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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Millan

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.06.2022
29.08.1927 Brasil / São Paulo / São Paulo
05.12.1964 Brasil / São Paulo / Mairiporã
Carlos Barjas Millan (São Paulo, São Paulo, 1927 - Mairiporã, São Paulo, 1964). Arquiteto, urbanista, designer e professor. Ingressa na primeira turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, formando-se em 1951 no curso fundado por Christiano Stockler das Neves (1889-1982) com base na École de Beaux-Arts de Paris. Ainda na faculdad...

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Carlos Barjas Millan (São Paulo, São Paulo, 1927 - Mairiporã, São Paulo, 1964). Arquiteto, urbanista, designer e professor. Ingressa na primeira turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, formando-se em 1951 no curso fundado por Christiano Stockler das Neves (1889-1982) com base na École de Beaux-Arts de Paris. Ainda na faculdade desenvolve seus primeiros trabalhos profissionais e, com a Residência Orôncio Arruda (1950), em Araraquara, São Paulo, recebe o 1º. Prêmio na categoria estudante da 1ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 1951 (projeto feito em parceria com Sidney Fonseca e Luiz Roberto Carvalho Franco). Aproxima-se dos colegas Miguel Forte (1915-2002), Jacob Ruchti (1917-1974), Plínio Croce (1921-1984), Roberto Aflalo (1926-1992) e Chen Y Hwa, criando a loja de móveis Branco & Preto, 1952, precursora no desenvolvimento de mobiliário moderno em São Paulo. Durante sua breve carreira, projeta inúmeras residências e edifícios. Num primeiro momento, conta com a colaboração de Ary de Queiroz Barros (1926). São desse período as residências Tomás Marinho de Andrade (1952-1953), e Oswaldo Fujiwara (1954), entre outras.

De 1954 a 1959, divide o escritório com Joaquim Guedes (1932-2008), realizando algumas parcerias, entre as quais os projetos para os Dominicanos de São Paulo. Também com Guedes participa do concurso para o Plano Piloto de Brasília, 1957, primeira e única incursão no campo do urbanismo. A residência Gabriel Oliva Feitosa (1957), inaugura uma nova fase na obra do arquiteto. São desse período as residências Roberto Millan (1960), menção honrosa na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961, Nadir de Oliveira (1961), e Antônio D´Elboux (1962). No final da década de 1950 e início dos anos 1960 Millan projeta cada vez mais programas de maior escala, como o Colégio Visconde de Porto Seguro (1959), e o Clube Paineiras do Morumbi (1961-62). Em 1964, o arquiteto projeta a residência Lagoinha, em Ubatuba, a partir de materiais e técnicas construtivas locais.

Paralelamente à atividade projetual, o arquiteto dedica-se ao ensino. Primeiramente no Mackenzie, onde ingressa em 1957, e dois anos depois na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Participa da reforma curricular levada a cabo pelo diretor Lourival Gomes Machado (1917-1967) em 1962, coordenando o grupo de estudos sobre o Ateliê – pensado como eixo do ensino arquitetônico. Escreve o texto O Ateliê na Formação do Arquiteto, recuperando discussões anteriores e formalizando algumas propostas. Participa ativamente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP), exercendo cargos desde 1959, e em 1963 perde a eleição para a presidência. É ativo também nas discussões do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-SP), lutando pela regulamentação de normas e procedimentos da profissão. Em 1965, Millan é homenageado postumamente com uma Sala Especial na 8ª Bienal de São Paulo.

Análise

Com uma carreira breve, porém vigorosa, Carlos Millan polariza em sua atuação duas matrizes da arquitetura paulista: os arquitetos modernos do Mackenzie, formados na tradição Beaux-Arts e aglutinados em torno de Miguel Forte, e os arquitetos da FAUUSP, desmembrada da Escola Politécnica, reunidos em torno de Vilanova Artigas (1915-1985).  Ambos os momentos são ligados pela sua militância católica, durante os anos de faculdade como membro da Juventude Universitária Católica (JUC), e posteriormente como membro da Ação Popular (AP), e irmão leigo dos Dominicanos, durante toda sua atuação profissional.

Seus primeiros projetos refletem a ligação com o grupo de Forte, composto ainda por Jacob Ruchti, Plínio Croce e Roberto Aflalo, com os quais se une para formar a loja de móveis Branco & Preto. Criada para mobiliar as residências modernas que começavam a ser construídas em São Paulo, a loja seria pioneira no desenvolvimento de móveis e tecidos afinados com esse estilo, além do detalhamento de projetos de interiores. Neste período Millan faz uma arquitetura refinada, ligada às influências desses profissionais, incorporando elementos da produção de Frank Lloyd Wright (1867-1959) e de Richard Neutra (1892-1970). São “plantas funcionais, soluções estruturais simplificadas, amplas aberturas com clara preocupação de integração interior e exterior, soluções que prezam a horizontalidade e a valorização dos aspectos tectônicos”.1 Exemplo desse período é a Residência Oswaldo Fujiwara (1954-1955), na qual se notam influências das Prairie Houses de Wright, não apenas pelos materiais empregados – cerâmica, madeiras variadas e pedras –, mas também pelas soluções de cobertura e fachadas, com influências da arquitetura japonesa. O projeto, exaustivamente detalhado, levaria a um desenvolvimento trabalhoso e artesanal e a uma obra extremamente demorada. Esse processo detona em Millan a reflexão sobre sua prática profissional, a partir de suas convicções religiosas e sociais.

