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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Yumara Rodrigues

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.06.2022
27.08.1934 Brasil / Bahia / Conde
Lygia Quintella Lins (Conde, Bahia, 1934). Atriz, diretora e produtora. Nasce numa família tradicional de uma pequena cidade baiana. Sua primeira referência teatral são os circos que passam pela cidade. Ainda jovem, vai para Salvador, faz magistério e começa a trabalhar e estudar. Em 1958, faz teste com o diretor Graça Mello (1914-1979), especia...

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Lygia Quintella Lins (Conde, Bahia, 1934). Atriz, diretora e produtora. Nasce numa família tradicional de uma pequena cidade baiana. Sua primeira referência teatral são os circos que passam pela cidade. Ainda jovem, vai para Salvador, faz magistério e começa a trabalhar e estudar. Em 1958, faz teste com o diretor Graça Mello (1914-1979), especialmente convidado para dirigir o espetáculo de inauguração do Teatro Castro Alves, para a peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tenessee Williams. Antes da estreia, no entanto, o teatro pega fogo e a programação é cancelada.

Em 1960, atua em O Canto do Cisne, de Tchekhov (1860-1904), e em A Moratória, de Jorge Andrade (1922-1984), papel que lhe rende a medalha de ouro como melhor atriz no I Festival do Autor Brasileiro, em Natal, Rio Grande do Norte. É convidada a participar da primeira novela produzida pela TV Itapoan, recém-instalada em Salvador. A trama, intitulada Colégio Interno (1961), de Luiz Maranhão, é apresentada ao vivo. No mesmo ano, atua no filme de Anselmo Duarte (1920-2009), O Pagador de Promessas, e também no espetáculo A Hora Marcada (1961), de Isaac Gondim Filho. Com À Margem da Vida (1965), de Tennessee Williams (1911-1983), vence a premiação concedida pelo Jornal da Bahia na categoria de melhor atriz. Na TV Itapoan, participa de programas como o seriado A Dama de Vermelho (1967) - também encerrado após um incêndio durante as gravações - e é uma das fundadoras do núcleo de dramaturgia da emissora.

De 1969 a 1974, mora no Rio de Janeiro e participa de diversas produções teatrais, como Chá e Simpatia (1969), de Robert Anderson, e As Incelenças, (1972), de Luiz Marinho. Na TV, trabalha nas novelas Bandeira Dois (1972) e O Espigão (1974), ambas de Dias Gomes (1922-1999). Em 1977, trabalha com o cineasta Nelson Pereira do Santos (1928), no longa Tenda dos Milagres, e atua em Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, papel que lhe rende o Troféu Martim Gonçalves de melhor atriz, prêmio também recebido em 1980, pela atuação em Ponto de Partida, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006).

Em 1981, faz um concurso na Escola de Teatro e torna-se atriz da Companhia de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1983, é considerada destaque do ano pelo jornal Correio da Bahia por sua atuação em A Mais Forte, de August Strindberg (1849-1912). Conclui a graduação em direção teatral na UFBA, em 1984. No ano seguinte, recebe prêmio especial do Troféu Martim Gonçalves por seus papéis em A Caverna (1985), de Walter Smetak, e Dias Felizes (1985), de Samuel Beckett (1906-1989). Repete o trabalho com Nelson Pereira do Santos em Jubiabá (1986). Em 1987, participa do espetáculo O Senhor Puntilla e seu Criado Matti, de Bertold Brecht (1898-1956) e, em 1988, cria a Oficina de Leitura Dramática na Escola de Teatro da UFBA.

Em 1996, recebe o Prêmio Especial Bahia Aplaude e atua no longa-metragem Tieta do Agreste, de Cacá Diegues (1940). Além dos trabalhos como atriz, Yumara é a primeira produtora independente de Salvador. Produz e dirige musicais e peças infantis, como os textos de Maria Clara Machado (1921-2001) Chapeuzinho Vermelho (1971), Pluft, o Fantasminha (1985) e O Rapto das Cebolinhas - espetáculo pelo qual recebeu o Prêmio Martim Gonçalves de melhor direção, na categoria infantil, em 1983. Participa de inúmeras oficinas e cursos de teatro e desenvolve projetos de arte-educação, a exemplo do realizado com peça Apareceu a Margarida (1977), cujas apresentações são seguidas de oficinas e debates, realizados na Bahia, no Rio de Janeiro e em Brasília.

