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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Fotoformas

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.08.2021
1951 Brasil / São Paulo / São Paulo – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)
A exposição Fotoformas, de Geraldo de Barros (1923-1998), é realizada entre 2 e 18 de janeiro de 1951 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), localizado na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo. Importante ressaltar que há uma ligação anterior do artista com o museu. Em 1949, ele cria o laboratório e os cursos de fotografia do...

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A exposição Fotoformas, de Geraldo de Barros (1923-1998), é realizada entre 2 e 18 de janeiro de 1951 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), localizado na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo. Importante ressaltar que há uma ligação anterior do artista com o museu. Em 1949, ele cria o laboratório e os cursos de fotografia do Masp, juntamente com o artista Thomaz Farkas (1924-2011). A partir de então, sua produção aproxima-se de pesquisas formais em que o interesse está nos ritmos e planos que se projetam para o espaço além da moldura.

Na pequena sala de exposições periódicas, onde acontecem mostras de Mario Cravo Neto (1947-2009), Karl Hansen Bahia (1915-1978), Carybé (1911-1997) e Frank Schaeffer, a série Fotoformas é exposta pela primeira vez. Como frisa Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor do museu, no catálogo da mostra:

Geraldo vê, em certos aspectos ou elementos do real, especialmente nos detalhes geralmente escondidos, sinais abstratos fantasiosos olímpicos: linhas que gosta de entrelaçar com outras linhas numa alquimia de combinações, mais ou menos imprevistas e às vezes ocasionais, que acabam sempre contrapondo harmonias formais agradáveis. A composição é para Geraldo um dever, ele a organiza escolhendo no milhão de segmentos lineares que percebe, sobrepondo negativo sobre negativo, modulando os tons de suas únicas cores que são o branco e o preto, reforçando as tintas naquele seu trabalho de laboratório tão cuidado e agradável.

A exposição viabiliza uma noção radical, experimentada pela fotografia brasileira naquele momento, que tem Geraldo de Barros como pesquisador de vanguarda. Ele amplia a pesquisa sobre ela, que deixa de ser documental, ou atrelada a uma informação segura e concreta sobre o mundo, e ganha status conceitual e artístico. Além disso, insere procedimentos e conceitos das artes plásticas na produção e revelação da fotografia. O próprio artista ressalta no texto “Tratado da Fotografia” (1947):

a fotografia é um processo de Gravura [...] Acredito, também, que é no “erro”, na exploração e domínio do “acaso”, que reside a Criação em Fotografia [...] Se é permitido o “retoque”, também são permitidas alterações no negativo. Um negativo achado, todo riscado e empoeirado, se fornecer um bom resultado fotográfico, a Fotografia é de quem a realiza e não de quem expôs o negativo.

Este texto antecipa os processos de montagem, composição, rabiscos sobre o negativo (o que traz a semelhança entre a gravura e a fotografia) e sobreposição que o artista realiza para as Fotoformas. Sua experiência investiga os limites do processo fotográfico tradicional ao intervir diretamente no negativo. As múltiplas exposições da mesma película, sobreposições, montagens e recortes das ampliações que questionam o formato da fotografia.

A proximidade entre pintura e fotografia é explorada nessa exposição. Além disso, as Fotoformas trazem uma atmosfera de suposta vagueza aos assuntos do cotidiano. Uma janela, parte do assento de uma cadeira, um pedaço de muro, manchas de sol em vidraça. Todas essas formas, perspectivas e objetos são temas e motivos para a série de fotos.

A exposição é o estopim ou laboratório para que o artista explore as possibilidades das formas e linhas de uma pintura abstrata em seus aspectos mais mundanos e analise essa realidade por meio da fotografia. Mostra emblemática, coloca-se no debate central entre os defensores do figurativismo nas artes plásticas brasileiras e um grupo mais jovem de artistas, influenciados pelos movimentos da vanguarda europeia, que têm a abstração como meio e modelo de pesquisa. Em artigo sobre a exposição, Waldemar Cordeiro (1925-1973), artista ligado às pesquisas abstratas e fundador do Grupo Ruptura em 1952, escreve que:

Geraldo de Barros descobriu elementos técnicos novos, o que se deve ao próprio senso estético do artista. De fato, a sobreposição de chapas foi explorada por determinados critérios compositivos que criaram por movimentos rotativos de ritmos uma nova emoção fotográfica. Almejando a liberdade estética, em suas últimas pesquisas, Geraldo renunciou também ao retrato artístico criando, ele mesmo, os modelos para a sua imaginação (...) Através do gênero da fotografia, Geraldo vive o atual momento de renovação.

Em texto publicado em 4 de janeiro de 1951, o crítico Quirino da Silva (1897-1981) enaltece a relação intrínseca entre pintura e fotografia na obra de Barros, e por conta disso, seu caráter de vanguarda. Segundo ele: “a fotografia não o seduziu como fotografia simplesmente, isto é, mecânica, fornecida pela máquina. O moço continua pintor: suas fotografias são as suas humildes procuras pictóricas, os seus sonhos plásticos”. Como afirma Cordeiro no texto citado, “a iluminação perdeu seu fascínio e a ‘cozinha’ de laboratório valorizou o jogo das tonalidades”. O laboratório não é apenas o lugar em que se revela a foto, mas campo de experimentação. Geraldo de Barros produz fotografia, gravura e pintura ao mesmo tempo e todas essas técnicas podem ser vislumbradas, como camadas, numa mesma obra. Esse conjunto de técnicas faz parte de um mesmo processo de criação.

A exposição Fotoformas marca o início da fotografia moderna experimental no Brasil e antecipa pesquisas formais e conceituais, exploradas nos grupos Ruptura e Frente.

Ficha Técnica

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Artista participante
Geraldo de Barros

Fontes de pesquisa 6

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  • AMARAL, Aracy (org.). Projeto Construtivo Brasileiro na arte (1950-1962). Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna; São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1977.
  • BANDEIRA, João (Org.). Arte concreta paulista: documentos. São Paulo: Cosac & Naify: Centro Universitário Maria Antônia da USP, 2002.
  • CINTRÃO, Rejane; NASCIMENTO, Ana Paula. Grupo Ruptura. São Paulo: Cosac & Naify; Centro Universitário Maria Antônia da USP, 2002.
  • DE BARROS, Fabiana (Org.). Geraldo de Barros: isso. São Paulo: Edições Sesc SP, 2013.
  • ESPADA, Heloísa (Org.). Geraldo de Barros e a fotografia. São Paulo: IMS, 2014.
  • GERALDO de Barros. Site do artista. Disponível em: <www.geraldodebarros.com >.

Como citar

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