Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Vânia Barbosa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.05.2024
1955 Brasil / Minas Gerais / Pequi
Reprodução fotográfica da artista

Cogumelos, 1995
Vânia Barbosa
Borracha reciclada
25,00 cm x 15,00 cm

Vânia Barbosa Santos de Albuquerque Serra (Pequi, Minas Gerais, 1955). Artista multimídia. Utiliza materiais usualmente denominados como restos pela sociedade, ressignificando-os em desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo e performance. Sua poética se pauta pela experimentação, transitando entre a destruição e a reconstrução, e pelo olhar...

Texto

Abrir módulo

Vânia Barbosa Santos de Albuquerque Serra (Pequi, Minas Gerais, 1955). Artista multimídia. Utiliza materiais usualmente denominados como restos pela sociedade, ressignificando-os em desenho, pintura, escultura, fotografia, vídeo e performance. Sua poética se pauta pela experimentação, transitando entre a destruição e a reconstrução, e pelo olhar sensível ao meio ambiente, especificamente aos problemas ecológicos advindos da mineração.

Passa a primeira infância em contato próximo com a natureza nas brincadeiras no quintal de sua casa, na cidade de Pequi. Em 1960, se desloca para Pará de Minas, onde começa a ter aulas de pintura e encontra na indústria de reciclagem de borracha de sua família um vasto espaço lúdico e encantador.

Em 1980, parte para Belo Horizonte e inicia a graduação em artes plásticas na Escola Guignard na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Dos desenhos iniciais figurativos e ricos em cores muda para a abstração de paleta mais sóbria.

Começa a utilizar a borracha reciclada para a criação de esculturas. Na série Bichos (década de 1980), apresenta composições nas quais a matéria, na forma de corda, é enrolada em arranjos de diversos tamanhos. Remetendo aos Bichos (década de 1960) da artista Lygia Clark (1920-1988) e tendo em comum a serialidade e a capacidade inventiva dos rearranjos, a obra de Vânia Barbosa propõe outras camadas ao tomar um material que perde sua função concreta em um mundo de produtividade e é deslocado para o universo subjetivo da arte.

Nas décadas de 1990 e 2000, o trabalho escultórico com a borracha reaproveitada é acompanhado das criações em papel sobre madeira e em pintura. O transitar entre suportes é fundamental ao seu fazer artístico por não cristalizar sua obra em um meio específico, afirmando a experimentação como elemento essencial em sua poética. A palavra também é engajada em suas construções visuais a partir do ressaltar dos gestos de escrita ou da proposição de sentidos abertos em seus usos lacunares. A artista não quer transmitir uma mensagem, mas abrir caminhos ao ensejar múltiplos pensamentos.

A partir de 2010, frequenta aulas no programa de pós-graduação em artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e participa de diversos cursos livres, principalmente no Núcleo de Estudos Fotografia, Arte e Cultura (Núcleo FAC). Aproxima-se da performance, da fotografia e do vídeo.

O ensaio fotográfico A beleza dos restos (2018) traz, em 15 imagens, a persistência daquilo que se toma por abandonado. São paredes riscadas, lonas rasgadas, vidros quebrados, folhas queimadas, enfim, objetos sem utilidade. Ainda assim, suas texturas em cores saturadas demandam o tempo do olhar, que se prende na riqueza de suas formas. O enquadramento equilibra o todo da imagem ao mesmo tempo em que ressalta a assimetria dos objetos – característica proveniente do trabalho pictórico de Barbosa.

Em La mer/La mère (2019), a artista incursiona na imagem em movimento para tratar de um tema muito sensível e entranhado na constituição simbólica, histórica e recente, de Minas Gerais: a extração de minério da terra e seus efeitos devastadores. O vídeo de 2 minutos e 36 segundos inicia com placas de sinalização de via férrea contra o céu. A tela se divide em duas partes, com a imagem de um trem em movimento à esquerda e, à direita, planos do mar. Fragmentos do poema “No meio do caminho” (1928), do escritor Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), aparecem acima e abaixo, enquanto os movimentos do trem e do mar, lado a lado, estabelecem uma relação ambígua que, em momentos, parece de atração e, em outros, de repelência.

Em 1 minuto e 36 segundos, há a sobreposição de uma imagem do mar que toma toda a tela. Ela está em tons ocres e parece conter ondas de barro, lembrando os desastres ambientais de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em 2019. O vídeo termina com a imagem do oceano ao som do correr do trem. É uma obra curta, porém bastante impactante aos sentidos em sua articulação visual e sonora e em sua referência aos eventos recentes de repercussão ambiental extrema.

Os elementos invisibilizados do capitalismo – os ditos restos – são retomados por Vânia Barbosa para confrontar a cultura predatória que os abandonou. Tal gesto criador ocorre a partir da transformação dos objetos simbólicos ou por meio de um olhar atento e coletor que dá a ver a existência cotidiana de cenários supostamente escondidos. Não se trata necessariamente de denunciar, pois as coisas estão postas no mundo para quem tem a coragem de ver. São novas possibilidades de sobrevivência daquilo que foi sentenciado a perecer.

 

Obras 7

Abrir módulo
Reprodução fotográfica da artista

Cogumelos

Borracha reciclada

Exposições 69

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 8

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: