Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Minerva Brasiliense: Jornal de Ciência, Letras e Artes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.11.2023
1843
1845
Editada no Rio de Janeiro, entre os anos de 1843 e 1845 [1], quinzenal, a Minerva Brasiliense: Jornal de Ciências, Letras e Artes consolida o projeto de reforma literária, iniciado em 1836, por Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876), Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) com a publicaçã...

Texto

Abrir módulo

Histórico

Editada no Rio de Janeiro, entre os anos de 1843 e 1845 [1], quinzenal, a Minerva Brasiliense: Jornal de Ciências, Letras e Artes consolida o projeto de reforma literária, iniciado em 1836, por Francisco de Sales Torres Homem (1812-1876), Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) com a publicação, em Paris, da Nitheroy: Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes.

A Minerva Brasiliense retoma as ideias estéticas defendidas nas páginas de Nitheroy, e aproveita o ambiente de estabilidade política dos primeiros anos do Segundo Reinado. Sob a direção do mesmo grupo de intelectuais, eleva o tom patriótico de seus artigos. Para isso, adota como projeto editorial a veiculação de textos científicos, artísticos e literários que, afinados com o discurso ideológico do Império, servem como estímulo para a consolidação do ideário nacionalista e civilizatório da segunda metade do século XIX.

Já no primeiro número, a publicação do artigo “Da Nacionalidade da Literatura Brasileira”, escrito pelo chileno Santiago Nunes Ribeiro (?-1847), institui as bases conceituais do debate literário que, durante o Segundo Reinado, mobiliza a atenção de críticos e literatos. O texto é a resposta a artigos publicados no Jornal do Commercio, pelo poeta português Gama e Castro (1758-1873), e ao livro Bosquejo Histórico, Político e Literário do Brasil (1835), de General Abreu e Lima (1794-1869).

Os dois últimos autores, com argumentações distintas, apontam a impossibilidade de existência de uma literatura brasileira. Contrário a eles, Nunes Ribeiro defende a literatura nacional, afirmando que a atividade literária é a forma mais bem acabada de expressão da nação que a produz. 

Tomando essa ideia como base, o autor reafirma os preceitos defendidos por Gonçalves de Magalhães nas páginas da Nitheroy e estabelece os pontos do discurso que são incorporados por críticos, literatos e artistas envolvidos com o projeto de constituição de uma arte nacional.

Dedicada às belas-artes, a sessão assinada por Manuel de Araújo Porto-Alegre ganha maior significado quando comenta em três artigos a Exposição Geral de Belas Artes realizada em 1843. Neles, faz uma análise dos contratempos que culminam na inauguração tardia da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba) e critica o descaso do governo em relação ao desenvolvimento das artes entre 1816 e o início do Segundo Reinado. Em contrapartida, enaltece a figura de Dom Pedro II (1825-1891), apontando o período inicial de seu governo como propício para o desenvolvimento da “escola brasileira”.

No segundo artigo, Porto-Alegre exalta a participação de artistas estrangeiros residentes no país, como o pintor italiano Alessandro Cicarelli (1811-1879) – professor de desenho da imperatriz Tereza Cristina (1822-1899) – e o escultor alemão Ferdinand Pettrich (1798-1872), responsável pela execução de bustos e esculturas que retratam personalidades do Império. Com base nesses trabalhos, Porto-Alegre estabelece as diretrizes que devem conduzir a produção de artistas brasileiros, apoiando-se na valorização da estética neoclássica e na exploração de temas nacionais.

No último texto, o autor critica as pinturas de François René-Moreaux (1807-1860) e defende as regras compositivas do neoclassicismo. A respeito da estética romântica, diz:

 

Assaz dissemos sobre uma produção que de certo não merecia tão grande análise, mas como ela pode perverter o gosto da mocidade artística, e tem em si o caráter principal da escola romântica, que é a crueza da mescla, e o desprezo do estudo anatômico, é do nosso dever rechaçar semelhante peste da dignidade da pintura histórica, e colocá-la no seu posto, que é o das decorações de botequim ou tabuletas de lojas [2].

 

Inicia, assim, a polêmica com um articulista que, sob o pseudônimo Brasileiro Nato, publica uma carta aberta no Jornal do Commercio, aludindo à perseguição promovida por Porto-Alegre aos artistas estrangeiros atuantes no Brasil.

Em resposta à polêmica, no artigo intitulado Uma Palavra ao Ilustríssimo Brasileiro Nato, Porto-Alegre refuta a “ofensa” sofrida e apresenta uma descrição detalhada de suas atividades como pintor, arquiteto, cenógrafo, historiador e crítico de arte, o que confere maior interesse histórico ao embate. 

Em seu último ano, sob a direção de Nunes Ferreira, o projeto editorial da revista sofre alteração, passando a privilegiar a publicação de textos literários. Nesse período, sob a denominação Biblioteca Brasílica, a revista publica em separata títulos da literatura colonial como O Uraguay (1769), de José Basílio da Gama (1741-1795), e Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810). Guardadas as especificidades históricas, as narrativas são tidas como gênese da reforma literária praticada pelos escritores da primeira geração romântica, na medida em que exaltam a figura do indígena e criticam a opressão do colonizador.

A Minerva Brasiliense sintetiza as diretrizes estéticas defendidas pelos expoentes do romantismo no Brasil. Críticos e historiadores como Antonio Candido (1918-2017) e Nelson Werneck Sodré (1911-1999) consideram-na responsável pela consolidação desse movimento no país.

As 31 edições da publicação constituem importante fonte de pesquisa para compreender as especificidades temáticas e ideológicas que caracterizam a produção científica e cultural brasileira no século XIX.

 

Notas

1. Na época, publicações como Minerva Brasiliense ou O Patriota, entre outros periódicos, enfrentam dificuldades de realização e manutenção, daí o curto tempo de existência.
2. PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Bellas Artes: A Exposição Pública - Artigo nº 3. Minerva Brasiliense, Rio de Janeiro, v. 1., nº 5, 1º de janeiro de 1844, p. 148-154.

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • KERBAUY, Ana Cristina. Ilustração Goana e Minerva Brasiliense: a sedimentação do romantismo em Goa e no Brasil. Dissertação (Mestrado em Literatura Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
  • PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo. Bellas Artes: A Exposição Pública - Artigo nº 3. Minerva Brasiliense, Rio de Janeiro, v. 1., nº 5, 1º de janeiro de 1844, p. 148-154.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
  • SQUEFF, Letícia Coelho. O Brasil nas letras de um pintor: Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Campinas: Unicamp, 2004.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: