal
Leila Freitas

Elenco
André Filho / Em Nome do Desejo
Antonio Taveira Júnior / Em Nome do Desejo
Edinaldo Ribeiro / Em Nome do Desejo
Eduardo Vaz / Em Nome do Desejo
Flávio Lúcio Renovato / Em Nome do Desejo
Francisco de Souza / Em Nome do Desejo
João Augusto / Chiclete-de-Onça; Jesus; Seminarista
Pedro Luiz / Em Nome do Desejo
Ricardo Escobar / Em Nome do Desejo
Saturnino de Araújo / Em Nome do Desejo
Sérgio Brasil / Em Nome do Desejo

Participação especial
Hilton Azevedo / Em Nome do Desejo

Fotografia
Yêda Costa Bezerra de Mello

Fontes de pesquisa 16

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  • BECKER, Tuio. Os dois rituais de Cadengue. Zero Hora, Porto Alegre, 27 set. 1994, p. 7.
  • BLANCO, Armindo. Os mistérios da paixão. O Dia, Rio de Janeiro, 22 out. 1993. O Dia D, [s. p.].
  • CADENGUE, Antonio; TREVISAN, João Silvério. Em nome do desejo (adaptação teatral). Recife, 1992. (versão digitada). [Arquivo Antonio Cadengue].
  • COMPANHIA TEATRO DE SERAPHIM. Seraphins Revisões (A Lira dos Vinte Anos, Heliogábalo & Eu, Em Nome do Desejo e O Jardim das Cerejeiras). Recife, Teatro Barreto Júnior, programa, mar./abr./maio 1992.
  • COUTINHO, Valdi. A emoção é resgatada no palco em nome do desejo. Diario de Pernambuco, Recife, 8 mar. 1990. Viver, p. B-4.
  • COUTINHO, Valdi. Em Nome do Desejo: a paixão radical de Cadengue pelo teatro. Diario de Pernambuco, Recife, 19 mar. 1990. Viver, p. 1.
  • DEL RIOS, Jefferson. Em Nome do Desejo supera anedotário gay. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 dez. 1993. Caderno 2, p. D-7.
  • EM NOME do Desejo. Produção Companhia Teatro de Seraphim/ Center TV. Recife: Edição Fernando Lobo/ Natara, 1992. 1 Videocassete (120 min.): VHS, Ntsc, son., color.
  • FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO/ CURSO BÁSICO À FORMAÇÃO DO ATOR. Em Nome do Desejo. Direção Antonio Cadengue. Cineteatro José Carlos Cavalcanti Borges, Recife, programa, mar. 1990.
  • MILARÉ, Sebastião. Em Nome do Desejo. Jornal da Paraíba, Campina Grande, [s.d.], [s.p.].
  • MOSTAÇO, Edelcio. Espirais do desejo. Suplemento Cultural do Diário Oficial, Recife, p. 10-11, nov. 1993.
  • MOSTAÇO, Edelcio. Seraphim: beleza pura. Diário da Borborema, Campina Grande/PB, 29 jul. 1993. Cultura, p. 13.
  • NEVES, Mary Macedo de Camargo. Memórias da paixão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, [s.p.], 24 set. 1983.
  • TODOS os premiados. Correio da Paraíba, João Pessoa, 26 jan. 1993. Caderno 2, [s.p.].
  • TREVISAN, João Silvério. Em Nome do Desejo. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
  • XVII Festival de Inverno - Premiação. Jornal da Paraíba, Campina Grande, [s.d.], [s.p.].

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