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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

3NÓS3

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.05.2023
1979 Brasil / São Paulo / São Paulo
1982 Brasil / São Paulo / São Paulo
Formado pelos artistas plásticos Hudinilson Jr. (1957-2013), Mario Ramiro (1957) e Rafael França (1957-1991) o grupo 3NÓS3 realiza ações que questionam os espaços da cidade de São Paulo de 1979, ano em que é fundado, até 1982. Graduados em artes plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Mario Ramiro e R...

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Histórico
Formado pelos artistas plásticos Hudinilson Jr. (1957-2013), Mario Ramiro (1957) e Rafael França (1957-1991) o grupo 3NÓS3 realiza ações que questionam os espaços da cidade de São Paulo de 1979, ano em que é fundado, até 1982. Graduados em artes plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Mario Ramiro e Rafael França já se conhecem antes de 1979, ano em que planejam, junto com a artista plástica Marilia Gruenwaldt, uma exposição na estação São Bento de metrô. Hudinilson Jr., formado em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) integra o grupo a convite de Ramiro, com quem trabalha na prefeitura de São Paulo. A exposição, composta por carimbos feitos por Marilia e xilogravuras dos outros artistas, inclui oficinas oferecidas ao público. Na ocasião, França, Ramiro e Hudinilson Jr. se aproximam dos punks que, ao fugirem da repressão policial, escondem-se no metrô e participam das oficinas. Interessados neste contato direto com o público, os três artistas passam a se encontrar e estudar textos sobre arte conceitual e earth art. Desses encontros, surge a ideia de fazer intervenções artísticas nos espaços públicos da cidade.

O grupo 3NÓS3 participa de um movimento mais amplo nos anos 1960 e 1970, quando artistas brasileiros propõem novas linguagens, como os happenings e as instalações. Com influência europeia e estadunidense, esta geração, composta por artistas como Wesley Duke Lee (1931-2010) e Nelson Leirner (1932), pensa obras com a participação do público. Rompendo os limites entre arte e vida, os artistas ocupam ruas, parques e outros espaços públicos e fazem uso de materiais não convencionais, como plástico e terra.

Com a ditadura militar instaurada no país no ano de 1964, parte das propostas desta geração tematiza a repressão, a tortura e a violência por parte do estado. Em 1970, o artista Cildo Meireles (1948) carimba cédulas de cruzeiros com a frase “Quem Matou Herzog?”,1 na série Inserção em Circuitos Ideológicos - 3. Projeto Cédula (1970),  fazendo essas notas circularem sem que sua autoria seja exposta. No mesmo ano, o artista português Artur Barrio (1945) espalha trouxas ensanguentadas pela cidade de Belo Horizonte. Os dois trabalhos fazem alusão a violência praticada pelos militares, durante perseguições políticas e interrogatórios.

Nesse contexto, o 3NÓS3 propõe suas Interversões, trocadilho com a palavra “intervenções”, com ações realizadas em espaços públicos durante a madrugada. Com expressivo tom questionador e político, por vezes associadas ao vandalismo, os integrantes avaliam a localização dos policiais pela cidade e fotografam as obras antes de serem retiradas pelas autoridades no dia seguinte.

Intitulada Ensacamento, a primeira interversão é realizada em 1979, em São Paulo. Segundo registro do grupo, 68 estátuas públicas da cidade têm as cabeças ensacadas durante a madrugada, como O Monumento às Bandeiras (1953), do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955). No dia seguinte, os artistas se revezam em ligações para a imprensa e simulam vizinhos indignados com a intervenção de vândalos e questionam os jornais sobre as ações. A intervenção do grupo faz alusão à prática comum durante os interrogatórios, em que as cabeças de presos políticos são cobertas com sacos, induzindo ao sufocamento, e garantindo o anonimato dos envolvidos.

Ainda no ano de 1979, o grupo escolhe algumas galerias de arte para fazer a interversão X-Galeria, que consiste em marcar com fita crepe um “X” em suas portas e colar ou colocar por debaixo das portas a frase “o que está dentro fica, o que está fora expande”. As palavras são gravadas por um mimeógrafo, máquina usada durante a ditadura pela imprensa clandestina. O conteúdo da mensagem expressa a crítica feita pelo 3NÓS3 – e por outros coletivos de artistas, como o Viajou sem Passaporte – à limitação das obras de arte no espaço das galerias em contraponto ao uso da cidade para sua realização. 

Em Interdição (1979) o grupo estende, durante duas horas, grandes faixas azuis de papel celofane entre postes da avenida Paulista. O material transparente e a luz do sol modificam as cores das ruas, e as faixas, ainda que frágeis e fáceis de serem rompidas, interrompem o fluxo dos automóveis. 

O manifesto do grupo é publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 1979, intitulado  “A Categoria Básica da Comunicação”, um compilado de palavras retiradas de livros acadêmicos sem a preocupação de transmitir um sentido lógico. A proposta do grupo alcança também a imprensa, subvertendo a lógica de comunicação com o público.

Mais tarde, em 1980, no cruzamento das avenidas Paulista e Consolação, utilizam uma grande faixa de polietileno para cobrir a entrada de um túnel. O material colorido espalhado pela cidade gera efeitos curiosos, pois lugares de passagem rápida e desatenta por motoristas e pedestres são modificados gerando estranhamento e uma nova percepção do espaço urbano. 

O grupo realiza 18 intervenções no total e só uma delas, Arte, feita fora de São Paulo, na cidade de Porto Alegre. Quando termina, o coletivo realiza a exposição O 3NÓS3 acabou (1982), no Sesc Pompéia, uma interversão que dura 14 dias. Os integrantes do grupo continuam as atividades artísticas de forma independente. Em 2012, é realizada a exposição Arte/Ação e 3NOS3 no Centro Cultural São Paulo (CCSP), com fotos e documentos das ações do grupo.

Nota
1 Vladimir Herzog foi um jornalista, morto em 25 de outubro de 1975, nas dependências do DOI/CODI, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Sua morte, divulgada como suicídio, gerou debates e protestos sobre o uso da tortura nos interrogatórios durante a ditadura militar e tornou-se um símbolo nas manifestações pela redemocratização do país.

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