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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Aloysio Raulino

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.04.2017
19.02.1947 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
18.04.2013 Brasil / São Paulo / São Paulo
Aloysio Albuquerque Raulino de Oliveira (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1947 - São Paulo, São Paulo, 2013). Diretor e fotógrafo cinematográfico. Muda-se para São Paulo na segunda metade da década de 1960, período em que ingressa na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), formando-se em 1970. A relação com o cinema...

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Biografia

Aloysio Albuquerque Raulino de Oliveira (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1947 - São Paulo, São Paulo, 2013). Diretor e fotógrafo cinematográfico. Muda-se para São Paulo na segunda metade da década de 1960, período em que ingressa na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), formando-se em 1970. A relação com o cinema é cultivada desde a juventude, no Rio de Janeiro, quando frequenta o Cine Paissandu, para assistir a filmes europeus e japoneses, bem como brasileiros, em especial as obras do cinema novo.

Na ECA/USP, realiza São Paulo (1967), filme desaparecido, e no ano seguinte, Retorna, Vencedor, premiado pelo júri do Festival Brasileiro do Cinema Amador (1968), promovido pelo Jornal do Brasil. Parte para o Chile, em 1969, para apresentar no Festival de Viña Del Mar o filme Rua 100, New York (1969), feito em parceria com Plácido de Campos Jr. (1944-2008). Nesse período, tem grande interesse pela cinematografia latino-americana e seu discurso revolucionário.

Nos anos seguintes, filma Lacrimosa (1970); A Santa Ceia (1970), episódio de Vozes do Medo, coordenado por Roberto Santos (1928-1987); e Jardim Nova Bahia (1971). Entre 1972 e 1973, momento de recrudescimento da ditadura no Brasil, vive na Europa, passando pela França, Iugoslávia e Itália.

Em 1974, assume a presidência da Associação Brasileira de Documentarista (ABD), criada um ano antes durante a Jornada Nordestina de Curta-Metragem. Na entidade, participa ativamente na luta pelo documentário, em especial o de curta-metragem. Realiza Teremos Infância (1974), premiado no Festival de Oberhausen (1975), na Alemanha. Até 1982, dirige cinco curtas-metragens, entre eles O Tigre e a Gazela (1976) e Porto de Santos (1978).

Do seu trabalho como fotógrafo cinematográfico de importantes diretores, destacam-se os filmes Braços Cruzados Máquinas Paradas, de Sérgio Toledo (1956) e Roberto Gervitz (1957), Greve (1979) e O Homem que Virou Suco (1980), ambos de João Batista de Andrade (1939) e O Baiano Fantasma (1984), de Denoy de Oliveira (1933-1998) .

Na década de 1980, dirige Noites Paraguayas (1982), seu único longa-metragem. Preside a Associação Paulista de Cineastas (Apaci), entre 1983 e 1984, e coordena as duas edições (1983 e 1987) do Encontro Nacional de Cineastas (Ecine), em São Paulo.

De 1990 a 1995, dá aulas de fotografia na ECA/USP. Dirige Cinemacidade (1995) que, ao lado de São Paulo Sinfonia e Cacofonia, de Jean-Claude Bernardet (1936), apresenta um mosaico sobre a cidade de São Paulo e seu imaginário cinematográfico a partir de imagens de arquivo. Entre 1996 e 1998, realiza uma série de três médias-metragens intitulada Puberdade I, II e III, que discute o universo adolescente. Fotografa alguns filmes, entre eles Prisioneiro da Grade de Ferro (2003), de Paulo Sacramento, O Aborto dos Outros (2007), de Carla Gallo, e Fim da Linha (2008), de Gustavo Steinberg.

Análise

A figura de Aloysio Raulino é fortemente identificada com o cinema documental de curta-metragem, entendido por ele como uma permanente tentativa de olhar o mundo sem disfarces. Sua estética, de forte caráter autoral, é tida como não convencional, mas que não culmina no experimentalismo.

Retorna, Vencedor, considerado pelo diretor seu primeiro filme, propõe uma discussão sobre os problemas políticos enfrentados pelo país, a partir de uma ocupação de alunos na Universidade de São Paulo. Essa produção de jovens realizadores alcança significativa visibilidade em mostras e festivais de cinema, entre outros aspectos, pelo seu caráter crítico. Nessa mesma época, dedica-se também à fotografia cinematográfica, em filmes de Tânia Savietto (1947-1998), Djalma Limongi Batista (1950) e João Batista de Andrade (1939). A qualidade técnica como fator estético relevante é produto direto de sua relação com a fotografia e da preocupação com a plasticidade da imagem. Na maioria de seus filmes, é também o responsável pela direção fotográfica, sempre muito elogiada. Sobre essa condição de diretor-fotógrafo, declara ser a câmera a expressão de seu olho e de sua consciência.

