Museu Casa do Pontal
Texto
Histórico
A Casa do Pontal - Museu de Arte Popular Brasileira é criada por Jacques Van de Beuque (1922-2000), francês radicado no Brasil desde 1946. Nascido em Bavay, no norte da França, Van de Beuque cursa belas-artes em Lyon até o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando passa a integrar a resistência francesa. É preso e enviado para Kiev, na Ucrânia, onde permanece por cerca de dois anos. Foge da prisão em 1944, poucos meses antes do fim da guerra. Decide sair da Europa e viaja para o Brasil, incentivado pelo pintor Candido Portinari (1903-1962).
Atua como designer e também em uma empresa responsável pela montagem de exposições. Passa a interessar-se por objetos criados por pessoas simples, pela vivacidade de suas cores e grande variedade de formas. Viaja por todo o país, visitando pequenos povoados, onde adquire peças de arte popular. Durante 40 anos constitui importante e numeroso acervo de obras produzidas na última metade do século XX. Em 1994 publica o livro Arte Popular Brasileira, pela Câmara Brasileira do Livro.
Para abrigar sua coleção Van de Beuque constrói no Rio de Janeiro o edifício-sede do Museu de Arte Popular Brasileira, aberto ao público em 1992. A instituição reúne cerca de 8 mil peças, obras de aproximadamente 200 artistas, provenientes de várias regiões do Brasil, cuja produção é representativa da arte popular. A maior parte das obras, entre esculturas, bonecos, mecanismos articulados e modelagens, está relacionada a cenas cotidianas do povo brasileiro, seus costumes e festas.
A antropóloga Angela Mascelani, pesquisadora do acervo da Casa do Pontal, destaca a história das coleções de arte popular e a discussão estética sobre o tema, iniciada em 1959 com a mostra Bahia, organizada pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914 - 1992), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Com a apresentação de objetos de uso cotidiano, a curadora da exposição procura defender a idéia de que "o design está nos objetos mais simples do dia-a-dia, constituindo uma busca essencial ao ser humano". Posteriormente, Pietro Maria Bardi (1900 - 1999) e Lina Bo Bardi realizam a exposição A Mão do Povo Brasileiro, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em 1969. Em 1972, o Ministério das Relações Exteriores promove a mostra O Espírito Criador do Povo Brasileiro, com base na Coleção de Abelardo Rodrigues, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
Van de Beuque organiza a mostra Arte Popular Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ em 1976. Para Mascelani, a proposta de Van de Beuque revela um amadurecimento das discussões acerca da arte popular. Embora tenha pontos em comum em relação à abordagem de Lina Bo Bardi, Van de Beuque procura reunir obras de artistas que representam ou evocam cenas cotidianas, sem preocupação maior com a questão do design ou da funcionalidade dos objetos. O crítico Roberto Pontual destaca a importância dessa exposição quanto à qualidade e diversidade das peças exibidas.
Para Mascelani, a Casa do Pontal pauta-se em sua criação por questões defendidas por Lélia Coelho Frota em relação à exposição realizada por Van de Beuque em 1976, quando ela publica o livro Mitopoética de 9 Artistas Populares Brasileiros. Entre os pontos mais importantes defendidos por Frota, está a premissa de que existem culturas diversas no Brasil, e que membros dessas culturas produzem objetos que podem ser apreciados em termos estéticos. A partir dessa época, tornam-se mais freqüentes as exposições com obras de caráter popular.
A coleção reunida por Van de Beuque na Casa do Pontal é constituída predominantemente por peças de barro, mas também exemplares de madeira, areia pintada e tecido, e outros materiais. O espaço expositivo é organizado em eixos temáticos, como Ciclo da Vida (com subdivisões como nascimento, brincadeiras infantis, casamento e morte); Festas Populares (folia de reis, maracatu e boi-bumbá, entre outras); Mamulengos (fantoches); Jogos e Diversões; Areias e Bichos (garrafas de areia e esculturas de animais); e Arte Erótica.
Nessa coleção encontra-se a produção de Noemisa (1947), Mestre Vitalino (1909 - 1963), Antonio Poteiro (1925), GTO (1913 - 1990), Itamar Julião (1959) e Mestre Didi (1917- 2013). Entre as esculturas de Mestre Vitalino destacam-se Violeiros e Noivos a Cavalo, déc.1950, e Boi Zebu e Retirantes, déc.1960, pela beleza e simplicidade do modelado e suavidade das cores. Sua produção relaciona-se a aspectos culturais e sociais do Nordeste brasileiro, como a seca e a migração. A Roda, de GTO, é um exemplo das mandalas que o artista denomina Rodas-Vivas. Nessas esculturas, ele utiliza a figura humana, de forma esquemática e repetida em estruturas geométricas, como o retângulo e o círculo. GTO explora assim os cheios e vazios e o ritmo conferido pela sucessão de figuras em suas obras. A escultura Macacos e Leões nos Galhos, déc.1980, de Itamar Julião, revela o estilo vigoroso e a atenção ao acabamento constantes em suas obras. Entre as esculturas de Mestre Didi pode ser mencionada Xaxará de Oxumaré, déc.1960, com a temática ligada à cultura afro-brasileira e a riqueza cromática freqüentes em sua produção. O acervo do museu mantém várias obras relacionadas ao ciclo do cangaço.
A instituição recebe, em 1996, o Prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, que elogia o museu pela iniciativa "em prol da preservação histórica e artística de bens móveis e imóveis".
Em 2002 a Casa do Pontal publica o livro O Mundo da Arte Popular Brasileira, de Angela Mascelani, que analisa a coleção do museu, e em 2004 lança a publicação Arte Popular Arte de Ponta, com texto da mesma autora.
Exposições 7
-
5/12/2009 - 29/3/2008
-
0/0/0 - 0/0/2009
-
6/2/2011 - 5/6/2011
-
30/11/2014 - 27/4/2013
-
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- ARTE popular arte de ponta. Curadoria Angela Mascelani. Rio de Janeiro: Museu Casa do Pontal, 2004.
- ARTE popular brasileira. Rio de Janeiro : Fundação Casa França Brasil, 1998.
- BEUQUE, Jacques Van de. Arte Popular Brasileira. São Paulo, Câmara Brasileira do Livro, 1994.
- FROTA, Lélia Coelho. Mitopoética de 9 artistas brasileiros: vida, verdade e obra. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
- MASCELANI, Angela. O Mundo da arte popular brasileira: Museu da Casa do Pontal. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
MUSEU Casa do Pontal.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao17551/museu-casa-do-pontal. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7