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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Almeida Prado

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.03.2024
08.02.1943 Brasil / São Paulo / Santos
21.11.2010 Brasil / São Paulo / São Paulo
José Antonio Resende de Almeida Prado (Santos, São Paulo, 1943 - São Paulo, São Paulo, 2010). Compositor, pianista, regente, professor. Tem aulas de piano com Dinorá de Carvalho (1895 - 1980), aos 10 anos. Ingressa em 1957 na classe particular do compositor Camargo Guarnieri, assistindo também às aulas de teoria musical e harmonia de Oswaldo Lac...

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José Antonio Resende de Almeida Prado (Santos, São Paulo, 1943 - São Paulo, São Paulo, 2010). Compositor, pianista, regente, professor. Tem aulas de piano com Dinorá de Carvalho (1895 - 1980), aos 10 anos. Ingressa em 1957 na classe particular do compositor Camargo Guarnieri, assistindo também às aulas de teoria musical e harmonia de Oswaldo Lacerda. Forma-se em 1963 no conservatório de Santos, em que leciona entre 1965 e 1969. Com a peça Pequenos Funerais Cantantes conquista o prêmio de melhor obra no 1º Festival de Música da Guanabara, em 1969, e uma bolsa de estudos leva-o no mesmo ano à Europa. Em Darmstat, Alemanha, frequenta cursos dos compositores Gyorgy Ligeti e Lukas Foss. Segue para uma temporada de quatro anos em Fontainebleau e Paris, na França, e realiza um curso de especialização em composição com Nadia Boulanger (1887 - 1979) e Olivier Messiaen (1908 - 1992).

Em Paris, sua Sinfonia nº 1 recebe o Prêmio Lili Boulanger, em 1970. Envia para o Brasil o oratório Trajetória da Independência, pelo qual recebe do governo do estado de São Paulo o Prêmio Independência do Brasil, em 1972. Retorna ao Brasil em 1973 e assume o cargo de diretor do Conservatório Municipal de Cubatão, São Paulo. No ano seguinte é convidado pelo fundador e reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Zeferino Vaz, a integrar o corpo docente da universidade. Suas composições Magnificat e Livro Sonoro recebem um prêmio do Instituto Goethe em conjunto com a Sociedade Brasileira de Música. Dirige o Instituto de Artes da Unicamp entre 1981 e 1987, e permanece ali como professor de composição até aposentar-se, em 2000. Recebe do governo do estado de São Paulo a Medalha Mário de Andrade, em 1979. Em 1982 ocupa a cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Música, e em 1984 é professor convidado na Universidade de Indiana, Bloomington, Estados Unidos. Compõe, em 1987, a trilha do filme O País dos Tenentes, de João Batista de Andrade. Entre 1989 e 1990 vai a Jerusalém como professor convidado da Rubin Academy, visita que gera composições com temática mística.

Em 1995 e 2000, recebe prêmios nacionais pelo conjunto de sua obra, concedidos pela Fundação Nacional de Arte (Funarte) e pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, respectivamente. Sua obra mais conhecida, Cartas Celestes (1974-1982), gravada em álbum triplo em 1982, pelo pianista carioca Fernando Lopes, pelo selo Eldorado, é recriada a partir de 1998, experimentando novas instrumentações e estilos.

Almeida Prado mergulha em um processo de re-escritura e autorreferência que pretende conduzir a um estado de grande misticismo e espiritualidade. Ganha em 2001 uma bolsa da Fundação Vitae para compor as Cartas Celestes nos 13 e 14. Uma de suas últimas atividades é o programa de música contemporânea Kaleidoscópio, em 2010, na Rádio Cultura FM. Deixa mais de 400 composições em seu catálogo.

Análise

Criado em ambiente doméstico de frequente atividade musical, Almeida Prado guarda na vida adulta memórias infantis do piano tocado por sua irmã Teresa e das reuniões familiares, nas quais circulam músicos e compositores experientes. A presença mais marcante nessas reuniões é a do compositor Camargo Guarnieri, de quem o pianista passa a frequentar a classe de composição, na adolescência. Nesses tempos, início da segunda metade do século XX, o debate sobre composição no Brasil está em voga, tendo o professor Guarnieri publicado em 1950 uma Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil. Nessa carta, defende de modo polêmico o uso do folclore como material composicional e condena a "infiltração nefasta" das mais recentes técnicas da composição europeia, que levaria à "degenerescência do caráter nacional". Almeida Prado segue os passos de seu tutor, e suas primeiras composições utilizam temas folclóricos e ritmos abrasileirados. O próprio compositor define essa época nacionalista como a primeira fase de sua obra (1960-1965).

Como início de outra fase de sua criação, Almeida Prado aproxima-se do compositor Gilberto Mendes, seu conterrâneo e morador da mesma cidade. Mendes lhe apresenta as obras dos modernos compositores europeus como Karlheinz Stockhausen e Pierre Boulez, cujos métodos de composição haviam sido reprovados por Guarnieri. Por um período Almeida Prado procura atender às exigências opostas da composição nacional, tentando aliar a estética nacionalista e a música folclórica brasileira à tendência abstrata das vanguardas europeias. Não gostaria de decepcionar seus mestres, mas, por outro lado, não quer privar-se de conhecer as experimentações que surgem na Europa. Em um momento no qual as diferentes estéticas musicais brasileiras são associadas a variadas ideologias, o compositor chega a manifestar-se avesso aos movimentos políticos.

