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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Paulo Bruscky

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.10.2022
21.03.1949 Brasil / Pernambuco / Recife
Reprodução fotográfica Breno Laprovítera

Da descoberta: um vôo pela arte correio
Paulo Bruscky
Tíquete aéreo, etiquetas e carimbos sobre cartão
10,50 cm x 15,00 cm

Paulo Roberto Barbosa Bruscky (Recife, Pernambuco, 1949). Artista multimídia, poeta, inventor, pesquisador. O artista propõe a conexão entre arte e vida por meio da apropriação dos recursos disponíveis no território que o corpo ocupa. Testando e estendendo os limites da prática artística, seu trabalho se mantém, até há pouco tempo, à margem do m...

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Paulo Roberto Barbosa Bruscky (Recife, Pernambuco, 1949). Artista multimídia, poeta, inventor, pesquisador. O artista propõe a conexão entre arte e vida por meio da apropriação dos recursos disponíveis no território que o corpo ocupa. Testando e estendendo os limites da prática artística, seu trabalho se mantém, até há pouco tempo, à margem do mercado da arte.

Formado em comunicação social pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), inicia sua prática artística na década de 1960, estudando desenho, pintura e gravura, além de frequentar o estúdio fotográfico do pai. Autodidata, desde os anos 1970 explora linguagens e suportes de todo tipo e se apropria dos meios de reprodução disponíveis no seu entorno. Por isso, é apontado como pioneiro na utilização de novos meios na arte brasileira: carimbos, selos e máquinas fotocopiadoras são abarcados numa rede analógica em que circulam fotografias, registros de ações e performances, poesias visuais e outros projetos. 

Os territórios que o corpo ocupa e as forças que neles atuam são questões constantes em suas performances, cujo caráter político o coloca em conflito com as autoridades militares brasileiras, levando-o à prisão. Sua primeira exposição individual, com pesquisas em arte-xerox, acontece em 1971 e inclui a performance que simula seu próprio enterro, Arte cemiterial, apresentação que remete simbolicamente ao luto de uma população sem direitos civis. Com convites na forma dos populares santinhos de oração e a realização de um cortejo, o ato desafia o moralismo da época e é censurado: o artista é levado para interrogatório, e a exposição, fechada pela Polícia Federal.

Integrante do movimento de arte postal [mail art], o artista rompe as barreiras sociais e políticas impostas durante o período da ditadura civil-militar no Brasil, colocando Recife no mapa da arte contemporânea. Em 1976, organiza a exposição Arte Correio, que, acusada de promover ideias subversivas, é fechada pela polícia. 

Na abertura do Salão de Arte de Pernambuco de 1978, grafita no muro principal do Museu do Estado a frase: “A arte não pode ser presa”. A ação acontece minutos antes da chegada do governador Marco Maciel (1940-2021), nomeado pelos militares. Assustados, os funcionários da instituição se apressam para apagar a mensagem, mas utilizam objetos cortantes e acabam por gravar a frase no muro, deixando-a ainda mais evidente.

Ainda em 1978, Bruscky caminha pelas ruas de Recife com uma placa pendurada no pescoço onde se lê: “O que é arte? Para que serve?” Como um homem-sanduíche que empresta o corpo para anúncios, o artista suporta o peso de seu questionamento. Na vitrine de uma livraria, coloca-se como sujeito e objeto da pergunta que formula. Sua presença irônica sugere a constatação de que a dúvida é o lugar privilegiado da arte contemporânea.

Em parceria com o artista Daniel Santiago (1939), realiza a Artdoor (1981), mostra de arte internacional que tem como suporte duzentos outdoors da cidade de Recife. Em 1982, recebe a bolsa Guggenheim Fellowship e passa um ano em Nova York, onde aprofunda suas pesquisas sobre xerox-filme, realizando mais de trinta filmes em super-8 e vídeos. 

Nos Estados Unidos, publica nos classificados do jornal The Village Voice o anúncio “Air art: composition of clouds in the sky of New York” (1982), que burla os mecanismos de controle de informação, fazendo circular proposições muito caras ao artista naquele momento, como encontrar um público mais diversificado e eliminar qualquer possibilidade de estabelecer a relação obra-objeto-mercadoria.

No exterior, aprofunda a pesquisa sobre as relações entre corpo e movimento, abrindo um novo campo para o desenho de animação e o cinema experimental. Nesses "xerofilmes", o artista filma, quadro a quadro, imagens produzidas por fotocopiadora, criando uma animação que recompõe o movimento congelado pela máquina.

O trabalho retoma Xeroperformance (1980), realizado em Recife: imagens do corpo do artista paralisadas pela máquina xérox dão movimento, quando animadas, à atuação performática. Aépta (1982), seu único xerofilme colorido, utiliza linhas de costura projetadas por um espelho sobre a copiadora. O movimento dado às imagens as torna mais fragmentadas e velozes, conferindo à obra um aspecto videográfico.

Em 2004, seu ateliê é transferido de Recife para São Paulo e remontado em uma das oito salas especiais da 26ª Bienal Internacional de São Paulo. Na remontagem, é colocada parte dos setenta mil itens que compõem seu acervo pessoal sobre arte contemporânea, composto por cartas, postais, catálogos, folders, convites, livros etc. 

Em 2007, retoma a série de desenhos feitos com base na interação entre máquina e corpo, a partir de eletroencefalogramas publicados no livro O meu cérebro desenha assim (1976). O artista procura correspondências entre os estados de ânimo e os efeitos gráficos produzidos pela máquina, utilizando a tecnologia para fixar a experiência em que corpo e mente atuam como uma coisa só na apreensão e compartilhamento do mundo. 

Unindo arte e vida, o trabalho de Paulo Bruscky se dirige ao entorno, apropriando-se dele para construir uma cartografia de seu percurso criativo enquanto coleta evidências desse processo. Ressignificando o mundo, dá visibilidade às coisas que existem ou acontecem ao redor. Arte-postal, audioarte, xerografia, videoarte, intervenções urbanas, carimbos, colagens, desenho, fotografia etc. são tecnologias disponíveis para eliminar os limites entre ordem e desordem, mente e corpo, arte e vida, homem e máquina

 

Obras 22

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Reprodução fotográfica Breno Laprovítera

Anonymous

Fotografias coladas sobre cartão
Reprodução fotográfica Romulo Fialdini

Confirmado: é arte

Carimbo e decalque sobre cartão postal

Exposições 365

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Exposições virtuais 1

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Mídias (1)

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Paulo Bruscky - Enciclopédia Itaú Cultural
A formação de Paulo Bruscky começa na infância, como aprendiz do pai, fotógrafo, ampliando imagens em seu ateliê. “Em casa, ouvíamos música clássica, principalmente de russos. Também li toda a obra de Dostoiévski e Tolstói”, relembra. Para Bruscky, a arte é feita para “circular”, o que justifica seus trabalhos em vídeo, xerox, arte postal e fax. Uma de suas ações nesse sentido foi o Arte Correio, em 1973, movimento que exibia as obras em espaços públicos. “Aeroportos, rodoviárias: qualquer lugar de fluxo era lugar para a exposição”, descreve ele. “Qualquer pessoa participava e veiculava xerox, poesia visual, áudio arte.” Para Bruscky, a arte deve tratar da realidade. “Ela não está isolada do ser humano nem dos sentimentos. Não é uma coisa bela”, acredita. “Aliás, não sei mais o que é belo, o que é feio. Me deseduquei muito cedo para a estética e a função da arte. Sou desvinculado desse tipo de formalidade.”

Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carolina Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 22

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