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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.02.2018
1873 Brasil / São Paulo / São Paulo

Liceu de Artes e Ofícios, 1994
Ed Viggiani
,

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) é criado em 1873, com a denominação de Sociedade Propagadora da Instrução Popular, por iniciativa de Carlos Leôncio da Silva Carvalho (1847-1912) e um grupo de sócios ligados às elites cafeicultoras locais. Trata-se de uma associação educacional privada, fundada com apoio da maçonaria, destinada às...

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Histórico

O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp) é criado em 1873, com a denominação de Sociedade Propagadora da Instrução Popular, por iniciativa de Carlos Leôncio da Silva Carvalho (1847-1912) e um grupo de sócios ligados às elites cafeicultoras locais. Trata-se de uma associação educacional privada, fundada com apoio da maçonaria, destinada às classes trabalhadoras, do campo e da cidade, que se propõe a "ministrar gratuitamente ao povo os conhecimentos necessários às artes e ofícios, ao comércio, à lavoura, às indústrias". O objetivo explícito da instituição é a formação de mão-de-obra especializada para a indústria, do ponto de vista técnico e moral. Procura-se formar "bons cidadãos", indica Carvalho, "que, sabendo trabalhar e podendo viver do trabalho, não se deixam corromper por empregos ou favores oferecidos a troco de sacrifícios de caráter, pois o proletariado que sabe trabalhar foge dos vícios, que roubam tempo e saúde, seus únicos, mas produtivos capitais". Num período em que poucas são as escolas primárias e em menor número as secundárias e de ensino superior, a instituição oferece cursos noturnos gratuitos de caligrafia, gramática e aritmética para a população de baixa renda, destinados a adultos e crianças. Fornece ainda material didático, assistência médica e uma biblioteca pública. As aulas têm início em 1874 e são dadas em prédio adaptado na rua São José.

Progressivamente a Sociedade vai adquirindo o perfil de uma escola profissionalizante, e passa a denominar-se, após ampla reforma curricular, Liceu de Artes e Ofícios, em 1882. O modelo da nova escola, ao que tudo indica, é a experiência do Arts and Crafts, liderado por William Morris (1834-1896), na Inglaterra, que valoriza o trabalho do artesão na indústria capitalista. Mas é, em 1895, dirigida pelo engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928), que a escola conhece uma reforma mais ampla, com a inclusão das "artes e ofícios", de acordo com o plano do engenheiro de criar as bases de uma "futura Escola de Belas Artes de São Paulo". No interior dessa rubrica abrigam-se cursos de desenho com aplicação às artes e à indústria, de modelagem em gesso e barro, além de aulas de pintura e de "instrução profissional" (carpintaria, marcenaria, ebanisteria, serralheria etc.). São incluídas classes de álgebra, geometria e contabilidade, comércio e agricultura. Com essa reforma, o Liceu aprimora e amplia a produção de artigos de artes decorativas e industriais, visando atender a um mercado em expansão no Brasil. E, os alunos, vistos como aprendizes, passam a receber pagamento pelas obras produzidas, vendidas com o selo da escola.

A ênfase no ensino de desenho, pintura e escultura se articula ao plano de Ramos de Azevedo de transformar o Liceu em um centro de belas-artes, com organização de exposições, ateliês de artistas e formação de uma pinacoteca. Vários trabalhos de alunos são expostos na sede da instituição e alguns deles são premiados nas Exposições Gerais de Belas Artes, no Rio de Janeiro. As premiações e o prestígio do corpo docente conferem visibilidade ao Liceu do ponto de vista artístico. Lecionam na instituição, entre outros, Domiciano Rossi, desenho geométrico; Pedro Alexandrino (1856-1942), desenho de figura e paisagem; Umberto Vigiani; Mugnaini (1895-1975), Otelo Borioni e Adolpho Borioni, desenho; Oscar Pereira da Silva (1867-1939), pintura; Amadeu Zani (1869-1944), escultura. A despeito do reconhecimento do Liceu, sem sede própria até esse momento, ele tem-se instalado, desde a sua fundação, em diferentes locais. Entre 1882 e 1889, passa por dois edifícios: um na rua da Boa Morte, n.17 e outro na Rua Imperador, n. 5. Em 1896, muda-se para a rua Santa Tereza, n.22. Negociações com o governo provincial valem a doação de um terreno à escola, ao lado do Jardim Público da Luz (1896), além da concessão de recursos para a edificação da sede, cujas obras se iniciam em 1897.

O prédio, projetado por Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi, seu principal colaborador, tem estilo monumental em forte consonância com os princípios do ecletismo italiano, formado por três pavimentos, com dois pátios internos de modo a garantir ventilação e iluminação. No centro, primeiro piso, localiza-se o saguão central, com altíssimo pé-direito e janelas voltadas para o interior, que prevê uma cúpula, nunca concluída. Na construção são empregados materiais importados como pinho-de-riga e cerâmica francesa. No projeto, os engenheiros idealizam a integração entre o edifício e o Jardim da Luz, pelo recurso às varandas laterais e às janelas que dão para o parque. O prédio é parcialmente concluído em 1900, quando começam a funcionar alguns cursos de instrução primária e artística. Por razões técnicas e sanitárias, as oficinas industriais, previstas para o piso térreo, não podem funcionar. Ficam no edifício somente as de fundição, escultura e marcenaria. O plano frustrado leva a uma barganha com o governo estadual: a concessão de terreno para a instalação das oficinas industriais em troca de espaço para o ginásio do Estado, que funciona no prédio do Liceu de 1901 a 1910.

