Paulo de Moraes
Texto
Biografia
Paulo Sérgio Rodrigues de Moraes (Cornélio Procópio PR 1965). Diretor, autor e cenógrafo. Diretor artístico da Armazém Companhia de Teatro, busca um teatro mais próximo do jogo, pensado em grande medida com base na relação do ator com o espaço cênico. Funda uma dramaturgia própria, inspirando-se livremente na literatura e dramaturgia clássica para apresentar as reflexões do grupo.
Inicia a carreira em Londrina, Paraná, em 1984, no elenco de Toda a Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues, montada pelo Grupo Delta, com direção de José Antonio Teodoro. Forma-se em jornalismo e, ainda jovem, ministra oficinas de iniciação teatral no Colégio Delta. Em 1987, estreia na direção teatral com seu grupo de alunos, encenando a peça Aniversário de Vida, Aniversário de Morte, adaptação sua para o texto de Nossa Cidade, de Thornton Wilder. Funda então, em Londrina, a Cia. Dramática Bombom Pra Que Se Pirulito Tem Pauzinho Pra Se Chupar.
Com a repercussão que o primeiro espetáculo alcança, o diretor dá continuidade ao trabalho com o grupo. Monta Périplo, o Ideograma da Obsessão, criando um roteiro com base em fragmentos da obra de Oswald de Andrade, em 1988, e, no ano seguinte, o grupo aluga um barracão onde se instala e inicia a investigação das potencialidades da cena em espaços alternativos. Em 1990, retoma a estética da colagem de fragmentos na peça A Construção do Olhar, com base na obra de William Shakespeare. Um ano depois, encena Alabastro, adaptação sua para a peça Salomé, de Oscar Wilde.
O grupo passa a se chamar Armazém Companhia de Teatro, se estabelece em nova sede e estreia, em 1993, A Ratoeira É o Gato, discurso sobre a violência com colagem de textos de Michel de Ghelderode, Heiner Müller e outros autores. Com esse espetáculo faz temporada no Rio de Janeiro e recebe elogios da crítica, que ressalta tanto a ligação estreita entre a cena e a cenografia (criada também por Paulo de Moraes) quanto a disponibilidade dos atores para a acrobacia. Segundo Barbara Heliodora, "todo o grupo mostra ótima preparação corporal, e esta é usada para a criação do personagem e o bom funcionamento das cenas, não para exibicionismos gratuitos e nem como substituto de interpretação; a todos os momentos há desenho de personagem e verdade interpretativa, indispensáveis mesmo quando, como aqui, a linha é totalmente antirrealista e os valores plásticos uma preocupação de todos os momentos".1
Com o apoio da Secretaria de Cultura de Londrina, Paulo de Moraes dirige, em 1994, A Tempestade, de Shakespeare, com o ator Paulo Autran, à beira do lago Igapó. A companhia comemora os 10 anos com a encenação de Sob Sol em Meu Leito após a Água, texto de Paulo de Moraes em parceira com Mauricio Arruda Mendonça, que propõe um cruzamento do épico indiano O Mahabharata com narrativas populares brasileiras.
Em 1997, a Armazém muda-se para o Rio de Janeiro, e monta, no ano seguinte, Esperando Godot, de Samuel Beckett. Quando o grupo passa a ocupar o espaço da Fundição Progresso, em 1999, estreia Alice Através do Espelho, criação com base na obra de Lewis Carroll. A cenografia de Paulo de Moraes e Gelson Amaral coloca o espectador no centro da ação, e, segundo Macksen Luiz, a encenação "inventa um espaço cenográfico dentro do qual Alice Através do Espelho realiza a 'ação física' da trama, criando um envolvimento concreto [...] penetrando numa dimensão física semelhante às experiências vividas pela personagem".2
A companhia obtém patrocínio permanente da Petrobras, em 2001. Nesse ano, encena Da Arte de Subir em Telhados, texto que elabora um retorno à infância, em renovada colaboração dramatúrgica de Paulo de Moraes com Maurício Arruda Mendonça - parceria que se mantém em trabalhos posteriores. A concepção cenográfica de Moraes recebe o Prêmio Shell. Em 2002, Pessoas Invisíveis apresenta a pesquisa do grupo sobre a obra de Will Eisner; em 2003, Moraes dirige Casca de Noz, adaptação de As Cosmicômicas, de Ítalo Calvino. Em A Caminho de Casa, de 2004, a dupla de dramaturgos propõe ao grupo uma narrativa sobre a fé nos dias atuais. Valmir Santos escreve: "Moraes é um diretor que conjuga o caráter espetacular da cena e a convicção de que o espectador precisa ser envolvido por uma boa história. Não espanta, portanto, que ele maneje cenografia, desenhe luz, crie trilha sonora e pratique a escrita teatral, vezo literário do jornalismo de formação. Opera a fantasia de modo peculiar. Compõe a cena com minúcias, guiado por um sentido lúdico do jogo. Disso não recua mesmo quando impregnado da tragédia".3
Pela direção de Toda Nudez Será Castigada, de Nelson Rodrigues, em 2005, Paulo de Moraes recebe o Prêmio Shell. Em 2007, monta com a Armazém Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, a convite da atriz Louise Cardoso. No ano seguinte, encena dramaturgia oriunda da parceria com Mendonça, Inveja dos Anjos, pela qual recebem o Prêmio Shell de melhor texto.
