Cyriaco Lopes
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S&M107C, 2022
Cyriaco Lopes
Impressão pigmentada em papel de arquivo montado em painel embalado
Texto
Cyriaco Lopes Pereira Junior (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1971). Escultor, pintor, fotógrafo, videoartista, performer, professor. Em seus trabalhos, questões de identidade são apresentadas sob diversos prismas, especialmente no que tange aos problemas de gênero e sexualidade, mas também no que concerne ao ideal de nação. A apropriação de imagens do universo erótico e pornográfico é recorrente em seus projetos, bem como a combinação de imagens, vídeos e textos, que também se desdobram em obras instalativas e ações performáticas.
O artista completa a graduação em pintura, pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1993. Nesta época, integra a Frente das Revistas Independentes, que reúne jovens quadrinistas independentes do Rio de Janeiro, contribuindo como escritor e ilustrador do gibi Grimoire. Em 1994, aproxima-se do educador escocês Charles Watson (1951), que o convida para dois projetos pioneiros na integração entre arte e plataformas digitais no Brasil: o CDRom Arte Contemporânea Brasileira e o site BBS ArtNet.
No ano seguinte, participa do curso Aprofundamento em Pintura, realizado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Nesta ocasião, conhece os artistas Helena Trindade (1960) e Luiz Cavalheiros (1968), com quem colabora na mostra Aprofundamento, realizada em 1996. Os três se unem ao artista Fábio Carvalho (1965) e fundam o Grupo A95, inicialmente concebido para realizar leituras e discutir os trabalhos de seus integrantes.
A coletiva Republicando, realizada no Museu da República em 1997, é uma de suas primeiras mostras de relevância. Nesta ocasião, Cyriaco distribui, nos jardins do antigo Palácio da República, 100 bolas pintadas com palavras derivadas da frase “ordem e progresso”. Assim, o artista ressignifica a frase de origem positivista que estampa a bandeira nacional, criticando o papel desta doutrina filosófica na própria construção republicana da identidade brasileira.
Dois anos depois, Cyriaco Lopes conclui o mestrado em linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ, que se desdobra na coletiva Linguagens Visuais (1999), exibida no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. É também em 1999 que seu grupo, já organizado como um coletivo de artistas, realiza a mostra Grupo A95, na galeria do Centro Cultural Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Fotos pornô, trabalho que Cyriaco exibe nesta ocasião, é composto por retratos de rostos masculinos no momento do gozo, extraídos de sites eróticos e inseridos em sacos plásticos preenchidos com água. A peça já aponta para algumas das temáticas queer que ganham maior proeminência em sua trajetória artística posterior.
Neste período, o artista estreita relações com os Estados Unidos, iniciando o mestrado em artes digitais e imagem na Universidade de Baltimore, que conclui em 2001. Suas pesquisas se desdobram na mostra The Classroom (2001), realizada na própria instituição. Nela, Cyriaco toma como ponto de partida seu próprio processo de aprendizado da língua inglesa. Justapondo, com palavras, imagens de sua boca que fala, ele ressalta o modo como as sutilezas fonéticas constituem uma matriz de diferenciação entre nativos e estrangeiros. Assim, problematiza as relações de poder, subalternidade e colonialidade que estão inscritas no corpo, na linguagem e nos limites da dicção.
Ainda como integrante do Grupo A95, o artista participa das exposições Iniciativas (2000), no Centro Cultural São Paulo, e Campo Minado (2001-2002), abrigada pelo Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro. Contudo, a extinção do coletivo acaba determinada pela partida definitiva de Cyriaco para os Estados Unidos, onde atua como professor visitante da Universidade de Webster, entre 2002 e 2003. Deste momento em diante, leciona em diversas universidades americanas, sempre conciliando sua pesquisa artística com o ensino da arte. Ao longo da primeira década dos anos 2000, o artista ganha espaço nos circuitos de arte estadunidenses, participando de várias exposições coletivas e individuais.
