Roberto Rodrigues
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Cartaz do filme Barro Humano, 1929
Roberto Rodrigues
102,00 cm x 68,00 cm
Cinemateca Brasileira
Texto
Roberto Rodrigues (Recife, Pernambuco, 1906 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1929). Ilustrador, desenhista, pintor, crítico de arte. Apesar da breve carreira, é reconhecido pelo talento com a ilustração, técnica da maioria de seus trabalhos, publicados em diversos periódicos no começo do século 20.
Um dos 14 filhos do jornalista Mário Rodrigues (1885-1930) e de Maria Esther Falcão Rodrigues (1887-1973), Roberto muda-se pequeno do Recife para o Rio de Janeiro, onde o pai funda os jornais A Manhã (1925) e Crítica (1928). Com talento precoce, começa a desenhar aos cinco anos e, aos 13, publica desenhos em uma revista infantil. Em 1923, aos 17, inicia educação formal em artes visuais ao ingressar na Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Nela, torna-se colega de Candido Portinari (1903-1962) e conhece sua futura esposa, Elsa Fernanda Mendes de Almeida (1905-2005), que assiste aulas como aluna ouvinte. Roberto e Elsa casam-se em 1927 e dessa união nascem 3 filhos: Vera, Maria Teresa e o primogênito, Sergio Rodrigues (1927-2014).
Aos 21 anos, em 1927, lança a revista semanal Jazz. Dirigida por seu irmão Milton, tem como proposta comentar, com requinte visual, o ritmo da vida moderna. Apesar da curta existência – não chega a 10 edições –, a repercussão do periódico contribui para inserir Roberto nos círculos intelectuais do Rio de Janeiro. Suas ilustrações também são publicadas na revista de variedades Para Todos e acompanham as principais matérias do jornal de seu pai, Crítica, para o qual escreve eventualmente críticas de arte. Seus artigos refletem forte oposição aos pintores acadêmicos e ao modelo de gestão da Enba, o mais importante centro de efervescência cultural da época. Seu texto mira os jurados dos Salões de Arte organizados pela instituição que considera corruptos, obtusos e responsáveis pela ausência de nomes como os de Victor Bercheret (1894-1955) e Ismael Nery (1900-1934) nas mostras. Lamenta, ainda, a falta de opções que possibilitem mais visibilidade aos artistas. Apesar das críticas, a Enba premia suas obras com menções honrosas, em duas edições do Salão, em 1926 e 1928.
Uma das influências de Roberto é o ilustrador e autor britânico Aubrey Beardsley (1872-1898). Este, expoente do estilo Art Nouveau, é autor de trabalhos gráficos com temas eróticos, de expressão grotesca e decadente, famosos na Europa. Assim como Beardsley, Roberto desenha personagens obcecados por sexo, com tendência para o trágico e traço elegante, privilegiando o uso do nanquim preto e vermelho.
A verve crítica encontra-se em seus trabalhos, que, apesar de inseridos nas vanguardas estéticas da modernidade, apresenta tom moralista, correspondente com a visão de mundo da época. O universo urbano é o lugar para seus personagens em cenas de suicídios e assassinatos, na dualidade temática paixão-morte. Uma das críticas da época reconhece Roberto como talento promissor e aponta para o aspecto sintético de suas composições, no limite da abstração.
Roberto produz pouco em pintura. Destacam-se dois autorretratos realizados em óleo sobre tela: O Pintor Como Louco, de 1925, e outro inacabado, iniciado no ano seguinte.
O artista conhece o pintor Candido Portinari na universidade e a admiração entre eles é mútua. Dividem ateliê nas proximidades do Largo do Machado, e a família Rodrigues é retratada várias vezes nas telas de Portinari. Entre elas, destacam-se dois retratos de Roberto Rodrigues: um de 1924 (óleo sobre tela, assinada e datada na metade inferior à direita, 45,5 x 35 cm) e outro de 1927 (guache sobre papel, 37,5 x 37,5 cm). Portinari reforça que Roberto teria sido o maior artista de sua geração, se não tivesse morrido aos 23 anos.
Após sua morte, diversas exposições póstumas são realizadas. A primeira, em 1930, no Liceu de Artes e Ofícios, já estava sendo organizada antes de sua morte. A mostra reúne mais de 4 mil visitantes em apenas duas semanas.
Em 1974, a jornalista Neila Tavares (1948) compila grande parte de sua obra no artigo “Desenhos de Roberto Rodrigues” (1974), na revista Cordel Urbano. O documentário curta-metragem Roberto Rodrigues (1986), dirigido por Tunico Amâncio (1951), que aborda a morte de Roberto, é premiado no Festival de Cinema de Havana em 1987.
A Galeria A. S. Stúdio apresenta, em 1993, 47 obras do artista e, em 1999, a Casa de Cultura Arruda Alvim no Rio de Janeiro apresenta 5 ilustrações na mostra Folia do Traço. Em 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil (em Brasília e no Rio de Janeiro), obras de Roberto são apresentadas junto a uma mostra sobre seu irmão, o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). Em 2016, a Mostra Roberto, um Certo Rodrigues é realizada no Museu Nacional de Belas Artes por ocasião do recebimento de 70 obras doadas postumamente por Sergio Rodrigues, atendendo o desejo de manutenção e promoção dos documentos históricos e trabalhos de seu pai. O Itaú Cultural, na exposição – Sergio Rodrigues (2018), apresenta, em paralelo à exposição retrospectiva com as peças de mobiliário de Sergio, ilustrações e documentos históricos.
Roberto Rodrigues, em sintonia com as vanguardas do modernismo dos anos 1920, em suas ilustrações para a imprensa, pinturas e em seus desenhos, apresenta um traço inconfundível, com predileção ao trágico, retratando momentos de angústia em seus personagens.
Obras 1
Exposições 7
Fontes de pesquisa 11
- FORTUNA Crítica Sergio Rodrigues. curadoria de Afonso Luz. Rio de Janeiro: Instituto Sergio Rodrigues, 2018. 344 p., il. color.
- INSTITUTO Sergio Rodrigues. Site oficial. Disponível em:< http://www.institutosergiorodrigues.com.br >. Acesso em: 1 jun.2018. Acesso em: 1 jun. 2018
- LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
- MICELI, Sergio. Imagens negociadas: retratos da elite brasileira (1920-40). São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
- NAME, Daniela. Paixão e morbidez na contramão da folia. O Globo. Rio de Janeiro, 26 jan. 1999. Segundo Caderno, p.10.
- NEPOMUCENO, Rosa. O artista na hora da morte. O Globo. Rio de Janeiro, 15 ago. 1988. Segundo Caderno, p.3.
- O Século de um brasileiro. Coleção Roberto Marinho. Rio de Janeiro, 2004.
- PEDROSA, Israel. Na contramão dos preconceitos estéticos da era dos extremos. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2007.
- PIMENTA, Angela. Talento e Tragédia. Revista Veja. Edição 1314. São Paulo, 17 jan. 1993. p. 136.
- ROBERTO Rodrigues. Documentário. Direção: Tunico Amâncio. Produção: Luiz Paulo Martins. Roteiro: Tonico Amâncio. Rio de Janeiro: Cena tropical Comunicações Ltda. 1986. 1 bobina cinematográfica (11 min), son., color e PB, 35 mm.
- TAVARES, Neila. Desenhos de Roberto Rodrigues. Cordel Urbano, Rio de Janeiro, ano 2, n. 2, 1974.
Como citar
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ROBERTO Rodrigues.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa286772/roberto-rodrigues. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7