Paulo Bruscky
![Da descoberta: um vôo pela arte correio, s.d. [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/013302078839.jpg)
Da descoberta: um vôo pela arte correio
Paulo Bruscky
Tíquete aéreo, etiquetas e carimbos sobre cartão
10,50 cm x 15,00 cm
Texto
Paulo Roberto Barbosa Bruscky (Recife, Pernambuco, 1949). Artista multimídia, poeta, inventor, pesquisador. O artista propõe a conexão entre arte e vida por meio da apropriação dos recursos disponíveis no território que o corpo ocupa. Testando e estendendo os limites da prática artística, seu trabalho se mantém, até há pouco tempo, à margem do mercado da arte.
Formado em comunicação social pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), inicia sua prática artística na década de 1960, estudando desenho, pintura e gravura, além de frequentar o estúdio fotográfico do pai. Autodidata, desde os anos 1970 explora linguagens e suportes de todo tipo e se apropria dos meios de reprodução disponíveis no seu entorno. Por isso, é apontado como pioneiro na utilização de novos meios na arte brasileira: carimbos, selos e máquinas fotocopiadoras são abarcados numa rede analógica em que circulam fotografias, registros de ações e performances, poesias visuais e outros projetos.
Os territórios que o corpo ocupa e as forças que neles atuam são questões constantes em suas performances, cujo caráter político o coloca em conflito com as autoridades militares brasileiras, levando-o à prisão. Sua primeira exposição individual, com pesquisas em arte-xerox, acontece em 1971 e inclui a performance que simula seu próprio enterro, Arte cemiterial, apresentação que remete simbolicamente ao luto de uma população sem direitos civis. Com convites na forma dos populares santinhos de oração e a realização de um cortejo, o ato desafia o moralismo da época e é censurado: o artista é levado para interrogatório, e a exposição, fechada pela Polícia Federal.
Integrante do movimento de arte postal [mail art], o artista rompe as barreiras sociais e políticas impostas durante o período da ditadura civil-militar no Brasil, colocando Recife no mapa da arte contemporânea. Em 1976, organiza a exposição Arte Correio, que, acusada de promover ideias subversivas, é fechada pela polícia.
Na abertura do Salão de Arte de Pernambuco de 1978, grafita no muro principal do Museu do Estado a frase: “A arte não pode ser presa”. A ação acontece minutos antes da chegada do governador Marco Maciel (1940-2021), nomeado pelos militares. Assustados, os funcionários da instituição se apressam para apagar a mensagem, mas utilizam objetos cortantes e acabam por gravar a frase no muro, deixando-a ainda mais evidente.
Ainda em 1978, Bruscky caminha pelas ruas de Recife com uma placa pendurada no pescoço onde se lê: “O que é arte? Para que serve?” Como um homem-sanduíche que empresta o corpo para anúncios, o artista suporta o peso de seu questionamento. Na vitrine de uma livraria, coloca-se como sujeito e objeto da pergunta que formula. Sua presença irônica sugere a constatação de que a dúvida é o lugar privilegiado da arte contemporânea.
Em parceria com o artista Daniel Santiago (1939), realiza a Artdoor (1981), mostra de arte internacional que tem como suporte duzentos outdoors da cidade de Recife. Em 1982, recebe a bolsa Guggenheim Fellowship e passa um ano em Nova York, onde aprofunda suas pesquisas sobre xerox-filme, realizando mais de trinta filmes em super-8 e vídeos.
Nos Estados Unidos, publica nos classificados do jornal The Village Voice o anúncio “Air art: composition of clouds in the sky of New York” (1982), que burla os mecanismos de controle de informação, fazendo circular proposições muito caras ao artista naquele momento, como encontrar um público mais diversificado e eliminar qualquer possibilidade de estabelecer a relação obra-objeto-mercadoria.
No exterior, aprofunda a pesquisa sobre as relações entre corpo e movimento, abrindo um novo campo para o desenho de animação e o cinema experimental. Nesses "xerofilmes", o artista filma, quadro a quadro, imagens produzidas por fotocopiadora, criando uma animação que recompõe o movimento congelado pela máquina.
O trabalho retoma Xeroperformance (1980), realizado em Recife: imagens do corpo do artista paralisadas pela máquina xérox dão movimento, quando animadas, à atuação performática. Aépta (1982), seu único xerofilme colorido, utiliza linhas de costura projetadas por um espelho sobre a copiadora. O movimento dado às imagens as torna mais fragmentadas e velozes, conferindo à obra um aspecto videográfico.
Em 2004, seu ateliê é transferido de Recife para São Paulo e remontado em uma das oito salas especiais da 26ª Bienal Internacional de São Paulo. Na remontagem, é colocada parte dos setenta mil itens que compõem seu acervo pessoal sobre arte contemporânea, composto por cartas, postais, catálogos, folders, convites, livros etc.
Em 2007, retoma a série de desenhos feitos com base na interação entre máquina e corpo, a partir de eletroencefalogramas publicados no livro O meu cérebro desenha assim (1976). O artista procura correspondências entre os estados de ânimo e os efeitos gráficos produzidos pela máquina, utilizando a tecnologia para fixar a experiência em que corpo e mente atuam como uma coisa só na apreensão e compartilhamento do mundo.
