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Cinema

Forumdoc.bh - Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.05.2024
1997 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte – Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
O forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte é um espaço de exibição e promoção de debates em torno da produção cinematográfica documental e independente realizada no Brasil.

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O forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte é um espaço de exibição e promoção de debates em torno da produção cinematográfica documental e independente realizada no Brasil.

Sediado no Cine Humberto Mauro, na região central de Belo Horizonte, o festival tem início em 1997, promovido pela Associação Filmes de Quintal, organização que reúne realizadores e pesquisadores. O grupo tem grande presença de professores e estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A maior parte do financiamento do forumdoc.bh provém de fundos públicos por meio de editais, além de contar com o apoio da UFMG.

Os antropólogos fundadores Junia Torres (1968), Paulo Maia (1977) e Ruben Caixeta (1967) se inspiram no Comitê do Filme Etnográfico – Festival Jean Rouch, realizado em Paris desde 1981. Tendo em vista o interesse pela relação fecunda entre antropologia e cinema, as curadorias são nutridas por marcos históricos desses dois campos. Nesse sentido, os fundadores do festival são norteados por um interesse pela tradição do documentário ligada a ideia de cinema-verdade1, que dialoga com o pensamento e a produção de realizadores como o soviético Dziga Vertov (1896-1954), um dos principais expoentes da tradição documentária, além de Robert Flaherty (1884-1951) e Jean Rouch (1917-2004), responsáveis pelo cruzamento entre o fazer fílmico e a prática etnográfica.

Ao longo de sua história, o festival se consolida como principal janela de exibição dos cinemas indígenas realizados no Brasil. Desde a primeira edição, o forumdoc.bh conta com filmes realizados pelo projeto Vídeo nas Aldeias, dedicado à produção audiovisual compartilhada com diversos povos indígenas do país. Na comemoração de 25 anos do evento, em 2021, essa parceria é celebrada com a mostra Desaparecimento e Reaparecimento dos Povos e das Imagens – 35 Anos de Vídeo nas Aldeias e 25 Anos de forumdoc.bh. 

Além de promover exibições da produção audiovisual indígena em todas as edições, o forumdoc.bh torna-se um espaço crucial de produção de conhecimento sobre essas filmografias, promovendo debates com antropólogos e lideranças indígenas e fomentando a escrita sobre essas produções em seus catálogos. Além do mais, o evento promove práticas formativas com intercâmbio entre realizadores indígenas de diferentes povos. O renomado realizador Isael Maxakali (1978), por exemplo, inicia seu interesse pela prática fílmica em oficina concedida pelo cineasta xavante Divino Tserewahú (1974) na edição de 2004 do festival. 

Com a realização de diferentes mostras retrospectivas de realizadores internacionais, o forumdoc.bh firma-se como importante ampliador de repertório de documentários para o público brasileiro. Alguns dos cineastas reconhecidos por inovações de linguagem cinematográfica contemplados com mostras no festival são Chantal Akerman (1950), Pedro Costa (1958), Sylvain George (1968) e Avi Mograbi (1956). O festival também se dedica a desfazer lacunas da historiografia do cinema brasileiro, ao exibir filmes de relevantes diretores com produção pouco vista e debatida. As retrospectivas dedicadas às obras de Fernando Coni Campos (1933-1988) e Aloysio Raulino (1947-2013) são dois exemplos desta investida. 

Além do interesse central pelo cinema indígena brasileiro, o forumdoc.bh revela grande comprometimento com a visibilidade de sujeitos históricos diversos. Inúmeras mostras comprovam essa posição, como A Mulher e a Câmera, Queer e a Câmera, Ebó Ejé – Mostra Cinema Brasileiro e Afro-religiões, com foco na filmografia realizada em espaços de terreiro e a Retrospectiva Karrabing Film Collective, com filmes de indígenas do Território do Norte da Austrália. O interesse por lutas de distintos movimentos sociais também se faz notável, como na mostra Essa Terra é a Nossa Terra, com filmes de distintos tempos históricos e regiões do mundo que apresentam lutas fundiárias, urbanas e rurais.

A partir da década de 2010, o forumdoc.bh passa a ampliar o espaço da Mostra Contemporânea Brasileira, cuja curadoria é feita a partir de uma chamada aberta. Importantes cineastas brasileiros contemporâneos passam a ter seus filmes exibidos e debatidos no festival, como Lincoln Péricles (1989), Adirley Queirós (1970), Affonso Uchoa (1984) e André Novais (1984). O caráter experimental dessas produções revela a abertura da curadoria para abarcar ficções que utilizem procedimentos de criação próximos das práticas do documentário. 

Uma característica marcante e inovadora do forumdoc.bh é o modo de elaboração dos catálogos. Pesquisadores renomados, lideranças políticas ou detentores de saberes tradicionais de todo o país são convidados todos os anos para escrever críticas e ensaios sobre os filmes selecionados. Essas publicações contam com traduções de textos importantes sobre os debates cinematográficos internacionais e entrevistas com críticos e realizadores estrangeiros. O crítico argelino radicado na França Jean-Louis Comolli (1941-2022), um dos importantes nomes dos Cahiers du Cinéma, revista francesa sobre cinema de relevância mundial, já foi entrevistado para o catálogo, além de ter alguns de seus textos traduzidos. 

A tomada de posição explícita a favor de um cinema que amplie a visibilidade de povos ameaçados pelo desaparecimento – não só de suas imagens, mas também de sua existência – aliada ao rigor notável na elaboração de debates e fortuna cítica consolidam o forumdoc.bh como um dos festivais mais aclamados pelos pesquisadores de cinema brasileiro contemporâneo.

Nota

1. O cinema verdade surge na França, especialmente nos trabalhos do diretor Jean Rouch (1917-2004), e se dá por meio da entrevista documental com a participação do diretor. Difere-se do cinema direto no envolvimento da equipe, já que este gênero registra apenas o entrevistado sem dar visibilidade para a figura responsável pela entrevista ou para as perguntas que motivam o retorno da pessoa registrada.

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