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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Francisco Bolonha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.06.2017
1923 Brasil / Pará / Belém
30.12.2006 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Francisco de Paula Lemos Bolonha (Belém, Pará, 1923 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006). Arquiteto, urbanista. Forma-se em 1945, na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (FNA), onde conhece sua esposa, a artista plástica Regina Bolonha. Estagia com os arquitetos Aldari Toledo (1915), Jorge Moreira (1904-1992), Oscar Nie...

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Biografia

Francisco de Paula Lemos Bolonha (Belém, Pará, 1923 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006). Arquiteto, urbanista. Forma-se em 1945, na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (FNA), onde conhece sua esposa, a artista plástica Regina Bolonha. Estagia com os arquitetos Aldari Toledo (1915), Jorge Moreira (1904-1992), Oscar Niemeyer (1907-2012), Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) e Burle Marx (1909-1994), que lhe apresentam a arquitetura moderna e o introduzem na profissão. Em sua trajetória, divide-se entre seu escritório particular e as atividades como funcionário de empresas públicas e privadas em diversos Estados do Brasil.

Os primeiros projetos de seu escritório contam com o apoio de Burle Marx, que o convida a realizar a Fonte Andrade Júnior, 1946/1947, em Araxá, Minas Gerais, e de Aldari Toledo, que o leva para Cataguases, também em Minas Gerais, onde projeta edifícios como o Hospital Maternidade, 1951, e o Monumento José Inácio Peixoto, 1956.1 Esses projetos e a Residência Hildebrando Accioly, 1949/1950, dão ao jovem arquiteto renome internacional, e sua obra é amplamente divulgada por revistas como Architectural Forum, Architecture Journal, Abitare e Architecture D'Aujourd'hui até os anos 1960.

O ingresso no funcionalismo público se dá pelas mãos de Reidy, que o convida a trabalhar no Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal (DHP) em 1946, onde projeta os Conjuntos Residenciais Paquetá, 1947/1952, e Vila Isabel, 1955. Para o Estado dirige a Divisão de Construções e Equipamentos Escolares entre 1960 e 1964, desenvolvendo cinco projetos padrão de escola e acompanhando a construção de 252 unidades, entre as quais a Escola Cícero Penna, de sua autoria. Presta consultoria para a Companhia Estadual de Telefones da Guanabara (Cetel), entre 1963 e 1965, projeta sua sede, 1967/1970, no Rio de Janeiro, obra que é premiada no 18ª Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1968, com uma viagem a Paris, com permanência de dois anos. A experiência na Cetel lhe rende projetos para a Telemig, Telebras e Telegoiás, para quem projeta edifícios administrativos e centros de treinamento até a década de 1980. Entre 1966 e 1967 trabalha como arquiteto na Divisão de Programas de Projetos do Banco Nacional de Habitação (BNH).

Como funcionário das empresas Bloch, entre 1954 e 1968 projeta a Escola Joseph Bloch, 1960/1964, no Rio de Janeiro, além de prestar consultoria em aquisição de obras de arte. Entre os anos 1960 e 1970, é consultor do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e curador da Fundação Raymundo Castro Maya.

Em 1987 se aposenta da prefeitura. Poucos anos depois fecha o escritório que mantém com Iza Bissagio, e continua trabalhando pelo menos até 2003 em sua casa no Rio de Janeiro para o Mosteiro de Nossa Senhora das Graças. Ele doa parte de seu acervo de desenhos, projetos, obras de arte e documentos para o Instituto Francisca de Souza Peixoto e o Núcleo de Pesquisa e Documentação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Análise

Representante ilustre da arquitetura moderna brasileira no segundo pós-guerra, Francisco Bolonha estabelece um diálogo criativo e independente com os principais expoentes dessa vertente, entre eles Lucio Costa (1902-1998), Aldari Toledo (1915), Jorge Moreira (1904-1992), Oscar Niemeyer (1907), Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) e Burle Marx (1909-1994), com quem inicia a sua carreira como arquiteto. Projetos como a Fonte Andrade Júnior, 1944/1946 - 1947/1948, o edifício sede do Jockey Club do Rio de Janeiro, 1946/1947 (não construído), e a Residência Hildebrando Accioly, 1949/1950, são exemplos eloqüentes da riqueza e diversidade desse diálogo travado pelo arquiteto até os anos 1960, quando sua obra sofre uma mudança profunda.

Construída em Araxá, Minas Gerais, a Fonte Andrade Júnior, como aponta o historiador Roberto Conduru, explora com reconhecida maestria a plasticidade do concreto armado, gerando um edifício de volumetria curvilínea e irregular que garante uma espacialidade fluida e dinâmica semelhante à alcançada por Niemeyer na Casa de Baile, 1942, no Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte. A obra está protegida pelo patrimônio histórico estadual. O Hospital Maternidade, 1951, em Cataguases, Minas Gerais, e o Jardim da Infância do Parque Moscoso, 1952, em Vitória, também recebem proteção dos órgãos federais e municipais do patrimônio respectivamente, e destacam-se pela solução em pavilhão, generosidade das aberturas, utilização de elementos vazados e de venezianas, mas, sobretudo, pelo ar despretensioso e aconchegante.

