Fátima Saadi
Texto
Maria de Fátima Saadi (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1955). Dramaturgista. Edita a revista Folhetim, criada em 1998, e a coleção Folhetim/Ensaios, criada em 2003. Trabalha como dramaturgista na companhia Teatro do Pequeno Gesto.
Em 1977, conclui o bacharelado em psicologia, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/Rio. E conclui o bacharelado em teatro, com habilitação em teoria do teatro, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Uni-Rio, em 1980. No ano seguinte faz especialização em filosofia da arte, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Em 1990, conclui o mestrado, na Escola de Comunicação da UFRJ, com a dissertação Poesia e Cena. Em 1998, conclui o doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ com a tese A configuração da cena moderna - Diderot, Lessing, Lenz. Desenvolve, entre 1999 e 2001, no Programa de Pós-Graduação em Teatro da Uni-Rio, um projeto de pesquisa sobre a progressiva liberação da estética teatral em relação às poéticas normativas de cunho literário e retórico que até meados do século XVIII dominaram o teatro. É contemplada duas vezes com Bolsa para Tradutores do Centre National du Livre, Ministère de la Culture de la France em 1998 e 2004 e com uma bolsa para estadia de dois meses em Berlim, em 2003, pelo Goethe Institut.
No início dos anos 1980, ao lado de Ângela Leite Lopes e do crítico Yan Michalski, lança a publicação Ensaio, que tem cinco números em editoras diversas - o primeiro número sai pela Uni-Rio e o último pela editora Achiamé, em 1983. Em 1984, faz seu primeiro trabalho como dramaturgista, O Califa da Rua do Sabão, de Artur Azevedo, com direção de Luis Antônio Martinez Corrêa. De 1982 a 1991, integra o corpo docente da Escola de Teatro da Uni-Rio.
Participa como supervisora, juntamente com Ângela Leite Lopes, Bia Lessa e Moacyr Góes, da pesquisa Conteúdos Programáticos para o ensino de teatro no primeiro grau, financiada pelo então Inacen ao longo do ano de 1986. Integra como dramaturgista, entre 1987 e 1991, a linha de pesquisa Arte e Palavra, do Programa Transdisciplinar de Estudos Avançados, IDEA, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, sob a coordenação de Ângela Leite Lopes e Márcio Tavares d'Amaral. Participa das montagens de O Olhar de Orfeu, em 1987, de Beto Tibaji, dirigido por Antonio Guedes; A Princesa Branca, em 1988, de Rainer Maria Rilke, encenação de Ângela Leite Lopes; e de Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, mais uma direção de Antonio Guedes, em 1989.
Em 1988, faz a tradução de Sopro e Ato sem Palavras I e II, de Samuel Beckett e colabora com artigos para a revista Arte e Palavra, editada pelo IDEA. Publica as traduções de Os negros e Os biombos, de Jean Genet, pela editora Sette Letras, em 1988 e 1989; Interior, de Maeterlinck e Todos os que caem, de Beckett, nos Cadernos de Teatro do Tablado, em 1988 e 1989. Traduz, em parceria com Karl Erik Schollhammer, O pequeno Eyolf e John Gabriel Borkman, de Ibsen, publicadas pela 34 Letras, no Brasil, em 1993 e 1996, e pela editora Cotovia, em Portugal, juntamente com a última peça de Ibsen, Quando nós, os mortos, despertarmos, em 2006. A Editorial Cone Sul publica A peça e o prólogo, de Diderot, em 2001; e a editora 7 letras lança, em 2006, Lenz e Goethe: Notas sobre o teatro e Regras para atores. Entre os textos teóricos traduzidos, destacam-se O paradoxo e a mimese e A coragem da poesia, de Philippe Lacoue-Labarthe, que integram a coletânea A imitação dos modernos, da Paz e Terra, em 2000; A exibição das palavras, de Denis Guénoun, editado pelo Teatro do Pequeno Gesto, em 2003. No ano seguinte, para a editora Perspectiva, traduz O teatro é necessário?, de Denis Guénoun; e, em 2006, publica a coletânea de textos A arte do teatro: entre tradição e vanguarda. Meyerhold e a cena contemporânea, de Béatrice Picon-Vallin, pelo Teatro do Pequeno Gesto.
Em 1991, passa a integrar o Teatro do Pequeno Gesto, companhia dirigida por Antonio Guedes. Nesse grupo, desde janeiro de 1998, edita uma revista quadrimestral de ensaios sobre teatro, o Folhetim. A companhia estabelece um programa de formação que a leva a ministrar oficinas teóricas em várias cidades do país. Em 1992, o Teatro do Pequeno Gesto propõe ao então IBAC o Projeto Teatro Duse volta à cena e reabre o histórico teatro, fundado por Paschoal Carlos Magno, fechado há oito anos e por dois anos lá realizam espetáculos, exposições e as chamadas Tertúlias de música e poesia.
