Erika Verzutti
Texto
Erika Verzutti Fonseca (São Paulo, São Paulo, 1971). Artista visual. Com esculturas e relevos, suas obras se inserem na tridimensionalidade, trazendo elementos da pintura. Com referências que vão da história da arte à telenovela, da natureza à cultura da internet, as figuras criadas pela artista têm um caráter disforme, podendo se localizar tanto num universo real quanto fantástico.
No início dos anos 1990, frequenta cursos livres na Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo), onde tem aulas com artistas como Leda Catunda (1961), Carlito Carvalhosa (1961) e Sérgio Romagnolo (1957). Em 1991, forma-se em desenho industrial pela Universidade Mackenzie em São Paulo. Participa do programa de exposições do Centro Cultural São Paulo em 1995 e, no ano seguinte, integra a exposição coletiva Antarctica Artes com a Folha (São Paulo), que apresenta uma seleção de 62 artistas emergentes.
Em 1998, recebe a bolsa Capes para ingressar em um programa de mestrado na Goldsmisths University em Londres, quando sua produção se transforma. A artista abandona a aproximação com a linguagem conceitual e passa a experimentar diferentes técnicas e materiais. Do período anterior ao mestrado restam poucos trabalhos, a maioria ocultada ou destruída pela própria artista. É em 2001, com os vasos de papéis, que sua produção renasce. Os objetos feitos com impressos do circuito das artes, encontrados na lixeira de uma galeria em que trabalha, são o prelúdio do exercício de verticalização e modelagem de materiais, que logo se estabelece por meio da manipulação de argila crua em obras como Vulcãozinho (2003) e Vaso com Bico (2005).
A partir daí, traça um caminho espontâneo e libertador para sua prática. Sem desassociar lógica e intuição ou hierarquizar materiais, conceitos e referências, lança mão de procedimentos elementares da escultura para imprimir em suas obras um caráter artesanal e transitório. Apresenta uma abordagem bem-humorada e irônica da arte, rejeitando a autoridade dos cânones. Para ela, a arte é o lugar da liberdade, onde as regras são inventadas e estão em fluxo constante.
Em 2006, cria seu primeiro trabalho em bronze. A escultura Saramandaia, que remete à telenovela exibida em 1976 pela Rede Globo, tem aspecto de um vaso, mas, no lugar de flores, há clichês escultóricos como bustos e cabeças de animais. Em 2007, numa espécie de desdobramento, cria a obra Bicho de 7 Cabeças. Moldada em bronze e massa de porcelana fria, assemelha-se a uma criatura monstruosa com cabeças feitas de frutas e vegetais. Três anos mais tarde, convida oito artistas1 para realizar uma versão da mesma obra em escala monumental. A escultura apresenta-se como uma exposição autoportante e é exibida no jardim do Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo.
Em Cisne com Pincel (2003-2012), remete à forma fálica presente na pintura Sol Poente (1929) da artista Tarsila do Amaral (1886-1973). O tronco curvado aparece em diversas obras e desencadeia uma série de imagens como cisnes, pepinos e dinossauros. Em 2016, essas formas dão título à primeira exposição individual da artista no Brasil, realizada no Pivô (São Paulo).
A investigação com composição de frutas e vegetais é amplamente marcada na série Missionários2 (2007-2019), em que utiliza moldes de carambolas, bananas e berinjelas para criar formas eróticas que aludem aos genitais feminino e masculino e a posições sexuais. De forma irreverente, também evidencia nesse conjunto referências ao modernismo e concretismo ao propor releituras de obras de artistas como Constantin Brancusi (1876-1957) e Sergio Camargo (1930-1990).
Na série Brasília (2010-2019), as jacas, comparadas a animais selvagens pela artista, ganham cortes retos e precisos que remetem ao modernismo brasileiro. Esse processo alude à construção das cidades no Brasil, levantadas no meio da natureza.
Em 2013, participa da LVI Carnegie International, em Pittsburgh, Estados Unidos3. Apresenta, entre outros trabalhos, seus primeiros relevos de parede, formato que vai se consolidando na produção da artista. Situados entre pintura e escultura, provocam no observador uma sensação tátil mais direta do que as esculturas. Neles, os pigmentos aparecem não apenas de forma pontual, mas preenchendo superfícies inteiras e, eventualmente, criando imagens abstratas e figurativas.
Participa do XXXIV Panorama de Arte Brasileira (2015) no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com curadoria de Aracy Amaral (1930) e Paulo Miyada (1985). A instalação, que reúne trabalhos da série Cemitérios, ganha destaque ao ser apresentada no centro do espaço expositivo. Em 2017, é selecionada para LVII Bienal de Veneza, com curadoria da francesa Christine Macel (1969). Esta, em 2019, organiza a retrospectiva da artista no Centre Pompidou, em Paris, mostra que reúne mais de sessenta obras produzidas entre 2003 e 2019.
Com suas esculturas e relevos, Erika Verzutti apresenta uma produção singular na arte contemporânea. Ao reverenciar o que há de mais elementar na criação da arte, e rejeitar hierarquias e conceitos preestabelecidos, a artista não esgota o seu repertório de formas estranhas e curiosas. Utilizando elementos e referências que vão do erudito ao cotidiano, parte de um universo pessoal para criar obras abertas às mais diversas leituras e associações, evocando de forma intensa e desenvolta o caráter libertador e insubordinado da arte.
Notas
1. Adriana Varejão (1964), Alexandre da Cunha (1969), Damián Ortega (1967), Efrain Almeida (1964), Carlos Bevilacqua (1965) & Ernesto Neto (1964), Jac Leirner (1961) e Nuno Ramos (1960).
2. Missionário é o nome de uma posição sexual, mais conhecida como papai-mamãe.
3. A Carnegie International é um dos eventos de arte contemporânea mais prestigiados do mundo. A mostra foi criada em 1896 e acontece a cada cinco anos no Carnegie Museum of Art, na cidade de Pittsburgh, Estados Unidos.
Exposições 197
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23/3/1995 - 13/4/1995
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23/3/1995 - 13/4/1995
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1995 - 1995
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Fontes de pesquisa 10
- BERRY, Ian. Opener 28: Erika Verzutti: Mineral. Exhibition Catalogue. Saratoga Springs, New York: The Frances Young Tang Teaching Museum and Art Gallery at Skidmore College, 2015.
- BRENNER, Fernanda. Até que não tão esotérico assim, texto curatorial para a exposição Cisne, Pepino, Dinossauro. Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, 2016. Disponível em: http://www.verzutti.com/content/3-texts/2-readings/brenner-fernanda_pivo_2016_final_pt.pdf. Acesso em: 13 nov. 2019
- BRENNER, Fernanda. Reloading Gurus: Erika Verzutti and Fernanda Brenner in conversation. Mousse Magazine, Milan, n. 62, fev.-mar. 2018.
- CANTON, Katia. Novíssima arte brasileira: um guia de tendências. São Paulo: Iluminuras, 2001. 700.981 C232n
- ERIKA VERZUTTI. Site oficial da artista. São Paulo. Disponível em: http://www.verzutti.com/en. Acesso em: 13 nov. 2019
- GUGGENHEIM. página da artista no site do Museu Solomon R. Guggenheim. Nova York. Disponível em: https://www.guggenheim.org/artwork/artist/erika-verzutti. Acesso em: 13 nov. 2019
- MACEL, Christine (Org.). Erika Verzutti: Mutations/Créations 3. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. [Exposição realizada no Centre Pompidou, Paris, de 20 de fevereiro a 15 de abril de 2019].
- MARTÍ, Silas. Erika Verzutti se consagra com esculturas de bichos e frutas estranhas. Folha de S.Paulo, São Paulo, 3 abr. 2016. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/04/1756617-erika-verzutti-se-consagra-com-esculturas-de-bichos-e-frutas-estranhas.shtml. Acesso em: 13 nov. 2019
- NEVES, Lucas. Brasileira Erika Verzutti leva seus cisnes e pavões a salas do Pompidou. Folha de S.Paulo, São Paulo, 20 fev. 2019. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/02/brasileira-erika-verzutti-leva-seus-cisnes-e-pavoes-a-salas-do-pompidou.shtml. Acesso em: 13 nov. 2019
- RIBEIRO, José Augusto. Erika Verzutti. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2013.
Como citar
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ERIKA Verzutti.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa221590/erika-verzutti. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7