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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Turíbio Santos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.07.2021
07.03.1943 Brasil / Maranhão / São Luís
Turibio Soares Santos (São Luís, Maranhão, 1943). Violonista renomado internacionalmente, com trabalho reconhecido desde 1965, é uma das principais referências do repertório violonístico em geral e da obra de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) em particular. Desse mestre, estreia diversas das obras. Em 1963, recebe convite da viúva Arminda Villa-Lob...

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Turibio Soares Santos (São Luís, Maranhão, 1943). Violonista renomado internacionalmente, com trabalho reconhecido desde 1965, é uma das principais referências do repertório violonístico em geral e da obra de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) em particular. Desse mestre, estreia diversas das obras. Em 1963, recebe convite da viúva Arminda Villa-Lobos (1912-1985) para gravar os 12 Estudos para violão1. Após a morte dela, é convidado a dirigir o museu dedicado ao músico, posto que ocupa entre 1985 e 2010. A partir do acervo do museu, registra a obra completa para violão do compositor.

Detentor de técnica impecável e sonoridade límpida para o instrumento2, o músico executa obras de alta complexidade técnica violonística com tal desenvoltura que parecem, aos ouvidos, de extrema simplicidade.

Como sugere o título da autobiografia publicada em 2014, Caminhos, Encruzilhadas e Mistérios, sua trajetória é construída a partir de encontros que o levam, por vezes, a lugares e situações inesperadas, marcantes e significativas.

A primeira delas se dá na adolescência, aos 12 anos, ao encontrar Antonio Rebelo (1902-1965) em uma sessão de cinema sobre o violonista Andrés Segóvia (1893-1987). Rebelo se torna seu mestre e com ele estrutura as bases de sua formação violonística. Entre 1958 e 1961, ao estudar composição com Edino Krieger (1928), aprende o valor da criação musical e da colaboração entre compositor e intérprete. 

Em 1958, tem o primeiro contato com Villa-Lobos em uma conferência na Escola de Canto Orfeônico (RJ). Três anos depois, toca em um encontro sobre o compositor organizado por Hermínio Bello de Carvalho (1935) e é ouvido por Arminda Villa-Lobos, que o convida a registrar, por meio do Museu Villa‑Lobos, a primeira gravação integral dos 12 Estudos para Violão. Impulsionado por essas experiências, conhece, em 1959, o violonista uruguaio Oscar Cáceres (1928), com quem estabelece uma parceria que rende um disco (lançado pelo selo Caravelle em 1964) e várias tournées pela América do Sul.

Nessa época perde o pai e, para ajudar economicamente a família, concentra esforços na carreira de violonista. Em 1965, conquista o VII Concours International de Guitare, prestigiado concurso internacional de violão promovido pelo Office de Radiodiffusion-Television Française (ORTF), e torna-se o primeiro brasileiro a vencer uma importante competição internacional. Graças ao prêmio, participa de duas master-classes durante o verão europeu daquele ano com dois dos maiores violonistas vivos de todo o mundo, o inglês Julian Bream (1933) e o espanhol Andrés Segóvia, seu ídolo de infância.

Além de reconhecimento internacional, o prêmio lhe traz a oportunidade de radicar-se em Paris e de iniciar intensa atividade artística no exterior. Suas aparições em programas da ORTF e da BBC de Londres, os discos europeus gravados a partir de 1967 e o registro dos 12 Estudos garantem a Turibio o reconhecimento do público europeu. Nessa época, produz trabalhos ao lado de músicos de referência mundial, como o estadunidense Yehudi Menuhin (1916-1999) e o russo Mstislav Rostropovich (1927-2007), e, como solista, atua em orquestras como a Nacional da França, a Nacional da Ópera de Monte-Carlo, a Filarmônica da Radio France, a English Chamber Orchestra e a Royal Philharmonic Orchestra.

A notoriedade permite que Turibio se torne importante expoente da produção de repertório contemporâneo, sobretudo o brasileiro, para o violão. O músico estreia uma miríade de peças e atua como comanditário de obras de compositores como Edino Krieger, Marlos Nobre (1939), Almeida Prado (1943-2010), Radamés Gnatalli (1906-1988). Ao lado desse trabalho, publica na gravadora francesa Max Eschigum a coleção de obras para violão intitulada Turibio Santos, com transcrições (de peças do repertório erudito) e harmonizações (de obras do folclore brasileiro) suas, bem como partituras originais de compositores brasileiros. Resgata também autores esquecidos do repertório brasileiro: grava a obra de João Pernambuco (1883-1947) para a coleção Arquivos Musicais (dirigida por ele e publicada pela Ricordi entre 1977 e 1979) e as de Garoto (1915-1955) e Dilermando Reis (1916-1977). Além disso, publica e grava suas próprias composições, que primam pelo lirismo e pela sonoridade ligada às diretrizes nacionalistas propostas pelo projeto modernista de Mário de Andrade (1893-1945), como atestam peças como Valsa Pagu (1984), Suite Teatro do Maranhão e Suite Senhores.

