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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Jorge Furtado

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.02.2021
09.06.1959 Brasil / Rio Grande do Sul / Porto Alegre
Jorge Alberto Furtado (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1959). Diretor de cinema e roteirista. Antes de trabalhar com televisão e cinema, Jorge Furtado cursa medicina e psicologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sem concluir nenhum dos cursos. Em seguida, interessa-se por artes plásticas e jornalismo, mas também não termina sua for...

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Jorge Alberto Furtado (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 1959). Diretor de cinema e roteirista. Antes de trabalhar com televisão e cinema, Jorge Furtado cursa medicina e psicologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sem concluir nenhum dos cursos. Em seguida, interessa-se por artes plásticas e jornalismo, mas também não termina sua formação acadêmica, revelando forte vocação autodidata. Em 1981, é convidado a dirigir o Museu de Comunicação do Estado, quando amplia seu conhecimento sobre cultura audiovisual.

A carreira profissional na televisão começa com um estágio na TV Educativa do Rio Grande do Sul, onde é repórter, produtor, editor e roteirista. Participa do programa semanal O Quizumba, que tem a colaboração do cineasta Giba Assis Brasil (1957). Em 1984, estreia no cinema com o curta-metragem Temporal (1984), codirigido com José Pedro Goulart (1959), baseado em conto do escritor Luís Fernando Veríssimo (1936). O filme ganha o prêmio de Melhor Direção de Curta no Festival do Cinema Brasileiro de Gramado. Nesse mesmo ano, inicia trabalhos de adaptação para o teatro, ao lado de Ana Luiza Azevedo (1959) e José Pedro Goulart.

Com incentivos da Lei do Curta, dirige O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986), também premiado em festivais nacionais e estrangeiros. O ano de 1987 marca a criação da Casa de Cinema de Porto Alegre, projeto que reúne várias produtoras gaúchas, responsáveis por impulsionar o cinema no Rio Grande do Sul. Pela Casa de Cinema, Furtado realiza, em parceria com Ana Luiza Azevedo, o curta Barbosa (1988), baseado em livro de Paulo Perdigão (1940 - 2006). Escreve e dirige o premiado Ilha das flores (1989), que projeta sua carreira de diretor no Brasil e no exterior.

A partir de 1989, ministra cursos e palestras sobre roteiro para cinema e televisão na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e na Escuela Internacional de Cine y TV, em Santo Antonio de Los Baños, Cuba. Nessa mesma época, ao lado do cineasta Guel Arraes (1953), trabalha como roteirista e diretor de séries, minisséries e programas da TV Globo. Entre eles, Memorial de Maria Moura (1994), Anchietanos (1997), Luna Caliente (1999), Sexo Oposto (2008) e Decamerão: A Comédia do Sexo (2009).

Dirige A Matadeira (1994), resultado do longa-metragem coletivo Os Sete Sacramentos de Canudos (1993), produzido por Peter Przygodda (1941-2011) para a rede de televisão alemã ZDF; e Estrada, episódio de Felicidade é... (1995). A partir de 2002, dirige longas-metragens para o cinema, como Houve uma Vez Dois Verões (2002), O Homem que Copiava (2003), Meu Tio Matou um Cara (2004), baseado em livro homônimo publicado pelo diretor em 2002, e Saneamento Básico, o Filme (2007). Seu trabalho mais recente é Até a vista (2011), curta-metragem realizado para a série Fronteiras do canal TNT.

De formação e carreira dinâmica, Jorge Furtado aproxima-se do cinema na época em que trabalha como jornalista na TVE/RS nos anos 1980. Suas maiores referências são as comédias de Teixeirinha (1927-1985) e de Mazzaropi (1912-1981) e, sobretudo, os filmes em Super 8 produzidos no Rio Grande do Sul. O mais representativo é Deu pra Ti Anos 70 (1981), de Nelson Nadotti (1958) e Giba Assis Brasil (1957).

Seus três primeiros filmes – Temporal, O Dia em que Dorival Encarou a Guarda e Barbosa (1986) – nascem de adaptações literárias e são dirigidos em parceria com José Pedro Goulart e Ana Luíza Azevedo, sócios na empresa Luz Produções. Essas obras são realizadas graças ao esforço dos produtores e entidades de classe como a Associação Brasileira de Documentaristas (ABD). Deve-se, também, a uma conjuntura favorável à produção e circulação do filme de curta-metragem, que engloba a Lei do Curta, incentivos estaduais e Festivais de Cinema.

Ilha das flores é a primeira experiência autoral do diretor, que assina o roteiro e a direção da obra. O filme transita entre a ficção e o documentário, utilizando a paródia e o humor negro para abordar a realidade miserável das personagens e a linguagem documental e seus signos. A repercussão no Brasil e no exterior é síntese do bom momento vivido pelo cinema gaúcho, projeta a carreira de Jorge Furtado e aponta novos caminhos para o cinema documental. Esta Não é Sua Vida (1991), ao contrário, privilegia as formas clássicas do documentário, ao mesmo tempo em que dá voz e lugar a sujeitos comuns e suas histórias de vida. Para o cineasta Silvio Da-Rin (1949), os curtas de Furtado caracterizam-se por uma estética pós-moderna, na qual a paródia e ironia questionam e refletem valores políticos e morais.

Na televisão, dirige e escreve roteiros de séries e minisséries bem recebidas pela crítica, pelo uso da metalinguagem, da paródia e da intertextualidade. Luna Caliente, filmado em 35 mm para a TV Globo, pode ser considerado um ensaio na direção de longas-metragens. Jorge Furtado, mesmo criticado, afirma não enxergar diferenças de linguagem entre o cinema e a televisão, defende que é possível fazer programas e filmes para a TV com qualidade e audiência.

