Vânia Barbosa
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Cogumelos, 1995
Vânia Barbosa
Borracha reciclada
25,00 cm x 15,00 cm
Texto
Vânia Barbosa Santos de Albuquerque Serra (Pequi, Minas Gerais, 1955). Artista multimídia. Utiliza materiais usualmente denominados como restos pela sociedade, ressignificando-os em desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo e performance. Sua poética se pauta pela experimentação, transitando entre a destruição e a reconstrução, e pelo olhar sensível ao meio ambiente, especificamente aos problemas ecológicos advindos da mineração.
Passa a primeira infância em contato próximo com a natureza nas brincadeiras no quintal de sua casa, na cidade de Pequi. Em 1960, se desloca para Pará de Minas, onde começa a ter aulas de pintura e encontra na indústria de reciclagem de borracha de sua família um vasto espaço lúdico e encantador.
Em 1980, parte para Belo Horizonte e inicia a graduação em artes plásticas na Escola Guignard na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Dos desenhos iniciais figurativos e ricos em cores muda para a abstração de paleta mais sóbria.
Começa a utilizar a borracha reciclada para a criação de esculturas. Na série Bichos (década de 1980), apresenta composições nas quais a matéria, na forma de corda, é enrolada em arranjos de diversos tamanhos. Remetendo aos Bichos (década de 1960) da artista Lygia Clark (1920-1988) e tendo em comum a serialidade e a capacidade inventiva dos rearranjos, a obra de Vânia Barbosa propõe outras camadas ao tomar um material que perde sua função concreta em um mundo de produtividade e é deslocado para o universo subjetivo da arte.
Nas décadas de 1990 e 2000, o trabalho escultórico com a borracha reaproveitada é acompanhado das criações em papel sobre madeira e em pintura. O transitar entre suportes é fundamental ao seu fazer artístico por não cristalizar sua obra em um meio específico, afirmando a experimentação como elemento essencial em sua poética. A palavra também é engajada em suas construções visuais a partir do ressaltar dos gestos de escrita ou da proposição de sentidos abertos em seus usos lacunares. A artista não quer transmitir uma mensagem, mas abrir caminhos ao ensejar múltiplos pensamentos.
A partir de 2010, frequenta aulas no programa de pós-graduação em artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e participa de diversos cursos livres, principalmente no Núcleo de Estudos Fotografia, Arte e Cultura (Núcleo FAC). Aproxima-se da performance, da fotografia e do vídeo.
O ensaio fotográfico A beleza dos restos (2018) traz, em 15 imagens, a persistência daquilo que se toma por abandonado. São paredes riscadas, lonas rasgadas, vidros quebrados, folhas queimadas, enfim, objetos sem utilidade. Ainda assim, suas texturas em cores saturadas demandam o tempo do olhar, que se prende na riqueza de suas formas. O enquadramento equilibra o todo da imagem ao mesmo tempo em que ressalta a assimetria dos objetos – característica proveniente do trabalho pictórico de Barbosa.
Em La mer/La mère (2019), a artista incursiona na imagem em movimento para tratar de um tema muito sensível e entranhado na constituição simbólica, histórica e recente, de Minas Gerais: a extração de minério da terra e seus efeitos devastadores. O vídeo de 2 minutos e 36 segundos inicia com placas de sinalização de via férrea contra o céu. A tela se divide em duas partes, com a imagem de um trem em movimento à esquerda e, à direita, planos do mar. Fragmentos do poema “No meio do caminho” (1928), do escritor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), aparecem acima e abaixo, enquanto os movimentos do trem e do mar, lado a lado, estabelecem uma relação ambígua que, em momentos, parece de atração e, em outros, de repelência.
Em 1 minuto e 36 segundos, há a sobreposição de uma imagem do mar que toma toda a tela. Ela está em tons ocres e parece conter ondas de barro, lembrando os desastres ambientais de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019. O vídeo termina com a imagem do oceano ao som do correr do trem. É uma obra curta, porém bastante impactante aos sentidos em sua articulação visual e sonora e em sua referência aos eventos recentes de repercussão ambiental extrema.
Os elementos invisibilizados do capitalismo – os ditos restos – são retomados por Vânia Barbosa para confrontar a cultura predatória que os abandonou. Tal gesto criador ocorre a partir da transformação dos objetos simbólicos ou por meio de um olhar atento e coletor que dá a ver a existência cotidiana de cenários supostamente escondidos. Não se trata necessariamente de denunciar, pois as coisas estão postas no mundo para quem tem a coragem de ver. São novas possibilidades de sobrevivência daquilo que foi sentenciado a perecer.
Obras 7
Exposições 69
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9/7/1986 - 10/8/1986
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19/12/1988 - 31/1/1987
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3/9/1988 - 9/10/1988
Fontes de pesquisa 8
- BARBOSA, Vânia. A beleza dos restos. Revista Ensaio Fotográfico, Belo Horizonte, n. 4, p. 19-34, abr. 2018. Disponível em: https://issuu.com/ensaiofotografico/docs/edicao_especial_revista. Acesso em: 7 abr. 2022.
- BARBOSA, Vânia. Currículo. Disponível em: https://static1.squarespace.com/static/5f8739db1fefe07a60a5ef29/t/5f8c76e9d40ad71e803f8398/1603041001726/CURRICULO+COMPLETO+Vânia+Barbosa+Outubro+2020.pdf. Acesso em: 7 abr. 2022.
- BARBOSA, Vânia. [Currículo]. Enviado pela artista em: 02 out. 2019.
- CASA NOVA, Vera. Territórios e tramas. Belo Horizonte, 2009. Disponível em: www.vaniabarbosa.com.br/textoVera.html. Acesso em: 15 jul. 2020.
- SEBASTIÃO, Walter. Crítica. Belo Horizonte, jul. 2003. Disponível em: http://www.vaniabarbosa.com.br/textoWalter.html. Acesso em: 15 jul. 2020.
- VIGNA, Elvira. Crítica. Rio de Janeiro, nov. 2006. Disponível em: www.vaniabarbosa.com.br/textoElvira.html. Acesso em: 15 jul. 2020.
- VÂNIA BARBOSA. Vimeo Oficial da Artista. Disponível em: https://vimeo.com/user64919403. Acesso em: 7 abr. 2022.
- VÂNIA Barbosa: críticas. Disponível em: https://issuu.com/vania-barbosa/docs/criticas. Acesso em: 7 abr. 2022.
Como citar
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VÂNIA Barbosa.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa20279/vania-barbosa. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7