Ana Cristina Cesar
Texto
Ana Cristina Cruz César (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1952 – Idem, 1983). Poeta, ensaísta, tradutora. Destaca-se na década de 1970 pela criação de uma poesia intimista.
Filha de Maria Luiza César e do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz César (1922-2007), um dos responsáveis, ao lado do editor Ênio Silveira (1925-1996), pela fundação da editora ecumênica Paz e Terra.
Aos sete anos, tem seus primeiros poemas publicados no jornal Tribuna da Imprensa. Entre 1969 e 1970, interrompe o curso clássico no Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia para estudar inglês no Richmond School for Girls, em Londres, pelo programa de intercâmbio da juventude cristã. Em 1971 ingressa na Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Desde a vida universitária, participa ativamente da cena cultural carioca e do movimento da poesia marginal, convivendo com poetas como Cacaso (1944-1987) e intelectuais como Heloísa Buarque de Hollanda (1939).
Embora comumente identificada com os poetas marginais da década de 1970, Ana Cristina César recorre aos procedimentos do grupo para criticá-los desde o interior: simula o discurso confessional a partir de falsas correspondências e diários e alcança o tom coloquial parodiando textos da tradição literária.
Em 1971, inicia a atuação como professora em escolas de 2º grau e de idiomas. Após a conclusão da graduação, em 1975, colabora para publicações como Opinião, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, com destaque para Beijo, importante periódico de cultura, com sete números impressos, cujo processo acompanha desde a criação. Em 1979 lança de forma independente o primeiro livro de poesia, Cenas de abril. Em "Final de uma ode", o eu lírico afirma: "Quisera / dividir o corpo em heterônimos – medito aqui / no chão, imóvel tóxico do tempo". Se a confissão do desejo sugere a sinceridade autobiográfica, a formulação o inscreve no cânone da poesia portuguesa, dada a referência a Fernando Pessoa, sugerida em "heterônimos", e a outros trechos da composição.
Após Cenas de abril, seguem-se Correspondência completa e Luvas de pelica, publicados em 1980. O primeiro é paródia desde o título, pois se compõe de apenas uma carta. A remetente, além disso, chama-se Júlia, numa quebra da identificação entre autora do livro e autora da carta, o que impede a certeza de uma confissão verdadeiramente autobiográfica. A linguagem apresenta ambiguidades e lacunas, colocando para o leitor enigmas, e não a possibilidade de identificação.
Dessa mesma época datam as primeiras traduções, atividade que se torna objeto de estudo na pós-graduação: em 1981, torna-se mestre em teoria e prática da tradução literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra. De volta ao Brasil, é contratada como analista de textos pela Rede Globo de Televisão e lança, em 1982, A teus pés, reunião de poemas já publicados e o inédito que nomeia o volume. Na obra os versos são longos, apresentam tom de conversa e frequentemente questionam a sociedade conservadora e o lugar nela destinado à mulher. É o que se lê em "Sete chaves": "[...] Não sou dama nem mulher / moderna".
A existência de uma literatura dita feminina é tema dos ensaios da autora, interessada em problemas teóricos, como as relações entre literatura e história, invenção e confissão, originalidade e intertexto. Também nesses escritos se revela a ausência de identificação entre a poeta e a geração marginal: "A limpidez da sinceridade nos engana, como engana a superfície tranquila do eu", escreve ela em "O poeta é um fingidor", capítulo do livro Crítica e tradução (1999).
Aos 31 anos, em 1983, Ana Cristina César comete suicídio. Depois de sua morte, o poeta e amigo Armando Freitas Filho (1940) organiza sua obra e promove o lançamento de Inéditos e dispersos (1985), livro em que a trajetória da autora pode ser acompanhada ao longo da reunião de poemas escritos desde os nove anos de idade. A obra revela a busca pessoal da expressão poética: os primeiros versos são em geral líricos, metrificados e rimados. Também são publicados postumamente Escritos da Inglaterra (1988) e Escritos no Rio (1993).
Apesar da breve vida, Ana Cristina César faz parte da galeria de poetas importantes da literatura brasileira contemporânea. Seus versos, coloquiais e intimistas, até hoje são tema de uma série de teses, dissertações e artigos acadêmicos.
Espetáculos 2
Exposições 2
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29/10/2004 - 29/2/2003
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27/8/2023 - 15/1/2022
Fontes de pesquisa 9
- BOSI, Viviana. O risco do gato. In: SÜSSEKIND, Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito (Orgs.). Vozes femininas: gênero, mediações e práticas da escrita. Rio de Janeiro: 7Letras: Fundação Casa Rui Barbosa, 2003.
- CAMARGO, Maria Lúcia de Barros. Atrás dos olhos pardos: uma leitura da poesia de Ana Cristina César. Chapecó: Argos, 2003.
- JUNQUEIRA, Ivan. A presença poética feminina. Ensaios Escolhidos. São Paulo: A Girafa Editora, 2005, p. 483 - 506.
- LIMA, Regina H. Souza da Cunha. O desejo na poesia de Ana Cristina César, 1952-1983: escritura de t(e)s. São Paulo: Annablume, 1993.
- MORICONI, Ítalo. Ana Cristina César: o sangue de uma poeta. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: Prefeitura, 1996. (Perfis do Rio; n. 14).
- PEIXOTO, Marta. Até segunda ordem não me risque nada: os cadernos, rascunhos e a poesia-em-vozes de Ana Cristina César. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995.
- PEIXOTO, Marta. Sereia de papel: Ana Cristina César e as ficções autobiográficas do eu. In: SÜSSEKIND, Flora; DIAS, Tânia; AZEVEDO, Carlito (Orgs.). Vozes femininas: gênero, mediações e práticas da escrita. Organização . Rio de Janeiro: 7Letras: Fundação Casa Rui Barbosa, 2003.
- SÜSSEKIND, Flora. Outra pele, pelica. Literatura e Vida Literária: polêmicas, diários & retratos. 2 ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004, p. 129 - 133.
- VIEGAS, Ana Claudia. Bliss & blue: segredos de Ana C. São Paulo: Annablume, 1998. (Selo Universidade; 86, Literatura).
Como citar
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ANA Cristina Cesar.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa2866/ana-cristina-cesar. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7