Companhia Nydia Licia-Sergio Cardoso
Texto
Data/Local
1954/1960 - São Paulo SP
Histórico
Companhia fundada pelo casal Nydia Licia e Sergio Cardoso, espaço para projetos mais ousados da dupla, em que Nydia projeta-se definitivamente como atriz e Sergio desenvolve, além de sua já bem-sucedida carreira de ator, sua aptidão para a direção de espetáculos.
Em 1952, ao saírem do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, em que desenvolvem bem estruturada carreira desde a sua fundação, Sergio Cardoso e Nydia Licia, encabeçam, no Rio de Janeiro, a Companhia Dramática Nacional - CDN. Nesse conjunto atuam em A Raposa e as Uvas, de Guilherme Figueiredo, direção de Bibi Ferreira, e em A Canção Dentro do Pão, de Raimundo Magalhães Júnior, com direção do próprio Sergio, ambas de 1953, ano em que deixam o grupo. Retornam a São Paulo dedicando-se intensamente à televisão e ao cinema.
É nessa ocasião que o casal descobre e aluga o antigo cine-teatro Espéria, na Rua Conselheiro Ramalho, no bairro do Bixiga, decidindo reformá-lo inteiramente. Para tanto, o casal constitui a Empresa Bela Vista S.A. e intensifica suas participações na TV, para enfrentar o novo desafio: fundar uma companhia com sede própria.
A estréia do novo conjunto dá-se em 1954, no Teatro Leopoldo Fróes, sob a direção de Sergio Cardoso, com Lampião, de Rachel de Queiroz (1910 - 2003), destacando o próprio Sergio com uma inspirada criação do já lendário personagem. Segue-se, também dirigido por ele, Sinhá Moça Chorou, de Ernani Fornari, enquanto lentamente preparam Hamlet, de William Shakespeare. A inauguração do Teatro Bela Vista, com Hamlet, em maio de 1956, revela umas das melhores casas de espetáculos já construídas. Com direção e interpretação de Sergio, Hamlet é uma das grandes criações da companhia; assim como Henrique IV, de Luigi Pirandello, com direção de Ruggero Jacobbi, e Chá e Simpatia, de Robert Anderson, mais uma direção de Sergio, montagem que consagra Nydia como atriz nacionalmente conhecida, ambas de 1957. Uma nova encenação de Vestido de Noiva é empreendida por Sergio Cardoso, em 1958, redimensionando inteiramente a anterior criação de Ziembinski.
Com a separação do casal, em 1960, a parceria se desfaz, e cada um dos dois sócios partirá para fundar sua própria companhia.
A Companhia Nydia Licia-Sergio Cardoso, ao longo dos seus seis anos, traz um repertório notável, mais ousado que o das outras companhias saídas do TBC. Além de Shakespeare, montam um Robert Anderson (Chá e Simpatia, 1957), que na época é considerado "avançado"; um Faulkner de difícil execução (Oração Para Uma Negra, 1959); um Pirandello complicadíssimo (Henrique IV, 1957); além da produção de um Georg Kaiser (O Soldado Tanaka, 1960).
Na ocasião de Chá e Simpatia, com a companhia já plenamente estabelecida, escreveu o crítico Décio de Almeida Prado: "Não há nada mais emocionante do que assistir ao nascimento e ao gradual florescimento de uma jovem companhia. (...) Passado somente um ano, a estréia de Chá e Simpatia vem demonstrar, amplamente, que a companhia de Sergio Cardoso alcançou por fim a sua maioridade: é agora um conjunto profissional como os que melhor o sejam. Esta evolução reflete-se, aliás, com impressionante fidelidade, no amadurecimento dos dois primeiros atores, responsáveis pelo conjunto: Nydia Licia e Sergio Cardoso. (...) (Ela) ...foi afinando as suas qualidades de doçura, de dignidade, de delicadeza, até vencer pela sensibilidade uma certa frieza interior, colhendo numa peça como esta, que pedia exatamente aqueles requisitos, o seu maior triunfo, firmando-se como uma das primeiras atrizes do nosso teatro. Com referência a Sergio o amadurecimento foi de outra ordem: não como ator, porque já era um intérprete de exceção, mas como encenador e chefe de companhia".1
Notas
1. PRADO, Décio de Almeida. Chá e Simpatia. In: ______. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964, p. 55.
Espetáculos 29
Fontes de pesquisa 5
- ALBUQUERQUE, Johana. Nydia Licia (ficha curricular) In: ___________. ENCICLOPÉDIA do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação VITAE. São Paulo, 2000.
- LICIA, Nydia. "Depoimento", In Depoimentos IV. Rio de Janeiro. MEC-DAC-SNT: 1977.
- LICIA, Nydia. Ninguém Se Livra de Seus Fantasmas. São Paulo, Ed. Perspectiva, 2003.
- PRADO, Décio de Almeida. O teatro brasileiro moderno. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (Debates, 211).
- PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso: crítica teatral, 1955-1964. São Paulo: Martins, 1964.
Como citar
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COMPANHIA Nydia Licia-Sergio Cardoso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399380/companhia-nydia-licia-sergio-cardoso. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7