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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Musa Mattiuzzi

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.06.2023
1983 Brasil / São Paulo / São Paulo
Musa Michelle Mattiuzzi (São Paulo, São Paulo, 1983). Performer, artista visual, escritora e pesquisadora. Trabalha sua arte de forma não convencional, de modo que o estranhamento sobre seu corpo negro está em constante embate com os padrões sociais, sendo ele o principal elemento polissêmico para constituir suas elaborações visuais por meio de ...

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Musa Michelle Mattiuzzi (São Paulo, São Paulo, 1983). Performer, artista visual, escritora e pesquisadora. Trabalha sua arte de forma não convencional, de modo que o estranhamento sobre seu corpo negro está em constante embate com os padrões sociais, sendo ele o principal elemento polissêmico para constituir suas elaborações visuais por meio de performance, fotografia e vídeo.

Inicia sua experiência artística no teatro em 1990. Em 2009, forma-se em comunicação das artes do corpo com habilitação em performance pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em seguida, muda-se para Salvador, Bahia.

Por meio da performance, Mattiuzzi experimenta novas possibilidades de recriar seu corpo em circunstâncias que geram fragilidades e impermanências no entorno, adentrando os circuitos artísticos que historicamente exclui as narrativas não hegemônicas. A tensão propositalmente gerada por seu trabalho pela presença do seu corpo feminino negro, gordo e nu, que diverge do corpo esteticamente aceito socialmente, causa no público uma relação de desconforto sobre sua figura, especialmente nas performances com perfurações corporais e sangue.

As produções de Michelle Mattiuzzi apresentam seu corpo negro feminino em exibição pública como principal elemento de suas criações, acionando discussões sobre os padrões raciais, de gênero, sexualidade e religião, e sobre como esses aspectos podem culminar em violências.

Em 2010, desenvolve a performance Merci, Beaucoup, Blanco!, em que a artista se apresenta nua, calçando um sapato de salto alto, e é conduzida ao espaço da ação por uma pessoa que a puxa por uma corrente presa ao pescoço. Na face, utiliza uma máscara feita com um ralo de pia, com sangue escorrendo da boca. Em seguida, pinta-se ritualisticamente com tinta branca e cria imagens de seu corpo em movimento sobre um banco. Por fim, apresenta um texto-manifesto no qual desenvolve uma reflexão sobre o nome do trabalho.

A expressão francesa Merci beaucoup, blanco, usada como uma saudação de agradecimento, é aplicada pela artista para questionar a violência expressa na linguagem formal. Utiliza a exibição pública e a espetacularização do seu corpo como uma estratégia de confronto poético e cria narrativas políticas acerca da sua existência enquanto mulher negra. O trabalho, que traz em sua concepção discussões pós-colonialistas, gera experiências estéticas dentro da ficção da fotografia, do vídeo e da ação ao vivo. 

Consolida seus trabalhos com interferências públicas durante o 3º Festival de Intervenções e Artes do Recôncavo (Fiar), realizado em 2012, no qual coloca em  jogo seu corpo diante do desconhecido, em que sua presença é modificadora de sentidos, manipulando representações entre a cor da sua pele e as possíveis associações sobre seu corpo feminino negro. 

Entre 2012 e 2013 colabora com os coletivos Grupo de Interferência Ambiental (GIA), formado na Bahia, e Opavivará, no Rio de Janeiro, que realizam ações em locais públicos e privados, com linguagens hibridizadas, propondo outros modos de ocupação do espaço urbano pela criação de dispositivos que proporcionam experiências coletivas.

Embora o cerne de sua produção seja a performance como uma ação ao vivo, Mattiuzzi investiga seus desdobramentos por meio da fotoperformance, como ocorre em Experimentando o Vermelho em Dilúvio (2013), fotografias que registram a artista praticando o método de gotejamento chinês, usado como recurso para torturar pessoas.

Em sua fotoperformance Terrorismo Poético, Caos, Processo Compartilhado (2012), série desenvolvida em parceria com os artistas Alex Oliveira e Paulo Nazareth (1977), Mattiuzzi manipula sobre seu corpo nu objetos como pimentas, cartazes, máscara de coelho e uma capa vermelha, numa recriação inversa de possíveis personagens associados ao imaginário dos contos infantis, em que são recorrentes o coelho e a capa da Chapeuzinho Vermelho. Os elementos manipulados e apresentados de maneira invertida (o corpo de costas e a máscara de frente) desafiam preceitos cristãos, pois podem se referir a outras religiosidades como os Exus da umbanda, e geram rupturas e estranhezas.

Em 2016 é convidada a participar da 32ª Bienal de São Paulo e ministra a Oficina de Imaginação Política, com o tema Performance Negra: Experiência Política nos Espaços de Arte, na qual propõe o uso dessa linguagem como ferramenta para a criação de contranarrativas, numa perspectiva de descolonização que se assemelha a uma guerrilha de saberes.

Volta a explorar o campo audiovisual com seu premiado filme Experimentando o Vermelho em Dilúvio II (2016), que surge da ação performática realizada ao vivo: uma caminhada ritual até a estátua de Zumbi dos Palmares, no centro da cidade do Rio de Janeiro, pensando nos corpos racializados marcados pela colonialidade numa perspectiva de reativar memórias e conhecimentos da ancestralidade negra. Esse trabalho é exibido na exposição Histórias Afro-Atlânticas (2018), iniciativa do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e do Instituto Tomie Ohtake.

A produção da Musa Michelle Mattiuzzi, enquanto performance, leva muitas vezes ao estranhamento e incômodo do público por tratar da violência a qual os corpos negros estão submetidos. Sua obra audiovisual contribui para a construção de memórias das artes no Brasil, enquanto objeto de resistência e questionamentos.

Exposições 9

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