A diversidade de temas e a renovação da linguagem são constantes nos longas-metragens para o cinema. Os quatro filmes dirigidos entre 2002 e 2009 são distintos, mas guardam relações de estilo peculiares ao seu trabalho, conciliando sucesso de crítica e de público. Na criação valoriza-se o roteiro que articula texto e imagem. A narração em off permite identificar as subjetividades das personagens, sujeitos comuns em contraposição a grandes heróis. Protagonizam histórias urbanas, ambientadas em Porto Alegre, sem que isso represente uma estética regionalista.

Com recursos para filmes de baixo orçamento, realiza em vídeo digital seu primeiro longa-metragem, Houve Uma Vez Dois Verões (2002). O filme tem narrativa concisa e linear,  e uma linguagem realista, que rejeita convenções e preconceitos. Conta uma história de amor, cujo pano de fundo é o comportamento juvenil da época. O Homem que Copiava é seu maior sucesso de público (670 mil espectadores) e o consagra como um dos diretores mais criativos de sua geração. A obra dialoga com Ilha das flores, ao realizar uma colagem quase barroca de gêneros e recursos. Toda a narrativa é baseia-se na lógica do protagonista, que tenta superar, de forma irônica e arguta, sua condição marginal de operador de fotocopiadora.

Em 2004, com a colaboração do cineasta Guel Arraes, decide adaptar para o cinema o conto de sua autoria Meu tio Matou um Cara, publicado em 2002. Em uma mistura de comédia romântica e trama policial, utiliza referências da cultura pop e eletrônica dos jogos de videogame. Saneamento Básico, o Filme evoca o gênero teatral da Commedia dell’arte para satirizar as mazelas sociais e as políticas públicas de incentivo, por meio das proezas de personagens envolvidos na realização de um vídeo de ficção, financiado pelo município, e na construção de uma fossa para a cidade, para a qual não há recursos públicos disponíveis. A obra questiona, ainda que de forma controversa, as carências materiais e culturais de um país.

O trabalho de Jorge Furtado, no cinema ou na televisão, representa uma renovação da dramaturgia brasileira. Com texto universal e linguagem dinâmica, o diretor faz um cinema de vocação popular. Sua filmografia, como propõe o cineasta Leandro Saraiva, cumpre papel de entretenimento e estabelece, de forma reflexiva, um diálogo reflexivo com o cinema moderno.

Obras 1

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Espetáculos 1

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Exposições 3

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Fontes de pesquisa 16

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  • ARAÚJO, Inácio. Furtado recorre ao clássico e dirige longa com segurança. In: Folha de S. Paulo – Ilustrada, p. 7. 06 set. 2002.
  • ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DE TÉCNICOS CINEMATOGRÁFICOS DO RIO GRANDE DO SUL. APTC, 25 anos: eles só queriam fazer seu próximo filme. Organização Carlos Scomazzon. Porto Alegre: Casa Verde, 2011. 173 p.
  • CAETANO, Daniel (org.). Cinema brasileiro: 1995-2005. Ensaios sobre um década. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2005. 352 p.
  • DA-RIN, Silvio. Espelho partido: tradição e transformação do documentário. Prefácio por João Moreira Salles; apresentações Amir Labaki e Ivana Bentes. 3º edição. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2006. 247 p.
  • ESCOSTEGUY, Ana Carolina D.; ANTUNES, Ricardo Romanoff. As reabilitações do popular na voz do sujeito ordinário. In: GUTFREIND, Cristiane Freitas; GERBASE, Carlos (Org.). Cinema gaúcho: diversidades e inovações. Porto Alegre: Sulinas, 2009. (Imagem – Tempo). p. 145-163.
  • FIGUEIRÓ, Belisa. Comédia dos erros: em Saneamento Básico, Jorge Furtado discute em tom de comédia, a importância de se fazer filmes num país carente de saneamento, educação e vergonha na cara. Revista de Cinema, v. 8, n. 78, p. 26-27, jul. 2007.
  • FONSECA, Rodrigo. Em busca do jovem perdido. In: Revista de Cinema, v. 5, n. 51, p. 24-5, jan.-fev. 2005.
  • FONSECA, Rodrigo. O homem que fez sucesso. In: Jornal do Brasil – Caderno B, 28 dez. 2003.
  • FURTADO, Jorge. O filme que nasce de olho fechado, o filme que nasce de olho aberto, o filme que dá para passar no rádio. In: Cinemais, n. 30, p. 7-44, jul.-ago. 2001.
  • FURTADO, Jorge. Um astronauta no Chipre. Porto Alegre: Artes Ofícios, 1992. (Olhares, 2).
  • GUTFREIND, Cristiane Freitas, GERBASE, Carlos (org.). Cinema gaúcho: diversidades e inovações. Porto Alegre: Sulinas, 2009. (Série Imagem - Tempo).
  • MASCARELLO, Fernando. Brasileiros do Rio Grande do Sul: sobre o apagamento da identidade cenográfica urbana em Meu Tio Matou um Cara. In: Teorema, n. 8, p. 16-21, dez. 2005.
  • MASCARELLO, Fernando. O pampa vai virar mar. In: Teorema, n. 1, p. 7-16, ago. 2002.
  • MERTEN, Luiz Carlos. A aventura do cinema gaúcho. São Leopoldo: Unisinos. 112 p. (Aldus, 3).
  • MOURÃO, Maria Dora, LABAKI, Amir (org.). O cinema do real. Textos de Brian Winston et al. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 285 p.
  • ORICCHIO, Luiz Zanin. O feijão e o sonho: em seu novo filme, Saneamento básico, Jorge Furtado busca mais uma vez o diálogo entre as linguagens do cinema e da TV. In: Teorema, n. 11, p. 16-19, set. 2007.

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