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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Jota Mombaça

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.06.2023
1991 Brasil / Rio Grande do Norte / Natal
Jota Mombaça (Natal, Rio Grande do Norte, 1991). Artista interdisciplinar. Suas produções derivam da poesia, teoria crítica e performance. Tensiona questões de gênero, raça, origem, crítica colonial, monstruosidade e humanidade, entre outros temas. Em suas performances, desafia padrões, expondo práticas de violência e morte física e simbólica de...

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Jota Mombaça (Natal, Rio Grande do Norte, 1991). Artista interdisciplinar. Suas produções derivam da poesia, teoria crítica e performance. Tensiona questões de gênero, raça, origem, crítica colonial, monstruosidade e humanidade, entre outros temas. Em suas performances, desafia padrões, expondo práticas de violência e morte física e simbólica de corpos subalternizados.

Interessa-se pelo som das palavras e pela força do texto, colocando a escrita como a chave para a prática performática, sendo seu primeiro modo de expressão. Autoras como a estadunidense Octavia Butler (1947-2006) e as brasileiras Conceição Evaristo (1946), Stella do Patrocínio (1941-1992) e Denise Ferreira da Silva (1963) compõem o rol de referências teóricas e literárias que impulsiona suas produções.

A performance A gente combinamos de não morrer (2018), que compõe o acervo da Fundação Kadist (Califórnia, Estados Unidos), alude ao conto homônimo da escritora mineira Conceição Evaristo, repleto de situações corriqueiras de pessoas à margem da sociedade e denuncia as estratégias de violência sobre esses corpos. Inspirada nessa narrativa, Mombaça, na presença do público, constrói armas a partir de materiais rudimentares, como galhos, cacos de vidro e barbante vermelho. Em entrevista ao crítico de arte e curador suíço Hans Ulrich Obrist (1968), a artista indica o sentido dessa performance como enfrentamento de fantasmas coloniais e de morte que a rodeia: “É sobre, de certa forma, ser assombrada pela presença da morte, da morte social, da morte material, da morte física”. O título do trabalho opera como um pacto estabelecido entre pessoas com corpos que fogem à norma para combinarem de não morrer– a morte entendida também como simbólica e social – e continuar resistindo e lutando.

Experimenta a opacidade, a escuridão e a não transparência como conceitos-chave para o trabalho 2021: Feitiço para ser invisível (2019), em parceria com a artista Musa Mattiuzzi (1983), que participa da 34ª Bienal Internacional de São Paulo (2021). Mombaça não acredita que a visibilidade proteja todos os corpos, pois pessoas negras, trans, desobedientes de gênero e que fogem à norma estão em condições de vulnerabilidade social. Por isso, temas como opacidade e segredo lhe interessam para pensá-los como mecanismos de proteção1. Essa performance tem três dimensões: sessões privadas de estudo, feitas internamente e sem presença de público; performance com a presença de público; e, como resultado, um desenho grande exposto. As sessões são temáticas e contam com momentos para reflexão e escrita. A dimensão pública do projeto traduz-se na performance com apresentação de seus escritos rasurados com carvão em um grande tecido branco. A proposta é proteger, manter o segredo, deixar opaco o que outrora estava escrito ali. A terceira dimensão se dá com o trabalho exposto.

Durante a pandemia da Covid-19, Mombaça realiza o filme O que não tem espaço está em todo lugar (2020) a convite do Instituto Moreira Salles para integrar o programa IMS Convida. O curta – falado em inglês, português e corró (corruptela do português inventada pela artista) e com legendas em português – se inicia com Mombaça em um quarto com áudio em inglês narrando a morte de várias escritoras, como a britânica Virginia Woolf (1882-1941), a estadunidense Sylvia Plath (1932-1963) e a brasileira Ana Cristina Cesar (1952-1983). Depois, intercalam-se pequenos vídeos de viagens e situações de deslocamentos. De acordo com a artista, trata-se de um filme de viagem e um ensaio sobre velocidade, desterro, amores e distância, temas em evidência no início do isolamento social imposto pela pandemia.

Em 2020, realiza residência artística na Fundação Pernod Ricard, em Paris, e publica seu primeiro livro no ano seguinte, Não vão nos matar agora, uma coletânea de textos sobre suas inquietações, propondo novas maneiras de pensar o mundo e o tempo linear. A publicação discute temas como desobediência de gênero, crítica anticolonial e referências literárias, em onze ensaios listados no sumário com números negativos, repensando, dessa forma, a linearidade do pensamento. Para Mombaça, o desconforto causado por corpos dissidentes deve ser entendido para “politizar a ferida” e provocar ações, acompanhando seu “movimento de mundo com corpo monstruoso, de presença aberrante e desobediente de gênero”, e resultando em novas formas de habitar e pensar o mundo tal como conhecemos.

Com intenso trânsito nacional e internacional, participa, entre outras exposições, de Atravessar a Grande Noite sem Acender a Luz, no Centro Cultural São Paulo (2021); FRESTAS Trienal de Artes, no SESC Sorocaba (2020-2021); 22ª Bienal de Sydney (Austrália, 2020); À Nordeste, no Sesc 24 de Maio em São Paulo (2019); 10ª Bienal de Berlim (2018); e Nós Não Precisamos de Outro Herói (Alemanha, 2018).

Movimentos não binários, quebra da linearidade do tempo, destruição, opacidade e pensamento negro são temas que contornam os trabalhos visuais e performáticos de Jota Mombaça. Suas performances trazem a palavra escrita  e alguns elementos de repetição, organização como estratégias de expressão da artista. A busca por mecanismos de proteção e sobrevivência de corpos desobedientes marca suas reflexões e produções artísticas.

Notas
1.
O conceito de opacidade é trabalhado pela artista a partir da teoria do escritor e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928-2011), que questiona as políticas de visibilidade e representação. O segredo é estudado segundo o teórico cultural estadunidense Fred Moten (1962), que o aborda não como aquilo que não é transmitido, mas como uma linguagem. Ambos os conceitos estruturam os trabalhos de Mombaça como dispositivos de proteção dos corpos.

Exposições 12

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Fontes de pesquisa 9

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