Monique Gardenberg
Texto
Monique Gardenberg (Salvador, Bahia, 1958). Produtora cultural, diretora teatral, cineasta. Ao longo da carreira profissional, destaca-se pelo trânsito criativo entre diferentes linguagens artísticas, como a música, o teatro e o cinema. Nessas áreas, concebe, produz e invariavelmente dirige eventos musicais históricos, montagens teatrais de sucesso de público e crítica e filmes de grande apelo popular.
Nascida na capital baiana, vive parte da infância em Santos, no litoral paulista, mas, aos 17 anos, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde estuda economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Logo se envolve no movimento estudantil e se torna diretora cultural do centro acadêmico, produzindo eventos culturais e artísticos. Os contatos que estabelece com artistas e gravadoras a tornam conhecida e seu trabalho ganha reconhecimento profissional. Ainda na universidade, gerencia uma turnê do cantor e compositor Milton Nascimento (1942) e, mais tarde, atua como empresária de artistas como Marina Lima (1955) e Djavan (1949).
A produção cultural é a primeira atividade profissional de Gardenberg. Em 1982, ela e sua irmã Sylvia Gardenberg (1960-1998) criam a Dueto Produções, com o objetivo de produzir grandes eventos culturais e artísticos, como três antológicos festivais internacionais de música realizados no Brasil: o Free Jazz Festival, com edições anuais entre 1985 e 2001; seu sucessor, o TIM Jazz Festival, entre 2003 e 2008; e o BMW Festival, entre 2011 e 2014. Todos se destacam pela alta complexidade de produção e pelo alto nível de qualidade e de importância das atrações nacionais e internacionais.
A carreira cinematográfica se inicia em 1989, depois de cursar cinema na New York University, nos Estados Unidos. Ali, no mesmo ano, realiza os primeiros trabalhos: os curta-metragens Insônia e Day 67. No Brasil, lança o curta, Diário noturno (1993), sobre uma funcionária pública que foge da mediocridade da vida por meio de sonhos. Realizado com estrutura profissional, o curta é determinante para o reconhecimento de Gardenberg como cineasta.
A estreia no longa-metragem vem com Jenipapo (1996), cujo tema é a reforma agrária. Parcialmente falado em inglês, o filme participa de festivais internacionais prestigiados, como o Sundance Film Festival. Seu segundo longa, Benjamim (2003), baseado no romance homônimo do escritor e dramaturgo Chico Buarque (1944), conta a história de um ex-modelo fotográfico de meia-idade que fica obcecado por uma jovem corretora de imóveis. As duas obras tratam de de traumas pessoais da cineasta: a perda da irmã e o abandono pelo pai, respectivamente.
O terceiro longa, Ó Pai, Ó (2007), é, segundo a diretora, depois de elaboradas as perdas, a celebração da alegria no retorno às raízes baianas. Essa felicidade é resultado do fazer cinema com mais confiança, o que permite imprimir ao filme um despojamento que a produção cinematográfica muitas vezes não admite. Com alegria e baianidade, o filme agrada ao público e, pouco depois, se torna uma minissérie exibida pela Rede Globo.
Em 2018, depois de oito anos envolvida em projetos paralelos, lança Paraíso perdido. O filme traz o cantor Erasmo Carlos (1941-2022) como um ex-acadêmico que se torna dono de uma boate de música brega para que seus filhos possam se apresentar em um ambiente de tolerância, aceitação e afeto. A película aborda as diferentes formas de amar e de amor, buscando “contribuir para abrir a cabeça das pessoas que ainda não chegaram lá”, diz a diretora1.
Depois de atuar como produtora de diretores de teatro como Gerald Thomas (1954), José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) e Bia Lessa (1958), Gardenberg se lança na direção teatral em 2002, com a peça Os sete afluentes do Rio Ota, do dramaturgo e cineasta canadense Robert Lepage (1957). O espetáculo épico e grandioso, com cinco horas de duração, conta a saga de uma família vítima da bomba atômica em Hiroshima, em 1945, e acompanha a trajetória de seus descendentes até o início do século XXI. Com uma ousada mistura de linguagens, a trama se passa entre várias cidades e continentes e abrange os últimos 50 anos do século XX, numa reflexão sobre a vida e a morte, ressaltando as inquietações e expectativas do ser humano. A peça é aplaudida pela crítica e pelo público e considerada um marco no teatro brasileiro. A obra ganha nova montagem pela diretora em 2019.
Em 2005, retorna ao teatro com a peça Baque, do dramaturgo e cineasta canadense Neil LaBute (1963), que traz três monólogos que confidenciam tragédias contemporâneas, sobre culpa, dúvida, crueldade, destino, livre-arbítrio e misoginia. À época, o crítico Dirceu Alves Jr. (1975) afirma que a peça, “em nenhum momento, deixa o espectador na dúvida de que viu um grande espetáculo. Um soco no estômago”2.
Em 2022, Gardenberg e José Celso Martinez Corrêa codirigem o filme Esperando Godot, adaptação da famosa peça do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989) para a São Paulo dos dias atuais.
Transitando entre diferentes atividades e linguagens artísticas, o trabalho de Monique Gardenberg oferece obras únicas que abordam temas e expressões culturais nacionais em filmes, séries e eventos musicais, além de trazer em suas montagens teatrais uma visão da contemporaneidade e do universal para a cena brasileira.
Notas
1. LICORY, Michelle. Monique Gardenberg: tolerância, aceitação e liberdade, mas sem bandeira feminista. Glamurama. UOL, São Paulo, 28 maio 2018. Disponível em: https://glamurama.uol.com.br/notas/monique-gardenberg-tolerancia-aceitacao-e-liberdade-mas-sem-bandeira-feminista/. Acesso em: 17 jul. 2022.
2. A partir de Baque, Monique dirige diversas outras peças bem-sucedidas como Inverno da luz vermelha (2010) e A hora amarela (2014), do dramaturgo estadunidense Adam Rapp (1968); e O desaparecimento do elefante (2012), a partir de cinco contos do escritor japonês Hakuri Murakami (1949) no livro que dá nome à peça.
Espetáculos 5
-
9/10/2002 - 12/2002
-
-
-
30/3/2013 - 5/5/2013
-
Fontes de pesquisa 1
- EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
MONIQUE Gardenberg.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa14174/monique-gardenberg. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7