Vista como ponto de inflexão na obra do arquiteto, a Residência Gabriel Feitosa (1957), é consequência direta desse processo. Ainda que os projetos posteriores sejam muito mais radicais do ponto de vista da simplificação da linguagem e dos materiais empregados, nessa residência Millan mostra sua tentativa de barateamento da construção, privilegiando os aspectos sócio-econômicos frente às soluções plásticas formalistas. A organização interna segue o padrão de um sobrado geminado, com cobertura de telhas de fibrocimento ocultas atrás de platibandas, resultando num volume racionalista. Nesse período o arquiteto divide o escritório com Joaquim Guedes – de quem se aproxima pela militância católica –, desenvolvendo alguns projetos em parceria, sendo o mais importante a participação no Concurso para o Plano Piloto de Brasília, 1957. Guedes o apresenta a Vilanova Artigas, principal definidor de uma linguagem paulista na arquitetura moderna brasileira, “baseada num compromisso moral entre forma estética e verdade construtiva”.2 Esse compromisso, que Millan também passa a buscar em determinado momento, pode ser visto na Residência Roberto Millan (1960). Resultado da evolução profissional e pessoal obtida na década de 1950, é o primeiro projeto onde se nota a intenção de pré-fabricação e de racionalização do canteiro de obras. A residência organiza-se a partir do vazio central da sala de estar, com pé-direito duplo, num bloco único em dois níveis. Várias das soluções funcionais desenvolvidas ali seriam empregadas na sua produção residencial posterior, entre elas o banheiro social de planta circular em volume independente definindo a entrada da casa, a resolução do programa de necessidades em torno do vazio central, a cozinha linear com iluminação em duas faixas, a área de serviços no mesmo pavimento dos dormitórios e ainda detalhes construtivos, como as arandelas de blocos de concreto, as gárgulas para escoamento da laje de cobertura e as bandeiras e portas que interrompem a alvenaria do piso até a laje de forro.3 O projeto recebe menção honrosa na categoria “habitação individual” da 6ª Bienal de São Paulo, em 1961.

Desse mesmo período é a Residência Nadir de Oliveira (1960-1961), primeira casa-apartamento projetada pelo arquiteto. Resolvida em um pavimento único sobre pilotis, com mínima interferência no terreno, a casa se desenvolve em torno de um núcleo central composto pelo vazio de acesso e pelo volume do banheiro, ao redor do qual estão os quartos, a sala, a cozinha e a lavanderia, ligados por meio de uma circulação periférica ao núcleo central. Solução clássica difundida por Le Corbusier (1887-1965), esta influência é notada ainda nas fachadas horizontais com panos de vidro, bem como na solução estrutural do emprego de pilares de seção cilíndrica e lajes nervuradas. Mas é a Residência Antônio D'Elboux (1962), que condensa sua proposta de uma casa urbana econômica: rigoroso na economia de materiais e no dimensionamento, o resultado obtido é um sobrado simples e funcional. Para a historiadora da arquitetura Mônica Junqueira, o “domínio que tinha da construção, em toda a sua complexidade, e a perseverança no detalhamento exaustivo lhe possibilitaram atingir soluções absolutamente sintéticas, nas quais nada falta e nada está em demasia”.4 Nos anos finais de sua carreira o arquiteto enfrenta também alguns programas mais complexos, dos quais o único construído, ainda que parcialmente, é o Clube Paineiras do Morumbi (1961-1962).

Notas

1. CAMARGO, Mônica Junqueira. página da web “Carlos Millan”. Disponível em: http://www.carlosmillan.com.br

2. MATERA, Sergio Matera. Carlos Millan: um estudo sobre a produção em arquitetura. 440f.  2005. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), 2005, p. 54.

3. Sergio Matera, op.cit., pp.224-5

4. CAMARGO, Mônica Junqueira. op. cit.

Exposições 1

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Fontes de pesquisa 4

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  • ACAYABA, Marlene Milan. Branco & Preto: uma história de design brasileiro nos anos 50. 1991. 138f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1991.
  • FAGGIN, Carlos Augusto Mattei. Carlos Millan - Documento. In: Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, n.54, jun./jul, 1994, p.97-104.
  • FAGGIN, Carlos Augusto Mattei. Carlos Millan: itinerário profissional de um arquiteto paulista. 181f. 1992. Tese (Doutorado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, 1992.
  • MATERA, Sergio. Carlos Millan: um estudo sobre a produção em arquitetura. 440f. 2005. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2005.

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