A criação de um museu, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina), no interior do Liceu de Artes e Ofícios, em 1905, altera completamente as feições iniciais da escola, articulando a partir de então a história das duas instituições. Concebida a princípio para ser uma galeria, a Pinacoteca é fundada pelo poeta e mecenas Freitas Valle (1870-1958), pelo político Sampaio Vianna, pelo engenheiro Adolpho Pinto e por Ramos de Azevedo, que dirige simultaneamente o Liceu e a Pinacoteca,  de 1905 a 1921. O acervo inicial do museu conta com 59 obras de artistas consagrados do Rio e de São Paulo, parte delas pertencentes ao acervo do Museu Paulista, e transferidas à Pinacoteca. Um incêndio e as revoltas políticas de 1930 - a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 - obrigam o prédio a fazer as vezes de "quartel" improvisado e levam a Pinacoteca e o Liceu a funcionar precariamente. A Pinacoteca e seu acervo ficam abrigados na antiga sede da Imprensa Oficial, na rua Onze de Agosto, entre 1932 e 1947. Nas décadas de 1930 e 1950, o Liceu de Artes e Ofícios funciona no prédio da avenida Tiradentes (cursos e exposição permanente) e suas oficinas na rua João Teodoro, 11. É o local onde se encontra atualmente, com entrada pela rua Cantareira, 1351.

Nos cinco primeiros anos do século XX, a produção do Liceu adquire importância e visibilidade. Ornamentos para fachadas, obras de serralheria e mobiliário aí executados se fazem presentes em construções e interiores de diversas residências de São Paulo (Hotel de La Plage, Guarujá, 1911, projetado por Ramos de Azevedo, cujos acabamentos das fachadas, estruturas metálicas e mobiliário são realizados nas oficinas do Liceu). Peças de cerâmica - faiança, azulejos e vasos -, bem como ornamentos em bronze fundido produzidos na escola podem ser encontrados em inúmeras construções paulistanas. Residências como a de Mário da Cunha Bueno (rua Guadalupe), Olívia Guedes Penteado (rua Conselheiro Nébias), Martinho Prado (avenida Higienópolis) e Ricardo Severo (Casa Lusa, rua Taguá), entre outras, têm elementos da decoração externa e interna, alguns ornamentos e parte do mobiliário executados pelo Liceu. Edifícios públicos de São Paulo se beneficiam da produção da escola, como o lustre monumental do saguão e o mobiliário do Theatro Municipal; as grades da escada do Teatro D. Pedro II, instalado no Clube Comercial, no vale do Anhangabaú; os frisos decorativos da fachada do edifício do Banco de São Paulo, na rua 15 de Novembro; o mobiliário e a decoração interna da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Monumentos também são executados na escola, por exemplo, o monumento em homenagem a Ramos de Azevedo, 1934, diante do edifício da Luz - projetado por Galileo Emendabili (1898-1974) e fundido em bronze nas oficinas do Liceu - e o Monumento ao Duque de Caxias, de autoria de Victor Brecheret (1894-1955), fundido no Liceu e montado na praça Princesa Isabel, centro de São Paulo.

A marcenaria do Liceu é responsável ainda pelo mobiliário de diversos hotéis, como o Rio Sheraton, o Hotel Tropical de Manaus e o Transamérica em São Paulo, e do Aeroporto Internacional de Cumbica. Com o modelo de desenvolvimento industrial implantado no país pelo presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), o projeto do Liceu - que previa a indissociabilidade entre arte, indústria e educação - parece inadequado aos novos tempos e as obras artesanais aí produzidas tornam-se obsoletas. Tentativas de adequação à nova fase industrial transparecem no feitio da produção: execução de esquadrias e revestimentos de aço inoxidável para o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp); para o Banco Central, em Brasília; para a sede da Petrobras, no Rio de Janeiro; e Federação da Indústrias de São Paulo - Fiesp, em São Paulo, além de caixas-automáticos 24 horas. Atualmente, o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo é constituído pelo Laosp-Indústria, especializado na fabricação de bens e materiais para a construção civil, cujo principal produto é o hidrômetro; pela Escola Técnica, com cursos técnicos de nível médio e livres, ligados à tecnologia; e pelo Centro Cultural, responsável pela memória da instituição e pela promoção artística em geral.

Obras 2

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Espetáculos 2

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Exposições 13

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Fontes de pesquisa 4

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  • A PINACOTECA do Estado. Texto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, Paulo Mendes da Rocha, Maria Cecília França Lourenço. São Paulo: Banco Safra, 1994. 319 p., il. color.
  • BELLUZO, Ana Maria de M. Artesanato, Arte e Indústria. 1988. 523p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo - FAU/USP, São Paulo, 1988.
  • CRONOLOGIA. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1994. 4p. Documento produzido pela Biblioteca da Pinacoteca do Estado de São Paulo, a partir de pesquisa de Maria Luiza Morais, mimeo, (revista em 2002).
  • FILUS, Cláudio (coord.). Acervo permanente e novas doações. Texto Aracy Amaral, José Roberto Teixeira Leite, Maria Cecília França Lourenço, Ruth Sprung Tarasantchi, Marta Rossetti Batista, Peter Burke, Maria Luiza Moraes. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1999. 30 p., il. color.

Como citar

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