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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Dina Sfat

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2024
28.10.1938 Brasil / São Paulo / São Paulo
23.03.1989 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico Fredi Kleemann

Dina Sfat (Heloísa de Lesbos) em cena de O Rei da Vela, 1967
Fredi Kleemann, Dina Sfat
Arquivo de Multimeios/Divisão de Pesquisa/IDART (São Paulo, SP)

Dina Kutner de Souza (São Paulo, São Paulo, 1938 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989). Atriz. Inquieta, profunda, dona de uma presença física singularmente sedutora e de uma aguda inteligência interpretativa, Dina Sfat distingue-se, na sua carreira teatral, pela exigência e coerência com que seleciona os seus compromissos profissionais. É uma...

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Dina Kutner de Souza (São Paulo, São Paulo, 1938 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989). Atriz. Inquieta, profunda, dona de uma presença física singularmente sedutora e de uma aguda inteligência interpretativa, Dina Sfat distingue-se, na sua carreira teatral, pela exigência e coerência com que seleciona os seus compromissos profissionais. É uma das artistas de proa que verbalizam e expressam as reivindicações nacionais contra a injustiça e a opressão durante o período da ditadura.

Filha de judeus poloneses, começa a trabalhar aos 16 anos em um laboratório de análises clínicas. Em 1962 faz uma ponta em Antígone América, de Carlos Henrique Escobar, montagem de Antônio Abujamra para Ruth Escobar. Volta ao amadorismo, como integrante de um grupo estudantil do centro acadêmico de engenharia da Universidade Mackenzie. Dessa experiência nasce seu contato com o Teatro de Arena, onde estréia profissionalmente substituindo a atriz que interpretava Manuela, a filha em Os Fuzis da Senhora Carrar, texto de Bertolt Brecht, dirigido por José Renato, em 1962. Adota, então, o nome artístico de Dina Sfat, homenageando a cidade natal de sua mãe.

Integra os elencos de O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega, 1963; Tartufo, de Molière, 1964; e ganha o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor atriz em Arena Conta Zumbi, 1965, musical de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, todas com direção de Augusto Boal. Em 1967, participa de Arena Conta Tiradentes, novamente autoria de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, no mesmo teatro.  

No final desse ano aceita um desafio: substituir às pressas Ítala Nandi no papel de Heloisa de Lesbos de O Rei da Vela, texto de Oswald de Andrade (1890 - 1954) encenado por José Celso Martinez Corrêa para o Teatro Oficina, conquistando as atenções do Rio de Janeiro.

Filma Corpos Ardentes, de Walter Hugo Kouri, com expressivos resultados; o que a conduz ao desempenho da guerrilheira Cy, de Macunaíma, filme de Joaquim Pedro de Andrade realizado em 1969, onde brilha ao lado de Paulo José, o protagonista. Eles se conhecem desde o Teatro de Arena, mas é a partir daí que passam a assumir uma relação marital estável.

Dissolvidos os dois grandes conjuntos teatrais dos anos 1960, Dina passa a aceitar contratos com produções independentes, alternando sua vida artística entre a televisão e o cinema. Seu currículo teatral registra expressivos desempenhos em Dorotéia Vai à Guerra, de Carlos Alberto Ratton, 1973; A Mandrágora, de Maquiavel, 1975; ambos direção de Paulo José. Participa da montagem de O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1923 - 1999), 1976, dirigida por Flávio Rangel. Está em Seis Personagens à Procura de uma Autor, de Luigi Pirandello, mais uma direção de Paulo José, em 1977. Integra o elenco em Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, 1979, primeira peça abordando a problemática dos exilados políticos a chegar aos palcos.

Torna-se produtora dos espetáculos que protagoniza, em As Criadas, de Jean Genet, 1981, e Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, 1982. Esse último espetáculo alcança grande adesão de público não só no Rio de Janeiro, onde estréia, mas também numa longa tournée por vários Estados. Sua despedida dos palcos ocorre com A Irresistível Aventura, quatro peças em um ato dirigidas por Domingos Oliveira, 1984.

