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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Edifício Esther

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
1936
Localizado na praça da República, centro de São Paulo, o Edifício Esther, projetado por Vital Brazil (1909-1997) e Adhemar Marinho (1909), em 1936, é um dos marcos da arquitetura moderna no Brasil. Ao lado do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, também de 1936, de autoria dos irmãos Marcelo (1908-1964) e Milton R...

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Localizado na praça da República, centro de São Paulo, o Edifício Esther, projetado por Vital Brazil (1909-1997) e Adhemar Marinho (1909), em 1936, é um dos marcos da arquitetura moderna no Brasil. Ao lado do prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, também de 1936, de autoria dos irmãos Marcelo (1908-1964) e Milton Roberto (1914-1953), e do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde (MES) (1936-1943), de responsabilidade de um grupo de jovens arquitetos liderado por Lucio Costa (1902-1998), o Edifício Esther é um dos exemplos do racionalismo arquitetônico que começa a se fazer presente na paisagem urbana brasileira na década de 1930. Não por acaso Mário de Andrade (1893-1945), em artigo para O Estado de S. Paulo, de 1943, apresenta-o como um dos grandes exemplos da nova arquitetura em desenvolvimento no país em contraposição ao neocolonial.

Conhecedor das propostas arquitetônicas modernas por meio das obras de Frank Lloyd Wright (1867-1959) e de Le Corbusier (1887-1966), além de aluno de Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), Vital Brazil, em seu período de formação, já anuncia clara preferência pelo racionalismo arquitetônico, que começa a ter lugar na instituição. Ao lado do colega Adhemar Marinho, participa da greve em solidariedade a Lucio Costa, em 1931, quando surgem reações ao seu projeto de renovação da Enba, o que é revelador da posição de ambos num momento de postura radicalizadas. As afinidades entre os colegas se traduzem em parceria profissional constante ao longo dos anos de 1934 e 1936. O Edifício Esther é, sem dúvida, o projeto mais conhecido do período de colaboração entre eles. Sua origem remete à vitória do anteprojeto que apresentam no concurso realizado pela Usina Esther Ltda., grande produtora de açúcar, visando à construção de um edifício de uso misto, comercial e residencial, no centro da capital paulista. Os promotores da edificação são a família Nogueira, vinculada à elite tradicional do Estado, em fase de expansão de seus negócios. Os financiadores aspiram a uma construção que, além de abrigar os escritórios da Usina Esther, deveria contar com lojas comerciais, escritórios, consultórios e residências variadas, cujos aluguéis garantiriam a renda necessária à sustentabilidade do investimento.

As demandas do grupo promotor são contempladas pelos arquitetos em consonância com os princípios centrais da arquitetura racionalista e funcionalista, tal como os apresentados pela Bauhaus e Le Corbusier: o uso racional dos materiais, os métodos econômicos de construção, a linguagem formal sem ornamentos e o diálogo sistemático com a tecnologia industrial. Os pontos centrais do programa corbusiano, por sua vez, são aplicados ao edifício: pilotis, planta livre, janela corrida, fachada livre e terraço-jardim. Um dos grandes desafios do projeto do Edifício Esther diz respeito à possibilidade que os arquitetos têm de enfrentar um aspecto caro ao ideário moderno: conceber uma construção multifuncional, espécie de microcosmo da vida urbana. Vê-se colocada em prática a idéia da "construção-máquina" defendida por Le Corbusier, em que se observa a integração dos vários elementos em um conjunto dotado de funcionamento próprio. Além disso, o projeto ambiciona interferir em todo o ambiente do entorno, redefinindo a rua e, no limite, a cidade. A preocupação com a organização dos fluxos, a ênfase nas áreas de circulação e, sobretudo, a preocupação em acentuar a comunicação entre os espaços interno e externo do edifício são reveladores da aspiração urbanística do projeto, que busca incorporar o léxico moderno da construção ao cotidiano das cidades.

Concebido como um volume formado por quatro faces independentes, o edifício apresenta uma estrutura aberta com superfícies envidraçadas. As diferenças entre os pavimentos podem ser percebidas nas faces frontal e posterior do prédio. A dinâmica da fachada é dada pelas janelas de diferentes tipos e formatos, varandas e terraços. O contraponto entre o vitrolite negro brilhante e o marmorite creme-palha fosco, por sua vez, dota a superfície de um contraste cromático sóbrio. As escadas emolduradas por um cilindro envidraçado cortam a fachada lateral, enfatizando um movimento em sentido longitudinal. O crítico Roberto Conduru sugere algumas semelhanças da construção com os volumes planos do Edifício Clarté, (1930-1932), de Le Corbusier, em Genebra, e da Casa Rustici (1933-1935), de Giuseppe Terragni e Pietro Lingeri, em Milão; assim como com o volume envidraçado da escada testado por Walter Gropius e Adolf Meyer no Pavilhão da Werkbund (1914), de Colônia, e por Johannes Diuker no Pavilhão do Sanatório de Zonestraal (1928-1931), em Hilversum.

O Edifício Esther participa do processo de transformação em curso na cidade, tornando-se um marco arquitetônico. Uma referência como pólo cultural da época, sedia, a partir de 1943, a seção paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e depois o Clubinho - Clube dos Artistas e Amigos da Arte. Abriga também o escritório do arquiteto Rino Levi (1901-1965), a residência de Di Cavalcanti (1897-1976)Noemia Mourão (1912-1992) e do próprio Vital Brazil. Apesar de sua importância na história da arquitetura moderna e contemporânea no país, o edifício sofre, ao longo dos anos, um crítico processo de descaracterização e deterioração e encontra-se, curiosamente, ausente de alguns conhecidos manuais de arquitetura nacionais.

Fontes de pesquisa 5

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  • ANDRADE, Mário de. Brazil builds. In: DEPOIMENTO de uma geração: arquitetura moderna brasileira. rev. ampl. Organização Alberto Xavier. São Paulo: Cosac Naify, 2003. [Texto publicado originalmente na Folha da Manhã, São Paulo, 23 mar. 1943].
  • ATIQUE, Fernando. Memória moderna. A trajetória do Edifício Esther. São Carlos: Editora Rima, 2004, 364 pp, il. p&b.
  • BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
  • CONDURU, Roberto. Vital Brazil. Coordenação editorial Rodrigo Naves; apresentação Pedro Henrique Mariani. São Paulo: Cosac & Naify, 2000. 126 p., il. p&b. (Espaços da Arte Brasileira).
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.

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