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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Anna Muylaert

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 12.06.2020
1964 Brasil / São Paulo / São Paulo
Registro fotográfico Gleeson Paulino

Anna Muylaert, s.d.

Ana Luiza Machado da Silva Muylaert (São Paulo, São Paulo, 1964). Diretora, roteirista e produtora. Em seus filmes, Anna Muylaert desenvolve, com olhar intimista, conflitos psicológicos de pessoas que não aceitam a passagem do tempo e as transformações da vida em sociedades modernas.

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Ana Luiza Machado da Silva Muylaert (São Paulo, São Paulo, 1964). Diretora, roteirista e produtora. Em seus filmes, Anna Muylaert desenvolve, com olhar intimista, conflitos psicológicos de pessoas que não aceitam a passagem do tempo e as transformações da vida em sociedades modernas.

Estuda cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). No início da carreira, na década de 1980, realiza alguns curtas-metragens e publica textos críticos de cinema em revistas e jornais. Em 1988, escreve o roteiro e dirige o curta-metragem Rock Paulista. No ano seguinte, participa do grupo de criação de programas infantis na TV Cultura, como Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum. Em 1992, dirige outro curta, As Rosas não Calam. Em 1996, ganha destaque com A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti, premiado como melhor curta no XIII Rio Cine Festival e no 5º Mix Brasil. 

Em 2002, lança o primeiro longa-metragem, Durval Discos. O nostálgico protagonista Durval, interpretado pelo ator Ary França (1957), vive com a mãe nos fundos da casa onde funciona a pequena loja de discos de vinil que dá nome ao filme. A chegada da filha da empregada da casa altera a rotina dos moradores. O filme se caracteriza como uma produção de cunho poético, com cenas e situações que causam estranhamento e promovem uma mistura de gêneros. Transita pelo lírico, pela comédia e pelo suspense, mescla potencializada pela alternância musical, que passa da MPB para a música instrumental típica de filmes de cada gênero. A trilha sonora também reforça o apego ao passado, com canções de ícones da música brasileira, como as do grupo Novos Baianos (1969-1978) e do cantor Tim Maia (1942-1998). O filme recebe os prêmios de melhor filme, diretor e roteiro no 30º Festival de Gramado e melhor roteiro no 20º Festival de Torino. 
É possível encontrar personagens comuns entre A Origem dos Bebês segundo Kiki Cavalcanti e o longa. A escolha de uma criança imaginativa como personagem principal e a mistura de gêneros cinematográficos na produção se potencializam de uma obra para a outra.

Em É Proibido Fumar, produção de 2009, Baby [Glória Pires (1963)] e Max [Paulo Miklos (1959)] se conhecem quando se tornam vizinhos em um prédio na região central da capital paulista. A cineasta lida com aspectos do cotidiano dos personagens, revelando a evolução do relacionamento amoroso dos dois, e conduz o espectador por sentimentos que vão da comédia ao drama.

Em ambos os filmes, a tensão se encontra nas inevitáveis mudanças de vida, enfrentadas pelos personagens, seja por causa das contingências da vida adulta, seja por conta das transformações operadas pelos relacionamentos afetivos.

Em seus filmes, Anna Muylaert centraliza seu olhar sobre os conflitos de pessoas que não aceitam a passagem do tempo e as transformações da vida moderna. A abordagem da vida privada de seus personagens, na qual os assuntos íntimos são revelados, exemplifica o drama do homem moderno perdido em um universo de incertezas. A diretora consegue isso pelo uso de recursos expressivos e narrativos.

Em 2015, Anna amplia essa discussão com uma abordagem sociopolítica do Brasil em Que Horas Ela Volta? Nesse filme, a diretora discute as mudanças sociais que aconteceram na história recente do país ao retratar o conflito entre uma família paulistana de classe média-alta e sua empregada Val [Regina Casé (1954)]. O choque é detonado pela chegada da filha de Val, Jéssica [Camila Márdila (1988)], que viaja para São Paulo para concorrer em um vestibular para o curso de Arquitetura.

Val procura reconciliar-se com Jéssica, deixada em Pernambuco quando a mãe decide migrar para o Sudeste em busca de trabalho. Ao mesmo tempo, ela tenta administrar a relação dos patrões com a presença da filha, que questiona as estruturas de poder e de acesso que sua mãe não ousa enfrentar.

No filme, Anna trata do acesso a espaços antes ocupados apenas pela elite. O conflito é visto através da porta da cozinha, visão que Val sempre teve dos patrões. Por sua vez, Jéssica ultrapassa essa fronteira e ocupa outros espaços da casa, metáfora da ocupação de outros espaços sociais antes negados aos migrantes.

A maternidade é vista como conflituosa, por causa da ausência tanto da empregada na criação da própria filha, quanto da patroa na educação de Fabinho [Michel Joelsas (1995)]. Este busca na empregada a figura materna que não encontra na mãe.

Esse tema retorna em Mãe Só Há Uma, lançado no ano seguinte. No filme, Pierre (Naomi Nero) descobre que foi sequestrado quando bebê pela mulher que julga ser sua mãe. Quando ela é presa, Pierre é devolvido à família biológica, com a qual precisa aprender a conviver. Com o restabelecimento de seu nome original, Felipe, o personagem entra em conflito com seus pais por causa da nova vida pensada para ele. O conflito também se dá em relação à questões da adolescência, como a construção de identidade e sexualidade.

Os conflitos enfrentados pela passagem do tempo e pelas transformações sociais são recorrentes na filmografia de Anna Muylaert, em que indivíduo e sociedade estão em constante transformação. 

Obras 2

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Exposições 6

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Mídias (1)

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Anna Muylaert - Encontros de Cinema (2013)
Depoimento gravado durante o Encontros de Cinema, em setembro de 2013, no Itaú Cultural, em São Paulo/SP.

Fontes de pesquisa 16

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  • MUYLAERT, Anna. É Proibido Fumar. Coleção Aplauso. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010.
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  • ORICCHIO, Luiz Zanin. Durval Discos retrata com coragem a violência da cidade. O Estado de São Paulo, São Paulo, 08 mar. 2003. - Caderno 2, p. 6.
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