Na televisão, protagoniza novelas de grande projeção, tornando-se atriz de larga empatia e reconhecimento popular. Entre outras, destaca-se em Selva de Pedra, em 1972; Os Ossos do Barão, 1973; Saramandaia, 1976; O Astro, 1977; Bebê a Bordo, 1988; além das minisséries Avenida Paulista, em 1982, e Rabo de Saia, em 1984.

No cinema firma sua personalidade sempre densa, dramática e cheia de sutilezas em algumas películas de repercussão, lastreando seu prestígio. Como Jardim de Guerra, 1970; Tati, a Garota, 1973; Álbum de Família e Eros, o Deus do Amor, ambos em 1981; Das Tripas Coração, Tensão no Rio e O Homem do Pau Brasil, todos em 1982, sendo que neste último interpreta a pintora Tarsila do Amaral; deixa inacabado O Judeu, só concluído em 1995.

Não é possível desligar sua vida artística de sua ativa participação na vida cultural e política do país, seja integrando movimentos em prol da democracia ou da liberdade de expressão. Sua forte liderança neste campo é tão grande que, numa aula da Escola Superior de Guerra, um general a define como "líder feminista vinculada à estratégia de poder da extrema-esquerda". Ela, de fato, noticiou que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do país pela sigla do Partido Comunista do Brasil - PCB, em 1984, mas jamais integra algum partido ou filia-se a qualquer facção política. Seu inconformismo e legítimo sentido de liberdade ancoram-se em generosa visão da vida e do mundo, sem sectarismos.

Ao descobrir-se com câncer, luta durante três anos contra a doença. Viaja para a Rússia, em tratamento, aproveitando para fazer um documentário para a TV, no momento em que a perestróika dava seus primeiros passos, levantando muita curiosidade sobre o assunto.

De seu casamento com Paulo José nascem três filhas. Ana e Bel Kutner tornam-se, igualmente, atrizes.

Pouco antes de morrer lança uma autobiografia, Dina Sfat - Palmas pra que Te Quero, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero.

Analisando a trajetória da intérprete, comenta o crítico Alberto Guzik: "Apaixonada e coerente, não poucas vezes Dina viu declarações suas transformadas em berços de polêmica. Mas sempre teve a coragem de sustentar suas idéias francamente e nunca se fechou ao diálogo. Quanto a seu trabalho em cena, embora fosse uma intérprete de bons recursos cênicos, voz trabalhada e evidente perícia na composição de caracteres, o que a destacava era a paixão. A vibração de sua presença, a imperiosa honestidade com que desenhava suas atuações, valeram-lhe uma posição de destaque, que a atriz manteve sempre com enorme dignidade".1

Notas

1. GUZIK, Alberto. Dina: a paixão como profissão. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 19, 23 mar. 1989.

Obras 3

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Espetáculos 33

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Fontes de pesquisa 13

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  • ARENA conta Zumbi. São Paulo: Teatro de Arena, 1965. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro de Arena. Não catalogado
  • AS Criadas. Rio de Janeiro: Centro Cultural Francês, 1981. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Maison de France. Não catalogado
  • BRANDÃO, Tania. Uma empresa e seus segredos: Companhia Maria Della Costa. São Paulo: Perspectiva; Rio de Janeiro: Petrobras, 2009. 368p. 792.09 B817e
  • CARVALHO, Tania. Ney Latorraca: uma celebração. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Aplauso Especial). 792.092 L358c
  • DEPOIS da Queda. São Paulo: Teatro Maria Della Costa, 1964. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Maria Della Costa. Não catalogado
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
  • GUZIK, Alberto. Dina: A paixão como profissão. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 19, 23 mar. 1989.
  • MICHALSKI, Yan. Dina Sfat. In: __________. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
  • O REI da Vela. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1967]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
  • Programa do Espetáculo - O Inspetor Geral - 1966. Não catalogado
  • SFAT, Dina. Palmas pra que Te Quero. Rio de Janeiro, s/data.
  • TEATRO IPANEMA. O Beijo da Mulher Aranha: 1981, Rio de Janeiro, RJ, [1981]. Programa do Espetáculo. Não catalogado
  • TEIXEIRA, Isabel (Coord.). Arena conta arena 50 anos. São Paulo: Cia. Livre da Cooperativa Paulista de Teatro, [2004]. CDR792A681

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