Em paralelo às atividades desenvolvidas na companhia, Moraes assume a direção de alguns espetáculos: FLAP!, que comemora os 15 anos da Intrépida Trupe, em 2001; O Pequeno Eyolf, de Henrik Ibsen, em 2004; Fala Baixo Senão Eu Grito, da dramaturga Leilah Assumpção, em 2007; e, no mesmo ano, de Pequenos Milagres, projeto do Grupo Galpão, dramaturgia elaborada com base em cartas enviadas ao grupo contendo relatos de pessoas comuns.
Sobre o trabalho do encenador com a Armazém, a pesquisadora Tania Brandão comenta: "O fato de o nome 'Paulo de Moraes' ou sua diretriz figurar em diversas instâncias da ficha técnica deve ser olhado com atenção. Não se trata de onipresença, nem de hipertrofia da figura do encenador no sentido que o teatro moderno propôs. O caso é, antes, do princípio unificador de um coletivo. [...] uma presença que cria e impulsiona a criação, se omite e se afirma, articula e dá forma, inventa e faz inventar, inscreve e apaga, dá a voz e emudece, assina e deixa assinar, é autor e parceiro. No entanto, não se trata de um demiurgo, pois o caminho da liderança não é uma via direta, de mão única, impositiva, mas o indicador de um processo dialógico. Não há como negar que este processo é duplamente autoral, quer dizer, é uma marca do grupo, uma forma de ser do grupo [...]".4
Notas
1. HELIODORA, Barbara. Ghelderode inspira montagem madura. O Globo, Rio de Janeiro, 15 mar. 1994.
2. LUIZ, Macksen. Envolvimento concreto do espectador. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 abr. 1999.
3. SANTOS, Valmir. Um caminho para a indignação. In: MORAES, Paulo de; MENDONÇA, Maurício Arruda; LOSNAK, Marcos (orgs.). Espirais: Armazém Companhia de Teatro 1987 - 2007. Rio de Janeiro: Kan Editora, 2008. p. 221.
4. BRANDÃO, Tania. O lúdico inefável e a vida irrelevante. In: MORAES, Paulo de; MENDONÇA, Maurício Arruda; LOSNAK, Marcos (orgs.). Espirais: Armazém Companhia de Teatro 1987 - 2007. Rio de Janeiro: Kan Editora, 2008, p. 182-186.
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Fontes de pesquisa 11
- BRANDÃO, Tania. O lúdico inefável e a vida irrelevante. In: MORAES, Paulo de; MENDONÇA, Maurício Arruda; LOSNAK, Marcos (orgs.). Espirais: Armazém Companhia de Teatro 1987 - 2007. Rio de Janeiro: Kan Editora, 2008, p. 182-186.
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Júlia do Vale]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos. Não Catalogado
- GUIADASEMANA. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.guiadasemana.com.br/Rio_de_Janeiro/Artes_e_Teatro/Evento/Shirley_Valentine.aspx?id=79607 >. Acesso em :20 de julho de 2011. Não catalogado
- HELIODORA, Barbara. Ghelderode inspira montagem madura. O Globo, Rio de Janeiro, 15 mar. 1994.
- LUIZ, Macksen. Envolvimento concreto do espectador. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 abr. 1999.
- Programa do Espetáculo - A Caminho de Casa - 2005. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Alice Através do Espelho - 1999. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Da Arte de Subir em Telhados - 2001. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Esperando Godot - 1998. Não Catalogado
- SANTOS, Valmir. Um caminho para a indignação. In: MORAES, Paulo de; MENDONÇA, Maurício Arruda; LOSNAK, Marcos (orgs.). Espirais: Armazém Companhia de Teatro 1987 - 2007. Rio de Janeiro: Kan Editora, 2008. p. 221.
Como citar
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PAULO de Moraes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa399810/paulo-de-moraes. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7