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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

José Ramos Tinhorão

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.08.2024
07.02.1928 Brasil / São Paulo / Santos
03.08.2021 Brasil / São Paulo / São Paulo
José Ramos (Santos, São Paulo, 1928 – São Paulo, São Paulo, 2021). Jornalista, crítico musical, pesquisador, historiador. Sua trajetória no jornalismo cultural, sua atuação como pesquisador e colecionador incansável de documentos históricos, sua erudição e escuta sensível, além da produção de uma vasta obra, fazem dele uma referência obrigatória...

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José Ramos (Santos, São Paulo, 1928 – São Paulo, São Paulo, 2021). Jornalista, crítico musical, pesquisador, historiador. Sua trajetória no jornalismo cultural, sua atuação como pesquisador e colecionador incansável de documentos históricos, sua erudição e escuta sensível, além da produção de uma vasta obra, fazem dele uma referência obrigatória na historiografia da cultura urbana, em especial da música popular brasileira.

Filho de um pequeno comerciante português com uma dona de casa, herda do pai o gosto pela leitura. Na década de 1930, a família muda-se para o Rio de Janeiro e passa a morar no bairro de Botafogo. Ali, ainda criança, interage com a cultura popular, os batuques e as cantorias das rodas de samba. Aos 20 anos, matricula-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Em 1951, publica como freelancer algumas reportagens na Revista da Semana. Um ano depois, ainda estudante de Direito e de Jornalismo, começa sua atividade profissional na imprensa, no Diário Carioca. Na redação desse jornal, ganha o apelido

Tinhorão, nome de uma planta ornamental e tóxica, e passa a assinar como J. Ramos Tinhorão. Ainda nesse periódico, a competência e a criatividade com que escreve textos-legendas lhe valem o epíteto de Tinhorão, o legendário.

Em 1958, é contratado pelo Jornal do Brasil e, a partir de 1961, se torna um dos redatores do Caderno B, suplemento de cultura relevante no debate cultural do país na época. Nesse caderno, Tinhorão publica uma série de reportagens semanais intitulada “Lições de Samba”. Tem início assim sua busca por fontes para a escrita da história da música popular brasileira. Durante essa pesquisa, realiza entrevistas com compositores como Donga (1890-1974), Pixinguinha (1897-1973) e Cartola (1908-1980), trabalhos que o ajudam no resgate da memória desses sambistas e a mostrar a importância de suas obras. Com o desafio de investigar a criação e o desenvolvimento do samba, torna-se um colecionador obstinado e reúne um rico acervo sobre o tema, composto por partituras, registros sonoros, fotografias, filmes, revistas, jornais, entre outros materiais. Seu gigantesco arquivo, colecionado durante décadas, é adquirido pelo Instituto Moreira Salles (IMS) em 2001 e alimenta uma das bases da coordenadoria de música dessa instituição. Em 1966, alguns artigos das “Lições de Samba” são incluídos no seu livro Música popular: um tema em debate, sua obra mais reeditada.  

Ainda no Jornal do Brasil, de 1974 a 1982, assina a coluna “Música Popular”.  Além desse periódico, nos anos 1960 e 1970, colabora como jornalista em vários veículos de imprensa, entre eles Correio da Manhã, O Globo, O Pasquim, Senhor, Veja, TV Globo e Rádio Nacional. Por causa de sua contratação em 1968 para o lançamento da revista Veja, da Editora Abril, se transfere para São Paulo. Na editora, tem papel relevante como consultor dos fascículos História da Música Popular Brasileira. Essa série, publicada nos anos 1970 e 1980, revoluciona o conhecimento sobre o tema na época. Na década de 1980, diminui a colaboração na imprensa e, nos anos 1990, abandona definitivamente o jornalismo para se dedicar inteiramente ao ofício de historiador. Em 1999, defende sua dissertação de mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), A imprensa carnavalesca no Brasil: um panorama da linguagem cômica, publicada como livro no ano seguinte. O estudo investiga as publicações de jornais feitas para as comemorações de carnaval no Brasil no período entre 1833 e 1959, problematizando como esses textos, ancorados na comicidade da linguagem popular dos foliões, são produzidos pelos redatores.

Desde o final dos anos 1950, quando passa a atuar como crítico musical, suas reflexões se mantêm alinhadas a um nacionalismo radical e ao marxismo1 que adota como metodologia para suas análises. Intransigente com suas ideias, opõe-se a tudo que considera intervir na pureza das raízes populares da música nacional. Nessa perspectiva, torna-se o crítico mais polêmico e devastador da bossa nova no início dos anos 1960. Para Tinhorão, a música bossanovista não passa de uma variante estadunidense do samba ou, em sua ironia ferina, “Samba bossa nova nasceu como automóvel JK: apenas montado no Brasil”2. Suas querelas, mais tarde, também envolveram o Tropicalismo, ao criticar o movimento como mera alienação de seus criadores às exigências da indústria cultural. Dessas críticas vêm boa parte de sua fama e um grande número de desafetos que cultiva em decorrência de suas posições.

Sempre fundamentado no método marxista, seus escritos analisam a cultura popular urbana do Brasil do século XVI ao século XX, em especial a música popular desse período. De 1966 até 2018, publica mais de 25 livros, parte deles em Portugal, como Fado – Dança do Brasil, cantar de Lisboa: o fim de um mito (1994). A originalidade dessa obra está na tese de que o fado tem suas raízes no Brasil, a partir do lundu, destacando a influência mútua implicada na circulação de modelos culturais entre a metrópole portuguesa e territórios sob seu domínio. Entre suas obras mais lidas está História social da música popular, publicada em 1990 em Portugal e em 1998 no Brasil. O livro traça um panorama da música popular brasileira, do século XVI até o início dos anos 1990 e faz uma análise da evolução da música popular urbana no Brasil, relacionando elementos da cultura popular e as forças sociais que engendram essa cultura.

Reconhecido como um investigador incansável, que levanta um conjunto vastíssimo de fontes originais até então não estudadas, Tinhorão é uma referência imprescindível para qualquer leitor ou pesquisador interessado em temas de cultura popular.

Notas

1. Tinhorão analisa a música de Antonio Carlos Jobim (1927-1994), um dos criadores da bossa nova, como uma música da classe média carioca. O compositor, vivendo no bairro de Copacabana e se identificando com o moderno estilo de vida da sociedade de consumo estadunidense do pós-Segunda Guerra Mundial, não pode, segundo sua ideologia de classe, assumir a tradição da música produzida pelas camadas populares nos morros e subúrbios do Rio de Janeiro. Por isso, suas composições se apresentam como produto musical palatável ao gosto das classes dominantes nacionais e do mercado estadunidense.

2. JK, refere-se à abreviação de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre 1956 a 1961. Durante seu governo, a indústria automobilística se expande no país, na medida em que empresas estrangeiras se instalam no Brasil. 

Obras 16

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Espetáculos 1

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Mídias (2)

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José Ramos Tinhorão - Jogo de Ideias (2003).
Primeira parte da entrevista com José Ramos Tinhorão para o Jogo de Idéias, programa de TV do Itaú Cultural com convidados da música, da literatura, do teatro, da educação, entre outras áreas.
José Ramos Tinhorão - Jogo de Ideias (2003).
Segunda parte da entrevista com José Ramos Tinhorão para o Jogo de Idéias, programa de TV do Itaú Cultural com convidados da música, da literatura, do teatro, da educação, entre outras áreas.

Fontes de pesquisa 9

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