Além da produção e difusão artística, desempenha papel importante na educação musical. Após receber, em 1980, o título de Notório Saber da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cria cursos de violão para essa instituição (onde leciona por 24 anos) e, posteriormente, para a UniRio (1981). Em 1984, cria a Orquestra de Violões do Rio de Janeiro (composta por alunos das duas faculdades e da qual é diretor) e, no ano seguinte, a Orquestra Brasileira de Violões.

De todos esses encontros, o mais significativo e pelo qual Turibio é mais lembrado, é o contato com a obra villa-lobiana, para a qual dedica quase toda sua vida artística, iniciada formalmente em 1962, quando realiza a primeira série de recitais: o primeiro em São Luís, no Teatro Artur Azevedo, o segundo na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) do Rio de Janeiro e o terceiro no Festival Villa-Lobos, onde estreia mundialmente o Sexteto Místico. A importância de Turibio se dá tanto pela difusão da obra do compositor (enquanto intérprete) como pela preservação da memória do músico (enquanto diretor de museu). Nesse percurso, destacam-se a gravação da obra completa para violão de Villa-Lobos, registrada em 1987 para o selo Kuarup, e a publicação do livro Heitor Villa-Lobos e o Violão, lançado em 1975 pelo Museu Villa-Lobos.

Notas

1. Obra originalmente dedicada ao músico espanhol Andrés Segóvia (1893-1987).

2. Limpidez difícil de ser alcançada por causa da organologia do instrumento, caracterizado pelos transitórios de ataque do instrumento (ruídos da unha na corda no ataque da nota etc.).

Fontes de pesquisa 13

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  • AGUERA, Fernando. A influência de Turibio Santos sobre a peça Ritmata para violão de Edino Krieger: comparação entre manuscrito e versão publicada. VI SIMPÓSIO Acadêmico de Violão da Embap, 7, 2012, Curitiba. Anais... Curitiba: Embap, 2012. Disponível em: http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/simposio/violao2012/artigos/19fernando_aguera_a_influencia_de_turibio.pdf. Acesso em: 01 out. 2019
  • CARVALHO, Hermínio Bello de. Álbum de retratos: Turibio Santos. Rio de Janeiro: Edições Folha Seca, 2007.
  • DUDEQUE, Norton Eloy. História do violão. Curitiba: Editora da UFPR, 1994.
  • FARIA, Celso. A Collection Turibio Santos e o papel do intérprete-editor. CONGRESSO da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 22, 2012, João Pessoa. Anais... João Pessoa, 2012, pp. 63-71.
  • FORTES, Liana. Turibio Santos. Rio de Janeiro: Editora Rio, 2005. (Coleção Gente).
  • HECK, Thomas F. Santos, Turibio (Soares). Grove Music Online. Oxford Music Online, 2001. Disponível em: https://doi.org/10.1093/gmo/9781561592630.article.43113.
  • SANTOS, Turibio. Caminhos, encruzilhadas e mistérios. Rio de Janeiro: Editora ArtViva, 2014.
  • SANTOS, Turibio. Heitor Villa-Lobos e o violão. Rio de Janeiro: Museu Villa‑Lobos, 1975.
  • SANTOS, Turibio. O encontro das águas. In: SANTOS, Turibio et al. Brasil musical: viagem pelos sons e ritmos populares. Rio de Janeiro: Art Bureau Chase, 1988. p. 282-286.
  • SILVA JUNIOR, Mario da. Violão expandido: panorama, conceito e estudos de caso nas obras de Edino Krieger, Arthur Kampela e Chico Mello. Tese (Doutorado em Música) – Universidade de Campinas, Campinas, 2013.
  • TABORDA, Marcia. Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro 1830-1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
  • TEIXEIRA, Moacyr Garcia Neto. Música contemporânea brasileira para violão. Vitória: Gráfica e Editora A1, 1996.
  • TURIBIO SANTOS. O violão brasileiro – Nossos intérpretes. São Paulo: Rádio Cultura FM, 14 jun. 2006. Programa de rádio. Disponível em: http://vcfz.blogspot.com/2006/06/24-turbio-santos.html. Acesso em: 01 out. 2019

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