Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Otavio Donasci

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.01.2023
1952 Brasil / São Paulo / São Paulo
Otávio do Nascimento (São Paulo, São Paulo, 1952). Artista multimídia, desenhista, designer, ator, performer, cenógrafo, videomaker. O mundo virtual e a relação entre indivíduo e imagem permeiam a obra de Otávio Donasci, desde seus primeiros trabalhos. Neles, o uso do recurso tecnológico associado a uma composição de aparência precária, conferem...

Texto

Abrir módulo

Otávio do Nascimento (São Paulo, São Paulo, 1952). Artista multimídia, desenhista, designer, ator, performer, cenógrafo, videomaker. O mundo virtual e a relação entre indivíduo e imagem permeiam a obra de Otávio Donasci, desde seus primeiros trabalhos. Neles, o uso do recurso tecnológico associado a uma composição de aparência precária, conferem um aspecto de criatividade, improviso, a gambiarra típica que contorna a falta de recursos.

Gradua-se em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e inicia os trabalhos artísticos com criação de objetos. No início dos anos 1980, em contato com a linguagem videográfica, cria Videocriatura. Trata-se de um corpo humano, cuja cabeça é substituída por um monitor de TV, no qual se projeta o rosto de um ator. 

Entre seus mestres, Otávio cita o compositor alemão Hans Joachim-Koellreutter (1915-2005), responsável pela difusão da música serial no Brasil, e o filósofo tcheco Vilém Flusser (1920-1991). Além deles, destaca a importância de Walter Zanini (1925-2013), curador que estimula as discussões sobre arte e tecnologia em diversas Bienais organizadas no país. 

No início dos anos 1980, quando dirige o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), Zanini adquire um aparelho de vídeo, bastante caro na época, e convida jovens artistas para testar o novo meio. 
Ao conhecer a nova linguagem do vídeo, Otávio toma-o para si como objeto estético. Com base nele, constrói aparatos que expandem a experiência da visão da TV e busca a relação desse novo meio com outras linguagens.

Ao recuperar outras vertentes laboratoriais, como as do polonês Jerzy Grotowski (1933-1999) ou do tcheco Josef Svoboda (1920-2002), o artista faz, por meio de suas apresentações, um estudo inovador sobre teatro. Parte dessas investigações dão origem ao que, durante muito tempo, é visto como novo “gênero” artístico, a performance. Com a intensificação da presença do ator – ou, conforme Renato Cohen (1956-2003)1, a substituição do personagem pela persona, a máscara –, essa nova linguagem arranca o teatro do edifício em que ele se realiza. A nova cena emerge como mistura de elementos de outras linguagens, como as artes visuais, a dança, o cinema, as histórias em quadrinhos e, sobretudo, a música. 

Com base na ideia de performance, Otávio produz “narrativas” caracterizadas por aparições. É o caso da estreia de Videocriatura, nos anos 1980, na Galeria São Paulo: em cena, um corpo, cuja cabeça é substituída por um monitor de TV (na época, de formato abaulado e em preto-e-branco), murmura em alguma língua estranha. Com essa obra, Donasci antecipa experimentos do artista multimídia estadunidense Tony Oursler (1957) e do coreano Nam June Paik (1932-2006), que usa monitores com fins semelhantes na década de 1990.

As videocriaturas ganham repercussão e integram performances de outros artistas: em 1989, na apresentação de A Revolução Francesa, com direção de José Roberto Aguillar (1941); em 1982, na leitura dramática do texto O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade (1890-1954), feita pelo Teatro Oficina; em 1986, nas apresentações do compositor estadunidense John Cage (1912-1992) no Brasil. O artista afirma que durante muito tempo chamou suas videocriaturas de “videoteatro”. Aos poucos, em contato com teóricos do vídeo e da performance, percebe o alcance múltiplo de sua criação.

Nesse aspecto, aproxima-se de artistas como Guto Lacaz (1948) e Paulo Bruscky (1949). Eles criam objetos que dialogam com as modernas tecnologias, mas conferem a essas invenções um tratamento tipicamente brasileiro, marcado pelo improviso e pelo acesso restrito às tecnologias de ponta. Com esse “jeitinho” para solucionar problemas de limitação material, garantem o tom bem-humorado de suas criações.Como ator e diretor, recebe, em 1984, o Prêmio Apca pelo conjunto da obra. Em 1988, o Prêmio Lei Sarney de Arte Multimídia, celebra o êxito de uma década das Videocriaturas, saindo do espaço da galeria e expandindo-se para programas de televisão, cabarés, teatros e outros espaços, incluindo a rua. 

