Danúbio Gonçalves
![Cai pela 3ª Vez, 1973 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000599002013.jpg)
Cai pela 3ª vez, 1973
Danúbio Gonçalves
Acrílica e colagem sobre tela, c.i.e.
110,00 cm x 200,00 cm
Texto
Danúbio Villamil Gonçalves (Bagé, Rio Grande do Sul, 1925 – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2019). Gravador, desenhista, pintor e professor. Com engajamento e precisão técnica, retrata o cotidiano, o trabalho e os costumes gaúchos.
Na década de 1940, estuda gravura e desenho na Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, com Carlos Oswald (1882-1971) e Axl Leskoschek (1889-1975). Frequenta o ateliê de Candido Portinari (1903-1962) com Iberê Camargo (1914-1994). No início da carreira, faz caricaturas e sátiras da sociedade carioca contemporânea.
Entre 1949 e 1951 reside em Paris e frequenta a Académie Julian. De volta ao Brasil, funda o Clube de Gravura de Bagé, no Rio Grande do Sul, com Glauco Rodrigues (1929-2004), Glênio Bianchetti (1928- 2014) e Carlos Scliar (1920-2001). Com esses artistas, integra o Clube de Gravura de Porto Alegre, entre 1951 e 1955. O grupo retrata o povo e os costumes gaúchos de diferentes formas e objetiva estabelecer um diálogo com o público e ampliar o acesso à arte.
A atividade artística de Danúbio Gonçalves tem relação estreita com o seu engajamento político. Ao lado de outros artistas, visita países do bloco comunista, rejeita a Bienal de São Paulo e o abstracionismo e defende uma arte regional, de cunho social, próxima do realismo socialista. Sua produção mais característica consiste em xilogravuras, sobretudo a dos anos de 1950, momento em que retrata camponeses e trabalhadores, seus cotidianos e suas festas. Algumas obras enfatizam eventos, instrumentos, danças e roupas típicas, como Festa do Mundo (1953).
Em outras, há um traço mais expressionista e anguloso, que traduz a violência da atividade dos trabalhadores, como nas séries Charqueadas (1953) e Mineiros de Butiá (1956). A primeira apresenta as etapas da produção do charque, da matança dos bois à secagem da carne. A segunda figura a vida dos mineiros, em evidente referência às obras sobre o mesmo tema do pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890). Em todas, exprime a angústia e a miséria pelos contrastes marcados, e a força e o movimento pela talha que ressalta os veios da madeira com diversos traços paralelos.
Para o escritor Érico Veríssimo (1905-1975), Danúbio consegue ultrapassar o interesse documental e conferir aos temas um sentido universal1. E no decorrer da obra do artista, principalmente a partir da década de 1960, o regionalismo e o traço expressionista abrem espaço para uma abordagem mais abstrata da realidade, com tons rebaixados e formas que são às vezes reconhecíveis, mas não realistas, como plantas, insetos e animais. Na linha do que sugere Veríssimo, trata-se da representação da condição humana por meio de uma "imagem do homem universal, sua deformação e sobressalto"2, ou de aspectos mais misteriosos da existência, como a "expressão de um cosmo ambíguo"3
A partir de 1963, orienta os alunos do curso de litogravura do Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, instituição que dirige até 1978. Entre 1969 e 1971, leciona gravura no Instituto de Artes (IA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em sua produção artística mais tardia, envereda por uma linguagem mais pop, utilizando técnicas variadas, como tinta acrílica, aquarela e gravura. Além dos temas eróticos, pinta cenas de balonismo, em que tira proveito das grandes áreas de cor dos balões, da grama e do céu.
Na década de 1990, publica os livros Do Conteúdo à Pós-Vanguarda (1995), editado pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, e Processos Básicos da Pintura (1996), pela editora AGE. Em 2000, é realizada exposição retrospectiva de sua produção no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs), e é publicado o livro Danúbio Gonçalves: Caminhos e Vivências, pela editora Fumproarte, com textos de Paulo Gomes (1956) e Stori (1946).
Nos anos 2000, realiza obras de grandes dimensões, como Epopéia Rio-Grandense, em Porto Alegre. Inaugurado em 2008 e com uma extensão de 16,5 metros de largura por 3 de altura, o painel retrata episódios da Revolução Farroupilha. A obra do artista faz parte de importantes coleções, como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_), do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp).
Comprometido com seu lugar de origem, Danúbio Gonçalves retrata os habitantes e os costumes gaúchos. Tendo a existência humana como recorrente objeto de representação, transita tanto por abordagens expressionistas e movidas pelo engajamento social bem como por enquadramentos mais abstratos.
Notas
1. PONTUAL, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969, p. 246.
2. Idem, ibidem.
3. SCARINCI, Carlos. A Gravura no Rio Grande do Sul: 1900 - 1980. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982, p.147-148.
Obras 8
Cai pela 3ª vez
Carneadores
Conquista Espacial
Helena
Macunaíma
Exposições 316
Fontes de pesquisa 27
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DANÚBIO Gonçalves.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9418/danubio-goncalves. Acesso em: 15 de maio de 2025.
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