Marcelo Evelin
Texto
Marcelo Evelin de Carvalho (Teresina, Piauí, 1962). Coreógrafo, intérprete, pesquisador e professor. De 1979 a 1984, vive no Rio de Janeiro, onde inicia a formação em jornalismo e teatro, sem, contudo, concluir os cursos. Estuda com os coreógrafos Klauss Vianna (1928-1992), Angel Vianna (1928), Lennie Dale (1934-1994) e Graciela Figueiroa (1944). Em 1984, participa do espetáculo Porcos com Asas, do diretor e iluminador Jorginho de Carvalho (1946), com o qual realiza turnês pelo Brasil durante dois anos. De 1984 a 1986, permanece em São Paulo, onde trabalha com o bailarino Denilto Gomes (1953-1994) e frequenta aulas do coletivo de artistas Marzipan. Recebe os prêmios Mambembe, Governador do Estado de São Paulo e Associação Paulista de Críticos de Artes (Apca) pelo musical infantil Te Amo Amazônia (1985), sua estreia como coreógrafo.
Entre 1986 e 2006, vive na Europa. Em Paris, estuda com os coreógrafos franceses Philippe Decouflé (1961) e Karine Saporta (1950) e o ioguslavo Josef Nadj (1957). Em Amsterdã, permanece por um ano como estudante residente da School for New Dance Development (SNDO) e integra a companhia The Meekers, do coreógrafo norte-americano Arthur Rosenfeld (1952). Em Wuppertal, Alemanha, permanece por nove meses como estagiário da Tanztheater Wuppertal, companhia da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), onde é chamado, em 1989, para audição privada durante o processo de criação de Palermo, Palermo. No mesmo ano, subvencionado pelo governo holandês, inicia a carreira como coreógrafo profissional. Quatro anos depois, recebe o prêmio Amsterdams Fonds Voor De Kunst pela Trilogia do Desejo, formada pelas peças Muzot (1989), Time Held me Green and Dying1(1991) e Tongue to the Heart (1993).
Vive por um ano em Nova York, onde cria Ai, Ai, Ai (1995) e funda a Companhia Demolition Inc. De volta à Europa, desenvolve a tetralogia God on All Fours (Deus de Quatro), que inclui (meat) (1996), (1997), [park] (1998) e {centúrias} (1999). Em 2003, cria Sertão, obra que inicia a trilogia inspirada em Os Sertões (1902), do escritor brasileiro Euclides da Cunha (1866-1909), pela qual recebe o prêmio da Apca.
Em 2006, assume a direção do Teatro Municipal João Paulo II, em Teresina, Piauí, e implementa o Núcleo de Criação do Dirceu, plataforma formada por cerca de 20 artistas e voltada para pesquisa e desenvolvimento da dança em relação com outras artes performáticas. Mais tarde, em 2009, a plataforma desvincula-se da prefeitura e passa a ocupar o Galpão do Dirceu, no bairro do Dirceu Arcoverde. Em 2011, com patrocínio da Petrobras, desenvolve por dois anos o Projeto 1000 Casas em residências do entorno. Cria as obras Bull Dancing (2006) e Matadouro (2009), encerramento da trilogia euclidiana. Seu mais recente trabalho pela Demolition Inc. é De Repente Fica Tudo Preto de Gente (2012), coprodução entre Brasil, Japão e Holanda. Em 2014, concebe o espetáculo Batucada para o Kunsten Festival des Arts, em Bruxelas, Bélgica. Desde 1999, é professor na Escola Superior de Mímica de Amsterdã, Holanda.
Análise
A obra de Marcelo Evelin caracteriza-se pelo exercício político por meio da dança. Compreende a criação artistica como forma de resistência e elabora aproximações entre dança, teatro e música.
O método de expressão e consciência corporal do coreógrafo e pedagogo mineiro Klauss Vianna exerce influência sobre o jovem criador. Já demonstrando talento como coreógrafo, Evelin recebe os prêmios Mambembe, Governador do Estado de São Paulo e da Apca. No contexto da dança brasileira, é comparado ao coreógrafo alemão, naturalizado britânico, Kurt Jooss (1901-1979), um dos precursores do movimento estético Tanztheater, surgido na Alemanha no fim dos anos 1920.
Parte para a Europa em 1986 e a estabelece-se em Amsterdã, em 1987, momento em que a dança ocupa uma posição especial na Holanda. A política cultural holandesa financia grupos de dança por um período de quatro anos, iniciativa que atrai muitos profissionais para o país nos anos 1980. Evelin conta com esse cenário positivo para construir sua carreira e entra em contato com os preceitos da chamada nova dança belga. Representada por Anne Teresa De Keersmaeker (1960), Wim Vandekeybus (1963) e Michèle Anne De Mey (1959), essa escola postula que a dança deve ser uma maneira de ver o mundo.