Inicia uma longa colaboração com a poetisa estadunidense Terri Witek (1952), na maioria das vezes desdobrada em performances. Em 2007, eles concebem Here a very odd thing occurred [Uma coisa muito estranha aconteceu aqui], que consiste em uma série de seis cartões postais, onde se vêem beijos entre homens, extraídos de materiais pornográficos, em uma atmosfera marcadamente artificial. Questionando os limites entre a sexualidade e a idealização do romance, o trabalho traça paralelos entre diversos modos de encontro, que atravessam tanto o caráter epistolar do meio utilizado quanto a própria união dos homens retratados.
Ainda tematizando o queer, o artista desenvolve, desde 2017, a série Saints and Martyrs [Santos e Mártires], em que posiciona esculturas diante de telas pintadas, criando cenas marcadamente artificiais, para serem fotografadas. Estes materiais são destruídos logo após a captura, afirmando sua existência efêmera. Se as esculturas remetem a seres de um universo religioso, mitológico ou fantástico, as pinturas fazem uso de cores neon, justapondo o moderno ao arcaico, o pop ao clássico.
Cyriaco Lopes possui uma obra multifacetada, que tematiza uma teia de relações entre corpo, colonialidade, linguagem e gênero. Em seus trabalhos, o artista desloca as fronteiras entre o kitsch e o clássico, mas também entre temas nobres e aqueles que são frequentemente classificados como vulgares. Assim, dá espaço a uma série de corpos e temáticas recorrentemente invisibilizados.
Obras 5
S&M107C
S&M128
S&M134
S&M146C
S&M325A
Exposições 51
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22/11/1998 - 14/1/1997
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5/12/1998 - 15/1/1997
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8/12/1997 - 16/12/1997
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1997 - 1997
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Performances 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 12
- ARTIST talk: Cyriaco Lopes. Florida: UF College of the Arts, 2021. (101 min). Disponível em: https://vimeo.com/511571579. Acesso em: 20 abr. 2022.
- BARREIROS, Edmundo. HQ nova na área. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 14 nov. 1993. Caderno B, p. 8.
- CHAVES, Sandra. ArtNet: museu a domicílio. O Globo, Rio de Janeiro, 11 abr. 1994. Informática e etc, p. 1.
- DUARTE, Marlene. EAV faz mostra de novos. O Globo, Rio de Janeiro, 27 ago. 1996. Segundo Caderno, p. 9.
- LOPES, Cyriaco. Cyriaco Lopes. [Entrevista cedida a] The Hopper Prize. Nova York: The Hooper Prize, 2021. Disponível em: https://hopperprize.org/cyriaco-lopes-interview/. Acesso em: 20 abr. 2022.
- LOPES, Cyriaco. [Currículo]. Enviado pela artista em: 27 jan. 2018.
- MANDARINO, Alexandre. Fanzine retorna como revista de boa qualidade gráfica: a volta do livro de magia. Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 18-19 dez. 1993. Tribuna BIS, p. 2.
- NAME, Daniela. Mestrado da UFRJ privilegia a prática com aulas de Lygia Pape e Carlos Zílio. O Globo, Rio de Janeiro, 5 jan. 1999. Segundo Caderno, p. 3.
- OLIVEIRA, Roberta. Artistas interferem no Palácio. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 8 jul. 1997. Caderno B, p. 2.
- RUSSO, Hannah. Artist Talk: Cyriaco Lopes. Hatter Network, Flórida, Estados Unidos, 21 fev. 2020. Disponível em: www.hatternetwork.com/6569/news-features/artist-talk-cyriaco-lopes. Acesso em: 11 set. 2020.
- TELLES, Denise; FIGUEIREDO, José. Cem anos de história e cultura no Catete. O Globo, Rio de Janeiro, 3 jul. 1997. Jornais de Bairro, p. 20.
- TRINDADE, Helena. Livros. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.
Como citar
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CYRIACO Lopes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa26952/cyriaco-lopes. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7