Como dramaturgista dessa companhia, Fátima Saadi estréia, em 1991, em Quando Nós os Mortos Despertarmos, de Henrik Ibsen. Seguem-se O Marinheiro, de Fernando Pessoa, em 1993, e Penélope, de Antonio Guedes e Fátima Saadi, em 1995. Em 1998, Saadi traduz para a companhia O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde, e adapta O Jogo do Amor, de Marivaux, para o público infantil, em espetáculo apresentado ao ar livre. A crítica Lúcia Cerrone escreve: "A adaptação de Fátima Saadi não deixa o espectador esquecer que está no teatro. Não é raro escutar de um dos personagens frases como: 'se eu pudesse abandonaria este cenário e tiraria esse figurino', integrado à trama, não como uma crítica, mas como mais um elemento do jogo que se encena. Sem nenhum purismo que pretenda encenar a comédia na íntegra (...), Fátima tira o essencial da história num texto bastante autoral. O resultado é dos melhores".1
Ainda em 1998, o Teatro do Pequeno Gesto estréia A Serpente, de Nelson Rodrigues, e, em 2000, Henrique IV, de Luigi Pirandello. O crítico Macksen Luiz comenta a adaptação: "A adaptação de Fátima Saadi tem a preocupação de tornar legíveis os meandros da peça, ajustando-a a uma duração de tempo suportável para as exigências comerciais, enxugando as adiposidades verbais e preciosismos históricos. Na verdade, a sua transcrição deixou a peça reduzida praticamente à trama, ainda que tenha tentado manter e sugerir 'uma lógica própria, do tudo pode ser'".2
Em 2002, estréia Medéia, de Eurípides, e A Rua dos Cataventos, de Marcos França, inspirado na obra de Mario Quintana. É dramaturgista de Vestir os nus, de Pirandello, em 2004; e da leitura dramatizada de sua tradução de Peer Gynt, de Ibsen, em 2006; todos dirigidos por Antonio Guedes e com o Teatro do Pequeno Gesto.
Boa parte das traduções que realiza destina-se a montagens teatrais como, por exemplo, os textos de Beckett - Ato sem palavras I e II e Improviso de Ohio - que integram o espetáculo Beckett, do grupo Sobrevento, em 1992; Os Biombos, de Jean Genet, apresentado pela Companhia Teatro de Seraphim, direção de Antonio Cadengue, em 1995; Os negros, de Jean Genet, direção de Luís Antônio Pilar, produzido pela Companhia Black e Preto, no CCBB; Pequeno Eyolf, de Ibsen, dirigido por Paulo de Moraes, em 2004, no Centro Cultural da Justiça, Rio de Janeiro; e, O Funâmbulo, de Jean Genet, montado em Recife por João Denys, em 2005.
Paralelamente ao trabalho como dramaturgista, Fátima Saadi exerce com regularidade as atividades de tradutora e ensaísta, além de vez por outra retomar seu elo com a universidade em projetos especiais de pesquisa. Um dos objetos constantes de sua reflexão é justamente a prática do dramaturgista (termo originado do alemão "dramaturg") como função que não se confunde com a autoria, tradução ou adaptação do texto teatral, mas que se define na parceria com o diretor e "na sintonia que ele é capaz de estabelecer entre, por um lado, sua curiosidade, sua reflexão, sua sensibilidade e, por outro, os objetivos gerais da companhia e os objetivos de um espetáculo em particular".3
Notas
1. CERRONE, Lúcia. O essencial da história em texto bem autoral. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 nov. 1998.
2. LUIZ, Macksen. Pirandello sem identidade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 abr. 2000.
3. SAADI, Fátima. A prática do dramaturgo. Folhetim, Rio de Janeiro, n. 3, 1999.
Espetáculos 39
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6/6/1987 - 20/6/1987
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10/7/1987 - 19/7/1987
Fontes de pesquisa 4
- CERRONE, Lúcia. O essencial da história em texto bem autoral. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21 nov. 1998.
- Programa do Espetáculo - A Escola de Bufão - 1990.
- SAADI, Fátima. A prática do dramaturg. Folhetim, Rio de Janeiro, n. 3, 1999.
- SAADI, Fátima. Currículo enviado pela dramaturgista.
Como citar
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FÁTIMA Saadi.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa109189/fatima-saadi. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7