Premiada com o Amsterdams Fonds Voor de Kunst, a Trilogia do Desejo (1989-1993) marca o período de busca por uma assinatura como coreógrafo. O interesse pela pessoalidade do intérprete e a certeza de que existe um “teatro do corpo”1 são resultado da influência do pensamento da coreógrafa Pina Bausch. Muzot é a obra mais popular da série, que confere fama ao coreógrafo piauiense e a oportunidade de difundir seu trabalho na Holanda, participando de importantes festivais, como o Springdance, sediado na cidade de Utrecht desde 1978. Baseado em As Elegias de Duíno, reunião de dez elegias escritas pelo poeta austro-alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926), o espetáculo marca o início da parceria com o bailarino espanhol Juan Kruz Diaz de Garaio Esnaola (1966), com o dramaturgo holandês Pieter Scholten (1963) e com a figurinista francesa Françoise Magrangeas (1949-2011), equipe com a qual trabalha por cerca de dez anos.
Em 1994, a permanência de um ano em Nova York leva à criação de Ai, Ai, Ai. Criado em meio ao inverno da metrópole estadunidense, o solo é concebido como um mergulho nas raízes do coreógrafo. Pela primeira vez, a ausência de tema para uma obra e o desafio de testar no corpo um caminho de volta à terra natal. No mesmo ano, ocorre a criação da Demolition Inc. em parceria com o historiador de arte estadunidense John Murphy (1963) e a bailarina brasileira Anat Geiger (1964), intérprete de diversas obras de Evelin. Uma plataforma de pesquisa e desenvolvimento em dança contemporânea é a solução para testar, em cena, múltiplas formas de combinação e criações partilhadas. O contato com o pensamento do coreógrafo estadunidense Merce Cunningham (1919-2009) e do compositor John Cage (1912-1992) faz parte desse movimento de descentralização e de desconstrução de hierarquias dos elementos que compõem a criação artística. Nasce um embrião da filosofia eveliniana, calcada em um jogo de cena aleatório e inesperado, ao mesmo tempo pervafo aproxima-se do radicalismo proposto pela dança conceitual francesa do final dos anos 1990.
Sem jamais deixar os vínculos com o Brerso e amoroso, que provoca o encontro consigo e com o outro.
Após o retorno à Europa, a tetralogia seguinte é God On All Fours (Deus de Quatro), cujo tema são as civilizações que povoaram o fim do milênio. Uma crítica da economia do espetáculo permeia obras como (meat) e {centúrias} , em que o coreógrasil, o país torna-se mais presente em seu percurso coreográfico a partir de 2003, com a criação de Sertão, primeira parte da trilogia inspirada em Os Sertões, de Euclides da Cunha. Uma dramaturgia corporal hostil, ainda que terna, carregada da secura do Nordeste, marca a maturidade na trajetória de Evelin.
O retorno gradual ao Brasil dá-se a partir de 2006, com a implantação do Núcleo do Dirceu em sua cidade-natal, Teresina. A atuação horizontalizada de cerca de 20 artistas, em diferentes linguagens das artes performáticas, reforça o entendimento de que, um grupo de dança se faz comapartilhado, segundo Marcelo. Ao mesmo tempo, uma mudança na rota como coreógrafo é percebida em Mono. Um palco vivo dividido com o espectador resulta na escolha de novo formato para suas produções: a performance-instalação passa a acolher suas inquietações de criador.
Esse formato ressurge em 1000 Casas, performance que atua no limite do que é ou não arte. A obra é um dos desdobramentos do projeto de intervenção domiciliar realizado no bairro do Dirceu Arcoverde. Com patrocínio de manutenção da Petrobras, o coreógrafo viaja por dois anos pelo país, discutindo formas de articulações políticas e modelos de sustentabilidade na dança. Nesse sentido, tem papel fundamental o trabalho da produtora piauiense Regina Veloso (1977), que renova as formas de atuação do Núcleo do Dirceu.
Ao intercâmbio entre Brasil e Holanda cultivado pelo coreógrafo desde 2006, somam-se viagens ao Japão. A relação tripartite entre os países, iniciada a partir de 2009 com Matadouro, intensifica-se com a estreia de De Repente Fica Tudo Preto de Gente, eleito um dos dez melhores espetáculos de dança de 2012 pelo jornal O Globo e que aponta para uma forma menos institucionalizada de criação.
Notas
1. Termo definido pelo coreógrafo em entrevista à crítica de dança Helena Katz, para o jornal O Estado de S. Paulo, 04 jun. 1998. p. 75.
Espetáculos 4
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8/12/2006 - 10/12/2006
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1/3/2007 - 4/3/2007
Exposições 2
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27/9/2017 - 17/12/2017
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27/9/2017 - 17/12/2017
Performances 1
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8/8/2012 - 12/8/2012
Fontes de pesquisa 4
- DEBRIS. Site do artista. São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.marceloevelin.wordpress.com. Acesso em: 05 nov. 2012
- EVELIN, MARCELO. Entrevista concedida pelo artista à jornalista integrante da equipe de redatores da Enciclopédia Itaú Cultural de Dança Deborah Rocha Moraes. São Paulo, 21 e 22 set. 2012.
- HELENA KATZ. Site da crítica de dança do jornal O Estado de S. Paulo, 2013. Disponível em: http://www.helenakatz.pro.br. Acesso em: 9 jan. 2013
- LE MOAL, Philippe. Dictionnaire de la danse. Paris: Larousse, 2008.
Como citar
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MARCELO Evelin.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa449475/marcelo-evelin. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7