Análise

Yumara Rodrigues é a grande dama do teatro baiano. Seu rigor, o interesse por todos os aspectos do conhecimento teatral e a sua versatilidade como intérprete impressionam atores e diretores com quem trabalha. Márcio Meirelles, que a dirige em A Mais Forte (1983), se encanta com sua capacidade técnica:

É meu grande momento com Yumara. Em cena, ela não fala, só escuta e reage. Tinha uma fala de Nilda Spencer e Yumara chorava uma lágrima de um único olho. Todo santo dia a mesma lágrima. Isso é de um apuro técnico que pouca gente tem. Acho que é uma coisa de mestre mesmo, um domínio absoluto sobre como produzir no próprio corpo o efeito e a emoção que o artista precisa para dizer o que quer à plateia.

Já o diretor Harildo Déda, cuja parceria se dá em Seis Personagens à Procura de um Autor (1981), de Luigi Pirandello (1867-1936), aponta um momento da peça que o marca: "Tinha uma marca inspirada no grito de Munch, quadro que reverbera. Ela faz isso tão bem que o resto some e fica somente Yumara em cena".

A atuação de Yumara também chama a atenção do diretor baiano Luiz Marfuz - que mais tarde a dirige em Mãe Coragem -, quando a vê em Apareceu a Margarida (1977). Marfuz aponta a ambiguidade de sentimentos e sensações que sua interpretação de uma professora autoritária causa na plateia. Em plena ditadura militar, Yumara incorpora o papel com um vigor e uma monstruosidade capazes de despertar no público tanto fascínio pela representação, quanto incômodo:

Para mim era muito nítida a correlação com o espírito da época. Aquilo era a representação da ditadura, sendo uma mulher, sendo uma grande atriz, tudo aquilo entorpecia. Ali eu vi uma atriz que se posicionava politicamente em cena, embora em quase nenhum momento estivesse se referindo à situação do país. E ela não estava expondo em falas e entrevistas todo o tempo sobre esta questão. Mas o seu corpo se colocava politicamente.

A atriz observa, no entanto, que entre suas atuações mais desafiadoras estão as de dois personagens masculinos: Salomão, de Círculo de Giz Caucasiano (1998), e Puntilla, de Sr. Puntilla e seu Criado Matti (1987): "Foi marcante e significativo. Mas eu não fazia o homem, sempre deixei perceber que era uma mulher fazendo um homem, eu representava o homem". Outro papel que lhe exige superação é em Dias Felizes (1985), peça na qual a atriz está em cena ora enterrada até a cintura, ora até o pescoço, tendo de concentrar em sua face toda carga dramática e expressiva de sua interpretação. Sobre o trabalho, destaca a incrível oportunidade como algo que toda atriz gostaria de experimentar.

A obstinação da atriz é o fio condutor de seu desempenho no ensino, na pesquisa e na prática teatrais. O jornalista Clodoaldo Lobo sintetiza o desempenho de Yumara Rodrigues como o de uma atriz com pleno domínio cênico. O diretor Paulo Dourado ressalta seu profissionalismo e o caráter universal de seu trabalho. Já atriz Iami Rebouças destaca o vigor e a dedicação ao trabalho de alguém que é incansável em seu ofício e exemplar para os colegas.

Em 2011, ano em que Yumara completa 50 anos de carreira, é lançado Uma Diva nos Palcos, documentário sobre sua atuação como atriz, diretora e produtora, como parte do projeto Mestres da Cena, produzido em parceria entre o Governo da Bahia e o Ministério da Cultura. Também como parte do projeto, é escrita a peça Monstro (2010), de Marcos Barbosa, que apresenta a biografia artística da atriz e é sucesso de crítica e de público.

Espetáculos 8

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Fontes de pesquisa 6

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  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não catalogado
  • FRANCO, Aninha. O teatro na Bahia através da imprensa: século XX. Salvador: FCJA: Cofic, FCEBA, 1994.
  • FUNCEB. Secretaria da Cultura. Disponível em: <http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/04/revista%20da%20bahia/Teatro/cena.htm#topo>. Acessado em: 3 mai. 2013.
  • RODRIGUES, Yumara. Entrevista concedida pela atriz a Nadja Magalhães Miranda. Salvador, 14 nov. 2012.
  • RODRIGUES, Yumara. [Currículo] enviado pela atriz a Nadja Magalhães Miranda. Salvador, 14 nov. 2012.
  • YUMARA RODRIGUES: uma diva nos palcos da Bahia. Direção de Ednilson Pará. Salvador: Secult/BA: Funceb, 2011, DVD.

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