No fim da década de 1960 passa uma temporada de estudo na Europa, e tem contato mais próximo com o debate das vanguardas. Estabelece-se na França, e é influenciado particularmente por seus professores Nádia Boulanger e Olivier Messiaen. Ali pode rever a própria produção e retomar em outro patamar seus antigos estudos nacionalistas. Os padrões folclóricos são submetidos a avançadas técnicas de composição desenvolvidas por Messiaen. Logo após retornar de Paris, Almeida Prado compõe o ciclo para piano Cartas Celestes, em 1974, explorando as sonoridades, ressonâncias e rítmicas aprendidas em sua estada na França. A peça é encomendada por José Luiz Paes Nunes para funcionar como música incidental em uma exibição no Planetário do Ibirapuera, com duração de 20 minutos. O roteiro concebido pela equipe do planetário contém indicações de aumento e decréscimo da luminosidade do ambiente, combinado ao aparecimento das constelações. Almeida Prado, em posse do roteiro que guia sua composição, procura traduzir esses diversos momentos de luz e imagens em gestos musicais, batizados por ele de "ressonâncias luminosas" e "poeira cósmica". A peça torna-se referência entre as obras do compositor, iniciando uma fase na qual, residindo definitivamente no Brasil, busca dominar e usar livremente as técnicas composicionais aprendidas na França.

Se, por um lado, a liberdade de uso em relação às técnicas diversas é um sinal de amadurecimento, por outro, a ausência de uma prática comum na música erudita brasileira torna-se um novo e grande problema. A cada nova peça o compositor é chamado a conceber novos caminhos, novas soluções e reflexões. Envolvido nessa insólita situação da música, Almeida Prado redefine-se a todo momento, migrando entre as mais variadas estéticas e encontrando soluções diversas para os muitos e inéditos problemas da composição. Dentro dessa multiplicidade, sua produção se divide em temáticas por ele mesmo elencadas: as com "temática astrológica" incluem as 14 Cartas Celestes (1974-2001), que formam um grande ciclo para piano solo com cerca de três horas de duração; as com "temática afro-brasileira" englobam Savanas (1983), um painel de 12 peças para piano solo criadas sobre materiais étnicos da arte africana, e as 14 Variações sobre Xangô, gravadas pela pianista Eudóxia de Barros, pelo selo Recordi, em 1963; as com "temática ecológica" refletem sua preocupação com a ecologia e incluem a Fantasia Ecológica: Sobre Alguns Animais da Fauna Brasileira (1996); as com "temática livre" têm fontes de inspiração diversas e contêm grande parte de sua obra pianística como Poesilúdios (1983) e Sonetos (1984); e as com "temática mística" possuem motivações espirituais que organizam a composição, a exemplo da obra programática O Rosário de Medjugorjie - Ícone Sonoro para Piano (apelos para a oração do coração).

Tendo abandonado a estética modernista e envolvido pela tendência dispersiva da pluralidade de estilos, técnicas e estéticas que cerca o ambiente da música erudita da segunda metade do século XX, Almeida Prado mantém certas constantes que atravessam sua produção: no plano instrumental as experimentações com o piano estão presentes desde o início de sua atividade; no plano das inspirações, uma intensa filiação ao universo místico deixa-se transparecer ao longo de toda sua obra. O sentimento íntimo de religiosidade, de certa forma, vai contra a perda dos vínculos com o público em geral; é por meio dele que o compositor procura partilhar sua inspiração. Desse modo Almeida Prado encontra meios para manter sua individualidade criativa num momento em que a composição erudita brasileira é levada a um impasse: o embate entre as diferentes correntes estéticas e a profusão de estilos ameaçam a unidade da composição erudita no Brasil.

Fontes de pesquisa 5

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  • ALMEIDA PRADO, Jose Antonio. Obras. Rio de Janeiro: Rioarte, MR04-23. CD, 45min11. Acompanha folheto informativo.
  • BANNWART, José Francisco: A temática místico-religiosa nos Nove Louvores Sonoros para piano de Almeida Prado. 2005. 134 f. Dissertação de Mestrado, Escola de Comunicações e Artes, ECA/USP, São Paulo, 2005.
  • DISCOTECA Oneyda da Alvarenga. Música contemporânea brasileira: Almeida Prado. Coordenação: COELHO, Francisco Carlos. Tradução: MAYER, Marion. São Paulo: Discoteca Oneyda Alvarenga, 2006. 110 f. + 1 CD + 1 partitura.
  • FERREIRA, Paulo Affonso de Moura. Almeida Prado: catálogo de obras. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, Departamento de Cooperação Cultural, Científica e Tecnológica, 1976.
  • MOREIRA, Adriana Lopes da Cunha . "Flashes de Almeida Prado por ele mesmo". Revista Opus 10: Revista da ANPPOM. Opus, Campinas, v. 10, n. 1, p. 73-80, 2004.

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