Unindo arte e vida, o trabalho de Paulo Bruscky se dirige ao entorno, apropriando-se dele para construir uma cartografia de seu percurso criativo enquanto coleta evidências desse processo. Ressignificando o mundo, dá visibilidade às coisas que existem ou acontecem ao redor. Arte-postal, audioarte, xerografia, videoarte, intervenções urbanas, carimbos, colagens, desenho, fotografia etc. são tecnologias disponíveis para eliminar os limites entre ordem e desordem, mente e corpo, arte e vida, homem e máquina
Obras 22
Anonymous
Arte: Segurado/Dependente
CAMBIU: Boletim informativo nº2
Cambiu: Centro de Arte Marginal Brasileira de Informação e União
Confirmado: é arte
Exposições 365
-
0/0/2010 - 22/6/0
-
19/11/1968 - 20/12/1968
-
21/1/1969 - 5/2/1969
-
-
0/0/0 - 0/0/1971
Exposições virtuais 1
-
9/12/2021 - 7/2/2020
Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Fontes de pesquisa 22
- 2º Prêmio Cultural Sergio Motta. São Paulo: Instituto Sergio Motta, [2001?].
- 2º Prêmio Cultural Sergio Motta. São Paulo: Instituto Sergio Motta, [2001?].
- ANTI-EXPERIMENTAL. Dossiê 11: A arte e a vida de Paulo Bruscky na poesia visual e no experimentalismo. Anti-experimental blogspot. 28 jun 2010. Disponível em: http://anti-experimental.blogspot.com.br/2010/06/dossie-11-arte-e-vida-de-paulo-bruscky.html. Acesso em: 03 set. 2014.
- ARAÚJO, Pamella Emília Queiroz. Paulo Bruscky: Intervenções e Deslocamentos de Sentido no Espaço Urbano. In: Da pesquisa, revista do Centro de Artes da Udesc, Florianópolis, n.11, p. 143-153, abr. 2014. Disponível em: http://www.ceart.udesc.br/dapesquisa/11/artigos/VISUAIS_paulo_bruscky.pdf. Acesso em 03 set. 2014.
- ARTE Xerox Brasil. Curadoria de Hudinilson Jr. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1984.
- ARTE conceitual e conceitualismos: anos 70 no acervo do MAC USP. Curadoria Cristina Freire; versão em inglês Elizabeth Bjorkstrom Moraes, Thomas Karsten. São Paulo: MAC/USP, 2000.
- BESSA, Antônio Sérgio. A deseducação de Paulo Bruscky. Revista Portfolio EAV, Rio de Janeiro. Disponível em:http://revistaportfolioeav.rj.gov.br/edicoes/03/?p=1213.
- BRUSCKY, Paulo. Alto retrato. Recife: Pirata, 1981.
- CREMER, Paola. Não se pode prender a arte. Jornal Tabaré, Porto Alelgre, 31 ed., 20 mar. 2013. Disponível em:http://jornaltabare.wordpress.com/2013/03/20/nao-se-pode-prender-a-arte/. Acesso em: 03 set. 2014.
- Entrevista com Paulo Bruscky. Lugares - Revista de Arte Contemporânea da Fundação Iberê Camargo. Porto Alegre, 12 nov. 2004. Disponível em: [http://iberecamargo.uol.com.br/content/revista_nova/entrevista_integra.asp?id=80]. Acesso em: 06 out 2006.
- GALERIA Nara Roesler. Portfólio do artista. Disponível em: http://www.nararoesler.com.br/usr/library/documents/main/56/portfolio-gnr-paulo-bruscky-web-res.pdf. Acesso em: 03 set.2014
- GALERIA Nara Roesler. Página da galeria do artista. Disponível em: http://www.nararoesler.com.br/artists/56-paulo-bruscky/. Acesso em: 03 set.14.
- HUG, Alfons. Contrabandistas de Imagens. UOL Arte - 26ª Bienal de São Paulo. Disponível em: http://www1.uol.com.br/diversao/arte/bienal/ultnot/ult2585u1.shl.
- INSTITUTO Tomie Ohtake. Programa da exposição Paulo Bruscky: banco de ideias. In: Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.institutotomieohtake.org.br/programacao/exposicoes/bruscky/. Acesso em: 03 set. 2014.
- LONGMAN, Gabriela. Artista coleciona 70 mil documentos que contam parte da história da arte no Brasil. In: Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 ago. 2014. Serafina. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2014/08/1507647-artista-coleciona-70-mil-documentos-que-contam-parte-da-historia-da-arte-no-brasil.shtml. Acesso em: 03 set. 2014.
- PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA, 27., 2001, São Paulo. 27º Panorama da Arte Brasileira. Curadoria geral Rejane Cintrão; curadoria Ricardo Basbaum, Paulo Reis, Ricardo Resende; versão em inglês John Milton, Maria Lucia Cavalcanti de Albuquerque Cumo. São Paulo: MAM, 2001.
- PAULO Bruscky. Página do Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/paulobruscky?fref=ts ?. Acesso em: 03 set. 2014.
- Paulo Bruscky: perfil biográfico. Disponível em: http://www.mamam.art.br/mam_acervo/pbruscky.htm. Acesso em: 06 out 2006
- Paulo Bruscky: perfil biográfico. Disponível em:http://www.merzmail.net/artepostalarte.htm. Acesso em 06 out. 2006
- SESC TV. Curta artes: Paulo Bruscky. In: Sesc TV, São Paulo. Artes visuais. Vídeo. Disponível em: http://artesvisuais.sesctv.org.br/video/paulo-bruscky/. Acesso em: 03 set. 2014.
- TERRA, Paula; FERREIRA, Glória (Cur.). Situações: arte brasileira anos 70. Rio de Janeiro: Fundação da Casa França-Brasil, 2000.
- TRADIÇÃO e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1984.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
PAULO Bruscky.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa7783/paulo-bruscky. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7