Em seus curtas-metragens seguintes emergem inúmeras inquietações políticas, mas, sobretudo linguísticas. Lacrimosa capta as contradições sociais de São Paulo, estampada na paisagem vista de um automóvel, em um travelling que percorre a via expressa, e nas fisionomias de cidadãos à margem do progresso da metrópole. Tarumã e Jardim Nova Bahia, analisados por Jean-Claude Bernardet, em Cineastas e Imagens do Povo, as tensões na relação entre o cineasta e seu objeto, principalmente nos momentos em que a câmera é posta pelo diretor à disposição do outro para que ele se revele.

Noites Paraguayas, ficção que incorpora elementos do cinema documental, conta a história de Rosendo, um paraguaio que sai de sua terra natal na ilusão de encontrar uma vida melhor na cidade grande, Assunção, e logo em seguida, em um país estrangeiro, o Brasil. Mas esse sonho se desgasta no cotidiano cruel da grande cidade, e o enredo se fecha no retorno do herói ao seu país de origem. Segundo Ab'Saber, o diretor utiliza o grotesco para mostrar o Brasil, na intenção de evitar a despersonalização de Rosendo. Em um jogo de inversão do sistema periferia-centro, a potência idealizada transforma-se em inferno. Bernardet evidencia a convivência entre uma estrutura linear e segmentos autônomos, no qual a narrativa é constantemente ameaçada pela fragmentação, mas encontra um ponto de equilíbrio e conforta o espectador.

A militância em entidades de classe é um aspecto significativo na relação de Raulino com o cinema nacional. Seu discurso problematiza os meios de produção dos realizadores, a pluralidade da produção cinematográfica e a dependência em relação ao Estado. Da sua atuação como presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD) destacam-se os esforços em favor da reserva de mercado para o curta-metragem, conquistada em 1975 com a Lei do Curta. Anos depois, na Associação Paulista de Cineastas (Apaci) empenha-se na revitalização da produção cinematográfica em São Paulo e, dessa luta, são estabelecidos convênios com a Embrafilme que permitem, por exemplo, a realização de Noites Paraguayas, sétima produção do Polo Cinematográfico Paulista. O filme não tem grande repercussão de público, mas é bem recebido pela crítica, atenta à sua linguagem ousada e inovadora, traços que se estendem a toda filmografia de Aloysio Raulino, empenhada em fazer do cinema um instrumento de questionamento da realidade.

Obras 1

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 17

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  • AB'SÁBER, Tales A. M. O Corpo: limites e morte. In: ______. A imagem fria: cinema e crise do sujeito no Brasil dos anos 80. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
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  • ARAÚJO, Inácio. A voz do outro. In: Anos 70: cinema. Rio de Janeiro: Europa, 1979-80. p. 7-27
  • BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. 197 p.
  • BERNARDET, Jean-Claude. Os Jovens Paulistas. In. XAVIER, Ismail.; BERNARDET, Jean-Claude.; PEREIRA, Miguel. O desafio do cinema: a política do Estado e a política dos autores. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
  • BOTELHO JÚNIOR, Francisco Cassiano. Técnica e estética na imagem do novo cinema de São Paulo. 1991. 292 p. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
  • CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. Cineastas e imagens do povo. Curadoria Simplício Neto. Rio de Janeiro, 2010. 176 p.
  • CINEMA e Estado. Transcrição do 2o. debate do evento Cinema Brasileiro, promovido pela ABD/SP, APACI, Cinemateca Brasileira e outros, 30 maio-06 jun. 1982. Cineasta, n. 1, p. 19-30, set./out. 1982.
  • FUNDAÇÃO CINEMATECA BRASILEIRA. 30 anos de cinema paulista: 1950-1980. São Paulo: Fundação Cinemateca Brasileira, 1980. (Série Cadernos da Cinemateca, v.4).
  • GARDNIER, Ruy. Lacrimosa. In: PUPPO, Eugênio. Cinema marginal brasileiro e suas fronteiras: filmes produzidos nos anos 60 e 70. Realização Centro Cultural Banco do Brasil. São Paulo, 2004. 160 p.
  • KAHNS, Cláudio. Inventando o cinema. Filme Cultura, v. 14, n. 37, p. 60-63, jan./mar. 1981.
  • MIRANDA, Luiz Felipe. Dicionário de cineastas brasileiros. Apresentação Fernão Ramos. São Paulo: Art Editora, 1990, 408 p.
  • PICHIA. Pedro del. O primeiro filme falado em guarani. Folha de S. Paulo, 15 ago. 1982.
  • RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs). Enciclopédia do cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2000.
  • RÖSELE, Ursula. O Tigre e a Gazela, de Aloysio Raulino. Disponível em http://www.filmespolvo.com.br/site/eventos/cobertura/460. Acessado em 03 jan. 2013.
  • SIQUEIRA, Sérvulo. Fotografia de cinema no Brasil, hoje. Filme Cultura, v. 14, n. 38/39, p. 2-29, ago./nov. 1981.
  • ZANIN, Luiz. Aloysio Raulino foi tão preciosista como prolífico. Blog do Estadão. Disponível em; . Acesso em: 24 abr. 2013.

Como citar

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