O artista é influenciado por uma ideia de Herbert Duschenes (1914-2003): o cineasta filma suas viagens à Europa em Super 8 e transforma esses pequenos filmes em aulas de história da arte no Brasil. Esse modo de enfrentar a precariedade material está presente na produção de criaturas infláveis gigantescas no topo de um dos prédios do Sesc Pompéia, em São Paulo. Aparece também em Hydra, imensa videocriatura feita com projeções sobre um guindaste. Em eventos posteriores, no nordeste, um ônibus transforma-se em videocriatura, com os para-brisas ocupados por TVs de plasma. “Videocaveira”, “capacete interativo”, “plasmas-criaturas”, “videobalão” são alguns dos nomes que Otávio usa em diferentes épocas para indicar os caminhos de suas invenções.

Nos anos 1990, Otávio renova a concepção de cena em teatro quando se associa ao diretor Ricardo Karman (1957) para produzir as expedições experimentais multimídia: Viagem ao Centro da Terra (1992) e A Grande Viagem de Merlin (1994). Nessas apresentações, o artista propõe a interatividade entre teatro, turismo e artes plásticas para levar o público a uma experiência imersiva radical por algumas horas. Os infláveis, bem como trabalhos mais recentes – como o “penetrável”, exibido em uma feira de produtos eróticos – são feitos com materiais de baixo custo, sacos de lixo e ventiladores, e contudo são capazes de produzir um alto impacto no espectador-visitante. 

Na versão carioca de Viagem ao Centro da Terra, a ocupação de infláveis, em amplos galpões do cais do porto, reformula a concepção de edifício teatral. Em vez de substituir o teatro, a performance reconfigura-o como possibilidade estética.

A partir da ideia de “imersão”, Otávio desenvolve o conceito de “expedições” no projeto Carinhódromo, usando imensos infláveis com os quais explora o tato mediado por membranas. Nessa experiência, o espectador é coparticipador e justificativa do processo. 

Quando, em 1994, os aparatos de realidade virtual entram em evidência, o artista produz uma surpreendente reversão de expectativas: utiliza tecnologia analógica para produzir efeitos semelhantes aos do emergente território digital. 
No tempo dos tablets, Otávio Donasci afirma esperar pelo desenvolvimento de telas flexíveis e pela continuidade de pesquisas de outras tecnologias, como o “holograma” e os leds. Um esforço contínuo do artista, sempre disposto a materializar a presença, como nas visões dos místicos ou da ficção científica.

Desde 2007, Otávio é professor da graduação em comunicação das artes do corpo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e trabalha na área da performance. Em 2007, com a peça Kronoscópio, busca referência na holografia para criar ilusões de presença a partir de projeções de vídeo. Em 2010, inicia as comemorações dos 30 anos de suas videocriaturas, cujos formatos variam do fantoche ao dinossauro. 

Dedica-se a pesquisas com o tato e às explorações de outros ambientes imersivos, como no projeto Casulos. Além disso, prossegue com Videocriaturas e elabora a performance Videotango (2011-2012), na qual faz uso de uma televisão de plasma que cobre toda a parte superior do corpo nu do performer, no caso, o próprio autor.

Otávio Donasci pertencente ao que Arlindo Machado (1949) chama de “segunda geração do vídeo brasileiro”2, Donasci mantém-se na interseção entre teatro, televisão e performance. Nesse sentido, percorre movimento análogo a outros artistas paulistanos de sua geração, como Ivald Granato (1949-2016) e José Roberto Aguilar (1941), passando por Tadeu Jungle (1956) e Walter Silveira (1955).

Notas

1. COHEN, RenatoPerformance como linguagem. . São Paulo: Perspectiva, 1989.

2. MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brazil: três décadas de vídeo no Brasil. São Paulo: Itaú Cultural: Editora Iluminuras, 2003.

Espetáculos 8

Abrir módulo

Exposições 14

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 8

Abrir módulo
  • AGRA, Lucio; DONASCI, Otávio. (R)entrer dans le vif de l’art / (Re)Viewing live art. In: ROLNIK, Suely (ed. e org.). Parachute, n. 116, São Paulo, Québec, ed. Parachute, out.-nov.-dez. 2004. p.54-57.
  • COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1989.
  • MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brazil: três décadas de vídeo no Brasil. Itaú Cultural: Editora Iluminuras, 2003.
  • MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1988.
  • MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginario. São Paulo: Edusp, 1993.
  • MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Senac, 2008.
  • MENDES, Cândido. O que é vídeo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. (Primeiros Passos).
  • MISTÉRIOS GOZOZOS à Moda de Ópera. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1994]. 1 programa do espetáculo realizado na Casa da Marquesa.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: