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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Conrado Silva

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 24.10.2019
1940 Uruguai / a definir / Montevidéu
2014 Brasil / São Paulo / São Paulo
Conrado Silva de Marco (Montevidéu, Uruguai, 1940 - São Paulo, São Paulo, 2014). Músico, engenheiro acústico e professor. Compositor de música eletroacústica e digital e engenheiro acústico especializado em acústica de ambientes. Em Montevidéu, estuda com Héctor Tosar (1923-2002). Na década de 1960, viaja ao exterior para frequentar cursos e wor...

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Conrado Silva de Marco (Montevidéu, Uruguai, 1940 - São Paulo, São Paulo, 2014). Músico, engenheiro acústico e professor. Compositor de música eletroacústica e digital e engenheiro acústico especializado em acústica de ambientes. Em Montevidéu, estuda com Héctor Tosar (1923-2002). Na década de 1960, viaja ao exterior para frequentar cursos e workshops, sob a direção grandes nomes da música experimental, tais como o francês Pierre Boulez (1925-2016), o alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007), o argentino Mauricio Raúl Kagel (1931-2008), o húngaro György Ligeti (1923-2006), o alemão Joseph Anton Riedl (1929-2016), o belga Henri Pousseur (1929-2009) e o americano Jonh Cage (1912-1992). Fixa residência no Brasil a partir de 1969 e, incentivado pelo antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), é contratado pelo Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB). Na UnB utiliza esse conhecimento para disseminar tecnologias eletroacústicas, ajudando a formar uma geração de músicos. 

De 1971 a 1989, idealiza e organiza, juntamente com o musicólogo uruguaio Coriún Aharonián (1940) os Cursos Latino-Americanos de Música Contemporânea, realizados em cinco países diferentes. Segundo a pesquisadora Terezinha Rodrigues P. Soares, os cursos têm, como 'ponto-de-honra', “só aceitar musicista com reconhecido caráter e postura política de esquerda”.

Publica o livro Elementos de Acústica Arquitetônica (1982), música digital e música eletroacústica. Defende seu doutorado em arquitetura na UnB com a tese: Análise Acústica de Auditórios Musicais Depois de Construídos (2009). Na Arquitetura, colabora em projetos assinados por Oscar Niemeyer, em Brasília, e participa da restauração dos teatros Sodre e Solis, em Montevidéu.

Influenciado por John Cage e Karlheinz Stockhausen, organiza a vinda de Cage à 18ª Bienal de São Paulo, em 1985. Paralelamente, além do Núcleo Música Nova, administra a escola Travessia Oficina de Música e uma empresa de engenharia acústica.

Demitido durante a ditadura militar, organiza cursos em São Paulo, onde leciona na Faculdade Santa Marcelina, Escola de Belas Artes de São Paulo e na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Nesse período, cria estúdios universitários no Brasil (UnB, 1969; Unesp, 1977; Faculdade Santa Marcelina, 1985; e Syntesis, 1986). De 1997 a 1999, é vice-presidente da Associação Internacional de Computação e Música. Volta à UnB nos anos 1990, até se aposentar, em 2010. É membro fundador da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica, na qual ocupa o cargo de Primeiro Secretário, até o fim de sua vida, e ajuda a instituir a Associação Internacional de Computação e Música.

É considerado um dos precursores da música eletroacústica no Brasil. Falece em janeiro de 2014, em São Paulo, aos 73 anos. Entre suas obras de maior destaque estão Brinquedos1 (1972), Cor Incurvatum (1973), Ulisses (1973) e Espaços Habitados (1994).

 

Análise

A vocação para criar na fronteira entre arte e ciência surge em Montevidéu, estudando, ao mesmo tempo, piano e engenharia. Segundo Flo Menezes:"Era uma pessoa elegante, rara no meio musical". "Tinha um grande conhecimento de acústica e foi importante como militante da música nova”.

Com esta percepção, Darcy Ribeiro, em 1969, convida Conrado Silva para ensinar no Departamento de Música da UnB, ambiente no qual se torna pioneiro da música eletroacústica brasileira e latino-americana. Na década de 1960, estuda na Alemanha, com os mais expressivos músicos eruditos e, em 1968, executa sua “Música para Dez Rádios Portáteis” no Festival de Música Nova de Santos.

Pertence a uma geração que luta para integrar as tecnologias em seu o processo criativo, postulando ser este o caminho da evolução da linguagem musical. Atrai para a música eletroacústica novas gerações de compositores. “Acredito que, pela própria evolução rapidíssima da educação, num tempo não tão distante, o indivíduo desenvolverá sua criatividade de forma integral. E a música deixará, então, de constituir mero lazer cultural, para voltar a ser um dos melhores meios de comunicação e informação entre as pessoas".

“Conrado é, sem dúvida, uma das grandes figuras da música no Brasil na segunda metade do século XX”, diz Anna Maria Kieffer (1941), cantora e pesquisadora dedicada à música contemporânea e à memória musical brasileira, amiga e parceira profissional de Conrado Silva. “Vi-o passar dos rolos de fita analógicos para a música digital, do sintetizador para o computador, da composição solo para a criação compartilhada, do teatro musical para a performance, entrando no século XXI com competência e elegância, e, principalmente, com grande integridade”.

Suas atividades, principalmente em São Paulo, ressaltam a importância da atuação como compositor, intérprete eletroacústico e, também, como pensador, professor e produtor cultural. Nos anos 1980, em São Paulo, cria o Núcleo Música Nova onde promove a formação de novos compositores, a interpretação de peças contemporâneas, a prática da improvisação, o uso conjunto instrumentos eletrônicos e acústicos, a interação com outras expressões artísticas, e a performance. Participa de concertos e festivais, com primeiras audições mundiais ou brasileiras, de grandes compositores tais como John Cage, Morton Feldman (1926-1987), Karlheinz Stockhausen, Luciano Berio (1925-2003), Hans Joachim Koellreutter (1915-2005), Gilberto Mendes (1922-2016), Carlos Kater (1948), Luis Carlos Vinholes (1933), Rodolfo Coelho de Souza (1952), além dos compositores do próprio Núcleo.

Cria também o Synthesis, curso livre de música eletrônica e eletroacústica. Nele, e em conjunto com Wilson Sukorski (1955), Fernando Iazzetta (1966), Ruggiero Ruschioni, Vanderlei Lucentini, futuros expoentes da música contemporânea brasileira, apresenta suas primeiras obras. Com a colaboração de alunos e ex-alunos do Synthesis, realiza o Grande Círculo Mágico Ritual (1985), obra composta por 20 sintetizadores no espaço da 18ª Bienal Internacional de São Paulo, quando também ajuda a organizar a vinda de John Cage ao Brasil.

Vanderlei Lucentini, compositor e mestre em estética e história na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São paulo (ECA/USP), avalia a atuação do compositor no contexto latino-americano, dizendo que suas “inquietações vanguardistas foram de encontro aos cânones e rituais conservadores da música erudita e o seu habitat na sala de concerto. [...] O teatro musical de Conrado Silva apresenta muitas ramificações e uma diversidade de procedimentos estéticos”. É uma das figuras centrais do chamado teatro musical, “território fértil e fervilhante da música contemporânea do século XX”.

No Festival de Música Eletroacústica de Bourges, França, apresenta sua ópera Espaços Habitados (1994) sobre o livro Galáxias (1984), de Haroldo de Campos (1929-2003).  Em 2005, participa do Festival Hipersônica – Serviço Social da Indústria (Sesi), São Paulo, com a obra Antenas de Miramar com solo cantado por Anna Kieffer.

Em 2012, novamente em São Paulo, participa do evento interdisciplinar na Biblioteca Mário de Andrade que abre conferências sobre escritores: Música para contistas latino-americanos.

Em 2013, a segundo Anna Kieffer, poucos meses antes de falecer, inscreve “um belíssimo projeto no edital Rumos-Itaú: uma grande obra multimídia com música para oito canais a ser realizado ao ar livre no Parque Ibirapuera”, denotando que, como dizia Haroldo de Campos, “morre caindo em falésia”, ou seja, do alto de seu poder criativo.

Espetáculos 5

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Exposições 2

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Fontes de pesquisa 11

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