Na Sede do Jockey Club do Rio de Janeiro, 1946/1947, desenvolvido com os colegas da faculdade, Lygia Fernandes, Giuseppina Pirro e Israel de Barros Correia, os arquitetos recém-formados demonstram a mesma capacidade da primeira geração de arquitetos modernos do país de interpretar e reinventar a obra de Le Corbusier (1887-1965), sobretudo no modo como adotam os seus cinco pontos da arquitetura - pilotis, planta livre, fachada livre, janela corrida e terraço jardim - e se apropriam de elementos recorrentes na obra do arquiteto franco-suíço, entre eles o brise-soleil como elemento plástico e funcional, o volume curvilíneo do auditório no terraço jardim, que atende simultaneamente às exigências técnicas do programa e aos preceitos compositivos de coroamento do edifício e o terraço aberto entre o terceiro e quarto pavimentos. Esses elementos são retomados por Bolonha na sede do Clube de Juiz de Fora, 1958, primeiro edifício moderno construído na cidade mineira.

No Conjunto Residencial Vila Isabel, 1955, o rigor geométrico do edifício ortogonal em renque no sopé do morro e a adoção da tipologia duplex lembram a proposta de Le Corbusier para as novas habitações da Ville Radieuse, 1935. Essas características, associadas à preocupação de preservar o antigo parque do Jardim Zoológico e de prover o conjunto de edificações destinadas aos serviços comunais, inserem essa obra perfeitamente nas realizações do Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal (DHP), então dirigido pela engenheira Carmem Portinho (1903-2001).

Na Residência Hildebrando Accioly, 1949/1950, construída em Petrópolis, Rio de Janeiro, o arquiteto empreende uma síntese que reverbera a convergência entre modernidade e patrimônio proposta por Lucio Costa. Como na Casa Saavedra, 1942, e no Park Hotel São Clemente, 1944, de Costa, Bolonha justapõe materiais e técnicas artesanais, como madeira, pedra, tijolo e telhas cerâmicas ao concreto armado, além de assimilar ao programa da casa moderna elementos típicos das habitações coloniais, como a capela, a varanda e os pátios, afirmando o parentesco do edifício com a casa-grande rural brasileira. A mesma tentativa de integração entre presente e passado define o Conjunto Residencial Paquetá, 1947/1952, com seu pátio interno definido pelos dois blocos de casas geminadas, a cobertura de duas águas, os elementos vazados, s esquadrias de madeira e as cores quentes, destacando-se novamente a singeleza da construção e sua perfeita inserção na paisagem existente.

Em muitos desses projetos é notável a integração entre arquitetura e arte, os edifícios com painéis e murais de destaque, como o idealizado por seu mais freqüente colaborador, o pintor romeno Emeric Marcier (1916-1990), para a capela da Residência Hildebrando Accioly. Para o arquiteto Oigres Leici Cordeiro de Macedo, as obras que melhor expressam essa integração são o Monumento a José Inácio Peixoto, 1956, em Cataguases, com a colaboração do pintor Candido Portinari (1903-1962) e do escultor Bruno Giorgi (1905-1993), e a Residência Ottônio e Nanzita Alvim Gomes, erigida na mesma cidade com um painel de azulejos do pintor Anísio Medeiros (1922), afresco de Marcier e mobiliário de Joaquim Tenreiro (1906-1992).

As escolas desenvolvidas pelo arquiteto na Divisão de Construções e Equipamentos Escolares, entre 1960 e 1964, marcam uma nova fase em sua obra, na qual, segundo Conduru, a arquitetura não é mais concebida como arte e sim como ciência. Nas escolas, essa mudança aparece na definição de um sistema modular rigoroso em concreto armado que gera cinco tipologias de edifício escolar adaptáveis aos mais diversos terrenos. Aliados ao sentido industrial da construção, entretanto, persistem nesses projetos formas e materiais artesanais, como telhados em duas ou quatro águas com amplos beirais e os tijolos de barro nos elementos de vedação que parecem responder mais às contingências econômicas do que ao desejo de integração entre passado e presente da fase anterior. Na Escola Joseph Bloch, 1960/1964, construída no Rio de Janeiro, no mesmo período seguindo os mesmo preceitos gerais, o caráter industrial da construção é reforçado pela cobertura em shed, que confere ao edifício mais dinâmica e expressão plástica.

A preocupação com os aspectos construtivos e seriais do edifício se afirma mais claramente nos projetos desenvolvidos para as companhias telefônicas federais e estaduais, destacando-se entre eles a sede da Companhia Estadual de Telefones da Guanabara (Cetel), 1967/1970, no qual o arquiteto revê a proposta do arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) para um edifício de concreto armado com pérgulas e balcões que a adaptam ao clima tropical, e no Centro de Treinamento para as Telecomunicações Brasileiras S.A (Telebras), 1979, em Campinas, São Paulo, em que recupera a questão da coordenação modular de um conjunto de edifícios, já testada nos edifícios escolares da década anterior. Apesar de não alcançar o mesmo reconhecimento dos primeiros anos de sua carreira, Bolonha segue atento às mudanças culturais em curso, afirmando-se como um arquiteto dedicado a seu ofício, cuja produção revela o caminho trilhado por tantos arquitetos desde a década de 1940 até os dias de hoje.

Nota

1 O conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico de Cataguases é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2003.

Fontes de pesquisa 5

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  • BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. 724.6 B886a 4.ed.
  • BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
  • CONDURU, Roberto. Luxo e ascese. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 56, out/nov. 1994, p. 106. Não Cadastrado
  • FRANCO, Luiz Fernando P. N. Francisco Bolonha: obra, concha, pedra. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 56, out./nov. 1994, pp. 97 - 106. Não Cadastrado
  • MACEDO, Oigres Leici Cordeiro de. Francisco Bolonha: ofício da modernidade. 2003. 189 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. Não Cadastrado

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